Eu sempre me orgulhei de ser extremamente caseiro. E isso nunca me incomodou. Muito pelo contrário. Durante minha infância, eu me sentia mais confortável brincando sozinho do que brincando com meus amigos pelas ruas do bairro em que morávamos. Como toda criança, eu sentia uma grande necessidade de me divertir o tempo todo. Eu só não conseguia me divertir com os outros. Fazia muito bem isso sozinho.
Pra minha mãe, esse meu comportamento era visto como algo inerente a mim. Para meu pai, era tudo resultado da superproteção de minha mãe. Para mim, era apenas algo que eu forçava acontecer para me sentir protegido do mundo. Me sentir seguro.
Como toda criança consciente de sua diferença, eu já esperava os ataques quando descobrissem a verdade. Sabia que viria de todos os lados. Aliás, ataques esses que eu mesmo jogava contra mim mesmo. Via como defeito o que era, na verdade, a minha essência.
Há vinte anos o panorama não era nada bom para se aceitar como homossexual. A sociedade, a mídia e a religião nos ensinava que a gente transitava entre a comicidade e a depravação mundana. Então, não demorou muito pra eu descobrir que seria mais fácil esconder quem eu era de verdade se eu estivesse sempre sozinho. Aliás, até mesmo meus pais, sempre tão carinhosos comigo, eu evitava em muitos casos. Tinha medo não só do futuro. Mas temia o tempo todo não saber viver o presente.
E mesmo agora, vinte anos depois, eu ainda me espanto como eu conseguia me esconder tão bem de todo mundo, durante tanto tempo. E me envergonho por utilizar um artificio tão covarde e – como ao logo dos anos eu descobriria – ineficiente. Afastar o outros não foi só egoísta, mas auto destrutivo.
Não que ficar sozinho fosse algo ruim o tempo todo. Eu costumava ser uma ótima companhia pra mim mesmo. Aliás, naquela época, sem os aparatos eletrônicos que brotam e evoluem o tempo todo hoje em dia, a gente se virava com qualquer coisa que tivéssemos a mão. De uma lata de óleo de cozinha que virava um carrinho até uma simples folha de pape que virava um barco.
Sem que meus pais pudessem me comprar brinquedos, tudo em nossa casa virava passatempo. Assim como toda criança daquela década, a imaginação sempre era a minha companheira mais fiel. Mesmo não tendo com quem compartilhar. Isso até o dia em que eu e minha família nos mudamos para uma nova casa, num novo bairro.
Menor do que nossa moradia anterior, nosso novo lar indicava tempos difíceis que iriam se seguir. Com o orçamento apertado por conta de uma demissão, meu pai ainda se arriscava num novo emprego. Aquele casebre era tudo que ele podia nos dar. Com apenas um quarto para nós três, ainda tínhamos que nos apetar numa minúscula sala, um banheiro que mal cabia meu pai sozinho, e uma cozinha que, mesmo maior que o restante da casa, tinha um teto ridiculamente baixo, que apenas as construções interioranas da região Nordeste nos anos noventa poderiam justificar.
Sim, sou nordestino. Um orgulhoso nordestino, nativo de uma cidade de apenas vinte mil habitantes e com um dia a dia pacato, beirando o tedioso. Um lugar onde todos se conheciam. Quase todo mundo era da mesma família e onde a maior ocupação diária era a fofoca.
- Esse bairro só tem trombadinha!
Minha mãe não é uma pessoa má. Mas como a maior parte da população daquela época, ela se entregava a preconceitos absurdos que felizmente foram dizimados com o passar dos anos. Somando isso aos cuidados de um filho único e a mudança para um bairro miserável a que ela não estava acostumada, não demorou muito pra ela impor uma centenas de regras que eram atualizadas todos os dias para que eu ficasse o mais longe possível das crianças daquele bairro.
Com a exceção do filho do novo patrão de meu pai.
Desde que foi demitido de seu trabalho anterior, meu pai foi contratado para representar uma loja de eletrodomésticos nos municípios vizinhos. O que deixaria a mim e minha mãe sozinhos por longos períodos. Mas o fato de ganharmos um bom desconto na casa alugada que pertencia a seu novo chefe, acabava compensando esse sacrifício.
