Saiu de casa.
O vento frio da noite agitava-lhe os pensamentos que teimavam em ser só um, apenas um.
Dirigiu-se ao cais e,o último barco tinha partido há 5 minutos e agora só haveria outro, dai a muitas horas.
Voltar para casa?NUNCA.
Olhou em seu redor e teve um mau pressentimento.O local era frequentado por pessoas menos boas,mas,que lhes poderiam elas fazer de pior que o seu companheiro lhe vinha fazendo?
Sentou-se num banco,olhando o rio...olhando as luzes trémulas da outra margem e...de novo aquele pensamento.
Tinha frio, caía uma cacimba gelada e de repente gelou....
Sentiu uma pressão forte em seu ombro e uma voz dizendo:
- QUIETA E CALADA !
Alguem se sentou a seu lado e apelando a todo o seu sangue frio...libertou-se e correu e ao olhar para trás...
Sem saber como,alguem ,saindo ...não se sabe de onde amparou-lhe a queda.
-Não tenha medo....Calma...Eu não lhe faço mal.
Quando se deu conta do perigo que correra ou corria, deixou suas lágrimas aflorarem em seus olhos parados , escorrendo por sua faces pálidas e geladas.
O desconhecido a abraçou e com um beijo na testa...enquanto se sentavam, a aconchegou a si e lhe disse:
-Dorme um pouco...relaxa.
Daí a pouco ...
-Acorda...Vais atravessar o rio?
-Sim...vou!
-Ainda falta meia hora.Tens fome?
-Não...apenas muito sono ...muita dor em minhas costas...e...muito,muito frio - respondeu ela
Pegando-lhe pelas duas mãos levantou-a e disse-lhe:
-Vamos tomar café,anda.
Pela primeira vez,olhou aquele homem ,bem no fundo de seus olhos e, de repente...tudo ficou lá para trás...bem lá para trás.
Não trocaram uma única palavra enquanto tomavam o café da manhã e ele...apenas a olhava, com aqueles olhos negros e...tristes,muito tristes.
A travessia do rio foi lenta,como que a dar-lhe tempo para pensar tudo muito bem.
-Deixa-te estar aqui...vou ali fora apanhar um pouco de ar...respirar o ar do rio
e,antes que ele respondesse algo, levantou-se ...encostou-se à amurada do barco e...tirando calmamente sua aliança e seu anel...deixou que eles escorregassem lentamente para o rio.
Suas lágrimas secaram...um quase sorriso lhe aflorara na sua boca encrespada..
Sentiu um toque em seu ombro e logo de seguida um abraço quente...que lhe aqueceu o corpo como uma braseira.
-Não te vou perguntar o motivo,mas...se quiseres...estarei por perto.
Como que por magia a vida começou a ter outro sabor
-Vais para onde?
-Sei lá...agora meu itinerário ...mudou...a viagem era sem ida ...o destino nem era este...
-Se não tiveres onde morar, poderemos partilhar o mesmo espaço,pelo tempo que queiras...vivo sozinho...minha mulher morreu há 3 anos...
A partir daí, suas vidas se recompuseram...