A MINHA VIDA - RELATO REAL. Parte 5



   Desde que conheci Leandro, notei sua grande habilidade com programação e informática profunda. Quanto mais o conhecia, mais via que não parecia haver limites em sistemas operacionais para ele. Parecia não haver nada que ele não entendesse. Eu o admirava por isso e ele me admirava pelo meu ofício. Formávamos um par perfeito.
Este acontecimento, os detalhes, resumirei bastante, pois não vem ao caso relatar softwares criados por hackers.
Certo dia, voltando de sua cidade, meu telefone toca sem parar na estrada. Paro e vejo que era a irmã de Leandro da qual eu tinha o número mas nunca conversei. Atendi e ela chorando pergunta onde eu estava. Disse que era para eu ir pra minha casa e atender à polícia prontamente e que não podia mais falar. Logo em seguida ligam do hospital, dizendo que a polícia civil esteve lá à minha procura. Entrei em desespero ligando para Leandro que não atendia. Fui para casa em alta velocidade, cortando alguns veículos pela direita. Chegando em casa, finalmente Leandro me atende e fala que está prestando depoimento em uma delegacia da polícia federal e que nosso telefone estava grampeado. Pedi para que não brincasse mais com estas coisas, mas logo vi que era sério pelo seu tom de voz assustado e sua irmã falando ao fundo. Aguardei ansioso algumas horas para entender tudo.
Anoitecendo, Leandro me liga explicando tudo: há alguns meses, ele e outros quatro programadores que nunca se viram, criaram um soft baseado no DOS, porém para Linux, para se comunicarem com segurança. Invadiram um pequeno banco, uma cooperativa, no interior de SP. Apenas invadiram e acessaram dados secretos dos usuários desta cooperativa, da qual usava o sistema Linux. Sem 3 deles saberem, um dos programadores, o único maior de idade, começou a fazer discretos desvios de contas de pessoas físicas e jurídicas para uma conta que ele criou, somando ao fim de alguns meses mais de 800 mil reais. O banco desconfiou logo no início desta fraude e acionou a PF, que pediu para que deixassem o sistema hackeado, pois só assim chegariam aos criminosos. Eles caíram na ratoeira e agora tinham que provar inocência nos desvios. Diante de tanto desespero e medo, briguei muito com Leandro e decidi ir até sua cidade, 2 dias depois. Nem precisei fazer sermão, pois o menino estava extremamente abalado. Decidi apenas dizer que estava ao lado dele pra qualquer coisa e que acreditava em sua inocência. Mas não sabia mais como conversaríamos. Levei-o para um hotel afim de animá-lo, onde ficamos algumas horas. No dia seguinte, ele me liga feliz, dizendo que novamente a PF esteve em sua casa, desta vez para lhe noticiar que um dos programadores confessou tudo e inocentou todos os outros 3. No fim, o programador jogou merda no ventilador, entregando outros policiais federais e traficantes. Ele fez o desvio sob ameaças de perder pessoas da família. Mesmo assim, ficou preso.

   Bom, bastante resumido, mas esta foi a situação mais tensa que já vivi até hoje. Ser monitorado pela polícia e ter o namorado quase preso (apreendido, no caso) foi algo muito pesado pra mim.
Leandro ficou extremamente grato por eu não ter lhe abandonado e ter acreditado nele, me dizendo que faria qualquer coisa pra provar que gostava muito de mim. Disse que iria se assumir pra família por mim. Pedi para não fazer, pois ele estava no calor do momento. Era melhor deixar acontecer. E assim ele fez.
Depois deste acontecimento, viramos grandes namorados, mesmo nos vendo pouco. Os meses se passaram e agora eu conhecia sua família e ele a minha (como amigos, claro). Mais meses se passaram e vimos que a família dele sabia de nós dois, mas parecia que preferiam que levássemos a vida dessa forma, sem tocar no assunto. Vida que levamos por mais um ano e meio.


   Agora, eu tinha 23 anos e Leandro 18. Entrou com grande nota para uma faculdade em Belo Horizonte no curso de Engenharia Aeronáutica. À partir daí, nossa vida melhorou muito. Ele morava em uma república com outros dois caras dos quais ele fez questão de que soubessem de sua sexualidade. Nos víamos toda semana e transávamos bem mais agora. Transas das quais tive minha primeira experiência como passivo.

