Aquela imagem

Um dia, na minha casa, fui surpreendido pela cena mais grotesca do mundo.
Pouco antes de dormir, subi até o quarto dos meus pais para dar boa noite aos dois.
Abri a porta e imediatamente fechei os olhos.
Isso não está acontecendo, pensei.
Ainda de olhos fechados, ouvi barulho de roupas e de lençol sendo puxados. Eu sabia que eles estavam se vestindo agora. O barulho parou e então senti uma mão tocar meu ombro.
--- Aaaaaaah - gritei.
--- Calma, filho. Porque está tão nervoso?
Abri os olhos e vi papai e mamãe na minha frente, de roupão, sorrindo para mim. Engraçado. Há dois minutos eles não estavam assim.
--- O que... O que vocês estavam fazendo?
Meu pai colocou a mão no meu ombro de novo e disse, confiante:
--- Estávamos brincando, filho.
--- Porque a mamãe tá descabelada?
Vi no rosto deles um sorriso desproporcional com a pergunta. Estavam envergonhados, é claro.
--- Papai estava caçando piolhos, Bruno.
--- Então é por isso que você estava pulando em cima dele?
Ela suspirou.
--- Sim. É isso mesmo.
--- Vá dormir agora, filho. Amanhã você tem aula.
Respirei fundo, tentando me acalmar.
--- Tá bem. Boa noite, papai. Boa noite, mamãe.
--- Boa noite, filho - disseram os dois ao mesmo tempo, fechando a porta.
Claro que não fui dormir. Fiquei ali para ouvir através da porta. Haviam coisas que eu não havia entendido muito bem.
Do outro lado da porta, papai e mamãe conversavam. Não dava para ouvir direito o que diziam, mas consegui identificar algumas palavras estranhas. Palavras como "porra" e "buceta".
Não sabia o que aquilo significava e não tinha vontade saber, porque agora eu estava alucinado com aquela imagem grotesca, aquela imagem apavorante.
Mamãe em cima do papai. Papai tirando piolhos da cabeça da mamãe.
Não fazia sentido.
Desci até o andar de baixo e fui para meu quarto.