A primeira vez que vi Leo foi no saguão do Grande Hotel do Lago onde, pelo visto, iríamos participar da mesma convenção. Chamou-me a atenção seu porte atlético, desenvolto, a juventude do seu corpo másculo. Balzaquiana que sou (mulher de trinta), derreto-me ante a virilidade de quem está pelos 25 anos. Por volta das 23h, noite fechada, todos haviam se recolhido aos quartos. No saguão do hotel os funcionários terminavam a arrumação do grande refeitório. Sentei-me numa das poltronas folheando “Amante por uma tarde” de Lisa Kelypas, ed. Arqueiro que trouxera comigo intuindo que a convenção com seus debates acalorados haveria-me de enfadar. Percebi que sentado junto a uma das sacadas com vista para o grande lago alguém falava ao telefone. De costas para mim, ele não percebeu minha presença no recinto. Já o havia notado, durante o dia, entre os convencionais vindos do ABC. Quem é imune ao tabu sedutor do perfume "Paco Rabanne 1 milion". Com ele o homem exala o que tem de mais masculino. Para as mulheres um perigo. Faz-nos transpirar desejos, respirar excitação.
Durante o jantar alguém o havia chamado pelo nome: Leo. Vice-gerente da sucursal do ABC, uma coisa assim.
-“Fazer sexo faz bem para a saúde”-.
Ouço a frase involuntariamente e estico os ouvidos interessado no que está dizendo.
-“Quando estou estressado, eu faço sexo. Não há nada que me faça ficar mais zen: nem palavras poéticas, nem peças de teatro, nem uma refeição em boa companhia. Nada. Sexo é a melhor coisa da vida”-.
Agito-me, inquieta, na poltrona e debruço-me sobre o livro tentando ouvir melhor. O teor da conversa me excita. Com quem estará falando? Homem ou mulher? Esta conversa de tema quente, começa a provocar meu desejo. Os homens fingem que lidam tranquilamente com sexo, mas na real, -em sua maioria esmagadora- são eternos adolescentes.
-“Uma foda bem dada! Nada como sentir aquela descarga descendo por toda a medula, chegando ao cóccix, voltando pela espinha até chegar à nuca. Ver o gozo estampado na cara. Uma foda bem dado é o melhor remédio, cura qualquer neura”...-
Santo Cristo! Que sensação, que tesão, que pressão eu sinto! Ele volta-se para o salão e nossos olhares se encontram. Estamos frente a frente. Inclino a cabeça num aceno. Ele, maroto, percebe que eu estava ouvindo a conversa e tartamudeia despedida com “forte abraço” um tanto ofegantes, evidentemente sentindo-se lesado. Caminha em minha direção, sua pasta estava (depois percebi) na mesinha de centro do salão junto aos jornais. Ele dirige o olhar para o meu crachá como que constatando que não sou uma simples hóspede do hotel, sou como ele, participante da semana de estudos sobre formação em marketing e reciclagem.
Aparentando a tranqüilidade que não sinto, dirijo-lhe a palavra:
-Nossa convenção iniciou quase tumultuada. Não lhe parece melhor ter deixado mais para o final o tema angústia?
-Ele sorri e me estende a mão. Prazer...Leonardo. E como se fossemos conhecidos continua: são coisas danutrição.
- Digo-lhe meu nome e de onde venho, acrescentando: essa psicanálise que nos coloca de frente com questões que, para um ser humano “normal” (sorrio olhando-o nos olhos), melhor nem conhecer. Será sobre a angústia a minha fala.
Foi o mesmo que ter acendido um estopim. Imediatamente ele se interessa pela conversa e começa a vasculhar a etimologia da palavra angústia.
-“Quero a raiz das coisas, se posso falar assim”.
- Que tal irmos até o bar pra continuarmos o assunto? Ele convida, eu aceito e pedimos um gin. tônica com limão. A conversa rola, transitória, sobre Nietzsche, Kant, Sartre, a língua coçando de prazer diante da atenção dele.
-“Você ainda não disse a etimologia da palavra angústia”...
- Vem do latim, angor, como você deve saber. Significa apertar, afogar, estreitar. Particularmente, prefiro estreitamento. É dele que vou partir para falar da nossa angústia de cada dia. Quem na vida nunca disse: “Que angústia apertando meu peito!”, “Meu coração está tão apertado, chega a me sufocar.”?