   Certo dia, fomos em um espaço de rock e bebemos bastante. Deixei o carro na casa da minha mãe com a intenção de beber muito mesmo. Depois de muito nos divertirmos, e muito bêbados, pegamos um táxi e fomos para um hotel. Pra mim, não iria rolar nada entre nós, pois tenho grande problema com álcool: ao contrário da maioria dos homens, o álcool causa em mim um tipo de disfunção erétil. Meu pinto só fica meia bomba. Isso nunca me incomodou, pois nunca curti beber muito. Inclusive isso era motivo de muita zuação com minha ex quando bebíamos. Eu simplesmente não conseguia comê-la e caíamos na gargalhada. Mas Leandro, não sabendo disso, estava todo excitado. Já pelados, parei o menino que estava com muito fogo e falei com ele sobre isso. Pronto. Só ouvi o menino falando: “Beleza. Então agora é minha vez.” E ele realmente fez. E fez como “gente grande”. Ele nunca havia sido ativo, mas foi perfeito. Gostei muito do que fizemos, claro que nunca se compara ao fato de ser ativo, mas foi bem da hora, o que abriu brechas para que Leandro fosse ativo comigo uma vez na vida outra na morte. E assim levamos nossa vida corrida, porém intensa de namoro e muito sexo, totalizando 3 anos.

    Certo dia, estávamos no museu Inhotim, na cidade de Brumadinho. Um local extremamente bonito. Andamos muito e visitamos várias coisas, até que paramos debaixo de uma imensa árvore e nos sentamos no chão, cansados.
- Porra. Queria um sítio com uma árvore dessas e no meio do nada. Seria perfeito. – falei.
- Tipo o sítio do Michel?
Olhei para Leandro sem entender nada.
- O quê? Do que está falando?
- Michel sempre te chamava pro sítio dele. Duvido que você nunca foi.
- Velho, eu não me lembro de ter lhe falado estas coisas. Eu só lhe mostrei quem era Michel por insistência sua ao ver ligações e mensagens insistentes dele.
- Tá. Deixa.
- Deixa o caralho. Do que você está falando?
- Só me diga se você já foi ou não no sítio dele.
- Eu nunca fui. E mesmo se tivesse ido, que diferença faria? Por quê isso agora, do nada?
- Eu pedi pra você bloquear ele em tudo e você não fez.
- Leandro, do que você está falando? Eu não tenho contato algum com ele.
- Pare de mentir. Posso provar que você recebe mensagem dele.
- Então prove, velho. Você tem esse dever agora.

   Voltamos pra casa tensos e discutindo. Eu sem entender nada. Ele certo de que iria me provar que eu lia mensagens do Michel. Chegamos em minha casa e ele vai direto ligar meu PC. Abre um e-mail estranho e me mostra um arquivo grande criado em bloco de notas, onde mostrava cada site que visitei e cada programa que abri, com horas e datas exatas. Fiquei espantado com aquilo. Leandro me monitorava. Via que eu acessava pornô, lia contos, conversava com amigos e família... tudo. Fiquei puto e começamos uma grande discussão, pois ele não tinha direito de invadir minha vida assim. O que eu falava com família e amigos era coisa nossa. O que eu acessava dizia respeito somente a mim. Depois de muita discussão, pedi a ele para me mostrar onde o Michel entrava. Ele mostrou algumas mensagens do Michel, meio sem nexo. Eu não conseguia entender o que era aquilo, pois nunca mais conversei com Michel e não havia réplica minha nunca. Depois de muito discutirmos, lembrei que eu usei o e-mail do MSN fake para criar conta em um site pornô. Abri o e-mail e estava cheio de mensagens do Michel das quais abri apenas uma, mas nunca li. As outras nunca foram abertas. Esclareci isto a Leandro, que foi acreditando em mim, pois não havia respostas minhas para Michel e as mensagens que Leandro recebia me monitorando eram “assunto” do e-mail. Por isso não faziam sentido. Apenas uma que abri mas nem li e foi suficiente para ele saber muita coisa nossa.
Decidi que iria dormir depois daquilo, pois não estava bem. Eu acreditei nele quando passou por um grande susto, enquanto ele me monitorava há anos, nunca acreditando em mim. Dormimos na mesma cama, porém longe um do outro. Eu não chorava. Eu estava possesso de raiva. Até que adormeci.

