Quando o passado volta a bater em nossa porta

Quando o passado volta a bater em nossa porta
A estrada terminou de serpentear entre as montanhas e deixou ver o pequeno vilarejo de mais ou menos trinta mil habitantes espremido entre os paredões de rocha e o mar. Apesar do visual maravilhoso que se descortinava a nossa frente, eu carregava uma porção de incertezas na alma. Como seria nossa vida num lugar tão pequeno depois de sempre vivermos numa grande metrópole? O que esperar do futuro nesse lugar distante e perdido? Que tipo de gente escolheria um lugar desses para morar? Teriam todos vindo para cá por razões parecidas com as nossas? Não havia mais o que mudar, eu teria que me acostumar com essa cidadezinha e sua gente e, dentro do possível, procurar ser feliz, fosse como fosse.
Ao cruzarmos o pórtico de entrada da cidade, na avenida principal, ela já não me pareceu tão minúscula quanto vista das montanhas. Uma centena de edifícios comerciais se perfilava ao longo dela. Poucos tinham mais do que dois ou três andares, nenhum chegava aos seis. Um vasto canteiro central, arborizado e entremeado por bancos, canteiros floridos e pequenos quiosques, separava as pistas de rolagem dos carros. Nas calçadas largas de ambos os lados, que antecediam as construções, também apareciam árvores que faziam sombra a pequenos aglomerados de mesas e cadeiras na frente de restaurantes, bares e sorveterias. O movimento de pessoas circulando por elas naquele final de tarde nublado era pequeno. Um ou outro casal passeando com os filhos pequenos ou com seus cachorros, algumas pessoas carregando compras de última hora próximas à saída de um supermercado, uma rodinha de adolescentes ouvindo música ao redor de dois rapazes tocando clarinete e algo que me pareceu um banjo, rindo e falando alto.
- Deem uma olhada na pista do outro lado, aquela construção de tijolos à vista e dois pavimentos vai abrigar nossa padaria, vou fazer o primeiro retorno para que vocês possam vê-la por dentro. – disse meu pai, reduzindo tanto a velocidade que o barbudo ao volante de um furgão velho e enferrujado se irritou com ele, socando o volante onde outrora deveria haver uma buzina.
Uma centena de metros adiante, meu pai fez o retorno e estacionou em frente ao edifício, recém-reformado, que lembrava uma daquelas construções das pequenas aldeias da toscana. Quatro grandes janelões de ferro se distribuíam aos pares ao lado da marquise sob a qual ficava a porta de rolo de ferro. Meu pai a destravou depois de enfiar o rosto num dos janelões coberto pelas duas mãos, para permitir que enxergasse melhor o interior e, constatar que não havia mais nenhum operário trabalhando lá dentro. Eu o ajudei a levantar a porta e ele destrancou uma segunda porta de folhas duplas de madeira que dava acesso ao salão principal. Tudo cheirava a cimento fresco, cal e tinta. Uma porção de ferramentas estava sob o balcão no qual os operários deviam estar trabalhando naquele dia antes de terminarem o expediente. Minha mãe foi a última a adentrar o estabelecimento. Ela percorreu os olhos pelas paredes, pelo piso e se deteve num ou noutro ponto, apontando o que precisava ser melhorado. Ela sempre teve essa capacidade, a de, num relance, captar todas as imperfeições para as quais logo tinha uma solução. Meu pai concordou com todas as observações dela. Nos últimos tempos ele sempre concordava com ela. Creio que muitas vezes ele tinha uma opinião diferente, mas havia desistido de contrariá-la.
- O espaço é maravilhoso! Vamos colocar umas mesas redondas com toalhas xadrezes circundadas por cadeiras de ferro e acento de madeira bem diante desses janelões. Algumas menores e dobráveis podem ficar na calçada entre vasos com abetos e capuchinhas multicoloridas. - disse ela, com um sorriso que há tempos eu não via em seu rosto abatido e pálido.
- Sim, sim! Certamente ficará esplendido! – exclamou meu pai, puxando-a pelo braço até os fundos da construção.
Segui uns passos atrás dos dois me lembrando de como aquela cena havia sido corriqueira na vida deles. Senti uma opressão no peito por saber que cenas como essa tinham data marcada para acabar, desde o dia em que o médico lhes revelou que os exames da minha mãe indicavam um tumor inoperável no cérebro crescendo sobre o tálamo.
Demoramos-nos umas duas horas examinando e fazendo planos para a inauguração da padaria. O sol já havia se posto quando baixamos a porta de rolo e seguimos rumo a nossa futura casa. Tudo a nossa volta era novidade e tinha aquele gosto de desconhecido, muito embora nenhum de nós conseguisse se sentir realmente feliz com toda essa mudança. Era como se pairasse uma nuvem de trovoada sobre nossas cabeças, prestes a derramar uma tempestade cuja magnitude ignorávamos.
A casa ficava a cerca de dois quilômetros do centro da cidade, já no sopé das montanhas. Não havia cercas ou muros e, uma alameda de cascalho escalava a subida entre um gramado extenso até a frente da casa. Do terraço se avistava o mar olhando por cima das construções e telhados daquela parte da cidade. Era uma casa grande e espaçosa, muito maior do que três pessoas precisavam para viver com conforto. No entanto, ia parecer acanhada se comparada a que havíamos deixado para trás na cidade. Subi as escadas correndo em direção ao segundo andar, como se precisasse disputar a escolha de um dos quatro quartos com algum irmão. Depois de circular por cada um deles, acabei escolhendo o que ficava do lado oposto ao dos meus pais. Embora fosse o menor deles, tinha uma pequena sacada voltada para o mar azul esverdeado no horizonte. Acho que inconscientemente minha escolha recaiu sobre ele exatamente por ser o mais distante do quarto dos meus pais, como se eu quisesse me afastar dos problemas deles. Nunca consegui a paz que meu inconsciente procurava.
A inauguração da padaria gourmet aconteceu umas quatro semanas depois de nossa chegada à cidade. Foi o tempo que levou para as obras ficarem prontas e meu pai contratar seis funcionários locais, uma vez que o padeiro chefe e um confeiteiro que já trabalhavam conosco também haviam se mudado, acompanhando meu pai nessa nova empreitada. A cidadezinha carecia de um estabelecimento como o nosso, nem tanto pela população local, mas pelos turistas que faziam quadruplicar o número de habitantes na cidade durante a temporada de verão e nos feriados prolongados. Meu pai já previra que, tal como aconteceria em nossa vida pessoal cujo ritmo seria bem mais sossegado e simples, os negócios também não teriam o mesmo glamour e lucro que antes. Apesar de havermos incorporado essa questão quando se começou a falar na mudança, meu pai se surpreendeu com o resultado das finanças ao final do primeiro ano. Estávamos faturando quase tanto quanto na metrópole, mas as despesas eram consideravelmente menores.
O primeiro ano também serviu para me mostrar que minha vida não seria tão sem graça quanto eu havia imaginado. Fiz amizades no colégio, compramos dois cães que sempre me foram negados por vivermos num apartamento, aprendi a surfar e, meu mundo pareceu ter crescido com todo o espaço que havia em torno da cidade para se explorar.
Dentre as amizades que fiz, logo nas primeiras semanas após a mudança, estava a Mariana que era praticamente nossa vizinha, pois a família vivia numa casa a um quarteirão de casa, o Ricardo cujo pai era dono da loja de ferragens bem em frente da nossa padaria e, o Lucas, filho do médico que passou a acompanhar o tratamento da minha mãe. Estudávamos todos na mesma turma do colégio e vivíamos nos encontrando fora de lá, fosse nos passeios de bicicleta, na praia nos dias ensolarados, na frente da sorveteria que aglomerava a moçada local nas noites quentes ou, numa lanchonete que acolhia a galera quando chovia ou quando o vento sudeste varria as noites com seu ar gelado.
