Decotada alvinegra — Parte 1



Chutei para a trave, e embora soubesse que uma nuvem negra se formaria sobre minha cabeça, é sempre muito desagradável vê-la tão perto. As vaias ecoavam nos ouvidos de todo o meu time e eu podia sentir o aborrecimento de todos, como se dissessem: "teu chute fraco é o autor de tudo isto". E eles estavam certos.
Eu já me despia da camisa e olhava para o alto, deitado no gramado descabelado, quando a vi sorrir para mim. Parecia lançar o sorriso para a minha derrota exposta, mas algo intuitivo me assegurava que não se tratava de zombaria. Seus cabelos eram contraditórios naquele lugar de pulos e movimentos constantes: a longa cabeleira loira estava intacta e com a quietude de uma modelo submetida a pintores detalhistas. Achei que eu estivesse com o psicológico balançado e desviei o olhar, esperando a ilusão sumir.
Mas, ao procurá-la de novo, ela lá estava.
Um senhor gordo, acompanhado de seus dois filhos adolescentes que choravam a derrota, retirou-se da arena e eu pude ver o corpo da mulher. Ela era dona dos seios mais despudorados que aquele gramado havia visto. Um par de seios naturais, visivelmente aveludados, com a renda negra do sutiã revelando-se maliciosamente em torno do topo da camisa alvinegra que ela trajava.
Gostosa. E gostosa estando parada, apenas sorrindo para mim, como se tivesse conhecimento de que uma leve insinuação sua é capaz de pôr em perdição o juízo do homem.
— Você foi federal, Léo. — O treinador Farias se aproximara sem que eu desse conta. — Seu último jogo, a porra de um último jogo, e você encerra assim!
Quis rebater e relembrá-lo de todos os momentos em que ele fora vaiado sozinho, atacado como um pombo em território de raposas, e eu estive ao seu lado. O cansaço me esgotava e eu me calei.
— A safra jovem vem com tudo — continuou ele. — Isto não é uma notícia boa para os quarentões em campo. Talvez seja para as revistas e para as adolescentes que vêm à arena apreciar as novas figuras, mas não para você.
Levantei do gramado e me despedi:
— Sim, sim, estou com a cabeça na guilhotina.
Saí em passos decididos, com receio de que a peituda provocante me visse cabisbaixo e desconfiasse que eu estava sendo humilhado por Farias. Percorri, com os olhos, toda a arena turbulenta, mas não a vi. Já me convencia de que não mais a encontraria, quando Juarez colocou os braços frenéticos em meu pescoço e tentou me consolar.
— Você não tá derrubado, não é? Um armário feito você tem mais é que estar orgulhoso por tudo que já fez por nosso time. Essa garotada que vem aí não come feijão e vai envergonhar nossa camisa.
Tentei mostrar-me receptivo, mas os seios que eu vira permaneciam torturando meu tesão acumulado. A verdade é que nunca pensei ser alvo fácil de uma Maria-chuteira, mas agora desejava descobrir a sensação de gozar nos seios de uma. Imaginava sua virilha branca, e tentava visualizar mentalmente sua boceta de tons talvez rosados.
Juarez retirou-se e envolveu outro jogador em suas consolações infantis. Caminhei até o corredor de saída e fui em direção aos armários do vestiário. Quatro jogadores lá estavam, falando atropeladamente e ignorando minha chegada silenciosa.
— Breno é frouxo igual dondoca, vai nem conseguir ficar duro. — Random zombava e gesticulava.
— Mas como é que pode? — indagou Pedroso. — Uma putinha com aquela comissão toda dando bola pro Breno! Esse aí nem desapegou da saia da mãe direito.
Meu coração palpitava rápido em meu peito, furioso como todo o meu corpo. Eles estavam falando dela?
Breno sorria, mas evidenciava-se seu desconforto. O sorriso apenas agia como afastamento de uma humilhação ainda maior.
Me distanciei rapidamente, tão furtivamente como havia entrado, e me pus do outro lado do vestiário, atrás da fileira de armários, disposto a escutar a conversa.