   Amanheceu e acordamos. Decidi conversar com ele, já que agora os ânimos estavam menos exaltados. Eu estava muito decepcionado com ele, pois nunca confiou em mim e me monitorou todos estes anos. Ele, por outro lado, disse que serviu de lição para ver que eu era realmente um cara muito bom, pois jamais iria traí-lo. Já eu me sentia traído. Neste dia, Leandro removeu tudo que estava me monitorando no PC e foi embora. Conversamos pouco no resto do dia. Nos dias seguintes eu estava seco com ele, me sentindo traído. Era a mesma sensação que tive com o Michel.
As semanas se passaram e eu não era mais o mesmo com Leandro. Eu estava distante, pensativo e magoado. Não sabia se conseguiria perdoá-lo mesmo. E isso tudo me fez começar a acreditar que a desconfiança era a principal assassina de um relacionamento. Se ele não confiava em mim sem motivos, teria como sermos felizes? Tinha pensamentos ainda mais graves como: “quando há excesso de desconfiança em um relacionamento, sem motivos, na verdade o problema não está em nós que sofremos a desconfiança, e sim no sujeito que desconfia, pois tem medo de que façam com ele(a) o que fazem conosco.”

   Vivi este tempo todo com Leandro mostrando-se um pouco possessivo, me fazendo trocar de número, apagar redes sociais e começar do zero, e bloquear pessoas. Decidi fazer tudo depois de muitas discussões para conseguir ter uma vida tranquila ao seu lado. E consegui. Mas ele me testou durante anos. Foi muito feio o que fez. Ou eu estava exagerando?

   Leandro era o cara que eu sonhava envelhecer ao lado. Não podia perdê-lo. Ele errou sim, e feio. Mas tinha direito ao meu perdão. Leandro, um cara tão bonito, inteligente pra caralho, sem vícios, muito na dele... não, eu não iria jogar tudo fora por 1 erro.
Decidido a perdoá-lo, disse que precisávamos conversar (sem dizer que perdoaria ele), em um feriado peguei ele na república e fomos até a praça do Papa, com ele manteve-se calado no trajeto todo. Sentamos na grama e em momento algum ele olhou pra mim e nem disse nada. Ele era a vergonha em pessoa e seu semblante triste só me fez falar:
- Esquece tudo, ok? Você é meu, cara. Não posso te perder assim.
- Está zoando, né? Depois do que fiz e depois de se exaltar tanto contra mim, você decidiu me desculpar?
- Quem não erra? E que este erro sirva de lição pra... sei lá pra quê. Mas que sirva de lição.
Ele sorriu com meu jeito perdido de falar, ficou me encarando e soltou:
- Maninho, eu te amo. – disse me encarando. Sempre fomos muito carinhosos um com o outro e eu o amava muito, mas nunca mencionamos isto um para o outro. Era a primeira vez que eu ouvia isso de um homem. Fiquei meio estático e depois falei em tom mais baixo:
- Ééé... estamos numa praça lotada...
- Ah sim. Você quer que eu grite que te amo? Faço agora. DIEEEEGO, TE AMO.
- Caralho, velho. Você é doido? Velho, cala a boca. – falei surpreso e ao mesmo tempo rindo, pois foi muito engraçado.
- Não é você quem defende tanto o amor livre? Marilyn Manson não te ensinou isso? O amor machuca alguém? Amar traz mal para alguma sociedade? Estou repetindo palavras tuas. – disse ele. Olhei para os lados e haviam famílias com crianças soltando umas mega pipas, bicicletas, patins e afins... ninguém nos olhava. Com certeza ouviram, mas nem queriam saber quem falou e menos ainda quem era Diego.
- Velho, eu te amo mais. – falei.
- Eu amo mais.
- Eu e ponto final. Sou o homem da relação então fica quietinho e apenas concorde.
Instantaneamente, voltamos a ser brincalhões, zuadores e o melhor, grandes namorados novamente.