Nossa nova casa ficava em frente à casa do senhor José, patrão de meu pai. Apenas uma rua de mão única dividia nossas casas. Para meu pai, aquilo era uma honra. Pra minha mãe, era como se estivesse o tempo todo na mira do homem que humilhava meu pai diariamente, moralmente e financeiramente.
- Precisamos morar aqui pelo menos até eu me estabilizar, querida.
- E quando vai ser isso, Neto? Eu não quero que o Rick se acostume a esse lugar.
Nunca entendi o porquê de minha mãe ter me batizado de Pedro Henrique, se rapidamente ela passou a me chamar de apenas de Rick. Sempre preferi ser chamado assim. Na escola, todos me chamavam pelo meu nome composto. Quando alguém me chamava por meu apelido, eu sabia que vinha de pessoas que gostavam de mim.
Como o meu querido novo amigo e vizinho Davi.
- Dona Meire! – ele aparecia gritando na janela, como todos os dias. – O Rick por ir brincar comigo lá em casa?
- Claro que sim, meu querido!
Mesmo detestando o novo patrão de meu pai, minha mãe adora seu filho. Já fazia alguns meses que morávamos ali e eu, pra surpresa de meus pais, não parava mais em casa. Todos os dias eu saía pra brincar com Davi em sua casa. No início foi algo muito constrangedor. Mas logo nos tornamos carne e unha.
Ele me considerava seu melhor amigo. Eu o via como um amigo que eu amava mais do que deveria.
- Preciso te mostrar uma coisa, Rick. Mas você não pode mostrar pra ninguém.
Eu o acompanhava enquanto ele seguia para sua casa a passos largos. Eu, logo atrás dele, o seguia sempre lhe olhando dos pés à cabeça. Amava ver como seus ombros eram largos, sua cintura era forte, sua bunda absurdamente arrebitada delineada por coxas de quem jogava bola todos os dias.
Mais velho que eu dois anos, Davi já havia tido algumas namoradinhas na escola. Ao menos era isso que ele me contava. As meninas da vizinhança lhe mandavam cartinhas de amor todos os dias e ele sempre me mostrava. Naquele bairro humilde, um garoto como ele, vivendo numa casa enorme como aquela, chamava a atenção das vizinhas certamente. Mas seu pai, rígido e sucinto, também não permitia que ele se envolvesse com a criançada daquele bairro. A única amizade que ele tinha era a minha.
E confesso que eu adorava ter ele só pra mim.
Eu amava estar com ele e decorar cada detalhe do seu olhar. Gentil e educado, ele conversava sempre olhando diretamente em meus olhos, seja qual fosse o assunto. Seus olhos negros mostravam uma profundidade que me fazia perder na minha realidade, me dando a sensação de felicidade e medo ao mesmo tempo.
Ele não era o homem lindo que vejo em muitas histórias. Longe disso. Mesmo bonito, sua beleza era bem comum, quase banal. Ao mesmo tempo que eu tinha essa consciência, havia algo nele que me fazia vê-lo como algo insuperável e, por isso mesmo, inalcançável pra mim.
Por uma infantilidade que parecia fazer todo sentido na época, cheguei até mesmo a mudar meu penteado de cabelo pra ficar parecido com o dele. Antes penteado de lado (Anos 90, galera!), agora eu o penteava pra cima, mesmo com protestos de minha mãe.
Eu adorava ver o cabelo de sua nuca, milimetricamente cortado, fazia uma sincronia perfeita com seu pescoço torneado. O negro de seus cabelos faziam uma rima deliciosa com sua pele cor de jambo. Eu nunca tinha beijado ninguém na vida até então. Mas sabia que se tinha algo que eu queria beijar muito era aquele pescoço.
Era um tormento afável fingir não me atrair por ele enquanto brincávamos juntos. Todo dia eu tinha algo de novo pra me atrair nele. Seja o toque de suas mãos, o contorno de seus lábios sempre molhados ou qualquer outro detalhe daquele corpo que eu queria conhecer cada vez mais e que, naquele dia, isso chegaria a um patamar que não passava por minha cabeça.