Eu fui o último dos quatro a completar meus dezoito anos no verão seguinte a nossa chegada à cidade. Foi o primeiro aniversário da minha vida sem que houvesse uma grande festa juntando familiares e amigos. Um dos motivos foi o fato de estarmos distantes dos familiares e, o principal, foi por que minha mãe havia sido internada uma semana antes e, parece que só esperou o suficiente para me dar os parabéns, numa voz parcialmente obstruída pelo tubo ligado a traqueia e, num abraço tão tênue e sem forças que mal senti seu aperto. Quatro dias depois, meu pai e eu estávamos abraçados na beira do túmulo vendo o caixão ser baixado na sepultura do pequeno cemitério anexo à capela centenária, erguida com pedras entremeadas de barro e óleo de baleia pelos primeiros pescadores que fundaram o povoado. O verão estava quase terminando quando meu pai e eu recomeçávamos a ter uma vida quase normal. Ela nunca mais seria a mesma, mas precisávamos seguir em frente.
Durante todo o infortúnio pelo qual passei, a presença da Mariana, do Lucas e do Ricardo foi muito importante para enfrentar a situação. Foi ali que percebi o quanto as tardes estudando para as provas, as saídas para encontrar a galera e as brincadeiras por vezes abrutalhadas do Lucas e do Ricardo haviam nos unido. Embora eu soubesse que um dia cada um seguiria seu caminho, eu me agarrei a essas amizades como um náufrago que encontra um tronco boiando nas águas. Quando a Mariana começou a namorar um engenheiro em começo de carreira, poucos anos mais velho, e já não se interessava mais tanto pela companhia de três garotões indecisos com que rumo dar às suas vidas, o Lucas o Ricardo e eu ficamos tão próximos como se fossemos irmãos. Fisicamente sempre fui o menos privilegiado dos três, superava-os apenas no quesito beleza, do qual me valia para me aproximar das garotas pelas quais eles ficavam babando. Eu fazia isso mais para provoca-los do que por um interesse genuíno nelas. Como desforra, eles me submetiam a todo tipo de sacanagem e costumavam ter brincadeiras de mão bastante agressivas que muitas vezes deixavam marcas pelo meu corpo por dias. Era assim que retribuíam o carinho que eu lhes dedicava e, o afeto que, sabiam, eu nutria por eles.
O verão chegou ao fim com os turistas partindo, o movimento da cidade voltando ao seu ritmo pacato, os funcionários temporários finalizando as últimas tarefas para deixar as pousadas, hotéis e estabelecimentos comerciais renovados após o desgaste ocasionado pela temporada. Eu já não precisava ficar tantas horas ajudando meu pai na padaria e havia tempo suficiente para usufruir um dolce far niente.
- Vamos até a cachoeira da península do farol esta tarde? Já combinei com o Lucas lá pelas três da tarde, o que você acha? – dizia a mensagem do Whatsapp que o Ricardo me mandou.
- Beleza! Estou nessa. – teclei antes do almoço.
- Passo na padaria ou na sua casa? – escreveu ele.
- Espero aqui em casa. – respondi.
A cachoeira despencando por cinco patamares era uma das atrações da cidade, embora estivesse num local ermo e de difícil acesso, cujas agências de turismo percorriam em jipes 4x4 com os aventureiros dispostos a enfrentar o percurso. O Ricardo tinha adquirido um desses jipes, já usado, dessas agências quando tirou a carteira de motorista e, desde então, era nele que costumávamos dar uns rolês pelos arredores. A península do farol era uma faixa de rochedos com cerca de um quilômetro de comprimento e, em média, trezentos a quatrocentos metros de largura que avançava mar adentro no lado norte da baía que acomodava a cidade. Nela só havia o farol, ruinas de uma casa de madeira onde morava o faroleiro antes de ele ser automatizado e, um bosque denso onde cresciam amendoeiras de praia, guapebas, guatambus e copaíbas. A barreira de rochedos submersos ao longo de quilômetros paralelos a costa originou a construção do farol para impedir que os barcos encalhassem nas pedras. Boa parte da península, onde ela se ligava ao continente, era formada por imensos paredões de rocha intransponíveis. A única ligação era feita por meio de uma ponte com pouco mais de trinta metros de comprimento formada por três arcos de pedra sob a qual corria o riacho vindo da cachoeira.
O Lucas, como sempre, estava atrasado. Acabamos seguindo na direção da cachoeira pouco depois das quatro da tarde quando o céu começava a se encher de nuvens cinza. Ele e o Ricardo tiveram um de seus costumeiros bate-bocas ante a possibilidade de não aproveitarmos nosso passeio. Era eu quem apaziguava os ânimos quando os dois resolviam se desentender por qualquer besteira. Mal havíamos cruzado a pontezinha quando uma chuva torrencial desabou sobre nossas cabeças, uma vez que o Ricardo não afixara a capota escamoteável no jipe. Isso foi motivo para mais uns quinze minutos de discussão entre os dois. Mesmo debaixo do toró que caía, caminhamos até a cachoeira depois de estacionar o jipe na lateral da casa. Era uma caminhada curta de não mais de 400 metros, mas a chuva já devia estar caindo na cabeceira do riacho há algum tempo, pois o volume de água da cachoeira impedia que nos banhássemos nela com segurança.
- O que vamos fazer agora? Se você não fosse um moleirão teríamos curtido o passeio. – vociferou o Ricardo.
- Não fui eu quem fez a chuva encher a cachoeira! Nem vem com esse papo besta por cima de mim. – protestou o Lucas. – Quem foi o espertalhão que não trouxe a capota para estarmos todos encharcados desse jeito? – acrescentou, procurando apontar o erro alheio.
- Vamos voltar! Fica para uma próxima, paciência. – exclamei, procurando colocar um fim na discussão.
A ventania que se formou junto com a chuva torrencial penetrava em nossos corpos enregelados como punhais. Ao chegarmos na ponte, o nível do riacho havia subido tanto que não se via a ponte debaixo da água barrenta que descia formando ondas perigosas demais para se tentar uma travessia às cegas.
- Que porra! Estamos presos nesse fim de mundo. – esbravejou o Lucas.
- Temos que sair debaixo dessa chuva, estou morrendo de frio! – reclamei, apertando meus braços contra o peito. – Vamos nos abrigar na casa até essa chuva parar. – sugeri.
Escalamos o alpendre que abrigava a porta de entrada, uma vez que os degraus da escada que dava o acesso há tempos haviam apodrecido. As tábuas rangiam sob nossos pés quando empurramos a porta emperrada e entramos no primeiro cômodo da casa, que outrora devia ser a sala. Era impossível ficar ali, pois boa parte do telhado já não existia mais e a chuva penetrava pelas aberturas com a mesma fúria que despencava lá fora. O melhor lugar da casa era um dos quartos onde, embora faltassem duas ou três tábuas na parede, podíamos os abrigar a seco. Uma mobília rudimentar ainda sobrevivia no que fora, um dia, a cozinha. Nela também havia um fogão a lenha cuja chapa de ferro se esmigalhou assim que tentamos atear fogo a algumas madeiras espalhadas pelos cômodos.
- Você vai acabar incendiando essa merda! – exclamou o Ricardo, assim que as labaredas do pequeno fogo que o Lucas havia acendido para nos aquecer ganharam força.
- Pelo menos não vamos morrer congelados! – retrucou o Lucas.
- Grande vantagem! Também não quero virar churrasco. – revidou o Ricardo.
Fixei o que restou de uma rede de pesca toda furada em dois pregos fincados nas tábuas, à guisa de varal, para estender minha camiseta, depois de havê-la torcido para retirar o excesso de água. Enquanto os dois faziam o mesmo, notei uma troca de olhares entre eles e um risinho disfarçado em seus lábios. Meu short e minha cueca brancos estavam colados nas minhas nádegas e, pela transparência, via-se a pele debaixo deles. Não era a primeira vez que surpreendi um deles olhando para a minha bunda, afinal já havia me acostumado a ver olhares fixos nela, dado o avantajado de seu contorno. Mas, naquela tarde, havia algo mais brilhando em seus olhos, algo devasso e pecaminoso.