   Como era bom tê-lo de volta. Este período de separação serviu para ambos verem e sentirem o quanto nos amávamos. Nosso primeiro sexo depois disso foi extremamente intenso. Nossos paus mal gozavam e já estavam duros novamente

    Feliz, e muito feliz, continuei minha vida trabalhando e estudando muito. De vez em quando ia na casa de Nicole ou ela na minha. Ela estava cursando engenharia química e estava gostando muito. Após vender a moto, agora abandonei de vez a bateria, desfazendo dela para ter mais tempo para estudar. Leandro foi contra, pois me viu tocar apenas 2 vezes e muito rápido e achava incrível ver alguém tocando instrumento.

   Nos víamos com ainda mais frequência agora, pois às vezes eu buscava ele em BH depois da faculdade pra dormir comigo e no outro dia ele retornava. Todo final de semana de folga minha, ficávamos juntos, viajávamos pra cidades históricas ou apenas ficávamos na casa da minha mãe, que adorava este rapaz.

   Certo dia, estávamos no shopping e entramos na loja de instrumentos musicais Diskoteka. Loja que deixa você tocar livremente os instrumentos. Fiquei admirando uma bateria da marca DW, falando ao Leandro sobre as polegadas daquela bateria, que seu dono da empresa fabricante era Ilan Rubin, baterista do Nine Inch Nails. Minha paixão por música era visível.
Subimos ao segundo andar da loja, onde haviam vários sintetizadores. Fui direto para um Yamaha Motif e fiquei “namorando” o mesmo. Até que toquei em algumas teclas e o som saiu alto. Decidi então tocar algo que veio em mente, na maior inocência. Durou cerca de 10 segundos, suficiente para ver Leandro de boca aberta, 2 funcionários da loja sorrindo pra mim e umas 4 pessoas me olhando, achando que eu iria tocar algo mesmo. Que puta vergonha. Eu não sabia sair daquela situação e puxei Leandro pra bem próximo de mim que nem me deixou falar nada, soltando:
- Veeeelho. Eu conheço esta música. Você tocou igualzinho.
- Tá todo mundo me olhando. Me tira daqui, caralho.
- Faz de novo. Eu nunca havia visto tocarem sintetizador de perto. Você quem me mostrou detalhes deste instrumento e nunca me disse que tocava. Toca essa porra de novo. Foi louco demais.
- Eu só toquei um riff de uma música que conheço na bateria. Não entendo nada de sintetizador. ME TIRE DAQUI.
- Toca, ô viadinho. Foi muito legal.
Resolvi voltar a tocar. A música era “Elon Tiella” da banda finlandesa de metal Ruoska. Toquei apenas a introdução, apenas toquei o que estava em mente, pois era uma música muito importante pra mim. Notas/cifras eu sabia apenas de bateria. Foi o suficiente pra ouvir certos aplausos. Fiquei vermelho demais, agradeci saindo dali. Estava com muita vergonha. Estava saindo da loja, quando Leandro me segura pela camisa e aponta pra bateria e diz:
- Agora é ali.
- Hã?
- Eu queria muito te ver tocar de verdade. Faz isso. Você faz muito bem.
- Cara, tem tempos que não toco nada.
- Bateria é igual andar de bicicleta: nunca esquecemos. Palavras de Diego.
- Tá bom. Mas o que ganharei com isso depois de passar mais vergonha? – perguntei. Me olhou com cara de safado, aquele rostinho tão bonito e respondeu:
- Você sabe bem o que ganhará quando chegarmos em casa. – e me empurrou em direção à bateria. Toquei a mesma canção por cerca de 40 segundos. A bateria estava desafinada. Logo os vendedores vieram falando preços, condições de pagamento e afins. Nos livramos deles e saímos.
- Caralho. Que tesão te ver tocando. Que facilidade você tem.
- Questão de prática. E faltou o vocal forte e agressivo. Haha. Você me fez passar vergonha, seu bostinha.
- Vamos lanchar então pra irmos embora logo pra recompensar o meu rockeirinho.
No meu álbum tem uma foto de nós 2 depois de transarmos muito. Meu pau está meia bomba e sua bundinha virada pra mim. Ali você verá o quanto meu magrelinho era gostoso (a foto não expõe ninguém).

