A caixa de ferramentas de Jeff Lobo

Jonatas cansava-se rapidamente de participar das conversas de Gustavo e Ágata, mas a consciência repreensora sempre o prendia na mesa de jantar.
— Os jovens não podem se acostumar a falar como aquele imprestável do Raul! — disse Gustavo, batendo na mesa de vidro e fazendo tremer a prataria. — Já despedi o pai dele e sei o que vou fazer com o moleque!
— Papai, ele não fez por mal — disse Jonatas. — Vai querer que eu acredite que você nunca levou mulheres para seu local de trabalho, na época de seu primeiro emprego?
— Levei sim, e não me arrependo. — Gustavo girou o copo de água em seus dedos raivosos e finos. — Mas não vou demiti-lo por isso. Sei bem como é difícil trabalhar cheio de tesão preso no corpo. — Olhou timidamente para a esposa. — Só que não posso tolerar uma petulância como aquela que ouvi dele.
Ágata sinalizou para a empregada e sorriu tristemente para o marido, enquanto observava a mulher tirar a mesa.
— E o cachorro ainda comeu a mulher diante dos olhos do nosso filho! — prosseguiu Gustavo, erguendo-se pesadamente da cadeira. — Ah, é um safado sem lei!
Subiu para o quarto, deixando Jonatas e Ágata à mesa.
— Você realmente flagrou o ato ou seu pai está exagerando como sempre?
Jonatas ruborizou e fingiu não ouvir a pergunta de Ágata, que percebeu o constrangimento do filho desenhado no rosto muito limpo e aveludado. Levantou-se do assento e falou:
— Vou subir para tentar convencer o seu pai a não demitir aqueles dois. Quando finalmente encontramos bons jardineiros, acontece algo assim!
Ele esperou que a mãe sumisse no escuro corredor dos quartos do segundo andar, e correu delicadamente à janela que dava para as roseiras quebradiças do jardim. Como em uma reexibição de filme, pôde ver novamente, em sua cabeça, a imagem do jovem jardineiro enfiando obstinadamente o pênis mestiço e pulsante nas nádegas da vizinha da casa ao lado.
Arrebitou o próprio bumbum, como quando vira a cena, e tentou fazer com que sua imaginação o colocasse no lugar da mulher rendida e suada sob o peso dominante de Raul.
II
Gustavo compriu sua promessa e o jardineiro foi substituído por outro. Jonatas, ao ver a figura do novo serviçal, aborreceu-se com a ausência de porte e de virilidade.
"Um homem que mais parece uma vela gasta", pensou, olhando-o disfarçadamente por meio da mesma janela de sempre.
Fechou o zíper da mochila e mordiscou apressadamente a torrada coberta por creme de nozes. Largou-a após duas mordidas e correu ao encontro do automóvel negro, estacionado à frente da residência.
— Bom dia, Jardel — cumprimentou, ao entrar no carro. — Hoje conto com sua boa disposição para uma tarefa extra.
— Pois não? Do que se trata? — disse, voltando o rosto para o banco traseiro no qual Jonatas sentara.
— Prometi carona a um amigo. Ele estuda no mesmo colégio que eu, mas mora um tanto longe...
— Muito longe?
Jonatas, apreensivo, sussurrou o nome do bairro e esperou.
— De fato, bem longe — respondeu o motorista, com semblante enigmático. — Seu pai não ia gostar nadinha, mas posso levar o garoto no carro daqui, sim.
Jonatas comemorou efusivamente, dando suaves tapinhas nos ombros ossudos de Jardel, enquanto o carro dava partida.