- O que foi? Por que estão me olhando desse jeito? – perguntei irritado, quando vi que não tentavam nem disfarçar.
- É esse seu bundão gostoso! Não dá para não admirar. – respondeu o Ricardo.
- Vá se ferrar! – protestei indignado.
- Vamos arrancar o short dele. – sugeriu o Lucas, aproximando-se de mim ameaçadoramente.
- Sai para lá! Vocês não vão começar a encher o meu saco, não é? – reclamei.
- Deixa a gente ver essa bundinha, vai. – concordou o Ricardo, acercando-se de mim.
Antes de eu conseguir dar um passo para escapulir do cerco, fui pego pelos braços pelo Ricardo, enquanto o Lucas arrancava meu short e minha cueca entre o meu espernear inútil para me defender. Não era nenhuma novidade eu lutar para me safar dos músculos daqueles dois, muitas vezes ficando com as marcas de seus ataques. No entanto, dessa vez, apesar da brutalidade para me conter, havia um componente que até então eu desconhecia fomentando aquela impulsividade. Não demorei a constatar que se tratava de testosterona sendo lançada, aos borbotões, na corrente sanguínea daqueles tarados, pois ambos começaram a ter uma ereção impudica se formando debaixo dos shorts.
- Vocês vão me soltar, ou essa frescura ainda vai longe? – questionei, tentando manter o equilíbrio.
- Se você se comportar a gente te solta! – respondeu o Ricardo.
- Vão se catar! Quem tem que se comportar são vocês! – revidei.
- Você fica mais tesudinho quando está bravinho, sabia? – afirmou o Lucas, que descaradamente alisava minhas nádegas com sua mão gulosa e pérfida.
Eu quis dar um soco nele quando um dos meus braços se soltou das mãos do Ricardo, mas gostava tanto dele que não queria feri-lo, apesar do que estava fazendo comigo. Ele percebeu isso no meu olhar onde, ao invés de raiva, ele continuava a enxergar o mesmo olhar carinhoso de sempre.
- Sabe que eu já bati umas punhetas pensando em você? – disse o Ricardo, que já não me apertava com tanta força como antes.
- É por que você é um tarado doente! – exclamei, conseguindo finalmente desvencilhar-me dele.
- Não! É por que você é gostoso mesmo. – respondeu com uma risadinha safada.
- O que cresceu demais atrás deixou a desejar na frente. - afirmou o Lucas, encarando meu pinto. Ambos riram e ficaram nus diante de mim.
- Isso é uma piroca de macho! Não essa coisinha aí. – caçoou o Ricardo, exibindo a maior jeba na qual eu já havia posto os olhos, um tarugo reto e pesado tão grosso quanto uma latinha de energético e maior do que um palmo.
- Ou essa! – apressou-se o Lucas, balançando sensualmente o cacetão grosso, igualmente descomunal e circundado por um emaranhado de veias.
- Grande coisa! Precisa ver se isso aí serve para alguma coisa, além do exibicionismo. – desdenhei, embora tivesse ficado impressionado com o que via.
- Podemos te mostrar para o que serve! Aposto que não vai ficar decepcionado. – disse o Ricardo, enquanto manipulava aquele troço gigantesco, com um olhar de cobiça que me deixou mais arrepiado do que o frio que eu estava sentindo.
- Chega dessa conversa boba! Vamos pegar mais uns pedaços de madeira, pois o fogo está baixando. – retruquei, desejando deixar de ser o foco daquele papo assustador.
Anoitecera mais rápido do que prevíamos. A chuva não dava trégua, continuava a despencar como num dilúvio. Nossos corpos bruxuleavam na escuridão iluminados apenas pelas labaredas do fogo que queimava no fogão. Havíamos amontoado outras redes de pesca que encontramos pela casa e, nelas permanecíamos sentados à espera do fim da tormenta. De tempos em tempos, num revezamento, cada um ia alimentar o fogo quando este baixava mergulhando o cômodo na escuridão. Da casa ouvia-se a violência com que a água descia na cachoeira e, ficou patente que teríamos que passar a noite ali.
Numa das vezes em que precisei colocar madeira na fogueira, o que eu fazia cheio de pudores e timidez, uma vez que os dois ficavam secando minha bunda numa desfaçatez maliciosa, o Ricardo interceptou minha volta. Ele não foi bruto, mas me prendeu em seus braços com determinação e vigor. Eu protestei. Ele me ignorou. Senti um calafrio percorrendo minha espinha quando meu corpo nu encostou no dele e eu senti seu calor. Ele notou que fiquei abalado com aquela proximidade. O Lucas deu um assobio, fazendo fiu-fiu antes de soltar uma risadinha.
- Quero você! – sussurrou o Ricardo no meu ouvido.
- Não! – balbuciei, perdendo o que ia dar como justificativa quando senti sua mão entrando no meu rego.
Por algum motivo parecia que meus pés estavam pregados nas tábuas do piso, não consegui me mover. À medida que as labaredas do fogo iam ganhando força, eu via seu rosto tranquilo e sedento me encarando numa proximidade intimidadora. Não fugi do beijo que ele calmamente colocou nos meus lábios. Ele era um amigo muito querido, jamais havia pensado nele sob outro aspecto, mas agora sentia vontade de ser carinhoso com ele. Ele me beijou com mais intensidade e sensualidade, sua língua entrou na minha boca e eu, a princípio, não sabia o que fazer com ela. Quando a senti movimentar-se e entrosar-se com a minha, sorvi sua saliva e achei-a deliciosa. O Lucas nos observava em silêncio, seus gracejos haviam cessado, sua mão precisou urgentemente tocar o caralhão que se enrijecia involuntariamente. A mão do Ricardo percorria minhas nádegas tão insistente e insidiosamente que comecei a sentir o tesão me abrasando a pele. Beijamo-nos demoradamente, pois tempo era tudo o que estava sobrando naquela noite chuvosa sem perspectivas de sairmos dali. Foi uma experiência indescritível sentir sua pele roçando a minha em quase todo o corpo, mesmo quando uma ereção começou a melar minha coxa com seu fluido pré-ejaculatório. Aos poucos ele foi deslizando as mãos pelo meu corpo, lenta e sedutoramente, como se quisesse sentir o afago da minha pele na palma das mãos. Deteve-se mais demoradamente num dos meus peitos, tateando sobre o mamilo e apertando o biquinho enrijecido entre o polegar e o indicador até eu soltar um gemido. O cacetão do Lucas estava imenso entre suas coxas peludas e eu podia vê-lo por cima dos ombros do Ricardo. Ao sentir os dentes do Ricardo se cravando na minha teta, soltei outro gemido, mais pungente e inseguro. Havíamos chegado a um estágio do qual não haveria retrocesso. Por uma razão que eu desconhecia, meu cuzinho estava se contorcendo e, eu nada podia fazer para refreá-lo. O Ricardo me guiou até a rede na qual estava sentado e, ajoelhando-se diante de mim, começou a mordiscar e lamber meus glúteos. Enquanto os apartava suavemente, sua língua ia penetrando cada vez mais na intimidade do meu rego. Tive vontade de gritar de, tanto prazer que aquilo me causou. A língua ávida lambendo minhas preguinhas me deixou com tanto tesão que eu mal conseguia ficar em pé. O Lucas não tirava os olhos de nós, extasiado com aquele show inesperado. Quando o Ricardo me puxou para baixo fazendo-me reclinar sobre a rede, eu cedi completamente enlevado por um desejo carnal e libidinoso. Abri minha boca quando ordenou que eu chupasse a rola que ele pincelava lambuzada no meu rosto. Um bocado de pré-gozo fluiu da cabeçorra quando meus lábios se selaram ao redor dela. O sabor salgado se mesclou à minha saliva e eu degluti. Tudo o que entrou na minha boca foi a glande imensa e uns dois ou três centímetros da jeba, eu me esforçava para engolir mais, mas sentia engulhos a cada tentativa.
- Fique calmo, vá engolindo aos poucos e respire pelo nariz. – instruiu ele, com a serenidade de um mestre.