— Ela vai te encontrar onde? — indagou Random.
— Na sala de autógrafos, às dezoito e meia — respondeu Breno, apertando as próprias mãos.
— Vê se age como homem, então. — Random jogou-se debaixo do chuveiro quente.
Pedroso imitou o colega e também dirigiu-se às chuveiradas relaxantes e às águas que caíam pesadamente sobre seus ombros suados e cabeças agitadas. As veias da testa de Random salientavam-se a cada piada que lhe chegava aos lábios.
— Se eu não estivesse tão puto, iria atrás de um belo rabo também — disse, esfregando as axilas. — Mas não consigo. Hoje não.
— Nem eu. O Léo é muito relaxado. — Pedroso olhou em volta e certificou-se de estarem a sós.
— Um velhote, não é? — disse Breno, tomando parte na conversa e encontrando finalmente uma nova vítima que o substituía nas brincadeiras feitas.
— O Farias me assegurou que ele tá fora — informou Random. — O cara tem quarenta e cinco anos, já deveria estar na casa dele, sendo beliscado pela sogra e jogando futebol apenas com os filhos e netos.
— O único futebol onde ele ainda pode brilhar! — disse Breno, incorporando-se ao chuveiro de água quente.
Minhas pernas tentaram me levar até os três ratos linguarudos, para socar o rosto de todos eles, mas me contive.
Breno, a criatura mais anêmica e risível de todo o futebol nacional, sentindo-se apto a me envenenar daquela forma! Fracote pretensioso! E ele iria comer a minha peituda! Uma vitória sua que me doeria mais que o meu último chute da carreira. Doeria feito um golpe nas minhas bolas, dado por um argentino dos mais filhos da puta.
Percebi que precisaria agir rapidamente. O vapor inundava a área em redor dos chuveiros, de modo que nenhum deles me veria. Andei cautelosamente aos armários dos rapazes e tranquei cada um, com todas as roupas e celulares mantidos dentro. Depois, saí furtivamente do vestiário e tranquei a porta de saída.
Olhei para o local fechado a chave e sorri triunfante.
"Vamos ver se os craques da fofoca são ágeis em arrombar armários e portas."
Consultei o relógio de pulso: dezoito e vinte e oito. Disparei como louco pela arena já quase inteiramente desocupada, exceto por alguns técnicos e indivíduos de torcidas organizadas. Já estava a poucos metros da sala de autógrafos, quando uma mulher surgiu à minha frente.
— Meu marido é tão fanático pelo seu futebol!
— Obrigado, de verdade — disse, olhando em redor e para a maçaneta que eu almejava girar.
— Só quero que rabisque um autógrafo na camisa dele. — Ela retirou uma roupa do saco de papelão e me entregou juntamente a uma caneta mordida. — Nem precisa ser nada caprichado, até porque ele já possui outra camisa autografada por você.
Olhei para ela com impaciência crescente. Eu podia sentir minha ereção irritar-se com aquele imprevisto, e meu pau já pedia o corpo da peituda.
— E mesmo assim ele quer outra? Bom, então vamos lá. — Assinei rapidamente, mal reparando na grafia errada de meu sobrenome.
— Seu sobrenome é Antoni, não Antony — reclamou a mulher, olhando para a assinatura.
Perdendo totalmente a calma, afastei-me da criatura inconveniente e finalmente alcancei a entrada da sala. Ouvi pancadas em portas distantes. Random, Pedroso e Breno, certamente já cientes do vestiário trancado. Eu precisava ser rápido.
Girei a maçaneta e adrentei no local escuro. Um perfume de cereja delatava presença feminina. Olhando para os fundos da sala, ao lado da mesa da papelada, vi novamente os seios mais fartos e redondos da minha vida.

Fim da parte um


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Ficha do conto

Foto Perfil Conto Erotico vampiro-boemio-

Nome do conto:
Decotada alvinegra — Parte 1

Codigo do conto:
213406

Categoria:
Heterosexual

Data da Publicação:
08/05/2024

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