    Agora eu completara 25 anos e Leandro já tinha feito seus 20. Estávamos perto de completar 4 anos juntos. Viagens juntos, adquirir bens, especializar depois das faculdades eram nossos planos e, claro, morar juntos.
Quase 4 anos e nem sinal de relacionamento rotineiro, tedioso. Eu não conseguia olhar pra outros caras. Estava feliz demais. Leandro, um sujeito muito quieto, anti-social ao extremo a ponto de recusar (sim, recusar mesmo) amizades estava muito feliz também. Me falou o quanto fui importante em sua vida e quanto mudei ela. Agora sim a vida fazia sentido (palavras dele).
Claro que discutíamos, nos desentendíamos, mas resolvíamos rápido. Nada de afastar um do outro. Nada. Até que...

    Certo dia, minha irmã chega perto de mim e fala que Michel havia ligado pra ela alguns meses atrás e ela se esqueceu de me falar. Mas ele havia ligado novamente no dia anterior pra saber como eu estava, se não havia acontecido nada comigo, se realmente eu estava bem. Ela estranhou demais a insistência dele em saber meu estado, assim como eu estranhei. E ainda disse que precisava demais falar comigo. Pensei bastante no assunto e decidi ligar. Peguei o número com ela e liguei privado, pois não queria que soubesse meu número e eu voltar a ter problemas com Leandro. À noite, quando visse Leandro, eu contaria tudo a ele. Liguei, o menino atende. Enrolou bastante, pois insistia em saber como eu estava e depois de saber que eu estava bem e ainda namorava Leonardo, me disse:
- Olha, Diego. Estou preocupado com você porquê ainda gosto de ti. O tempo passou e não curou isso. Ninguém te substitui, cara. Mas não estou pedindo pra voltar. Não se preocupe. Se você está bem, fico feliz. Mas é que seu namorado me ameaçou de fazer algo que me prejudicaria muito. Tem muitos meses isto. Eu chamei ele na porrada, pois disse que não tinha medo dele. Ele só disse que à partir daquele momento eu teria. E realmente tive.
- Continue.
- Eu nunca passei senha de nada pra você, Diego. Como ele invadiu minha vida? Eu vivo hoje assombrado com medo de exposições. – disse começando a chorar.
- Do que você está falando? Está achando que dei alguma informação sua pra ele? Ele não sabe nada de você.
- Sabe sim. E sabe tudo. Sabe até que banco tenho conta.
- Michel, calma. Vocês se viram alguma vez? Eu não estou entendendo nada.
- Não. Foi tudo conversa por MSN. Eu tinha os prints, mas perdi. Foram apagados...
- Humm. Começa a fazer sentido. – interrompi.
- Que sentido? Ele é desses doidos que hackeiam, não é?
- Olha, Michel. Ele não é doido. Conheci ele sabendo de suas profundas habilidades de programação. Achei bem da hora a facilidade dele pra tudo. Ele evoluiu muito neste aspecto a ponto de parecer não ter barreiras pra ele. O que deve ter acontecido é que ele invadiu seu PC. Só não me pergunte como.
- Foram as contas de e-mail. PC ele não invadiu. Mas perdi os meus e-mails onde tinham documentos meus e algumas fotos nu. Ele me ameaçou com estas fotos. Bastava por na net e acabaria com minha vida. São fotos que somente eu havia visto até hoje. – Michel continuava chorando.
Tudo estava tenso agora. Leandro fez merda de novo e sem motivos? E porquê nunca me disse nada?
- Quando foi isso?
- Eu não sei exatamente. Mas deve ter quase 1 ano. – Imediatamente relacionei aquilo à época em que brigamos quando ele me invadiu.
- Calma. Vou conversar com ele. Não fique assim, ok? Ele não fará nada. São só ameaças.
- Diego, você não sabe o que é ir à rua e ter medo das pessoas começarem a te apontar por ter te visto em fotos constrangedoras. Você não sabe o medo que tenho de perder minha conta bancária.
- Olha, já disse. Ele não fará nada. Quanto à contas de bancos, ele não consegue invadir. Sério. Fique tranquilo. Foram somente ameaças. Vou conversar com ele pra saber porquê fez isso, ok?
- Mas conversar com ele pode piorar as coisas pra mim, não acha?
- Não, pois ele saberá que eu te liguei e não você quem me ligou. Não mentirei. Ele não vai se exaltar. Só tenha calma.
- Faz isso por mim, Diego? Tire esse peso das minhas costas? Mas promete ter cuidado?
- Prometo. Fique bem. Manterei contato, ok? E tente relaxar.