Aos poucos fui me adaptando, mas ainda estava longe da virilha pentelhuda que estava diante do meu rosto afogueado. Ele segurou minha cabeça entre as mãos e meteu a rola na minha garganta, fodeu-me até que enfiei a ponta dos meus dedos em suas coxas clamando pelo ar que me faltava. Ele bufava com a respiração acelerada, me dava uma pequena trégua e voltava a enfiar a pica na minha goela. Quando pensei que ele ia me soltar, deitou-se sobre mim e começou a roçar a jeba no meu rego. Aos poucos seus braços envolveram meu tronco e ele começou a forçar a pica contra meu cuzinho. Eu arquejava num misto de angustia e tesão. De onde eu estava dava para ver o Lucas se masturbando. Soltei um grito quando a cabeçorra entrou no meu cu, parecia que tudo estava se rasgando.
- Relaxa! Não quero te machucar. Abre bem o cuzinho e deixa eu entrar. – sussurrou o Ricardo, enquanto esperava pacientemente para eu me acostumar com aquela tora de carne atolada no meu rabo.
- Está doendo Ricardo! Eu não vou aguentar. – balbuciei entre os gemidos, excitando-o com minha revelação.
- Não fique aflito. Vou colocar devagarinho até você se acostumar. – grunhiu ele, ardendo de desejo.
Assim que relaxei um pouco ele começou a meter o caralho num vaivém cada vez mais profundo. Eu gemia a cada estocada deixando os dois malucos de tesão. Minhas pregas estavam tão distendidas, mesmo depois de se dilacerarem, que a jeba dele entrava em mim apertada pelos esfíncteres que se contraíam incontrolavelmente.
- Tesão de cuzinho apertado! – gemeu ele, confidenciando seu prazer para o Lucas.
- Ai Ricardo! Eu não estou aguentando. – gani angustiado.
- Já vai passar! Você está muito tenso. – disse, me dando a certeza de que não ia sair das minhas entranhas antes de ter se satisfeito plenamente.
Apesar de toda a dor que estava experimentando, sentir aquele macho pulsando dentro de mim foi a coisa mais maravilhosa que eu já havia sentido. Procurei me concentrar nesse prazer toda vez que sentia as forças me faltarem. O Ricardo era quente e vigoroso, e eu sentia toda sua virilidade atormentado minhas entranhas.
- Você é enorme Ricardo. Esse pintão está me rasgando todo. – murmurei.
- Não foi você quem duvidou, a pouco, se isso servia para alguma coisa. – revidou ele.
- Eu retiro o que disse. Não precisa me machucar só para se vingar. – balbuciei.
- Não estou me vingando, e nem quero te machucar, já disse isso. Eu quero você por que você é gostoso demais. Você não está sentindo nada? – quis saber
- Sinto claro! Eu estou gostando de sentir você dentro de mim, mas dói muito, eu juro. – respondi.
- Eu também estou gostando muito Roberto. Não me peça para parar agora. – pediu como uma criança que pede um doce para o pai. Isso foi o suficiente para eu me entregar por inteiro.
O cadenciado vaivém que ele imprimia à jeba, movimentando sua pelve, parecia um bate-estacas dentro do meu cuzinho, o que me fazia gemer. O Lucas olhava para meu desespero excitado e cheio de segundas intenções. Quando ele se levantou e veio em nossa direção, eu sabia que não era para me acudir. Ele caminhou com as pernas bem abertas, a rola a meia bomba balançava de um lado para o outro e, um fio translúcido e viscoso escorria da cabeçorra arroxeada. Ele se aproximou do meu rosto e me deu um beijo úmido e depravado. Em seguida, ofereceu-me aquela tora de carne cheia de grossas veias ingurgitadas. Eu a coloquei na boca e, ganindo comecei a chupá-la e lambê-la. Os dois entraram numa espécie de transe onde a racionalidade havia sido suprimida. Suas ações eram carnais e primitivas. Tudo a minha volta cheirava a sexo, testosterona e virilidade.
- Cara! Como esse putinho chupa uma rola gostoso! – disse o Lucas, após algumas sugadas dos meus lábios sorvendo seu fluido ejaculatório.
- Isso por que você ainda não provou esse cuzinho de pregas apertadas. – grunhiu o Ricardo, acelerando as estocadas, pois estava a ponto de atingir o clímax.
Abri a boca para gritar, pois não estava mais aguentando o caralhão do Ricardo me fodendo com aquela brutalidade, o que foi suficiente para o Lucas meter a pica no fundo da minha garganta. Senti o Ricardo se retesando, colando sua virilha nas minhas nádegas a ponto do sacão se encaixar no meu rego distendido, soltando um urro que ecoou pela casa vazia e, segundos depois, meu ânus ser inundado por um calor úmido e pegajoso. Ele estava gozando no meu cuzinho feito um garanhão reprodutor. Nada havia sido mais maravilhoso na minha vida do que aquele momento. Comecei a chorar.
- Ei! Não precisa começar a chorar. Eu acabo de gozar, não vai doer mais, prometo. – murmurou o Ricardo, abraçando meu tronco e beijando meu pescoço.
- Eu sei. Estou chorando de felicidade! – exclamei, tentando colocar um sorriso nos lábios.
- Bobinho! Você não existe! – grunhiu ele, intensificando seus beijos.
O néctar másculo do Lucas escorria abundante na minha boca, e eu o sorvi guloso e ávido. O Ricardo continuava engatado em mim, esperando o tesão arrefecer e o cacetão amolecer. Seguramente, passou-se um quarto de hora antes disso acontecer. O Lucas já estava desesperado, tirando de quando em vez a pica da minha boca, pois pressentia que ia gozar se não o fizesse. Assim que o Ricardo tirou a jeba do meu cuzinho, e ele começou a se fechar em movimentos espasmódicos e contráteis, o Lucas encaixou a rola entre as preguinhas e começou a forçar. Eu voltei a gemer, me preparando para receber o caralhão grosso que tinha acabado de sair da minha garganta. Soltei um grito quando aquilo entrou em mim, em poucos segundos eu estava reduzido a gemidos primais no auge daquele sexo maravilhoso, que deixara de ser verbal quando meu corpo assumiu o controle sobre minha razão. Se alguma prega havia permanecido ilesa quando o Ricardo me fodeu, agora ela estava sendo rasgada por aquele membro abrutalhado.
- Cazzo! Que delícia! – gemeu o Lucas, deixando o ar escapar entre os dentes cerrados.
Meu pau estava doendo de tanto tempo duro como uma pedra. Ele estava encaixado entre as tramas da rede sobre a qual eu estava deitado. A cada estocada que eu levava no cu, ele se atolava no tramado esfolando a mucosa sensível e delicada da glande. Eu tinha gozado e a porra havia se entremeado na trama da rede. O Lucas bombava meu cuzinho feito um louco, precisei implorar para me poupar. O tesão dele tinha-lhe tirado a racionalidade, alimentado pela cena do Ricardo me fodendo e eu me entregando submisso e carinhoso e, pelos meus lábios sugando sua rola suculenta. Agora que o cacetão se sentia agasalhado pela maciez do meu anelzinho anal apertado, ele só queria se satisfazer. Ele não conseguiu se segurar por tanto tempo quanto o Ricardo. Seu gozo explodiu na minha ampola retal em jatos fartos e cremosos ainda enquanto ele bombava impiedosamente meu cuzinho. Uma parte daquele creme viscoso escorreu pelo meu reguinho e coxas antes mesmo de ele sacar o cacete de dentro de mim. Fechei as pernas assim que vi que ele estava em pé atrás de mim com o pau pingando porra. Estava difícil mover as pernas sem que uma dor lancinante percorresse minhas entranhas. Desabei sobre a rede enquanto os dois se aproximavam de mim, um de cada lado. Deixei que me chupassem os mamilos até que minha respiração voltasse ao normal, depois beijei-os com toda ternura e devoção. Desde que entrei na adolescência, eu sentia que havia um buraco na minha vida, algo que não conseguia ser preenchido, embora eu não soubesse o que. Agora que parecia haver um buraco enorme no meu cu, eu finalmente descobri satisfeito que esse buraco tinha a forma exata de um homem e, que ele acabara de ser tapado. Com os rostos do Ricardo e do Lucas tão próximos, eu não conseguia acreditar no quão másculas e sensuais eram as linhas de suas mandíbulas e pescoços. Ficamos estirados ali até que o sono nos envolveu, embalados pela chuva e o vento que açoitavam as paredes da casa.
