Salvamento – Segunda Parte
Alguns dias haviam passado. O último incidente dentro do banheiro da base me deixou muito desestruturado; tanto emocionalmente quanto fisicamente. Rafael não estava falando comigo e eu estava me sentindo o pior dos lixos do mundo. Era cômico, para não dizer trágico, a forma como tudo se deu. Minha sexualidade estava posta a prova e isso me deixava extremamente desconfortável. Primeiro porque eu era hétero convicto, segundo porque até mesmo a ideia de estar com um homem quebrava tudo aquilo que eu havia condicionado a mim mesmo de ser, sem contar que jamais me sentira atraído antes.
Quando fui trabalhar no dia seguinte, Rafael estava deixando a sala da psicóloga. Ele vestia uma blusa azul e calças jeans. Ele olhou-me estranhamente enquanto ia em direção a sala principal do quartel. Não me dirigiu a palavra novamente.
Entrei para a minha consulta.
- Oi, Marcelo. Como passou essa semana? – Elisa, a psicóloga designada para o nosso caso perguntava.
- Gostaria que tivesse sido melhor – eu disse sem perceber.
Elisa era uma mulher bonita. Lembro-me que eu Rafael costumávamos olhá-la passando pelos corredores da nossa base. Hoje os seus cabelos negros estavam presos em um coque com alguns palitos.
- Aconteceu alguma coisa – ela tentou perguntar.
- Eu e Rafael estamos brigados – disse a ela. – Coisa de amigos, vai passar – tentava soar otimista.
- Entendo – ela disse. E qual foi o motivo da briga?
A pergunta me pegou de surpresa. Eu não queria me abrir daquela forma com Elisa.
- Nós só nos desentendemos – tentei desconversar.
Elisa olhou-me complacente.
- Desculpe, Marcelo. Eu quero que esse ambiente seja agradável para você. Não precisa dizer o que não quer dizer.
- Droga – pensei.
Eu havia problematizado uma pergunta e Elisa havia percebido. Como eu era idiota. Deveria ter dito que estava tudo bem.
- Eu sei – disse por fim.
- Existem coisas que nos incomodam, Marcelo. Coisas simples e complexas. Mas o que eu quero e preciso que você entenda é que conversar sobre esses assuntos pode aliviar a tensão. Talvez enxergar o todo por uma outra ótica possa te ajudar a entender melhor como funciona a sua mente.
Seja lá o que meu rosto demonstrava naquele momento, a única sensação que eu tinha dentro de mim era vergonha.
- Doutora... Elisa – eu disse. – Escute, eu não estou confortável com essa sessão. Gostaria de me retirar, se possível.
Elisa respirou fundo.
- Permissão concedida, Marcelo.
Peguei as minhas coisas e abri a porta do consultório.
- Vejo você na semana que vem então, Marcelo? – ela disse antes de eu sair.
Eu não disse nada. Bati a porta e fui em direção ao vestiário. Tudo que eu precisava agora era de uma enorme dose de adrenalina. Era egoísta, mas eu precisava estar em alguma tragédia. Somente isso me faria esquecer as coisas que passavam na minha cabeça.
Infelizmente meu desejo foi desprezado pelo destino. Nada aconteceu. Treinamos o dia todo algumas novas estratégias de salvamento e otimização do uso de oxigênio em grandes incêndios.
Quando fui para o treino de natação, a piscina estava com a água mexida. Escutei algumas vozes e uma delas era a de Rafael.
- Mas o senhor tem certeza que consegue ver isso para mim ainda essa semana? – ele dizia exasperado.
- Eu não tenho certeza, rapaz – era a voz do nosso superior. – Talvez em São Paulo haja alguma coisa para você.
Aquilo fez meu coração palpitar de repente. Fiquei parado no meio da grande quadra, escondido atrás de alguns respiradores. Eles continuaram:
- Mas por que você quer sair dessa base, Rafael – o comandante perguntava.
- Não consigo mais ficar aqui, senhor. Preciso de novos ares. Principalmente depois do que aconteceu.
- Entendo – o comandante disse. – Eu verei o que posso arranjar para você, Rafael. No que depender de mim você terá grandes recomendações.
- Obrigado, senhor.
- E o seu amigo, Marcelo? – ouvi o comandante perguntar. – Ele anda bem abatido ultimamente. Vocês têm reagido bem com o que houve?
- Marcelo precisa de um tempo, senhor – ele disse. – Logo, logo estará bem. Ele é forte.
- Claro, claro. E um ótimo nadador também. Bom, deixe-me voltar para as minhas obrigações, meu jovem.
Eu quase havia me esquecido que estava ouvindo escondido. Meu coração estava dando murros no meu peito e eu estava inteiramente desconcertado com tudo aquilo. Andei em direção a piscina, se eles me vissem parado ali teriam certeza de que eu ouvi a conversa deles. E eu não queria que isso acontecesse.
- Ah, Marcelo – o comandante me chamava. – Acabamos de falar de você aqui.
Rafael estava com sua sunga de mergulho. Ficou um pouco sem graça ao me ver, mas manteve-se sério a alguns passos do comandante.
- Você também pretende nos deixar?
Meus olhos foram de encontro aos verdes de Rafael. Agora tudo o que eu sentia era raiva. Minha vontade era de socar a cara de Rafael. Como ele poderia ser tão fraco? Será que era tão difícil assim esquecer o que aconteceu? E claro, tudo por culpa dele!
- Não, senhor – eu disse. Mas ainda olhava com ódio para Rafael.
O comandante olhou para trás e em seguida olhou para mim de volta.
- Bom, eu vou deixar vocês sozinhos. Pelo visto vocês precisam conversar, rapazes.
