***Trata-se de uma série. Sendo assim, leiam os capítulos anteriores.***
Duas pequenas bandejas de café da manhã vazias estavam sobre a cama contendo apenas pratos com migalhas de pão, torradas, iogurtes, uma xícara de café e um copo, ambos vazios e papéis toalhas amassados. Eric estava sentado à mesa do notebook lendo algo na Internet, enquanto eu estava navegava pelo Instagram sentada na cabeceira da cama com o corpo coberto até os seios pelo lençol branco. Nisso, recebo uma chamada da minha mãe.
- Quem está te ligando? - Eric perguntou sem se virar com os braços dobrados e repousados no alto da cabeça ainda olhando para a tela, relaxado na cadeira.
- Quer conhecer a voz de Dona Helena Toledo? - perguntei à ele em resposta.
- Fique à vontade.
Aceitei a chamada e coloquei no viva voz apenas abaixando um pouco o volume.
- Oi mãe, bom dia!
- Oi meu amor, bom dia. Como você está? Acordou agora?
- Mais ou menos - tapei a boca segurando uma risada - quase não dormi.
- Como foi a festa do Felipe? Vocês se divertiram?
- Ah, foi legal. Mas aí teve briga na boate e viemos embora.
- É mesmo? - o tom de voz preocupado - Mas vocês se machucaram?
- Não, não. Estamos bem, não se preocupe. Mas e você e o meu pai? Como estão?
- Tudo correndo bem, o Congresso está maravilhoso.
- Que bom.
- Você e a Melissa vão fazer alguma coisa hoje?
- Ah mãe, não sei, a Meli está dormindo ainda. Talvez role shopping de tardinha, como a gente sempre faz né...
- Tá certo então. Como que está o saldo da sua conta? Você tem dinheiro?
- Acho que sim. Ainda não olhei o aplicativo hoje.
- Tá, vou fazer uma transferência pra você passar o fim de semana. Amanhã de noite, estamos de volta tá bom? Estamos morrendo de saudade, meu amor.
- Eu também mãe, manda um beijo pro meu pai.
- Mando sim, vou ter que desligar agora, temos uma programação marcada para as dez da manhã. Beijo.
- Beijo.
E desliguei. Olhei para o lado e vejo Eric voltado na minha direção, sentado na cadeira com os braços cruzados, as pernas esticadas, me olhando sério e atento por trás dos óculos transparentes. Deus, ele poderia ser mais lindo do que já é?
- O que foi? - perguntei.
- É isso mesmo o que eu entendi? Seus pais não estão em casa? - ele questionou.
- Não. Porque acha que passei a noite com você? Se na minha casa tivesse telefone fixo aí sim eu estaria encrencada caso minha mãe ligasse pra lá.
- Sim, ouvindo a conversa e você me falando isso, consegui ligar uma coisa na outra - percebi sua voz alterada - Nívea, você desembarcou ontem sozinha voltando de viagem e ninguém foi te buscar?
Eric nunca me chamou pelo nome desde que começamos a nos encontrar. Isso não era nada bom.
- Claro que não. O Lipe e a Meli foram me buscar. Meus pais viajaram na quinta-feira. Ontem nós três saímos e o resto você já sabe.
- Então, para os seus pais, você está agora na sua casa?
- Isso mesmo.
- E sozinha?
- Acertou. Foi a primeira vez que isso aconteceu, Eric. O prédio onde moramos tem uma boa segurança. Já aconteceu dos meus pais saírem e eu ficar em casa sem eles. Não tem perigo.
Ele continuava a me observar pensativo. E isso fez o meu cérebro latejar.
- Seus pais te criam totalmente solta no mundo - afirmou - e você só tem 15 anos.
- Eles trabalham muito - falei justificando - e são bons pais.
- Bons pais? Deixando a filha adolescente ir para boates?
- E qual o problema? Eu estava com os meus amigos!
