ACABE COMIGO
Capítulo 01 - A entrevista
Ao entrar no saguão de movimento muito intenso, com pessoas entrando e saindo do elevador e passando à minha frente, aproximei-me da área da recepção. Eu estava tão nervoso que os sapatos pareciam soar como tambores no piso de mármore. Um homem ergueu a cabeça e olhou para mim.
— Sou Dylan Kent — eu disse. — Tenho uma entrevista com Barbara Blackwell.
— Com a srta. Blackwell?
— Desculpe, sim, a srta. Blackwell.
Ele digitou alguma coisa no computador, leu o que dizia a tela, pegou o telefone ao lado e fez uma ligação. — Dylan Kent está aqui para ver a srta. Blackwell. Posso pedir que ele suba? Eu sei que ele chegou antes da hora, mas está aqui. Obrigado.
Ele desligou o telefone e acenou em direção aos elevadores. — 51º andar. Vire à direita quando a porta se abrir. Você verá uma área onde poderá se sentar à esquerda. Chegou cedo demais. Espere lá um pouco que a assistente da srta. Blackwell o chamará.
— Obrigado — disse eu. — Lamento por ter chegado cedo demais.
— É melhor do que chegar atrasado — disse ele.
* * *
Quando as portas se abriram, eu me preparei e saí para o corredor. Vi a área com as cadeiras, fui até lá e a encontrei lotada. Não havia lugar para sentar. Quatorze rostos olharam para mim, olhos me encararam e um homem gordo, espremido dentro de uma roupa formal que mal continha o tamanho dele, sorriu sugestivamente.
— Desculpe-me — disse alguém que passou depressa por mim no corredor estreito.
— Desculpe.
— Certo.
Meu Deus.
— Julio Hopwood?
Eu me virei e vi uma senhora de meia idade parada ao meu lado.
— Não, eu sou Dylan...
— Eu sou Julio Hopwood — disse um moreno bonito sentado ao lado do homem gordo. Ele era educado e, ao se levantar, achei que parecia estonteante na roupa azul-escuro.
— Está aqui para o cargo de secretário?
— Acho que todos estamos — respondeu ele.
A mulher deu um sorriso frio. — Por aqui. A srta. Blackwell o receberá agora.
— Obrigado.
Ao passar por mim, ele disse: — Eu já levei essa.
É mesmo?
Olhei para o homem gordo, que me encarava com os lábios ligeiramente afastados. Por que ele está me olhando como se eu fosse um bife suculento? Eu certamente não podia ficar parado na entrada, portanto, andei até a cadeira próxima a ele e me sentei. Coloquei a pasta no colo e notei que o rosto dele se virara para mim. Eu não queria conversar com ele e o ignorei. Abri a pasta e fiz de conta que procurava algo dentro dela até que, finalmente, ele virou o rosto.
Quinze minutos mais tarde, vi Julio Hopwood passando pela porta da sala de estar com um sorriso satisfeito no rosto. Em seguida, a mulher mais velha que o chamara mais cedo perguntou quem era Dylan Kent.
— Sou eu — respondi eu, e levantei.
— A srta. Blackwell receberá você agora.
— Obrigado.
— Boa sorte — disse o homem gordo.
Ergui a mão em agradecimento e continuei andando em direção à mulher, que me conduziu por um longo corredor até a porta aberta de um escritório de esquina. Lá dentro, vi uma mulher de aparência severa, em um traje de negócios preto chique, sentada em uma mesa grande e com a silhueta de Manhattan brilhando ao sol atrás dela. Ela falava ao telefone, mas acenou para que eu entrasse, indicou com a mão uma cadeira à frente dela e moveu os lábios formando a palavra "currículo", sem pronunciar som algum.
Abri a pasta e retirei uma cópia do meu currículo para entregar a ela.
— Não, não — disse a mulher no telefone, enquanto estendia a mão para pegar o meu currículo. — Não é assim que funciona e você sabe disso, Charles. Fale com o meu advogado. Não telefone para cá novamente. E posso lhe dar um conselho? Assine os malditos papéis para que possamos seguir com as nossas vidas. Já faz meses que dei entrada neles. Estou cansada disso. Eu e as crianças queremos você fora das nossas vidas. Pelo amor de Deus!