Ao atravessar o portão de sua casa, nós fazíamos algo que se tornou um hábito criado que pela empregada da casa. Sempre tínhamos que tirar as sandálias e deixá-las sobre o capacho vermelho escuro antes de entrar na casa que estava sempre impecavelmente limpa. Quando esquecíamos de obedecer essa ordem, Cineide logo aparecia com uma vassoura na mão, gritando os mais diversos e divertidos palavrões enquanto balançava seus gordos braços, nos fazendo nos redimir num misto de respeito e gozação.
Eu repousava meu chinelo havaiana ao lado da sandália do Sena do Davi como sempre. Mas naquele dia já havia um chinelo pequeno com uma imagem do Mickey repousando sobre o capacho. Estranhei quando vi aquilo. Durante todo o tempo que ia visitar Davi, nunca havia ninguém mais naquela casa. Seus pais eram bons vizinhos, mas mantinham uma distância um tanto rígida. Amigos de escola do Davi só podiam ir até lá se fosse com prévio aviso e num horário em que seus pais estivessem em casa.
Como os dois trabalhavam o dia todo, Davi passava toda a tarde com Cineide, a empregada da casa, que cuidava dele enquanto realizava suas tarefas. Durante essas tardes eu sempre estava lá também, claro, com a permissão antecipada do senhor José e senhora Fernanda.
Passávamos o dia jogando vídeo game, vendo TV, jogando seus mais diversos jogos de tabuleiro, bolinhas de gude... Não faltava diversão e nunca ficava monótono. Nos divertíamos todos os dias. E eu adorava que fosse apenas ele e eu.
Mas naquele dia havia mais alguém ali com ele. Logo após adentrar na sala de estar, avistei um garoto de cabeça baixa. Sua pele branca agora mostrava um rosto vermelho pela timidez. Davi ria empolgado, enquanto eu tentava entender o que estava acontecendo. O garoto me olhava de canto de olho e deixava transparecer que ele sabia exatamente para o quê Davi me levara até ali.
- Onde está a Cineide?
- Relaxa, Ricky! Ela saiu e vai demorar.
Não entendia o motivo dele me mandar relaxar. Não entendia o motivo daquele garoto estar ali. Davi parecia estar animado com aquela situação, enquanto fechava as janelas que davam para o quintal, deixando a sala de estar iluminada apenas pela luz que entrava pelas frestas da porta e das janelas.
Eu observava o garoto e tentava lembrar de onde o conhecia. Não demorou muito pra eu me lembrar que ele morava a poucas quadras de minha casa. Era da vizinhança. O que deixava tudo ainda mais estranho.
Depois de ter certeza de que não tinha esquecido de fechar nenhuma das janelas, Davi veio caminhando sorridente na direção do garoto que, num gesto que parecia ser combinado com Davi, ajoelhou-se e o aguardou. Minha mente já adiantava o que aconteceria ali. Mas ao mesmo tempo não queria acreditar.
Lembro de sentir minha respiração ficar difícil quando vi Davi colocar seu pênis pra fora da calça e o direcionava à boca do garoto que, num movimento rápido, o abocanhou numa vontade que me deixou impressionado. Seus lábios iam e voltavam ao longo do pau de um Davi empolgado que observava atentamente a minha reação.
Meu coração batia acelerado. Tentava controlar minha respiração. Sentia minhas mãos suarem frio. Meus olhos me traíam ao se fixarem o pênis de Davi, como se necessitasse gravar cada detalhe daquele membro em minha mente. Ver o pau de Davi já era um desejo realizado para mim. Mas vê-lo sendo chupado por outro garoto era algo que ultrapassava todos os meus desejos mais libidinosos até aquele dia.
Não demorou pra Davi perceber que eu estava excitado.
- Vem aqui, Rick. – ele fez sinal pra eu aproximar – Vem pra ele te chupar também!