Ao alvorecer, ainda chovia forte e monotonamente. Eu estava encaixado no Lucas e sentia sua ereção matinal roçando minhas coxas. Acordei assustado sem identificar inicialmente onde estava. Todos os meus músculos doíam devido à má postura enquanto dormia. Mas, nada se comparava a dor das minhas entranhas. Enquanto nos espreguiçávamos ouvimos chamados que vinham da direção da ponte. Rapidamente colocamos nossas roupas ainda molhadas e corremos para fora da casa. Havia um grupamento de bombeiros do outro lado da ponte. Junto com eles, meu pai, os pais do Ricardo e o pai e um irmão do Lucas. O riacho continuava arrastando as margens com suas águas revoltas e, a ponte continuava submersa. Os bombeiros lançaram um cabo de aço e nos instruíram a fixa-lo numa árvore formando uma espécie de tirolesa. Dois bombeiros fizeram a travessia para conferir se estávamos bem e se o cabo estava bem afixado. Fui o primeiro a ser resgatado. Enquanto o bombeiro prendia um emaranhado de fitas de poliéster que compunha a cadeirinha ao redor das minhas pernas e tronco, notou que havia sangue no meu short.
- Você está ferido? Seu short está manchado de sangue. Sente dor em algum lugar? – questionou, antes de me preparar para a travessia. Eu corei na hora.
- Não! Estou bem. Não foi nada. – balbuciei ruborizado.
O bombeiro era um sujeito corpulento e vigoroso, devia ter uns trinta e poucos anos e, logo sacou o que tinha acontecido. Creio tê-lo visto uma vez na padaria e, acho que ele também me reconheceu. O fato de estar estampado na cara dele que sabia o que tinha acontecido comigo me deixou ainda mais encabulado. Ele não disse mais nada, apenas me mandou apertar os braços ao redor do tronco dele e ficar calmo. Durante a travessia fiquei cara a cara com ele, conseguia sentir seu hálito morno resvalando no meu rosto. Ele me apertava junto ao corpo com uma das mãos e segurava uma alça próxima ao mosquetão fixado nas roldanas. Eu podia jurar que ele estava sentindo tesão com aquilo. Não consegui deixar de pensar que até ontem nunca estivera engatado a um homem e, em menos de vinte e quatro horas, esse era o terceiro ao qual eu estava atado. Quando chegamos à outra margem ele me ajudou a me desvencilhar das amarras, deu um sorriso ladino quando meu ‘muito obrigado’ saiu numa voz quase inaudível. Ao dar uma piscadela na minha direção, desviei o olhar e caminhei em direção ao meu pai.
Apenas à noite, conversei rapidamente com o Ricardo e o Lucas pelo telefone, eles queriam saber como eu estava. Essa era uma pergunta que nem mesmo eu conseguia responder. Meu cuzinho estava bastante machucado, minhas entranhas doíam a cada passo que eu dava, o sêmen que eu carregava era a coisa mais maravilhosa que podia haver, tudo era tão ambíguo. A noite mal dormida do dia anterior estava me cobrando, por isso, fui dormir cedo. A chuva ainda não tinha dado trégua. Era comum aquela região ficar sob chuvas intensas por dias. As montanhas retinham as nuvens carregadas enquanto ventos frios vindo de sudeste as comprimiam fazendo a chuva despencar sobre a cidade.
No dia seguinte, resolvi sair de casa e ajudar meu pai na padaria. Havia dois dias que ele estava se virando sozinho com os empregados. Levantei cedo, tomei uma ducha para me revigorar e uns antiinflamatórios para controlar aquele desconforto anal, e fui enfrentar o trabalho. Todos quiseram saber dos pormenores da nossa aventura, dos funcionários aos clientes habituais que me conheciam. Repeti a história uma centena de vezes. Pouco antes do almoço o Ricardo atravessou a avenida que separava os estabelecimentos dos nossos pais e veio me encontrar. Eu o avistei assim que ele apareceu no canteiro central que dividia as pistas e aguardava um momento para o fluxo de carros diminuir e ele poder atravessar. Senti meu cuzinho se contorcendo enquanto o observava. Nunca havia reparado que seus ombros eram tão largos e que seus bíceps eram tão avantajados. Não era à toa que o cacetão que carregava entre as pernas também fosse algo tão descomunal. Ele abriu um sorriso assim que me viu servindo uns clientes. Eu retribuí um pouco envergonhado.
- Oi! Tudo bem com você? – questionou, me acompanhando até os fundos da padaria.
- Tudo bem. E você? – subitamente não encontrava coragem para encará-lo.
- Fiquei preocupado com você. – disse ele, baixando o tom de voz e se certificando de que ninguém nos ouvia.
- Não sei por quê. Fomos resgatados sem problemas. – respondi.
- Você sabe ao que eu me refiro. – disse ele, bloqueando meu caminho para que eu parasse e o encarasse.
- Não vamos falar mais sobre isso, especialmente aqui. – retruquei.
- Mas eu quero falar sobre isso. Pode não ser aqui nem agora, mas quero conversar com você. – afirmou decidido.
- OK! Depois então. – respondi, afastando-o ligeiramente para atender um casal que acabava de se sentar numa das mesas da calçada.
- Hoje, no final da tarde, na casa do Lucas. Os pais dele saíram da cidade e podemos ficar a sós. – determinou ele.
- Não sei se é uma boa. Vamos nos encontrar noutro lugar. – protestei. De repente, temendo me ver a sós com aqueles dois.
- Às sete na casa do Lucas, ou vou te buscar onde quer que se esconda! – exclamou, voltando para a loja do pai sem olhar para trás.
Eram quase oito quando toquei a campainha da casa do Lucas.
- Finalmente! Eu já ia atrás de você. – afirmou o Ricardo.
- Que afobação toda é essa? Para que essa urgência toda? – questionei.
- Queremos saber como você está. – afirmou o Lucas.
- Eu já disse, estou bem! – retruquei, um pouco exaltado.
- Mesmo? Você estava sangrando. – inquiriu o Ricardo com uma voz doce e preocupada.
- Bem, acho que não é para menos. Nunca alguma coisa entrou em mim pelo meu ..., vocês sabem muito bem por onde e, numa única sequência, vocês enfiam esses troços enormes em mim, como acham que eu ia ficar?
- Juro que não sei o que me deu naquela hora. Mas, quando vi sua bundinha roliça toda molhadinha debaixo daquele short transparente, me deu uma puta vontade de meter minha pica nele. Achei que se não fosse ali e, naquele exato momento, nunca mais teria uma chance. Pirei. Eu não quis te machucar. – asseverou o Ricardo.
- Nem eu! Roberto, aquilo foi surreal. Eu vi o Ricardo te abordando, você, sei lá, você meio que deixando ele avançar sem protestar. Aquilo foi me dando um puta tesão. Quando você começou a chupar a rola do Ricardo eu achei que fosse ter um troço. Era mil vezes melhor do que assistir um filme pornô. O Ricardo gemendo de tesão e você gemendo dengoso com a pica no rabo, não deu para segurar. Quando dei por mim, estava te enrabando e adorando. – afirmou o Lucas.
- Acho que estávamos sob o impacto de não conseguirmos regressar devido à enchente, aquela casa abandonada, a chuva lá fora, o fogo crepitando e iluminando nossos corpos, deve ter sido tudo isso. Aconteceu. – respondi.
- Foi mais do que só isso! A harmonia que imperou enquanto a gente transava foi a coisa mais fenomenal que podia existir. A gente estava se curtindo como nunca antes. – afirmou o Ricardo.
- Tá! A gente se gosta, isso é fato. Ninguém pode negar. Eu só queria pedir uma coisa para vocês dois, por favor, ninguém pode saber disso. – sentenciei.
- Você jamais precisava pedir uma coisa dessas! É claro que nunca vamos falar com outras pessoas sobre o que aconteceu no farol. – garantiu o Lucas, procurando com o olhar a anuência do Ricardo.
- Mesmo assim, é bom nunca mencionarmos nada. O bombeiro que nos ajudou na travessia sacou tudo, tenho certeza e, ele me conhece da padaria. – afirmei.
- E daí? Ele estava fazendo o trabalho dele, não tem por que ele fazer comentários a respeito disso. – asseverou o Lucas.
- E como ficamos nós? – questionou o Ricardo, dirigindo a pergunta especificamente para mim.
- Como assim, como ficamos? Como sempre ora! – respondi.
- Não dá mais para ignorar que eu quero você outra vez. – afirmou o Ricardo.
- Eu também! – emendou o Lucas.
- Esperem ai! Vocês estão me dizendo que...Nem pensar! – protestei.
- Você disse que estava gostando lá no farol. Mudou alguma coisa? – questionou o Lucas.
- Mudou tudo! Nós não estamos mais sob pressão, não estamos mais presos, mudou tudo! – exclamei.