- Sabe o que poderia ter acontecido com você se eu não tivesse ido te buscar ontem? Sabe? - o tom repreensivo na voz me assustou - Eu sou professor daquela universidade que fica na esquina! E conheço todo o tipo de gente que frequenta aquele lugar! Te tirei de lá porque sabia exatamente como a noite ia terminar: em pancadaria! Não foi o que sua amiga disse no telefone?
- Era a minha primeira vez indo sair pra dançar, Eric - falei calmamente mas com a voz trêmula - E como você falou, os meus pais permitiram!
- Ótimo, muito bom, não sou ninguém para apontar o dedo, com certeza você sabe o que é certo e o que é errado. Além disso, eles te mimam o suficiente a ponto de rechearem a sua conta bancária, desde que seja uma boa filha e que não dê a eles dor de cabeça. Pais atenciosos pra quê né?
Não podia negar que Eric estava certo. Mas ele estava invadindo a minha vida em família e isso eu não podia deixar. Eles possuem defeitos sim mas são meus pais e eu os amava.
- Por saber o que é certo e o que é errado, eu retribuo sendo uma boa filha sim e excelente aluna mas isso você, melhor do que ninguém, sabe! Não sou rebelde, não bebo e não uso nenhum tipo de droga. E me mimam o tempo todo mesmo! Tudo o que eu peço eles me dão em um piscar de olhos. Ou você se esqueceu que eu sou une princesse?
Eu o olhava sem entender aquela conversa. O que estava acontecendo afinal? Tinha que colocar um ponto final naquela discussão idiota.
- Qual o problema com você, Eric?? Não tô entendendo esse sermão todo! Eu já tenho pai, se chama Jacques Martin e ele nunca me deu bronca. Eu não preciso de outro, entendeu?
Ele balançou a cabeça em afirmativo me olhando e, calado, girou a cadeira se voltando para o notebook. Percebi uma certa tensão em seus ombros. Eric inspirava e soltava o ar profundamente.
- Agora é sério, eu preciso voltar pra casa - pedi à ele tentando me acalmar.
- Só vou te levar de volta amanhã à tarde antes dos seus pais chegarem - falou impassível sem me olhar, mantendo a atenção no notebook.
- Eric, eu estou sem roupas aqui - lhe disse - eu só preciso pegar algumas coisas e depois voltamos. Pode me esperar dentro do carro.
- Você não precisa de roupas quando estiver aqui comigo. Fica mais fácil quando eu abrir suas pernas.
Senti como se uma corrente elétrica tivesse passando pelo meu corpo ao ouvir aquilo. Uma corrente de raiva.
- Eu já te disse que eu não sou uma vadia barata dos parques de Paris!!! - falei em tom alterado na voz - Se você não me levar, eu vou embora sozinha!!!
Tomada pelo impulso, tirei o lençol de cima de mim, saí da cama e fui até a direção do banheiro batendo os pés andando ligeiro. Senti a mão do Eric me puxando pelo braço direito e me levando junto ao seu corpo tentando me abraçar.
- Me solta!! - queria ter forças para sair daquele abraço mas era impossível - Se você não me soltar, eu vou gritar!
Eu já sentia meu rosto úmido pelas lágrimas. Óbvio que o Eric sendo maior que eu e mais forte, conseguiu me manter junto ao corpo dele.
- Pardonne-moi, ma petit - me dizia baixinho dando vários beijos nos meus cabelos, abraçado a mim - Por favor, me perdoa. Eu não vou mais te tratar assim. Eu prometo.
- Você sabe que eu não sou esse tipo! - eu chorava e soluçava sem parar.
- Não é. Tu es ma princesse. E mais nada além disso.
Desisti da breve luta corporal e o abracei de volta. Era impossível sentir raiva do Eric quando ele se mostrava tão carinhoso após um momento desagradável como esse.
Ele me pegou pela minha mão, me levando de volta para a cama. Tirou os seus óculos, deixando-os no criado-mudo e se sentou na ponta onde eu fiz o mesmo. Me puxou pelo queixo e então nossos olhos se encontraram.