   Desligamos e fiquei extremamente assustado com tudo aquilo. Leandro ameaçar Michel? Não é a cara dele. É brigão? Sim, ele é. Mas não iria comprar uma briga do nada. Precisava saber o que havia rolado. E do outro lado havia um carinha mal, deprimido, por ações bestas do meu namorado. Não, isso não ia ficar assim. Íamos consertar tudo e deixar o menino ser feliz.

    Michel veio direto da faculdade para a casa da minha mãe. Ela estava trabalhando, meu irmão havia viajado com a namorada e minha irmã estava quase saindo para um barzinho. Eu estava visivelmente frio com ele. Não conseguia fingir tranquilidade. Quando ela saiu, antes mesmo dele perguntar o que houve, logo falei tudo. Ele ficou ouvindo. Não me interrompeu em momento algum. Eu não me exaltei, narrando normalmente como minha irmã chegou até mim e como liguei pro Michel.
- Tem mais alguma coisa? – perguntou Leandro.
- Não. É isso. Eu só quero saber porquê você fez isso. Na verdade, você fez isso na época em que brigamos feio?
- Fiz porquê precisava fazer. Consegui a senha de e-mail dele antes de brigarmos e mantive ela. Depois que brigamos, decidi ler tudo o que ele te mandava por e-mail e fiquei muito puto em ler ele descrevendo o que vocês faziam. Fora que ele insistia demais pra vocês voltarem mesmo sabendo que você estava comigo. Puta falta de respeito. Foi aí que decidi ter uma conversa com ele.
- Ok, ok. Mas você tem noção do que fez com ele? O menino tá arrasado.
- Só mudei a senha dele. Que tem demais nisso?
- E o conteúdo do e-mail dele?
- Tá preocupado demais com ele porquê? Aqui, fala pro seu Michelzinho que existem nuvens pra isso. Guardar fotos pelado em e-mail. Que paia. – falou Leandro já se alterando.
- Estou sim preocupado com ele. Não te fez mal algum, cara. Para de criancisse. Ele está com medo de ser exposto. Deixa ele ser feliz. Ele não nos incomoda mais. Devolva a senha dele e diga que você não tem nada dele salvo mais. Peça desculpas pra ele ficar tranquilo.
- Pedir desculpas? Ahhh, Diego. O cara me desrespeitou em uma conversa que tivemos no MSN falando que era apaixonado por seu pauzão. Me desrespeitou quando mandava e-mail pra você pedindo nova chance sabendo que estava comigo. Eu quem tenho que pedir desculpas?
- Não quero saber o que falaram. Se ele te pedir desculpas então, você devolve ele a tranquilidade?
- Porquê essa preocupação toda com ele? Ainda gosta dele? Sente algo por ele? Quer comer ele? É porquê ele é rico e eu não tenho onde cair morto? Que foi? Fala a real.
- Leandro, que porra é essa? Você está me ofendendo, velho. Preciso do dinheiro de alguém? Trabalho e estudo pra isso... eu não preciso explicar nada. Você me conhece. Sinceramente, não sei porquê falou isso pra mim.
- Você está preocupado demais com ele. Estamos felizes porquê ele ficou sob ameaças. Senão ele estragaria tudo. Foi a forma de seguirmos nossa vida.
- Cê tá doido? Ele iria atrapalhar em quê?
- Aparece um cara na sua vida que tem de tudo e pode te dar de tudo... você iria querer continuar namorando um cara que a família mal consegue sustentar em outra cidade?
- Sim. E essa foi minha escolha. Você está falando de dinheiro alheio, Leandro. Que porra é essa? Você está me ofendendo, velho. Isso tudo me faz pensar que se você estivesse no meu lugar, me trocaria por um rico então.
- Ahhhhhh. Sua capacidade de inverter as coisas. Para de ser simulado.
- Simulado? Então eu realmente sou interesseiro?
- Sei lá... – disse olhando pro lado, acabando com minha moral.

