A vizinha




Zuuum, um barulho tão familiar rompeu em meio à noite. Era o elevador, pensou. De repente, ele escutou uma porta bater e viu a luz do corredor ascender-se. Quatro horas da manhã de um dia frio, do lado de fora a temperatura chegava aos dezoito graus, e o nosso personagem ali, sentado em frente ao computador, concluindo o livro que seria sua estréia como escritor. Parou, olhou pela janela e viu uma outra luz ascender-se. Tiro e queda, era a sua vizinha que chegava da noitada. Era a oportunidade, pensou. Teria de ser rápido. Saiu pela porta silenciosamente em direção ao corredor, olhou pelo basculante, lá estava ela, linda com um vestido preto; foi uma noite longa pensou, enquanto esperava pelo grande momento. A hora dela despir-se para ele. Bem, não era exatamente para ele, pois, na verdade, ela não sabia o que estava acontecendo, mas ele sim. Ficava o dia pensando nela, sonhando com ela. Lentamente ela caminhou em direção à porta, a trancou para ter certeza que ninguém inesperado chegaria e, começou a tirar aquele que era o objeto de desejo do seu namorado, assim como o do seu visitante surpresa.

O descer do zíper parecia uma eternidade, as pernas do nosso espectador começaram a tremer, seu coração disparou; será que era agora que ele conseguiria descobrir todos os segredos daquela que o desprezava? Olhou firmemente, seus olhos não piscavam. O seu desejo parecia querer entrar pela parede, que, sem margem de dúvida o impedia de tocar àquele corpo lindo que ia se revelando, sua forma perfeita. Seus seios, até então coberto por um sutiã preto, da mesma cor que a calcinha, combinando com o resto da roupa, agora se revelavam. A essa altura, ela já tinha sentado à beira da cama, retirado a meia-calça. Que delírio deveria ser tocá-la, beijá-la, sentir seu suor lambuzando a pele. Seu rosto estava vermelho de emoção, nunca quis tanto uma mulher como aquela, nunca desejou uma pessoa dessa forma louca que tanto o consumia. Ela vira de costas para ele, e sem saber começa a retirar o sutiã, vira-se para o armário, que ficava de frente para a janela – onde estava o nosso querido fã. Mexeu ali por alguns instantes, parecendo que procurava algo, que não sabia ao certo, o que poderia ser? Por mais alguns momentos ele não agüentaria, gozaria de prazer. E ela, na sua inocente procura, o excitava ainda mais, ele queria estar dentro do armário, embaixo da cama, qualquer lugar desde que pudesse tocá-la, ou pelo menos, vê-la de perto. De novo, ela se virou, ele por um momento pensou que ela poderia tê-lo visto, mas não, apenas coloca o seu baby-doll, e, a luz se apagou. Frustado, ele volta para o seu quarto, sentou-se novamente em frente ao seu computador, e tentou descansar. Inútil pensar que conseguiria. A adrenalina estava a mil por hora, seu corpo era um vulcão prestes a entrar em erupção; seu rosto, pele, estavam molhados; seu pênis ereto; teria de fazer alguma coisa.

Mais uma noite ia chegando, e junto a ela, o desespero do nosso rapaz, que nunca conseguia dormir antes da meia-noite. A cada giro do ponteiro sua angústia aumentava. O texto não fluía, o frio ainda incessante, cadê o sol? Pensava em vão no silêncio do seu quarto. Apenas uma coisa o consolava àquela altura. Mais uma vez teria algo de fora para se preocupar, não era a sua vida, não dizia respeito a ele. Nada poderia ser melhor naquele momento do que a sua vizinha. Ela sempre chegava no mesmo horário nos dias de semana, exceto às sextas-feiras, pois, como toda menina em flor da idade, saí à noite direto da faculdade. Sequer aparece em casa para trocar de roupa, ou tomar banho. É a noite, é a vida. Ou melhor, o desejo de vivê-la. Uma coisa que parecia distante para ele. Como era dia de semana, a qualquer momento ela chegaria, e mais uma vez, lá estaria ele como quem quer viver pela janela. Ou apenas olhar pela janela o que era vida? Gastava horas de sua vida pensando nisso, não estava vivendo. Via a vida passar-lhe pelas mãos, e nada podia fazer. Seu teatro de horrores estava montado: o espetáculo que não queria ver. Era o outro lado da moeda que experimentava, acostumou-se a sair, viver e, neste instante, vivia a vida alheia. O que ela teria feito, com quem costumava sair? Sua melhor forma de escapar da sua própria prisão era agarrar-se ao seu fetiche. Sua vizinha.