- Se eu te disse tudo aquilo é porque eu me preocupo com você - acariciou o meu rosto secando as minhas lágrimas - te acho muito vulnerável, sozinha. Esses meses que estamos juntos, acha que eu não te observo dentro do colégio? Sem amigos, não conversa com ninguém da turma.
- Eu sempre fui sozinha, Eric. Mas nunca me importei com isso. Eu reconheço que meus pais são ausentes, mas também são bons comigo. Eu não quero que você interfira, por favor. Nós dois estamos bem assim.
- Tá bom - ele concordou - Não vou mais falar disso. Mas eu também não vou deixar de cuidar de você.
Fiquei em silêncio, pensativa.
- Você me perdoa?
- Sim - afirmei com a cabeça.
- Mesmo? Eu odeio te ver chorando, mas acabo sendo o responsável pelas suas lágrimas - reconheceu, passando o dedo indicador pela minha bochecha.
- Eu te perdôo, Eric - dei um meio sorriso.
- Então me prova - ele sorriu, me beijando no rosto seguindo até o meu ouvido - deixa eu te foder um pouquinho? Depois eu te levo em casa, prometo.
O efeito daquela pergunta me fez revirar os olhos e morder meu lábio inferior. Minhas pernas se abriram para que eu pudesse latejar à vontade.
- Deixo... - sussurrei, segurando em seu pescoço - mas só se gozar dentro de mim...
- Quantas vezes você quiser - deu uma risada, tirando a cueca e punhetando rápido o que a minha boca já tinha provado de mais gostoso.
Nossas bocas coladas, corpos suados e ainda dentro de mim, Eric me levantou pelo colo indo até o banheiro. Eu sendo pequena, não foi difícil pra ele. Com uma das mãos segurando a minha cintura, a outra me apoiava por debaixo do meu bumbum para que seu pau não saísse. Fiquei abraçada pelo seu pescoço com as pernas em volta da sua cintura. A água do chuveiro apagaria nosso fogo? Certeza que não. Era a primeira vez que eu fazia em pé. Eric apenas levantou uma das minhas pernas para meter com mais vontade. Beijos molhados e eu não sabia qual coração batia mais rápido. Se era um sonho eu não queria acordar.
- Eric... Tá vindo... - falei escorada na parede, com a cabeça inclinada pra trás, a água caindo entre nós dois. Suas mãos enormes cravadas no meu bumbum e minha perna esquerda envolvida na sua cintura.
- É, ma petit? - ele me estocava com carinho - vai me lambuzar com essa doçura de novo?
E veio quente. Minha bucetinha contraía gostoso no pau do Eric que não resistiu e gozou pouco depois de mim. Nos abraçamos e para relaxar após essa transa deliciosa, nos sentamos no chão do box, molhados, eu aninhada no seu peito beijando-o com carinho e ele cheirava os meus cabelos úmidos envolvendo seus braços em mim.
Ele era perfeito demais para ser verdade!
***
Em casa eu precisava ser rápida. Joguei o vestido preto na lavadora e fui correndo preparar uma bolsa com meus pertences: muda de roupas, toalha de banho, shampoo, condicionador, sabonete líquido, hidratante para o corpo. Coloquei um vestido verde bem clarinho de alças que moldava os meus peitos e optei ficar de chinelos naquele sábado. Carregador de celular, a minha cartela de remédios e mais o presente do Eric. As minhas malas de viagem ainda espalhadas pelo chão do quarto. Fui em todos os cômodos da casa apenas para ver se tudo estava em ordem e saí. Em silêncio. Se Melissa ouvisse minha movimentação, já era, Eric iria mofar dentro do carro me esperando. Apertei o botão do elevador rezando para ele chegar logo no andar. De repente, a porta do apartamento do lado se abre. Meus olhos se arregalam. "Já era, agora eu não tenho como escapar" pensei. Para minha sorte, Felipe apareceu na porta e seus lindos olhinhos puxados e inchados como se tivesse acordado, ficaram surpresos ao me ver ali. Usando regata branca e calça preta de moleton, ele veio até mim.
- Você chegou agora? - me perguntou bem baixinho.
