Eu já me habituara com a convivência despojada de Paula e não me assustava mais quando, dentre aquele desconcerto ambulante, ela sacava um naco de minha alma dentre os dentes.
“Você é um covarde, cara. Diz que pode ganhar o mundo e se contenta apenas com a tevê e esse sexo fácil com incautas que conhece pela vida morna que leva. Quero ver o dia que encontrar uma mulher de verdade. Aí sim você vai tremer nas bases e vai engatinhar implorando o cheiro da calcinha dela.”
Eu olhava com desdém fingido. Já conhecia o número feito e tinha a minha máscara pronta para isso. Obviamente, em nada ajudava em diminuir a dor que a exposição abrupta de minha alma causava. Normalmente, me levantava, pegava um filme ou livro ou um cobertor e assistíamos à tevê. Depois, ela se cansava e partia da mesma forma que entrava. Tinha a chave que eu dera para ela e sabia que a porta sempre lhe estava aberta.
Eu gostava do seu jeito desafiador. Ela me ouriçava de uma forma diferente, mais como uma competidora que uma amante. Queria ver como ela era na cama, mas sabia que daria em nada.
Certa feita, exagerando no vinho de quinta que habitava minha geladeira, deixou aberta a porta frágil das frustrações e eu, canalha de escola centenária, me aproveitei. Disse que os homens de sua vida eram pálidos – apesar de belos, talentosos e ricos – e que eu lhe daria uma lição. Não hoje, pois não gosto da fêmea entorpecida. Gosto da minha mulher consciente do tipo de homem que a penetra. Disse-lhe que ela iria me procurar um dia e eu a colocaria aberta e eu iria mostrar o que a língua de um sátiro era capaz de fazer com as suas dobras, nervos, mucos e lábios. Iria lhe mostrar o que um homem sedento pelo sangue imaturo e faminto por carne jovem é capaz quando a oportunidade se apresenta. Que ela iria viver o prazer gerado de um corpo cansado, malhado pelo tempo, com a energia de uma pilha lenta, que aquece, ilumina e faísca por horas do jeito certo e da maneira exata. Sem explosões ou fúrias. Apenas a calma de quem já fez aquilo centenas e centenas de vezes antes.
Que iria surpreendê-la com posições velhas, com variações nulas e, dentro da repetição, ela iria gozar não uma ou duas vezes, mas uma dezena ao menos e quando suas pernas estiverem bambas de tanto ver tremer e bolinar o que é de atrito, eu a penetraria na meia potência típica dos quarentões sem química para anabolizá-los. E que quando eu estivesse entrando, ela sentiria o que é ser uma mulher em sua totalidade.
Sem glamour. Sem ilusões. Sem mentiras. Apenas o homem no fim das suas forças e a mulher no limite do desejo. E quando eu gozasse, ela veria o resultado do esforço que é fazer uma mulher feliz