- Não diz isso! Você é muito gostoso. Ninguém, que não está a fim de transar, fica tão carinhoso e, aceita tudo com a naturalidade e o desejo que havia no seu olhar. – afirmou o Ricardo.
- Eu fiquei confuso, deve ter sido isso. – respondi.
- Não! Você queria, você gostou, você também estava a fim. – garantiu o Ricardo. – eu senti isso em cada toque e em cada beijo que você me dava.
- Ninguém beija como você nos beijou, chupa uma rola com a meiguice que você chupou se não estiver com vontade de fazer isso. – corroborou o Lucas.
- Eu não sei o que dizer. Estou confuso demais para expressar minha opinião. – revidei. – Como posso me envolver com vocês dois ao mesmo tempo? Isso é uma loucura!
- É a loucura mais deliciosa que podia existir. Vamos deixar rolar. Vamos ver no que vai dar. – disse o Ricardo.
- E se alguém sair ferido dessa situação? Eu não quero magoar nenhum de vocês dois, eu gosto muito da nossa amizade e de cada um de vocês. – questionei.
- Não somos mais crianças. Essa é uma oportunidade que a vida está nos dando, vamos curti-la! – disse o Lucas.
Cheguei em casa pouco antes da meia-noite com o cuzinho ardendo e cheio da porra dos dois, meu pai ainda assistia TV e, ao que parece estava a minha espera. Ele me questionou sobre essa amizade com o Ricardo e com o Lucas, não num tom de censura, mas de curiosidade mesmo. Não sei se ele estava desconfiando de alguma coisa. Ainda mais, que eu estava diante dele segurando as coxas bem fechadas para que aquela umidade máscula não vazasse do meu rabo. Por fim, creio que se convenceu com as minhas respostas e, até fez um comentário que boas amizades são para sempre. Haveria uma profecia nas palavras dele?
Em breve cada um de nós ia seguir seu rumo. Poucas semanas depois do final do verão deixaríamos a cidade para estudar nas faculdades onde havíamos passado no vestibular. Até a Mariana seguiu feliz com o namorado que já estudava na mesma faculdade onde ela entrou. Foi a primeira a partir. Veio se despedir de mim na padaria com o namorado a tiracolo. Mesmo vivendo há tão pouco tempo na cidade acabei me afeiçoando às pessoas e, tive que fazer força para não deixar aquele nó que me sufocava o peito se transformar em choro quando ela me abraçou e me beijou chorando.
Enquanto não chegava o dia da nossa partida, nós três nos encontrávamos diariamente. Logo nos primeiros encontros, eu percebi que havia se instalado uma disputa entre o Ricardo e o Lucas sobre a supremacia do meu cuzinho. A forma como tudo começou fez com que eles tolerassem essa bigamia, uma vez que nenhum dos dois estava disposto a ceder sua posição e, nem se privar das minhas carícias. Eu nunca havia imaginado que seria capaz de sentir tanto afeto por outro homem, a ponto de transformar o que sentia no coração em afagos, cuidados, entrega e paixão.
Na véspera da minha partida, meu pai queixou-se de uma dor de cabeça que, segundo ele, mais parecia uma tortura. Sugeri que fosse para casa e descansasse, eu tomaria conta da padaria. Desmarquei meu encontro com o Lucas e o Ricardo e assumi as tarefas do dia.
- Quero vê-lo antes de partir. Não importa quando, mas me avise assim que for possível. Quem sabe lá quando vamos nos reencontrar e eu quero-te entregar uma coisa antes de viajar. – disse o Ricardo, durante uma conversa relâmpago ao celular.
O dia foi muito corrido na padaria. Tivemos umas encomendas extras por conta de uma festa que alguém promoveu e, quase tudo o que foi servido foi encomendado na padaria. E, como não podia deixar de ser, a famosa lei de Murphy se fez mais presente do que nunca naquele dia tumultuado. Um dos fornos resolveu dar problema, o movimento no balcão e nas mesas foi intenso, um dos funcionários cortou-se e precisou ficar restrito a tarefas simples e, para coroar o dia com imprevistos, um funcionário da companhia de energia elétrica veio nos comunicar que ficaríamos sem energia por umas duas horas, pois estavam substituindo um transformador nas proximidades. Quando dei por mim eram onze horas da noite e já deveríamos ter fechado há uma hora. Eu estava exausto e atrapalhado em meio às últimas providências para fechar a padaria quando o Lucas apareceu para me dar uma carona até em casa. Faltava pouco para a meia-noite quando eu e ele descerramos as portas da padaria. A caminho de casa ele colocou a mão na minha coxa e confessou que ia morrer de saudades dos nossos encontros. Comentou que a vida costuma ser cruel com os apaixonados, uma vez que estava nos afastando justamente agora que estávamos numa boa. Concordei com ele, embora o que sentia em meu peito em relação a ele não fosse exatamente uma paixão. Quando muito eu a classificaria de amizade colorida, pois a paixão que se apoderara do meu coração tinha outro destino. Ela era única e exclusivamente direcionada ao Ricardo. No entanto, não era o momento de dizer a ele que nutria esse sentimento por outro, ainda mais sabendo que nesse campo os dois rivalizavam. Eu estranhei quando ele estacionou a certa distância da casa, bem próximo à rampa que conduzia à garagem. Antes que eu dissesse alguma coisa ele desatou o cinto de segurança e partiu para cima de mim. Retribuí o beijo ardente e úmido que ele me deu, aceitando carinhosamente sua língua voluptuosa na minha boca. Pensei que ele só estava empolgado com a questão da despedida e sendo mais atrevido por conta disso. O Lucas é um cara gostoso, corpão definido, músculos vigorosos, olhar lupino e uma jeba de respeito que parecia não se saciar nunca. Não era fácil resistir às suas investidas quando estava possuído por um tesão cheio de ardis. Eu estava cansado daquele dia estafante sem energias para me opor as suas vontades. Não o tinha feito nem daquela primeira vez no farol, quanto mais agora quando minha disposição estava alquebrada. Quando o encosto do banco no qual eu estava sentado tocou no assento do banco de trás, eu já estava sem o cinto de segurança e minha camiseta estava embolada junto ao pescoço. Ele devorava minhas tetas como se não visse uma refeição decente há dias. Eu gemia a cada mordida que ele dava nos meus mamilos deixando vergões avermelhados ao redor deles. Ele sabia do fascínio que um tórax largo e musculoso exercia sobre mim, por isso tirou a camiseta e me puxou para junto dele. Enquanto sua língua se embolava com a minha, suas mãos foram baixando minhas calças e expondo minha bunda. Eu acariciava seu tronco à medida que o calor daquele corpo viril ia aumentando. Ele me fez virar de bruços e, apartando minhas nádegas, começou a lamber meu cuzinho. Gani feito uma fêmea no cio enquanto a ponta de sua língua úmida roçava minhas preguinhas. Meu pau estava tão duro que se esfolava contra o assento do banco, enquanto eu me contorcia de tesão. O carro da mãe dele, apesar de não ser pequeno, mal dava conta de nos acomodar, uma vez que ambos somos altos. Ele bateu a cabeça no teto quando foi baixar a bermuda para pincelar a verga na minha cara. Não demorou nem alguns segundos para que daquela cabeçorra grossa começasse a fluir o cheiroso e delicioso fluído ejaculatório. Coloquei a pica na boca e comecei a sugar aquele néctar, fazendo-o gemer de tesão. Ele começou a foder a minha garganta e, eu sentia o sacão dele batendo no meu rosto, perdido entre aquela floresta de pelos pubianos. Meus gemidos guturais eram sufocados por aquela rola grossa que mal me deixava respirar. Ele me fodeu por tanto tempo que achei que ia gozar na minha boca. Mas ele interrompia as estocadas a cada sensação iminente de gozar, deixando-me com a rola entalada na garganta. Na escuridão quase total, seu olhar tinha um brilho penetrante quando colocou minhas pernas abertas sobre seus ombros e pincelou a pica no meu rego. Eu ergui minhas ancas comprimindo-as contra sua virilha num desejo carente e submisso. Meu cuzinho piscava alucinadamente quando um sorriso libidinoso se formou nos lábios dele. Desde aquele dia no farol, eu não tinha sido mais penetrado sem que meu cuzinho tivesse sido lubrificado. Só me lembrei que isso estava prestes a acontecer novamente agora que ele deu a primeira forçada contra meu anelzinho. Por uns instantes fiquei tenso e apreensivo, pois sabia qual seria o resultado dessa negligência. Mas, essa constatação veio tarde demais. Ele meteu o caralhão em mim, intrépido e convicto, na segunda investida. Meus esfíncteres se distenderam indefesos e suplantados e, quando voltaram a se contrair vigorosamente, aquela rola imensa já pulsava entalada neles. Meu grito ecoou no carro fechado e meu tesão me fez gozar na minha barriga assim que ele terminou de meter todo o cacete no meu cu.