Ele sorri tomado de malícia: “É esse estreitamento que vai afunilando, esmagando nosso ser, não é mesmo?”
-Sim. A tal ponto que leva à idéia da morte como um alívio.
“Então, agora, você entende porque eu disse que fazer sexo é o melhor meio de aplacar esse insuportável estreitamento no peito”.
Apenas olhei-o intensamente e demorei meu olhar nos seus olhos, criando um universo só nosso, sem palavras ganhando afinidades.
Ainda falamos alguma coisa sobre a cidade, nossas atividades profissionais, o relacionamento se desenvolvendo em pura empatia.
-Somos só eu e você, melhor subirmos.
- Prática e eficiente você... ele falou deixando a frase em suspenso...
- Ao inferno com as convenções, pensei dando-lhe minha mão: Vem!
Naquela noite, aquele meu colega alto com os cabelos escuros, perguntou-me se eu estava interessada em colaborar com ele num trabalho dissertativo
-Preparada?
Sentei-me no sofá e fiz subir o vestido, deixando visível a lingerie negra. O cheiro do seu perfume, forte e intenso invadiu a suíte. Senti sua respiração no meu rosto, suas mãos passearam pelo meu corpo, sua boca aproximou-se da minha com desejo, com carinho, com calor, sem palavras, apenas gestos. Nada mais era necessário, o instinto de um compreendendo o do outro. As mãos se desentrelaçam desabotoando botões, lançando as roupas no chão. Bocas respirando uma na outra exalando o que sentem, transpirando desejos, respirando tesão, sussurrando gemidos dando início ao ritual. Sua nudez me deslumbrou. Livre para agir suas mãos buscam mais longe, sua boca molhada, voraz, me suga chupando-me como a um sorvete gostoso; no meu corpo o prazer contemplado, em explosão, querendo ir ao fundo da minha garganta, entregue ao desejo de sentir sua língua quente saciando-me na madrugada. Reposiciona resoluto nossos corpos no sofá e vou deslizando seus lábios nas dobras brancas da minha pele, passando a língua pelos meus caminhos, descobrindo meus sabores para sugar meu mel. Abocanhado, saboreio pinto, deixando-o louco. Nossas bocas salivantes em desejo consumidas, nossos corpos que tremem molhados de desejo. Eu paro por um instante, extremamente excitada para fazer dele meu alazão. Oferecendo meus seios em essência de feminilidade, seguro firme em suas mãos, sento-me de cócoras sobre ele penetrando-me, mexendo os quadris em círculos desenfreada e desinibidamente. Crava em seu tórax minhas unhas, ensandecida, quando suas mãos acariciam meu clitóris. Escorrendo sucos coxas abaixo desabo sobre ele sem diminuir o movimento dos quadris. Num esforço quase insano ele tenta conter a ejaculação. Amante, quero que goze mais (“uma foda bem dada”, não me sai do pensamento). Amoldando os bicos dos meus seios em sua boca, recostado nas almofadas da cama, num abraço estreito lentamente vai sentando-me no leito, penetrado em minha vagina. Eu gemendo, ronronante como uma gata no cio, para que ele não saia de dentro de mim. Face a face, interrompe o vai e vem da penetração e permanecemos sem saber precisar o tempo, nos contemplando: misto de admiração, de carinho, de querer um ao outro. Nossas línguas passeiam pelo céu da boca reiniciando em puro frenesi a mais erótica e intensa sensação de amor e tesão. Coloca minhas pernas por cima dos seus ombros, meus pés roçando em seu rosto, em sua boca. Eu sussurro implorando quase inaudível: “mete fundo, entra até no fundo!” A penetração feita com força arranca-lhe gemidos de olhos arregalados. Embate de quadris que se embutem. O orgasmo explode intenso, socado, transbordante. Deitamos-nos de lado eu passando a perna sobre a sua cintura, impregnada de sêmen e esperamos o dia em oferta de carícias, olhares e beijos. Deixamos a ciência para o plenário da convenção. Angústia, do latim angor, sem precisar mais de explicações ou teses filosóficas. “Nada como um foda bem dada” e gozar horrores , para acabar com ela.