********************************************************************************* I – Conversa com a doutora ********************************************************************************* Caminhava no calçadão com o pensamento vazio, na realidade não pensava sequer nas coisas que a doutora lhe havia falado no consultório, mas aquela pergunta ainda teimava em voltar como se fosse um bumerangue contínuo que não parava as idas e vindas. ********************************************************************************* – Você não é tão criança assim, Anabela – olhava para o dedão com unhas mau pintadas apontando da sandália de couro cru – Olha pra mim! Não adianta fingir que não estou aqui... Dra. Maria das Dores não conseguia faze-la ver da seriedade de sua atitude e ficava exasperada toda vez que a garota fingia não escutar, mas Anabela era assim mesmo, dispersa para coisas sérias e acesa pra tudo o que lhe dava prazer. – Qual é doutora? To escutando, ora bolas! – encarou fazendo ares contritos – Ouço com o ouvido, os olhos são pra gente ver! Maria das Dores sentiu vontade de rir, mas não era hora para brincadeiras e se o fizesse tinha certeza que a garota pegaria a deixa para sair com as costumeiras brincadeiras fantasiosas. – Você sabe que ainda é muito nova para essas coisas de sexo... – puxou a cadeira e sentou defronte dela – Sua mãe ficou preocupada quando descobriu... Olha pra mim, minha filha! – falou manso e segurou o queixo erguendo a cabeça da pequerrucha que mais parecia um anjinho barroco com cabelos loiros cacheados e olhos de uma tonalidade azul que deixava abasbacado que a visse pela primeira vez – Faz tempo que aconteceu? Anabela deixou escapar um sorriso meigo fazendo o rosto corar como se sentisse vergonha do que escutara. – Que importa isso? – piscou ligeiro – Dei porque queria... Ninguém me obrigou não, não fui estuprada, viu! – Sei disso, você já disse! – recostou-se e suspirou forte, parece que aquela menina tinha razão que até a própria razão desconhece, só não sabia e ela não dizia com quem foi – Foi um coleguinha da escola? Voltou a baixar a cabeça e arrumou a saia jeans que teimava em subir nas pernas fazendo aparecer a pontinha da calcinha acetinada. – Vou dizer não!... – bateu pé – Mas não foi ninguém que vocês tão pensando, viu? Respirou fundo, talvez estivesse usando o modo errado, ela não falara nem para sua mãe e não iria confidenciar algo tão importante em sua vida. – Ta bom! Não vou mais perguntar... Mas, você pelo menos fez ele usar camisinha? A garota deu um risinho maroto e puxou de novo a saia encobrindo o colo desnudo. – No primeiro dia não, né? Não dava... – risinhos. – Quer dizer que não foi só uma vez? – isso até dona Mercês não sabia, imaginava que a filha tinha sido usada, enganada, e pronto – Sim, sei... Mas depois vocês usaram camisinha, não usaram? Claro que ele bem que quis se proteger de uma gravidez indesejada, mas era muito maluquinha para permitir que um pedaço de borracha lhe furtasse o contado do cacete com a vagina. – E se a gente não usa? – não teve coragem de encarar a doutora – Deve ser uma merda, é como chupar pitomba com casca... – Mas minha filha... Camisinha é um mau necessário... Tem as doenças, a AIDS por exemplo, você não tem medo? – não entendia essas garotas de hoje, pareciam até ter minhoca em lugar do cérebro – E tem também essas doenças mais comuns como a gonorréia, por exemplo. – Qual é doutora? Ele é limpo, tem disso não... Ora! Olhou para o relógio na parede, quase na hora de buscar o filho no jardim de infância. Fez mais algumas anotações antes de levantar. – Ta bom Anabela! Por hoje terminou – passou a mão no jaleco desfazendo as dobras – Mas não vá esquecer que na terça-feira temos outro encontro. Anabela levantou de um pulo, o pé direito começara a formigar. – Como vai na escola? – perguntou de supetão como última informação a ser registrada. – Ah! Lá é moleza... Disso a mamãe não tem o que reclamar! To passada de ano... Sorriu para a garota e teve vontade de abraça-la, mas recuou sem saber como seria recebido aquele carinho pela garota e apenas balançou a cabeça. – Seria muito eu pedir para você usar camisinha? – tentou mais uma vez – E também tem o negócio da gravidez – não imaginava Anabela grávida, era muito nova e por outro lado tinha certeza que de nada adiantaria tentar demove-la da idéia de continuar trepando com o parceiro – Vocês não querem um filho, querem? Bateu três vezes no espaldar da cadeira. – Vexe Maria! – ficou séria – Por nada nesse mundo... – olhou pra janela do consultório e viu que o céu límpido mais parecia dia de praia – Ia dar o maior rolo, tadinho dele! Maria das Dores balançou a cabeça, não adiantava mesmo. – Ta bom! Olha lá menina. Sinto até um tantinho de pena de você, um dia ainda vai lembrar de nossas conversas e verá... – se arrependeu em haver começado a sentir-me mãe, ao invés de analista. Mas não dava para separar vendo aquela menina recém saída dos cueiros se sentindo dona da verdade – Esquece... A gente se vê na terça, ta bom? Anabela jogou um beijinho antes de abrir a porta pesada e se embrenhar pelo corredor sem fim apinhado de gente jogada pelos bancos de madeira ladeando cada porta do hospital. Parou um pouquinho pra espiar uma mulher amamentando um bebê e, instintivamente, levou a mão ao seio esquerdo. – Que foi meu bem? Ta sentindo alguma coisa? – a mulher notou que a garota tinha parado e massageava o seio – Ta doendo? Balançou a cabeça e sorriu para ela, se aproximou e acarinhou a cabecinha careca do bebê. – Nada não dona... – o rosto angelical tava irradiante – É que... Nada! Nada! Tchau... – Você ta fazendo tratamento com a doutora das Dores? – perguntou querendo prolongar o papo, tava um saco ficar ali esperando ser chamada – Vi que você saiu da sala dela... Anabela não respondeu, não tava fazendo nada e a mãe a essa hora devia ainda estar na repartição. Se descesse agora iria ter que ficar esperando até dar a hora dela chegar dirigindo o carrão preto. – Sim e Não! – respondeu acocorando pra ficar na frente da moça – Ela é minha tia e to fazendo um troço de analise... Frescura da mamãe! – mentiu sobre o parentesco, não queria que pensassem ser tantã. A moça balançou a cabeça tristonha, o filho sugava as últimas forças e o estômago roncava. Desde cedo, quando chegou, sentia fome. Em casa tinha só um resto de feijão mulata gorda e duas latas de sardinha que reservara para almoço do marido Zé e dos outros dois filhos. Olhou para a garota medindo o quão poderia ter posse vestida naquela saia jeans de grife, blusinha amarelo queimado e calcinha branca cintilante. – Fica assim não, minha filha! – olhou pros lados e viu um senhor de cabelos grisalhos de olhos pregados na perna da garota – Tua calcinha fica à mostra... Senta aqui! – afastou um pouquinho deixando espaço para ela – Você tem quantos anos? – Treze! Quase quatorze...
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