- Cheguei e tô saindo de novo, Lipe - confirmei - só vim trocar de roupa e pegar algumas coisas, o Eric tá me esperando na esquina.
- Beleza, vai tranquila. Você volta pra casa quando?
- Amanhã de tarde. Meus pais chegam de noite.
- Entendi - ele balançou ligeiro a cabeça.
- Por favor, não conta pra Meli que eu estive em casa. Ela vai me esganar se souber!
- Pode deixar, ela ainda tá dormindo, só deve acordar na hora do almoço.
- Menos mal. Eu vou contar tudo pra ela não explodir.
Felipe me olhava de um jeito esquisito. Sereno, mas esquisito.
- Que foi? - perguntei à ele.
- Não é que... Eu queria saber se você tá legal.
- Tô sim, correu tudo bem - entendi a quê ele se referia - tranquilo.
- Que bom - percebi ele constrangido - foi tudo tão de repente pra você né?
- Sim, mas deixei a insegurança de lado.
Ele me olhava com ternura e demonstrou isso acariciando o meu rosto, me dando um beijo apertado e demorado na minha bochecha. Certo, isso eu não esperava e não achei ruim, mas eu o olhava confusa.
- Eu amo a Mel - ele disse pegando na minha mão e entrelaçando nossos dedos - Mas você é linda demais, sabia? O seu professor é um cara de sorte.
Sem saber como reagir e o elevador finalmente chegando no andar, apenas sorri fechado e me despedi.
- Tchau, Lipe - entrei no elevador.
- Tchau. Se cuida.
***
De volta ao apartamento do Eric, me senti mais à vontade com as coisas básicas que toda adolescente precisa quando está longe de casa.
- Onde eu posso deixar a minha mochila?
- Pode colocar dentro do guarda-roupa.
Abri uma das portas de madeira onde estavam roupas de cama e deixei a mochila perto de um edredom. No instante em que eu fecho, sinto as mãos dele por trás abaixando as alças do meu vestido e cheirando o meu pescoço.
- Eric, espera - tentei conter suas mãos.
- Eu disse que você aqui comigo, não vai precisar de roupas, não disse? Não igual a uma prostituta, mas como une princesse...
- E se eu sentir frio de noite?
- Eu te empresto um moleton.
Fiquei nua em questão de segundos, sendo levada para a cama ainda desarrumada e... Bom, vocês já imaginam.
Dei à ele os dois livros de presente comprados em Lyon e passamos a tarde deitados. Enquanto Eric lia as poesias para mim, eu estava com a minha cabeça no seu ombro onde ele me puxou em um abraço, acariciando os meus cabelos e eu coloquei a minha perna direita em uma das suas pernas roçando no seu membro por baixo do lençol.
Foi o fim de férias mais perfeito que eu já tive. A parte ruim foi que não podíamos sair juntos e nem eu aparecer muito na varanda mesmo sendo um bairro tranquilo do tipo que ninguém se conhece ou se fala. Nossa relação teria que permanecer em segredo, mas eu não ligava. Estar ao lado dele, sem inseguranças, sem medos era o que eu tinha finalmente conseguido e foi importante pra mim.
***
- Meli, você tá aonde? Toquei a campainha mas ninguém atendeu. Eu já cheguei em casa. - digitei.
Eram cinco da tarde de domingo e eu estava no meu quarto enfim, desfazendo as malas, arrumando meu uniforme e material do colégio para o dia seguinte. Rapidamente veio o áudio.
>>"Você acredita que o meu padrasto cismou de querer passar o domingo em uma droga de sítio e quis que a gente fosse junto? Eu tô espumando de ódio. Ainda bem que daqui a pouco estamos indo embora.
- Que pena... Então deixo pra te contar tudo amanhã, rs... - respondi.
>>"Nem ouse fazer isso! Pode me contar tudo agora, estou longe de todos!"
- Você quer saber o quê? - perguntei fazendo a sonsa.
>>"TUDO! Desde o momento em que o Eric te levou embora da boate até agora!"
- Pode ser por áudio? É muita coisa pra falar né?