   A discussão continuou e mais ofensas vieram. Não entendi de onde ele tirou que eu substituiria ele por Michel. Estávamos exaltados, o que não deixava aquilo virar uma conversa. Até que novamente repeti que ele estava me ofendendo e tive como resposta um “vá tomar no cu”. Pegou sua mochila, desceu e foi embora. Fiquei estático. Que reação mais doida do Leandro. Sempre foi ciumento, mas porquê esse surto agora? Só pedi para que desse paz ao menino.

   Passei a noite pensando se errei em ter ligado pro Michel, se errei em ter pedido isso ao Leandro. Afinal, eu nem sabia direito o que Michel havia falado pro Leandro também há quase 1 ano.
Passei a noite em claro, confuso e com muita raiva. Mas isso iria se resolver. Não iria ficar assim.
Amanheceu. Era sábado. Liguei pra ele em torno de 9h. Atendeu com voz de sono. Disse que buscaria ele pra trocarmos ideia, pois tínhamos que resolver aquilo. Disse que me aguardava. Estava tão desesperado em resolver que nem me arrumei. Apenas escovei os dentes e fui como estava, de chinelo mesmo. Dirigindo descalço por BH. Chegando lá, ele me atende também com o cabelo todo pra cima e com rosto de sono. Parecia que havia voltado a dormir. Entrei e fomos pro seu quarto, pois ele disse que não iria sair. Quando entramos, me sentei em sua cama e logo ele soltou:
- O que acontecerá se eu não pedir desculpas pra ele?
- Ele continuará deprimido. E isso é ruim pra ele. Ruim mim também, pois indiretamente fui eu quem colocou ele nesta situação. E ruim pra você, pois está praticando algo muito ruim.
- O que acontecerá se eu não pedir desculpas pra ele? – fez exatamente a mesma pergunta, agora com tom irônico.
- Você não escutou?
- Quero saber o que aconteceria conosco.
- Não sei. Começarei a ter uma visão de um Leandro mal.
- Nunca ganhei nada sendo bom mesmo.
- Me ganhou.
- Te ganhei porquê afastei ele de você. Senão teriam voltado e hoje estavam casados. E eu? Eu estaria deprimido por ae. – falou exaltando.
- Para de insistir nisso. Mas que caralho. Ó. Vamos por ponto final nisso tudo e voltar à nossa vida de boa?
- Sim. Esquece este menino e voltamos a ser felizes.
- Não. Não quero ficar com peso na consciência de que tem alguém do outro lado sofrendo sendo que isso pode acabar.
- Essa dó toda dele que você tem é muito estranha.
- Estranha? Sou humano, só isso.
- Olha, quer voltar de boa? Voltamos agora. Mas não quero aquele idiota tranquilo como você está pedindo não. Prometo nunca mais fazer nada contra ele, mas não vou devolver nada e nem pedir desculpas. Essa é minha segurança.
- Então estou com você porquê ele está sob ameaças e não porquê gosto de ti?
- Não sei. Não conheço teus sentimentos.
- Não conhece? Anos juntos e você me solta isso? Tudo o que fizemos juntos. Tudo o que fiz por você, velho, não valeu de nada? Você não sente o quanto gosto de ti?
- Sem dramas, Diego. Papo acabou aqui. Aceite. Ele está bem. Estava fazendo drama pra você porquê ainda gosta de você.
- Você não vai mesmo acabar com isso? Deixa ele em paz, velho. E nunca, nunca verei este cara. Nunca conversarei com ele. Ele será um desconhecido pra mim.
- Tenho minha convicção que ele tem como conseguir você de volta. E se ele conseguir, acabo com vocês dois.
- Comigo? O que você vai fazer comigo? Vai me bater? Vai me perseguir? – falei ironicamente. Leandro não responde, se levanta da cama em direção ao seu notebook, abre algumas coisas e vira ele pra mim dizendo:
- Acabo com você assim. – fiquei estático olhando aquilo. Eram vídeos de webcam do meu notebook de coisas que eu nunca gravei. Eram vídeos curtos, editados. Eu andava nu no quarto, coçava o saco assistindo tv, cortava unha do pé pelado, o que me deixava em uma posição estranha. Mas eu morava só, afinal.
Eram filmagens de muitos meses atrás. Leandro tinha instalado um soft em meu notebook que ligava a câmera. Enquanto isso, ele capturava a tela do notebook dele. Foram várias filmagens e ele editou pra virar pequenos vídeos com partes constrangedoras minhas.
- Leandro, que porra é essa?
- Chama-se segurança.
- Leandro, o que você fez comigo? Como assim? Velho, apague isto, ow. O que eu fiz pra você? Que porra é essa, ow?
- Você nunca me fez nada, Diego. Mas quando fizesse, aqui estaria sua recompensa.
- Mas porquê eu faria algo contra você?
- Talvez porquê as pessoas gostam e você por ser bonito, inteligente e trabalha com o público. Talvez porquê existe um riquinho filho da puta apaixonado por você.
- Velho... em essa. Apague essa porra agora. Eu nunca lhe fiz nada de mal. O que você tem contra mim?
- Apago sim, quando você estiver mais calmo e esquecer esse Michelzinho seu ae. – disse sorrindo com tom irônico, o que me fez ficar ainda mais puto.
- Leandro, você quer me expor? Quer acabar com minha vida? FAÇA ESSA PORRA AGORA ENTÃO. – gritei.
- Não. Vou esperar você esquecer seu Michelzinho.
- MEU O CARALHO. Você cometeu um crime contra mim novamente. Prometeu nunca mais fazer nada parecido. Faz o seguinte: VÁ TOMAR NO SEU CU. – gritei dando um tapão no notebook dele que caiu e imediatamente ficou com a tela toda estranha (cristal líquido quebrado).
- Eu não vou tomar no cu não. Mas você e seu Michelzinho vão se foder bonito agora. Me aguardem.
Em um acesso de raiva, parti pra cima dele. Ao encostar meu peito no dele, só olhei fundo em seus olhos e saiu uma lágrima dos meus olhos, o que me fez imediatamente sair do seu quarto. Na sala estavam 2 meninos que moravam na mesma república, me encarando, pois escutaram meus gritos. Passei rápido e nem cumprimentei eles. Entrei no carro e fui embora.