Nove horas em ponto, mostrava o relógio. A noite já tinha chegado, naquela época do ano o frio estava a pico. Falta pouco, pensava enquanto escrevia. Seria hoje a grande noite? Em segredo desejava que sim, mas no fundo sabia que não. Seria apenas mais uma noite como outra qualquer, ela chegaria, ascenderia a luz do quarto, tiraria a roupa, colocaria o pijama e dormiria; como fazia noite após noite, depois de vir da faculdade. Mas ele não queria pensar nessa possibilidade. Somente sonhava no dia em que ela estivesse cansada, suada e resolvesse tomar banho, aparecer de toalha enrolada ao corpo, como um prelúdio do grande final. Ficar nua. Como seria? qual a cor dos seus pêlos pubianos? Seria desenhado pela gilete para que quando colocasse o biquíni nada estivesse à vista? Por mais alguns momentos sua cabeça girava em torno dela. Às vezes se sentia culpado por invadir a privacidade daquela pessoa. Às vezes jurava que nunca mais faria aquilo de novo. Tudo em vão. A noite chegava, sua impaciência aumentava na mesma proporção que sua curiosidade. Quando deu por si já eram dez e meia. Passou uma hora entre meia dúzia de palavras, e um milhão de pensamentos. Zuuum. Pá. A porta do elevador novamente se fechava. A luz do corredor ascendia, um barulho seco de cadeado estalava, seguido do ranger da porta de ferro que isolava a entrada da casa do resto do edifício. Em breve o barulho da porta de madeira anunciaria que ela já tinha chegado em casa. Alguns segundos se passariam e a rotina estaria completa. Ele como sempre fazia, ao sentir o peito apertar, a adrenalina correr solta ao saber que ela estava chegando, apagava a luz do quarto e corria levemente para a porta da sala, abrindo-a devagarinho para que nenhum barulho o denunciasse e, ficava esperando no corredor pela luz do quarto dela se ascender.

Esse hábito já o angustiava também, já sabia de cor a disposição dos móveis da menina. Duvida? O quarto era retangular, com a janela voltada para o leste, assim como a porta de entrada. A cama ficava colada à janela, tendo a sua frente um banco com um ventilador velho em cima, o mesmo que fazia a persiana bater na janela; o que causava a impressão de que ela poderia estar batendo na parede como se quisesse falar com ele. Bem, isso era o que ele pensava. O armário seguia a rotação do sol, de forma transversal à cama, colado à parede oposta da entrada. Tudo estava em ordem, como se já era de esperar… lá estava ela: sapato de cowboy, calça jeans e camiseta. Andou de um lado para o outro como se quisesse se concentrar, sentou à beira da cama, tirou os sapatos, ficou em pé. A calça jeans parecia que não queria sair do corpo, ela agachou-se um pouco e, com um pouco de esforço, foi abaixando, abaixando, abaixando, pronto. Estava de camiseta, calcinha branca de costas para ele. Tirou a camiseta colada ao corpo. Estava livre. Só de calcinha em frente ao espelho do armário, olhando se tinha engordado. Virou de um lado, virou de outro. Mirou os seios apalpando-os lentamente. Vestiu uma outra calça, despiu-se novamente. Apagou a luz.

Outro dia tinha se passado, mais uma noite de expectativa, mais uma noite com um leve sabor de quero mais. Sua vizinha aparentava ter um pouco mais de vinte anos, loira, baixa, por volta de um metro e sessenta no máximo, peitos pequenos, só lhe faltava uma coisa, bunda. Muito embora, à essa altura do campeonato, que diferença faria. Ele apenas estava obcecado por ver a sua vizinha nua, só pensava nisso, só desejava isso; sequer pensava em aproximar-se dela, conquistá-la, transar. Não, não queria isso. Seu único desejo era vê-la, degustá-la com os olhos, apreciar cada detalhe que pudesse.