Sem outra palavra, ela desligou o telefone, olhou para o meu currículo novamente para mim, com a raiva claramente estampada no rosto. — Sr. Kent — disse ela. — Como está?
— Estou bem, srta. Blackwell. Obrigado por me receber.
— Não é preciso me agradecer. É o que faço. O dia inteiro. Algumas vezes, nos fins de semana. — Ela passou os olhos pelo currículo. — Você é do Maine?
— Sou.
— E se formou em maio?
— Sim, foi quando recebi o meu diploma.
— Em administração?
— Isso mesmo.
Ela olhou para mim. — Por que você estaria interessado em um emprego de secretário quando tem um diploma em administração?
Tentei manter a compostura. — Estou aqui desde maio e não consegui encontrar um emprego.
— Você está ciente de que a economia está indo por água abaixo, não é?
— Estou. Só achei que aqui haveria mais oportunidades do que no Maine.
— O que o traz até aqui hoje.
— Isso mesmo.
— Eis o que eu acho. Você pode atender telefonemas até que consiga encontrar um emprego melhor. Por que eu perderia meu tempo com isso? Só significa que vou ter que substituir você em breve.
Eu senti o rosto corar. — Na verdade, eu esperava que essa fosse uma oportunidade de colocar o pé na porta. Minha esperança é que, se eu trabalhar duro o suficiente na Wenn, alguém poderá ver algo em mim que permita que outras oportunidades surjam.
— É mesmo? E quanto tempo nos daria para que isso acontecesse? Algumas semanas? Uns dois meses? Até que encontrasse um emprego em outro lugar?
— Se o salário fosse decente, eu esperaria até que algo bom aparecesse.
— Ora, é muito gentil da sua parte.
— Srta. Blackwell, eu trabalho duro. Só preciso de uma chance. Se eu não encontrar um trabalho em breve, terei que voltar para o Maine e desistir dos meus sonhos aqui.
— E eu deveria me importar com isso por quê? — Ela jogou o currículo de volta na mesa. — Olhe, sr. Kent. Não estou procurando alguém para contratar por um tempo curto. Estou procurando alguém para preencher essa posição por um longo prazo para que não precise procurar novamente por pelo menos um ano. Isso faz algum sentido? Você não está mais no Maine. Está em Nova Iorque. É uma cidade grande, cheia de pessoas iguais a você, procurando um emprego. Não me venha com o drama de "só preciso de uma chance". Esse drama acontece em todos os shows da Broadway. Sugiro que compre uma entrada e vá assistir um deles.
Qual era o problema dela? — Eu disse algo que a ofendeu?
— Você me fez perder meu tempo.
— Na verdade, acho que entrei bem no meio de uma discussão.
— Você acha que entrou no quê?
— No meio de uma discussão. Você estava discutindo quando eu entrei. Agora, está descontando em mim. Isso não é uma atitude profissional. Não sou Charles, então, por favor, pare de agir como se eu fosse.
A mulher se recostou na cadeira com um olhar divertido. — Ora, ora, olhe para você. Talvez você tenha o que é preciso para sobreviver na cidade grande. Tem uma senhora boca. — Ela se inclinou para a frente e um cacho dos cabelos pretos caiu sobre o rosto dela. — Mas não vamos dar ouvidos a ela aqui. Tenha um bom dia.
Furioso, eu me levantei. Uma entrevista de três minutos? O que eu fizera para merecer aquilo? Quantas vezes mais eu seria dispensado nessa cidade? Senti outra onda de fúria e direcionei-a àquela vadia da Blackwell, da mesma forma como ela direcionara a raiva dela a mim.
— Tomara que tenha um divórcio sangrento. Do meu ponto de vista, parece que Charles se livrou de um dragão.
— Querido, você não faz ideia. E obrigado pelo currículo. Vou telefonar para todos os RH's que conheço na cidade e avisá-los sobre você.
— Então, gostaria de outro processo judicial?
— Ora, vamos. Pelo que me disse, você não tem dinheiro para isso. Adeus, sr. Kent. Adeus e boa sorte. Agora, saia daqui. Feche a boca. A srta. Blackwell não quer mais saber de você. Tchau.
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História maravilhosa <3
Muito bem escrito.Parece produção de escritor profissional.Bem, conto não é,mas sim, um romance gls.Espero continuação.Pena que tem ares americanos.Mas é bom.Tem história.