   Meu Leandro. Meu doce Leandro. O meu menino, meu magrelo, tão inteligente e tão bonito. Sorriso tão perfeito e tão atencioso. Este não era Leandro. Eu estava em uma angústia imensa. Uma mistura de raiva, decepção e agora medo. Eu seria exposto ao ridículo? Leandro faria isso com quem lhe amou tanto? Não, acho que não. Mas ele manteve tudo em segredo. Fez filmagens minhas e ainda editou numa época em que estávamos felizes. Sim, então ele era capaz de me expor. Tivemos breve conversa ao telefone 2 dias depois que foi bem exaltada também e terminamos de vez.
Agora eu esperava ser exposto ao ridículo junto com Michel. Agora sabia exatamente o que ele estava passando. Nada me relaxava, eu não estava indo bem na faculdade e me pegava distraído no trabalho onde erros não existiam. Errou, alguém podia morrer ou ficar sequelado.

   Fobia, mágoa, decepção, injustiça. Leandro acabou comigo, me levando à tristeza profunda onde comecei a fazer uso abusivo de ansiolíticos...


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Comentários


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passivo10 Comentou em 29/09/2021

Que fdp!!

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natranquilidade Comentou em 15/08/2021

Tá muito massa! Votado!




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Ficha do conto

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haslecter

Nome do conto:
A MINHA VIDA - RELATO REAL. Parte 5

Codigo do conto:
184453

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
15/08/2021

Quant.de Votos:
12

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