Ele foi em direção a porta de saída e Rafael ainda me olhava. De repente então ele fechou a boca de um jeito como se desistisse de falar o que ele estava prestes a dizer. Então passou por mim para ir em direção a porta também.
Eu era explosivo. Não resisti e peguei no braço dele.
- Qual é o seu problema, heim?
Rafael parou.
- Me solta – ele disse seriamente.
Eu fui para frente dele e o empurrei.
- Você está maluco, é? Por que está agindo dessa forma, heim? Agora vai querer ir embora assim, do nada?
- Eu não devo satisfação nenhuma a você, Marcelo – ele me empurrou de volta.
Me lancei em direção a ele. Empurrei Rafael na parede e o prendi.
- Você vai me ouvir!
Ele não fez força. Me lembrava muito de outras situações quando brigamos. Ele sempre precisava ser pressionado para poder dizer alguma coisa.
- O que aconteceu com você, cara? Teu problema é comigo? Diz alguma coisa!
Ele ficou parado. Seu rosto estava triste, mas seus olhos decididos.
- É por causa daquela maldita noite, é?
Quando mencionei aquilo, Rafael pareceu acordar de um pesadelo. Ele me empurrou de volta e falou:
- Não ouse a comentar o que aconteceu com ninguém! – seu dedo apontava pro meu rosto.
- Ah, então é por causa disso – eu disse. Mas só confirmava o que eu já tinha certa desconfiança.
- Eu não preciso disso – ele disse.
Ele tentou escapar.
- Não terminei com você ainda – eu disse. Não o deixei sair. – Tá todo mundo me perguntando o que aconteceu com você. Eu não tenho culpa de nada, Rafael! Você que está agindo esquisito desde o salvamento.
Ele virou-se para mim.
- Era só isso que tinha pra me dizer?
- Eu jamais achei que a nossa amizade iria acabar assim, Rafael. Eu sou gay, se é o que te assusta, okay? Eu não fico pensando em você, nem nada do tipo. O que aconteceu, aconteceu. Mas nós dois estávamos traumatizados, cara.
Ao ouvir aquilo, lágrimas brotaram em seus olhos. E quando percebi, os meus também estavam um pouco marinados.
- Vem cá, cara – disse Rafael.
Ele me abraçou de repente. Nós estávamos chorando.
- Eu te amo, cara. Sério, você é a única família que eu tenho nesse lugar – ele disse. – Eu não quero brigar.
Aquele abraço era muito reconfortante. Estava me fazendo tanta falta que eu o abracei com força também. O corpo de Rafael era forte e grande. Mas o que mais me surpreendeu foi a urgência com que ele também me abraçava. Era como se fossemos uma droga para ambos. E estávamos em abstinência. Era uma coisa forte e estranhamente boa.
Ao mesmo tempo que eu sentia a necessidade de estar com ele como uma espécie e irmão (pois era isso que eu pensava), Rafael também tinha se tornado uma necessidade a mais.
E em meio as nossas lágrimas, nossas mãos passavam apertadas e fortes pelo corpo um do outro. Logo a necessidade de ter o corpo de Rafael cada vez mais junto me tomou. Ele também partilhava disso e me puxava para mais junto dele. As lágrimas deram lugar a uma respiração ofegante e logo sentia cada grama de seu corpo encostando no meu. Seu pênis, antes flácido estava ereto quase na mesma direção que o meu.
Senti o meu ficando duro também. De repente nós estávamos em êxtase e a tensão sexual aumentava a ponto de deixar o meu pinto latejante. Uma energia, algo como uma corrente elétrica arrepiava todo o meu corpo e os nossos dorsos começaram a se esfregar.
Sem pensar, estávamos andando grudados até uma pilha de respiradores onde eu me escondera antes.
- Por que isso está acontecendo – disse ele?
Então ele me beijou novamente.
Eu não queria, mas retribuí o beijo. Embora meu corpo tivesse aquela total necessidade, minha mente lutava por dentro. E o medo de tudo dar errado agora também fazia parte de mim.
Rafael parou de me beijar e nos afastamos. Parecia que tudo iria se repetir. Então aconteceu algo que eu não esperava. Rafael tirou a sua sunga. Seus olhos verdes olhavam os meus e eu via todo o seu corpo pulsando. Seu pênis, dessa vez estava duro feito pedra e mexia-se um pouco conforme as batidas do seu coração. Aquele homem lindo com que eu convivi a vida inteira estava excitado e pelado na minha frente.
Contudo algo de repente me assustou. Rafael tinha um pênis e eu jamais havia feito o que eu estava prestes a fazer com alguém que tinha pênis. Ainda mais um daquele tamanho. Era torto e grosso, mais moreno do que ele.
Então ele me beijou de novo. Começou a puxar minha sunga também e logo estava nu também. Ele se afastou um pouco e me admirou, respirando fundo. Meu pênis era quase do mesmo tamanho que o dele, contudo era branco e rosado.
Ele riu ofegantemente. Eu conhecia Rafael de todos os jeitos possíveis, mas nunca o havia visto excitado. Era tudo muito novo para mim.
Ele pegou no meu pênis e começou a me masturbar. Fiz o mesmo com ele, involuntariamente.
A gente gemia um pouco e nos beijávamos de vez em quando. Nossas mãos passeavam pelos corpos nus e víamos detalhes um no outro que não havíamos nunca reparado. Rafael gemia forte e aquilo me excitava; era algo que eu nunca imaginei presenciar na minha vida.
Senti seu pinto pulsar forte e então um jato de esperma saiu e bateu na minha barriga. Em seguida a onde de prazer me fez gemer também e gozei como jamais havia gozado na vida. Minha próstata fazia meus anus piscar, tamanho era o prazer.
Despencamos um em cima do outro extasiados e nus.
- Cara, o que a gente fez? – eu disse.
Continua...