"Eu redefini o pecado.". (Fictício e Especial de Halloween)

Certa vez, um padre me disse: "Eu redefini o pecado.". Foi durante um delírio febril pouco antes de falecer, ele fez uma confissão a mim, uma simples cuidadora, a mais sombria história seja, real ou não, que chegou a minha mente em toda minha vida, posso dizer com segurança, agora que minha hora também está chegando e as rugas tomaram minha pela macia e limpa daquele dia no vilarejo de La Boca, no Chile, seja pela voz de alguém, seja nos escritos de Poe, Lovecraft, Stoker ou Shelley que me encaram da prateleira em cima da escrivaninha na qual jogo a tinta, o horror e a sensualidade desse relato que trago nas próximas linhas.

Em 1926, já estava no vilarejo fazia treze anos. Desde que chegara aqui, fui conquistado pelo lugar e me recusei a me transferir apesar de todos os cargos supostamente melhores em outros lugares maiores, gostava da reclusão dessa pequena comunidade, do céu e o sol pálidos, do som do mar, da escura areia da praia na qual enfiava meus pés e sentia a umidade e o frio relaxantes nas minhas andanças matinais, das colinas totalmente preenchidas pelo verde das gramíneas, a floresta, minha casa amarela que me recebia e se destacava no meio de todo o desbotamento do lugar em um ponto alto.

Conhecia praticamente todos os rostos dos seres que habitavam ali, eram poucos e de maioria cristã, além disso, eu era bastante ativo nas atividades locais, as colheitas, as pescas, seus festejos, e conduzia as missas aos domingos na simples igreja, um marco de pedra no centro, o ponto de luz mais intenso da região com suas inúmeras velas e lamparinas durante as celebrações.

Naquele ano, uma vela revelava um rosto novo em meio aos frequentes, o fogo intensificava o mercúrio de seus olhos atentos, fixos, sem desvios, os meus demoraram quando os encontrei, recebi a força de seu magnetismo, ainda que distante, a força parecia se transferir conforme sua vontade, e eu lutava para não escapar da minha mente as palavras do sermão que ensaiei, quando o magnetismo passou para a boca fechada tingida de vermelho e logo em seguida para o colo do seios, um decote quadrado, de um vestido de renda que me lembrava das moças da minha juventude no seminário em Santiago que apareciam nos festejos das igrejas, parecia ter tanto dinheiro quanto elas, filhas de homens poderosos, mas ela tinha seu próprio, seu próprio poder.

Ela não acompanhava os cânticos, as orações, se eram feitas, se davam apenas na mente, em meios aos sussurros de todos os outros. Jamais a vi entrar, só a localizava quando a cerimônia já havia iniciado, estava claramente desacompanhada, sempre se sentava nas pontas dos longos bancos de madeira ou de pé em um canto da parede quando estava muito cheia. O único momento que sua boca abria era para receber a hóstia, a proximidade de nós dois e esse movimento raro, tornavam impossível controlar uma ereção, foi nesse momento também que percebi o anel de noivado em sua mão esquerda. Eu já tinha mais de quarentena, ela aparentava vinte e poucos. No fim das cerimônias sumia tão subitamente quanto aparecia entre os ouvintes.

Foi diferente no quinto domingo, encerrei a cerimônia, ela permaneceu em seu local, sem se mover, encarando-me inexpressiva, enquanto cumprimentava todos os que vinham, a igreja foi ficando cada vez mais vazia e escura, com as velas indo embora com os fiéis, restando apenas as lamparinas, as portas uma a uma fechadas, ela permaneceu, eu dispensei minhas auxiliares, disse que encarregaria das últimas lamparinas e da última porta após conversar com a moça, apenas após mencioná-la, elas pareceram notar que ela estava ali.

"Boa noite, senhorita. Como posso ajudá-la?", disse aproximando-me. "Eu preciso confessar algo.", sua voz era um sussurro áspero, o fim de cada palavra era como vento. "Por que agora?", eu disse, afinal, havia confissões todas às quartas-feiras. "Partirei amanhã para junto de meu noivo.", direta, breve como antes, os olhos e a boca sem me permitir desviar. "Se casará imediatamente, imagino. Então abrirei uma exceção, é importante a confissão antes do casamento, creio. Acompanhe-me.".

Ela era magra, os seios pequenos, a cintura fina, mas o quadril tudo indica ser largo apesar do vestido cobrir bem, era o mesmo de todas as outras noites, com uma renda branca, branca como as cortinas do confessionário, houve um sincronismo no abrir e no fechar, eu sentei e ela se ajoelhou cada qual onde deveria, o silêncio se instalou entre nós, nossos olhos fixos um no outro, através da grelha.