- Já gozou tesãozinho? Isso é para você não se esquecer da minha rola. – grunhiu, bombando meu cu com toda sua potência máscula.
Eu tinha as pontas dos dedos enfiadas em suas costas, chupava a língua dele que bailava grudada com a minha, quando a porta do meu lado foi aberta abruptamente. O rosto transfigurado do Ricardo apareceu no vão recém aberto, eu comecei a esmurrar as costas do Lucas, pois ele estava tão empenhado em me foder que demorou a constatar que havíamos sido surpreendidos.
- Oi! – disse ele, ainda gemendo, quando viu o Ricardo, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Talvez imaginando que, assim que ele tirasse o pau meu cu, o Ricardo fosse assumir a posição. Afinal, sempre tinha sido assim.
No entanto, a expressão no rosto do Ricardo me fez perceber na mesma hora que não era nada disso. Nunca me doeu tanto encarar o Ricardo vendo-me ser enrabado daquele jeito. Eu quis fechar minhas pernas, mas o Lucas estava entre elas e aquele caralhão ainda não estava satisfeito. Ele não se importou com a presença do rival ali ao lado e continuou a me foder até se saciar por completo.
- Vejo que você fez sua opção! – exclamou o Ricardo, me encarando desolado, enquanto o Lucas inundava meu cuzinho com seus jatos de porra.
Quando sacou a pica do meu cu, já parcialmente amolecida, o Lucas perguntou pelo Ricardo.
- Ué! Onde foi parar o Ricardo? Pensei que ele ia continuar a partir daqui. – murmurou arfando e, procurando com o olhar ao redor. Tive uma crise de choro. – O que foi? Nem me lembrei de trazer o lubrificante, machucou muito? – questionou. Balancei a cabeça negativamente sem conseguir segurar o choro. Meu cu estava, sem dúvida, arregaçado, mas não era isso que estava doendo tanto.
Quando entrei em casa, liguei para o celular do Ricardo. Ele não atendeu. Era tarde para ligar na casa dele, mas não me controlei e acabei ligando. A mãe dele atendeu com uma voz sonolenta, disse que ele havia saído e que eu tentasse o celular. Não consegui pregar o olho a noite toda. Eu só via aquele rosto magoado na minha frente. Como pude ser tão desprezível? Por que não confessei que tinha me apaixonado pelo Ricardo e que, apesar de gostar muito do Lucas, não queria mais manter relações sexuais com ele, que seríamos apenas bons amigos dali em diante?
Um funcionário da padaria me levou até o aeroporto na cidade próxima, pouco antes do alvorecer. Pensei em ligar na casa do Ricardo, pois ele não atendia o celular, mas já tinha cometido essa imprudência na noite anterior e não queria ser inconveniente. Parti sem ao menos um adeus. Os meses foram se passando e nenhum dos meus telefonemas, mensagens ou e-mails obteve uma resposta. No dia do aniversário do Ricardo fiz outra tentativa na casa dele, como sempre a resposta foi a de que ele não estava. A mensagem que enviei teve a mesma frase que ele pronunciou naquela noite – você fez sua opção. Nunca mais nos falamos.
Eu não voltei nenhuma vez para casa enquanto estive na faculdade. Passava as férias em outros lugares e, era meu pai que vinha ao meu encontro para viajarmos juntos. Quando perguntava a ele sobre meus amigos, ele dizia que nunca mais os tinha visto. Numa dessas nossas férias juntos, quando tínhamos ido fazer um cruzeiro pelas ilhas gregas, ele me contou que o pai do Lucas havia se mudado da cidade. No ano seguinte, a notícia praticamente se repetiu. O pai do Ricardo havia vendido a loja de ferragens e, ele e a esposa tinham ido morar na mesma cidade onde morava a filha casada, pois queriam ficar mais próximos do neto.
Quando terminei a faculdade voltei para nossa cidade. Meu pai precisou colocar umas pontes de safena, pois o coração já não era mais o mesmo. Naquele momento percebi que jamais iria exercer a profissão de engenheiro, que meu destino estava atrelado àquela padaria e àquela cidadezinha litorânea, que precisava cuidar do meu pai. Toda vez que olhava para o outro lado da avenida meu coração se comprimia a ponto de eu sentir uma dor no fundo daquele vazio. Treze anos decorreram sem que eu me apercebesse de sua passagem, sem grandes percalços ou novidades. Às vezes, a dor em meu peito se tornava insuportável. Eu ia até o farol, me sentava nas tábuas da varanda da casa em ruínas, que a cada vez pareciam estar em menor número, e acompanhava o sol se pondo no horizonte, chorando até que as lágrimas secarem.
O verão estava de volta com seus dias ensolarados, as levas de turistas vindo aos poucos, e tomando conta das ruas que, de pacatas iam se enchendo de um trânsito desordenado. Para mim tinha se tornado também a estação do ano mais esperada. No fundo da minha alma ainda persistia aquela imagem do Ricardo atravessando a avenida com seu sorriso cativante, vindo da loja de seus pais, ao meu encontro. Embora a cada verão, eu lançasse meu olhar para o outro lado da rua, toda vez que estava no balcão da padaria, nada mudava. Quando os turistas partiam, também se iam as minhas esperanças. Então, por que aquele amor continuava no meu peito, me fazendo despachar qualquer intenção de alguém querendo se aproximar de mim?
A resposta surgiu no meio do outono, quando os ventos gelados já começavam a soprar derrubando as folhas das árvores no canteiro que dividia as pistas da avenida. Era um final de tarde. Alguns clientes tomavam cappuccino e se deliciavam com uma torta de chocolate numa mesa atrás dos janelões protegidos pelo vento frio. Eu tinha acabado de fazer o troco para um casal de meia idade que, todos os sábados, vinha buscar um bolo de morangos com merengue. Eu estava com o sorriso habitual agradecendo a gentileza deles quando, por uns instantes, achei que estivesse tendo uma miragem. O Ricardo tinha acabado de passar pela porta giratória com uma menininha segurando sua mão. O sorriso dos meus lábios se desfez e meus olhos ficaram marejados. Aquilo não podia estar acontecendo, era fruto apenas da minha imaginação e das minhas carências.
- Oi! Há quanto tempo! Tive receio de não encontra-lo. – sua voz parecia mais grossa, era seguramente mais calculada e madura. A menininha, que talvez podia ter uns três anos, fixava o olhar ora em mim, ora no Ricardo, como se não estivesse compreendendo nada.
- Oi! Você por aqui. – gaguejei, sem conseguir ouvir minha própria voz.
- O bom filho a casa torna. Não é isso que diz o ditado? – proferiu, tentando ser engraçado.
- É. Quer dizer, acho que sim. – balbuciei. – O que o trouxe de volta? – perguntei, procurando prolongar ao máximo aquela saudosa presença dele diante de mim.
- Você. – respondeu, encarando-me para não perder nenhuma informação que a expressão no meu rosto pudesse lhe dar. Senti meu rosto pegando fogo.
- Eu?
- Sim, você! Eu precisava arriscar. Mesmo sabendo que provavelmente o encontraria na companhia do Lucas, eu precisava tentar. – disse ele.
- Nunca mais vi o Lucas depois...- não consegui concluir a frase, a mesma dor que senti naquela noite em que o Ricardo me flagrou sendo fodido voltou com tudo. – A família dele se mudou enquanto eu estava na faculdade. Depois disso nunca tive notícias dele. – concluí.
- O que tem feito? Seu pai, como está? – questionou, procurando desviar o assunto. Em suas feições dava para ver um alívio e uma tranquilidade que não existiam quando ele entrou na padaria.