E assim os dias, meses foram se passando e como sempre, a mesma coisa. Nada mais fazia diferença. Já estava tão acostumado a aquela rotina, que, nem mesmo se importava com a possibilidade de algum vizinho o perceber zanzando pelo corredor à noite, ou de madrugada. Nua, nua, nua, nua, ele tinha que vê-la nua. Sua obsessão tomara-lhe completamente a cabeça. Não havia espaço para namorada, amante, amiga. Tudo pertencia a aquela que nunca possuiria, a aquela que nunca o olhava nos olhos, a aquela que nunca tinha visto até a alguns meses atrás quando chegou da praia e, ao saltar do elevador, deparou-se de frente a ela, brincando com o cachorro. De onde viria. Como que apareceu naquele edifício tradicionalmente de mulheres feias. As loiras, que nunca tinha namorado sequer uma delas, por justamente não atrair-lhe a aparência, tinha o transformado. Enfim, agora entendia Fausto Fawcett e o desejo desse músico pelas louras, as fantasias que elas causam nos homens de bem. Sabia o que era o inferno.

Embora já não tivesse mais esperança em conseguir vê-la nua, já que a única hora em que ela tomava banho era antes de ir à faculdade, e nessa hora, era impossível ficar no corredor, pois ainda era muito cedo, com o dia claro. Todo dia era igual, a mesma rotina.

Porém, uma quinta-feira a noite, que deveria ser como todas as outras, ele saiu para o seu conhecido corredor que tantas noites já estivera antes, e olhou pelo basculante. A luz estava acesa, o quarto, no entanto, estava vazio. Uma luz se ascendeu, era o banheiro. Foi escovar os dentes, pensou ele. Mas, estava completamente enganado. Para a sua surpresa, após alguns minutos de espera, ao olhar novamente pelo basculante, lá estava ela, enrolada em uma toalha, cabelos molhados, de frente para ele. Seu coração disparou, as mãos começaram a tremer, os braços não agüentavam mais ficar pendurado no parapeito, mas ele não podia bobear, era a chance que esperou por meses. E, se ela já tivesse colocado a calcinha como muitas costumam fazer após saírem do banho? Não poderia ser, tinha esperado tanto tempo por esse dia. Como que isso aconteceria. Nunca! E estava certo. Ela como que para provocá-lo, virou de costas e deixou a toalha cair. Ele não acreditava no que estava vendo. Sua bunda, apesar de pequena, era linda. A marca do biquíni denunciava a brancura de quem há muito tempo, não ia à praia. Os braços doíam, mas ele estava lá, imóvel, a dor e o prazer se misturavam, a excitação de descobrir o novo, o objeto de desejo, o sexo dela. Tantas vezes pensou qual a cor que seria seus pentelhos, fulvo ou castanho. Imaginava loiro para combinar com os cabelos. Mas para sua surpresa, porém, não para a sua decepção, eram castanhos escuros. Uma mata em forma de “v” aparecia em frente aos seus olhos, não poderia ser, mas era. Ela de frente para ele, sem vê-lo. A persiana que tanto tinha lutado para consertar, e não deixar que ninguém que ela não quisesse pudesse descobrir, era a arma dele, ele via, mas ela não. Por alguns segundos ficou estática, parecia que sabia que alguém a olhava com tanto ardor, desejo, tesão. Para em seguida virar, botar a calcinha após inclinar-se levemente para frente, dando finalmente de presente para o seu espectador, a visão da sétima maravilha do mundo. O ventre feminino. Ele correu afobadamente para casa, trancou-se em seus pensamentos, e como que gritasse para todo mundo ouvir, pensou ferozmente: consegui! consegui!! Hoje foi o dia! Hoje foi, o diiiiia!!!!!


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Comentários


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Comentou em 30/05/2013

Parabéns amigo, teus contos fazem bem à este site! Abraço e voto do Zeus!

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Comentou em 30/05/2013

hummmm, adoro seus contos! super bju pra vc!




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Ficha do conto

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Nome do conto:
A vizinha

Codigo do conto:
29816

Categoria:
Heterosexual

Data da Publicação:
28/05/2013

Quant.de Votos:
3

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