- PODE - ela digitou - o fone de ouvido tá preparado aqui. Transforma o áudio em podcast*, conta tudo!
Contei para Melissa em detalhes sobre o meu último fim de semana de férias ao lado do Eric. Da parte dela eram gritos, surtos e gargalhadas a cada áudio enviado. Melissa era o tipo de amiga que toda adolescente deveria ter. Daquele momento em diante, eu rompia uma barreira que ela não havia atravessado por causa da minha inexperiência. Conversaríamos de forma natural sobre sexo. Ou nem tanto. Só o tempo iria dizer.
***
Eu dormia tranquilamente quando de repente sinto um abraço e um rosto colado junto ao meu, me dando um beijo. Acordei e reconheci aquele perfume. Ao me virar, minha mãe e meu pai estavam sentados lado a lado na minha cama e o abajur ligado.
- Minha filha linda, tão bom estar com você! - minha mãe me abraçou apertado - Estamos em casa novamente.
- Saudades enormes de você, cherie - papai deu a volta na minha cama e me abraçou.
- Que horas são? - ainda sonolenta, eu os abracei carinhosamente.
- São quase onze da noite, meu amor. A gente sabe que amanhã começa tudo de novo mas viemos aqui rapidinho te dar um abraço e um beijo de boa noite.
- Tudo bem - falei tranquila - Deixei os seus presentes de viagem na cama de vocês.
- Merci, mon amour. Mas conta pra gente, rapidinho - meu pai me pediu - último fim de semana, correu tudo bem?
- Sim - senti meu rosto queimar.
"Lembram daquele dia de temporal em que um motorista do Uber muito especial me levou até em casa e me roubou um beijo? Pois então, eu perdi a virgindade com ele."
- Você e Melissa se divertiram ontem? - minha mãe perguntou.
- Aham, bastante.
"Na verdade, não me diverti com ela e sim com o motorista onde fiquei nua no apartamento dele todo o tempo."
- Que bom cherie - meu pai comentou alegre - agora dorme. Já te perturbamos o suficiente.
- Isso meu anjo - minha mãe de acordo - Amanhã conversamos sobre a viagem, o passeio em Viena, tudo! - me beijou no rosto e me abraçou.
- Boa noite - respondi para os dois, que logo saíram do quarto e desliguei o abajur voltando a dormir.
***
Cheguei no colégio e vi que o prédio havia passado por reformas durante as férias. Nada muito chamativo, apenas uma pintura nas janelas e corredores e o cheiro de tinta fresca pairava no ar. Ao pisar na entrada, não havia uma parte do meu corpo que não estivesse tremendo. A palpitação no peito em níveis incontáveis. Dar de cara com ele, onde um personagem surgia perante a turma, era algo que eu precisava colocar na minha cabeça em poucos minutos até chegar na minha sala. Respirei profundamente tentando ficar calma mas era difícil. O Eric com quem eu transei não estava lá para dar aula. E sim, o professor carrasco, grosso, que não permitia baderna em sala nos seus dois horários. Era isso que eu tinha que enfiar na mente!
O relógio na parede do corredor marcava 7h15 e a movimentação entre os alunos antes do sinal tocar era normal. Subi apenas um lance de escadas para chegar ao andar da minha sala. Cada passo para frente eu sentia meu coração minguar de tamanho. Chegando na porta, meus olhos não poderiam estar me enganando: Eric estava sentado em sua mesa escrevendo na lista de chamada. Eu poderia dar meia volta e sair correndo, não poderia? Eu não esperava vê-lo ali! Ele sempre chegara no horário do sinal com os alunos já sentados em seus lugares. A paralisia em mim era real. Engoli em seco e dei uma batidinha na porta.
- Excuse. Bonjour - cumprimentei com um tom de voz impossível de se ouvir.
Eric virou-se e, ao me ver, não demonstrou qualquer reação voltando a fazer o que estava fazendo.
- Entre. La cloche n'a pas encore sonné - o tom seco na voz me enrijeceu até a medula.
(Entre. O sinal ainda não tocou).