Davi retirava seu pau babado da boca do garoto que, sem nem olhar pra meu rosto, já sacava meu pênis de minha bermuda e o abocanhava. Apesar de novo, era nítido que aquele garoto já havia feito aquilo várias vezes. Davi olhava atentamente para a chupada que eu recebia. Com um sorriso maroto no rosto, ele observava como se aquilo fosse um grande acontecimento. Seu sorriso, pra mim, ainda era um mistério.
Talvez engraçado, talvez inusitado, talvez animado.
Seja como for, ele se despiu por completo. Fazendo movimentos de vai e vem em seu pau, ele ficava cada vez mais empolgado e seu pau cada vez mais duro. Meus olhos sempre buscavam seu pau.
Minha empolgação de ver meu adorado vizinho pelado e sorridente ao meu lado, quase me fez esquecer que eu recebia meu primeiro boquete. Aliás, minha primeira experiência sexual. Até aquela idade nem mesmo masturbação eu conhecia. Mas já entendia que qualquer coisa relacionado a sexo estava diretamente relacionado a Davi.
O garoto, com uma maestria que eu não podia reconhecer, ainda chupava meu pau quando Davi se posicionou pra trás dele, baixando sua bermuda, deixando sua bunda totalmente à mostra. Com as duas mãos ele abria suas nádegas, olhando com curiosidade seu cuzinho. O rosto sorridente agora cedia a uma expressão de puro êxtase. Cheguei a pensar que ele iria cair de boca naquele cuzinho. Mas ele se levantou, dedilhou por alguns segundos e direcionou seu pau rígido no meio d bundinha do garoto, que, sem tirar meu pau de sua boca, empinou ainda mais o quadril pra receber o prêmio que Davi lhe oferecia.
Com os olhos fechados, Davi fazia movimentos de vai e vem bem rápido. Pelos movimentos de sexo esperei o garoto reclamar de dor, mas não houve clamor. Ele apenas chupava meu pau com ainda mais força. Nesse momento percebi que Davi ainda não o penetrara, apenas roçava seu pau no cuzinho dele. Sua expressão mostrava um tesão cada vez maior. Sua respiração estava alta, num êxtase que me deixava louco para agarrá-lo.
Vi naquela situação o momento perfeito para realizar todos os meus desejos.
Sua pele suava muito enquanto fingia comer aquele viadinho. As gotas de suor desciam por sua pele, passando pelos mamilos, indo em direção a seu abdome. Naquele ponto, se perdiam nos cabelos que nasciam abaixo de seu umbigo e direcionavam maliciosamente até seu peludo púbis.
Eu me perdia em seu centímetro de seu corpo quando escutamos um barulho do lado de fora que fez Davi pular longe, recuperando suas roupas. Não demorei a escutar a voz nervosa e estridente de Cineide se aproximar, enquanto sentia Davi me empurrar com uma expressão de pavor horrível em seu rosto. Quando dei por mim, ele já empurrado a mim e o garoto para dentro do seu quarto.
Meu tesão agora se transformara em pavor. O que aconteceria comigo se fossemos pegos naquela situação. Fiquei com medo de meus pais, dos pais do Davi, dos pais que eu não conhecia daquele garoto. Eu tentava cadenciar até minha respiração pra não ser ouvido.
Meu pavor foi interrompido quando senti a mão do garoto procurando por meu pau. No escuro daquele quarto, eu o medo, o tesão e a adrenalina pairaram em cima de meu corpo. Era uma sensação que eu jamais tinha sentido.
Mal sabia que que minhas descobertas estavam apenas começando.
SIM BEM RELATADO. E DEVE SER MUITO GOSTOSO. E PELO QUE PERCEBI VC DEVE TER UNS 50 ANOS TBM SOU DESSA EPOCA
Você escreve bem demaaaaais! continua por favor <3
Bom dia, galera! Obrigado pelos comentários. Assim que eu puder escrevo a continuação. Tem muita coisa que eu ainda quero contar... hehe
Votado - Interessante seu conto, mas agora, quero mais, que diz?
Espero que aja continuação! Gostei muito da história.
Linda historia cara. Parabéns, tu escreve muito bem e fico na espera da continuação.