Resolvi rompê-lo, uma nova ereção por estar a sós com ela: "O Senhor esteja no teu coração para que confesses os teus pecados com espírito arrependido". "Não há um sequer.". A frase me surpreendeu, deixei prosseguir sem qualquer pergunta. "Tenho te observado, tanto quanto sei que me observo.", sua voz pausada, sussurrante, meu membro ainda mais duro, meu corpo quente, permaneço em silêncio, ela segue. "E observo não apenas seus olhos que vasculham cada parte do meu corpo, mas o que sente, enquanto me olha, consigo ver claramente como vejo seu rosto agora. O que quero confessar é que minhas sensações sobre você, também são intensas, ferozes, incontroláveis e ardentes ainda que deva acrescentar serem totalmente distintas em natureza.".

Ainda de joelhos, ela soltou o nó de seu vestido e revelou uma pele ainda mais pálida sob ele e os mamilos rosados, um dos poucos elementos com cor em uma pele sem manchas, sem sinais, sem cicatrizes, ela se ergueu e levou ele ao chão, revelando nádegas arrendondas e firme, o sexo tão liso e puro quanto todo o restante, fechei os olhos e ouvi uma cortina se abrir, então se fechar e a outra a abrir, seus passos não tinham som, e então me permiti ver, seu corpo iluminado a vela, pareceu-me familiar.

Ela se ajoelhou como havia feito pouco antes, treze dos trinta e três botões da batina ela abriu, um por por um, lentamente, pacientemente, o rosto vazio, nenhuma expressão, eu permaneci imóvel, afetado pelo poder que ela emanava, ainda não havia sentido sua pele, puxou minhas calças e revelou meu pênis há tanto tempo ereto, permaneci sentado, pôs as mãos nos meus ombros eram frias como a noite, colocou-se sobre mim, os olhos como vidro, tirou as mãos de mim, e me assombrou o fato de sua buceta ser tão gélida quanto as mãos, o pensamento foi afastado com o movimento, eu não sentia mais o frio com suas subidas e decidas sobre mim, a cabeça dela caía para trás, como os braços, ela olhava o teto, parecia estar em transe. Eu sabia que não resistiria muito tempo, há anos não fazia sexo, o relógio anunciou a meia-noite, o dia que ela retornaria para o noivo como disse e com anúncio veio meu gozo e a imagem que me trouxe a memória as outras e esse conjunto me assombrou toda a vida, todo momento do restante dela.

A cabeça finalmente olhou para mim. A boca estava aberta, a língua para fora, o cabelo antes seco agora colava na sua pele como se houvesse a pressão e a umidade da água, água, água, água, a pele limpa e firme parecia amolecida, tinha o escuro da lama do fundo de um rio, e traços carmesins de feridas, pequenas mordidas, que pareciam ter sido feitas por peixes, peixes, peixes, que devem ter levado os olhos embora, agora só havia escuridão onde eles deviam estar.

Eu desmaiei, fui encontrado dentro do confessionário pela manhã, acordado pelo grito de uma freira, as calças abaixadas, o membro ainda a mostra, o gozo espalhado pelas coxas. Eu permaneci imóvel, apesar de tudo, fingi não entender o que ela dizia, fingi e fingi tão fortemente que afetou eu mesmo, não lembro das falas, só lembro do outro padre, meu superior, aparecer, seus lábios se mexerem e eu continuei a fingir, continuei a não me mexer, até que voluntárias da paróquia vieram limpar tudo, colocar minha calça e me levar dali, para minha casa amarela onde fingi até agora e onde cuidou de mim tanto tempo como se eu fosse incapaz mentalmente.

Mas essa não é minha confissão, senhorita, não. Foi o que me fez recordar o que eu fingi não ter acontecido tão fortemente que se perdeu na minha mente e na embriaguez daquele último dia, aquela última noite no seminário, onde eu e outros doze colegas, cruzamos com essa garota solitária aos prantos na estrada perto da mata que protegia o Rio Mapocho em 1913, bêbados. Quero lhe poupar do horror de todos os detalhes, ela resistiu com todas as forças que tinha, até que a vida começou a lhe escapar, eu assisti todos os outros, estava relutante, mas não os confrontei, fui o último após rirem de mim por claramente está muito assustado, acredito que ela já estava morta quando eu entrei nela, o rio foi o eleito para se livrar do corpo por nós. "Eu sou um monstro, ou isso é uma pessoa?". Senhorita, eu redefini o pecado junto com meus colegas.


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Comentários


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casalanjurs Comentou em 11/11/2021

Criatividade em alta. Parabéns pela ótima escrita.

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kzdopass48es Comentou em 06/11/2021

Agora somos amigos aqui no site!!! Eu quero real com a "ruivinha, branca e magra de 20 anos, seios pequenos e rosados" que ama ser usada (com carinhos, claro)... Te quero!!! Te desejo!!! Betto o admirador do que é belo




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Ficha do conto

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Nome do conto:
"Eu redefini o pecado.". (Fictício e Especial de Halloween)

Codigo do conto:
189161

Categoria:
Fantasias

Data da Publicação:
31/10/2021

Quant.de Votos:
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