Entrei devagar e ao olhar toda a sala, haviam menos de dez alunos. Em quinze minutos, isso mudaria e a turma estaria presente por completo. Voltei a olhá-lo e ele continuava concentrado nas anotações. Meu fichário era meu escudo que me aliviava a tensão. O lugar de sempre na segunda fileira, vazio, me esperando.
De costas para aquele loiro lindo, tirei minha mochila e a coloquei em cima da minha mesa junto do fichário. E ele não está observando os meus movimentos, é uma paranóia da minha cabeça. Me sentei sem encará-lo e abri minha mochila com calma. E ele não está observando os meus movimentos, é uma paranóia da minha cabeça. Tirei meu celular colocando na mesa, depois meu estojo e, por último, a apostila de literatura. E ele não está observando os meus movimentos, é uma paranóia da minha cabeça. Olhei para o quadro negro que estava escrito: Période Classique. Pendurei minha mochila na cadeira. E ele não está... Chega desse mantra! Ele não está mesmo. Abri meu estojo pegando lápis, borracha e caneta colocando os do lado do estojo. Pus meu fichário no compartimento pequeno embaixo da mesa e abri a apostila no período descrito. De repente, meu celular vibra. Digito a senha de desbloqueio e vejo a mensagem:
- Está nervosa porque, ma petit? Ou acha que eu já não conheço o seu corpo o bastante para vê-lo tremendo?
Li, meu estômago virou um looping de montanha-russa mas não demonstrei nenhuma reação. Deixei o celular de lado e, tentando agir naturalmente, comecei a escrever a data do dia no livro, minha mão tremia segurando o lápis. De novo, meu celular vibra, eu fecho os olhos e engulo em seco. Visualizo uma nova mensagem.
- Fecha essas pernas e senta direito! Você sabe muito bem quando tem que abrir e não é em sala de aula!!!! E quando se levantar da cadeira, abaixa a porra dessa saia! Esses babacas da turma não precisam ficar olhando para a sua bunda!
Sim, minhas pernas estavam um pouco abertas mas foi algo que eu não tinha reparado. Por minhas coxas serem grossas isso acontece sem que eu perceba. Olhando a mensagem na tela, as fechei discretamente e estiquei o tecido da saia por cima e por baixo para cobri-las.
- Muito bem. Minha melhor aluna e obediente como tem que ser... E muito gostosa!
Tomei coragem para encará-lo e não é que Eric me observava sentado, encostado com a cabeça na parede, o cotovelo apoiado na mesa e o celular em mãos? Um sorriso de canto levemente debochado? Era isso mesmo? E ainda deu uma piscadinha rápida pra mim por trás do óculos! Sim, sim, estava maravilhoso esse olhar de canalha e eu molhei a calcinha. Tentei ser indiferente igual a ele mas fui uma completa idiota ficando com tremedeira! Que raiva! Como ele teve coragem de piscar pra mim, correndo o risco de ser flagrado por algum aluno na sala??
Felizmente o sinal tocou, todos os alunos chegaram em meio a esse meu teatrinho ridículo e Eric então foi até a porta, fechando -a dando início à aula.
O professor grosseiro estava de volta e sem dúvida, aquele segundo semestre prometia fortes emoções.
Continua...
Nota da autora:
Não sei vocês, mas eu me diverti muito escrevendo essa última cena de volta às aulas rsrsrs.
Ok, admito, o capítulo no geral foi uma encheção de linguiça gigantesca mas eu precisava amarrar certas pontas que estavam soltas sobre esse finalzinho de férias da Nívea. Inicialmente eu fecharia esse ciclo em dois capítulos mas fiquei com receio de ambos ficarem muito ruins. Então ficou desse tamanho todo.
Felipe e Nívea na porta no elevador? Curtiram? Foi inusitado? Veremos algo no futuro? Quem sabe... ;)
Mais uma vez, agradeço a todos que estão me acompanhando.
Todo capítulo que passa eu fico rezando pra história não virar algo de dominante/submissa. Obrigado por até agora não fazer isso.