- Como você pode ver, estou aqui trabalhando de sol a sol, praticamente sete dias por semana. Meu pai já não pode mais se dedicar ao negócio como antes. – respondi. – E você, quem é essa garotinha que mais parece uma boneca? – perguntei, ao que a menininha abriu um sorriso em minha direção.
- Quem é esse moço, papai? – perguntou, voltando-se para o Ricardo.
- É a pessoa que o papai mais ama, depois de você! – respondeu o Ricardo, tomando-a em seus braços e permitindo que ela me visse atrás do balcão. Comecei a chorar feito uma criança.
- Por que ele está chorando, papai? – ela espalmou uma de suas mãozinhas sobre o rosto do pai puxando-o em sua direção.
- Não sei, querida! Eu espero que seja de saudades. – respondeu o Ricardo.
- Saudades de mim? Como a vovó e o vovô? – inquiriu ingênua.
- Sim, acho que sim. – ele olhava para mim na certeza de que todas as suas dúvidas e receios só existiam em sua cabeça.
Minhas pernas não conseguiam se mover. O Ricardo deu a volta no balcão e veio para junto de mim. Colocou a garotinha no chão que, curiosa, logo foi xeretar o que havia atrás da porta de vaivém que dava para os fundos da padaria. Passou os braços ao redor da minha cintura e me puxou para junto dele. Enquanto tentava secar minhas lágrimas com o polegar de uma das mãos, seus olhos se encheram d’água. Toquei sua barba hirsuta e áspera com a delicadeza de quem tem um objeto valioso nas mãos e teme quebra-lo. Sua boca tocou a minha e sua língua me penetrou desejosa e desenfreadamente. A conversa na mesa onde o pessoal tomava cappuccino cessou no mesmo instante, eu sabia que aqueles olhares deviam estar voltados para nós dois, mas não conseguia dar a menor importância para isso. Não agora, que o sabor daquela saliva máscula estava novamente na minha boca, idêntica ao sabor que eu guardava na memória há mais de uma década.
- Amo você! – sussurrei quando nossos lábios se desgrudaram. – Sempre amei você! – confessei, com o olhar turvado pelas lágrimas.
- Eu sempre quis ouvir isso. Por que te amo desde aquele dia no farol. Acho que até bem antes disso. Talvez tenha sido esse o motivo daquilo acontecer naquela tarde. – sentenciou.
Um funcionário trouxe a garotinha de volta segura pela mão, enquanto ela segurava uma trufa na outra mãozinha e sorria com a boca lambuzada de chocolate.
- Encontrei essa garotinha perdida lá ... – ia dizendo o funcionário, quando me viu nos braços do Ricardo e, imediatamente o reconheceu. – Olá, Ricardo! Há quanto tempo! – completou, sem saber o que fazer com a garotinha.
- Olha, papai! Têm um montão dessas lá dentro. Você não vai pegar uma para você e para o moço? – perguntou ela, correndo para se abraçar às pernas do Ricardo.
- Vou, vou sim, querida. – respondeu. Levando-me consigo para os fundos.
Eu os convidei para se hospedarem em casa, uma vez que ele não tinha mais parentes na cidade e, eu não queria deixa-lo ir para um hotel. Meu pai ficou feliz ao revê-lo. Enquanto eu preparava o jantar na companhia da garotinha, sempre colada em mim como uma sombra, ele e meu pai colocaram os assuntos em dia. Nós levamos a Carolina para a cama depois de ela devorar mais umas três ou quatro trufas como sobremesa e, nos beijamos na penumbra do quarto assim que ela fechou os olhos.
- A mãe dela nos deixou cerca de um ano atrás. Seguiu com um ex-namorado para os Estados Unidos, onde ele conseguiu um emprego e o Greencard. – esclareceu o Ricardo, quando nos acocoramos na varanda enrolados numa manta.
- É preciso ser corajosa para deixar uma bonequinha como sua filha para trás e se aventurar pelo mundo. – disse, sem saber se era o certo a dizer naquele momento.
- Irresponsável, mesquinha e egoísta, acho que essa é a melhor maneira de definir o que ela fez. – retrucou ele, fazendo eclodir uma magoa que carregava no peito.
- Você a amava? – perguntei.
- Eu achava que sim. Mas, percebi que tinha cometido um engano quando ela já estava grávida. Deixei as coisas correrem. – respondeu.
- Deixar as coisas correrem. Acho que somos experts em fazer isso. Apenas nos esquecemos de que nem sempre as coisas tomam o rumo certo. – comentei.
- Enquanto estava fazendo a faculdade conheci um carinha e fiquei com ele. Parecia que tudo ia bem, que ele ia conseguir tirar você dos meus pensamentos. Depois me envolvi com mais dois caras, e não encontrava o que estava procurando. Até que a mãe da Carolina surgiu como a solução ideal. Estava interessada em mim, assim eu achava, era divertida, era boa de cama, embora se recusasse a colocar meu pau na boca; e logo engravidou, sem me dar a chance de dizer que eu estava tentando esquecer meu passado. Meses depois do nascimento da Carolina o sujeito voltou. A partir daí ela passou a ver a filha e a mim como um entrave para sua felicidade. Resolveu abandonar tudo numa despedida deixada num bilhete de poucas linhas. Nem me dei o trabalho de procurar saber por onde andava. De certa forma, ela acabou fazendo mais por mim do que por si própria. – ele despejava as palavras como se, ao livrar-se delas, estivesse purgando a alma.
- E o que pretende fazer agora? – eu tive medo da resposta, mas não estava mais conseguindo me segurar.
- Ficar com você, se você não tiver ninguém na sua vida. – respondeu, sem titubear.
- Eu espero há anos o sujeito que me desvirginou cruzar a avenida e me dizer que quer viver comigo pelo resto da vida. – confessei, tomando seu rosto em minhas mãos.
- Esse sujeito está aqui, bem diante de você. Quer casar comigo? Quer ser meu e só meu pelo resto da vida? – retrucou, abrindo seu sorriso.
- É tudo o que quero dessa vida! Quero guardar meu homem aqui dentro, de onde ele nunca saiu esses anos todos. – respondi, levando a mão dele até a altura do meu peito.
Apagamos as luzes da casa e fomos para a cama. Ele me entregou uma caixinha, dizendo que estava guardando isso desde a última vez em que nos vimos. Dentro do estojinho havia um par de alianças com nossos nomes gravados nelas. Enquanto uma coruja piava na cumeeira do telhado, eu agasalhava o caralhão do meu macho nas minhas entranhas, e gemia o mais sublime e feliz gemido da minha existência.
Foto 1 do Conto erotico: Quando o passado volta a bater em nossa porta

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Comentários


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kzdopass48es Comentou em 21/02/2018

...isso é amor... linda história! Betto (o admirador do que é belo)

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moah Comentou em 20/02/2018

Parabéns pelo conto, muito excitante, bem escrito li até o final e viajei, lindo!

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gutoalex Comentou em 20/02/2018

Maravilha cara bem escrito é dessas histórias que estamos precisando para alegrias os dias tensos.

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Comentou em 19/02/2018

FANTASTICO!! AMEI MUITO.

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Comentou em 19/02/2018

Linda historia!! Parabéns! votado!!

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morsolix Comentou em 19/02/2018

bem escrito e bem descrito. É uma pena que o povo por aqui não goste de ler, e só vota em MERDA horrorosa.Lido e votado.

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lordricharlen Comentou em 18/02/2018

Achei linda a história, só a parte dele ir embora ele ficar com outros pessoas e voltar com se nada tivesse acontecido.




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Ficha do conto

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kherr

Nome do conto:
Quando o passado volta a bater em nossa porta

Codigo do conto:
113343

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
17/02/2018

Quant.de Votos:
9

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5