III
O bairro onde morava Adam Lobo surgiu diante dos olhos de Jonatas simultaneamente aos ruídos tenebrosos que o veículo passou a emitir.
Os sons cresciam à medida em que Jardel praguejava.
— Por favor, me diga que você sabe reparar o problema — disse Jonatas, ao perceber que o carro pifara.
— Fique aí — ordenou ele, descendo do automóvel desfalecido e logo em seguida abrindo o capô luminosamente escuro.
A ru em que o carro parara exibia-se barulhenta, embora pouco ocupada naquele instante da manhã. O som saía de alguma casa fechada ou boteco do subúrbio. Um grupo de homens surgiu, vindo da esquina esburacada. Trocaram palavras amigáveis com Jardel, e este, após o rápido diálogo, voltou ao carro.
— Há uma oficina muito boa aqui perto. Fica na rua onde seu amigo...ora essa, é o mesmo número! — disse, olhando para um papel com endereço rabiscado.
Jonatas surpreendeu-se menos com a coincidência que com o fato de Adam jamais ter dito que o pai fosse mecânico. Indagou-se se seria essa Maia uma evidência do desconforto que o amigo sentia ao lado dos colegas endinheirados.
Jardel tornou a sair do carro, que logo foi empurrado pelo grupo de homens e por ele. Jonatas sorriu maliciosamente com a regalia de ser movimentado como um herdeiro de Mônaco.
Os homens, fatigados e sorridentes, despediram-se e saíram tirando as camisas do corpo. Jonatas colou o rosto no vidro e os observou, até que o corpo esguio do motorista surgisse diante da sua porta, abrindo-a.
Os dois aproximaram-se da porta da casa e Jardel bateu três palmas. Adam, uniformizado e alinhado, surgiu.
— Foi ótimo ter cumprido sua promessa — disse ele, apertando a mão de Jonatas. — Eu já ia para o ponto de ônibus, se você não surgisse nos próximos três minutos.
— Não descarte ainda a serventia do ônibus. O carro pifou perto da sua casa. É verdade que seu pai tem uma oficina?
Adam, com o rosto subitamente irritadiço, gritou:
— Pai, o senhor pode vir aqui rápido?
Sem ter se alimentado corretamente naquela manhã, Jonatas temeu um desmaio ao ver o homem que se aproximava calçando chinelos grossos e cobrindo o peito peludo e moreno com um roupão que há muito deixara de ser apresentável. A descuidada aparência do tecido azul exercia forte combinação com o aspecto das mãos do homem, maculadas pela graxa endurecida e pelos arranhões que uma oficina de mecânico produzia.
— Opa! — exclamou o homem. — O companheiro começou o dia bem, hein? — Apontou para o carro morto.
— O meu patrão paga muito bem, só preciso que você faça o conserto com rapidez total — disse Jardel, enxugando o suor da testa.
Sem titubear, o pai de Adam erguei os portões da oficina, que ocupava toda a garagem da casa. Viam-se, em redor, prateleiras sujas, ferragens de todo tipo e produtos desconhecidos para Jonatas.
— Será que vamos perder a aula do Jaime mais uma vez? — indagou Adam, ainda aborrecido. — Já faltamos muito neste mês.
Jonatas não reparava nas palavras do amigo. Assistia ao conserto do carro, o que pareceria, aos olhos de quem o visse ali, um simples entretenimento de um rapaz que contempla a eficiência prática de outra unidade do mesmo sexo. Mas era uma visão falha: Jonatas apreciava os músculos rijos e promissores que manobravam chaves de fenda e o peito muito forte e gostoso que, vez ou outra, aparecia sob as aberturas discretas do roupão.
Os minutos transcorreram rápidos e deslizantes.
— Tá tudo feito, companheiro — disse o mecânico, apertando o cordão do roupão e fechando as cortinas do clandestino espetáculo de Jonatas. — Me chamo Jeff, e tô aqui pra qualquer perrengue e sufoco, basta aparecer ou me ligar. Toma aqui meu cartão.
Jardel apanhou o papel e agradeceu genuinamente o serviço apurado. Sentou-se no banco do motorista e deu partida, atestando a qualidade do conserto e acenando para que os dois rapazes entrassem.
— Muito obrigado — sussurrou Jonatas para Jeff, sentindo-se insinuante ao arrebitar o bumbum à vista dos olhos do mecânico, no caminho até o carro.
Por trás dos vidros, já sentado no veículo, viu a esposa de Jeff surgir na porta da casa e oferecer uma xícara de café ao marido.

IV
— Precisa ser na sua casa — insistiu Jonatas. — A minha está passando por reformas e mamãe fica louca só de pensar em receber visitas quando a casa está feia.
— E você acha que eu me importo com bagunça de pedreiro? Cara, na minha casa tem barulho de oficina pra todo lado, a gente nem vai conseguir ter concentração.
Usando toda sua persuasão, calculada em doses exatas para cada situação apresentada, Jonatas convenceu o amigo a ceder a casa para o trabalho semestral.
Despediu-se de Adam e atravessou os portões da escola, mordendo os lábios com força, como se temesse que a mentira da reforma escorresse por eles e fosse desmascará-lo para Adam.

V
Jardel o deixou diante da oficina aberta, às quinze horas, e entregou-lhe o recipiente com o lanche: salada e fios de azeite. Jonatas olhou atentamente para cada centímetro da oficina, mas não visualizou Jeff em parte alguma.
— Entra, entra — disse Adam, surgindo à porta da frente, com uma respeitabilidade forcada.
Adentrando a casa do amigo pela primeira vez, Jonatas passou os olhos por todos os cômodos e portas abertas que encontrou. Uma porta ao lado da cozinha minúscula revelava uma mulher deitada, trajando uma camisola que atentava contra qualquer mínimo contato erótico satisfatório.
— Aqui na sala é melhor — disse Adam, sentando-se no tapete marrom e sem pelos.
— Não quer que eu descubra as perversões mantidas à sete chaves no seu quarto?
Adam riu e espalhou sobre o tapete todo o material contido nas bolas e nas pastas. Já conversavam integralmente sobre o trabalho a fazer, quando a porta do banheiro abriu-se e Jeff, apresentando-se apenas de cueca preta e toalha no ombro, surgiu. Ao perceber visitas, pôs a toalha molhada sobre o volume frontal, mas não pôde impedir que Jonatas captasse sua ereção, que havia deixado marcada uma gota de esperma na cueca.
"Ele estava batendo uma", pensou Jonatas.
Jeff entrou no quarto e abriu o armário de madeira postado ao lado da cama conjugal, tirando dele uma bermuda fina e uma regata branca com manchas de água sanitária. Dirigiu-se à oficina, sem olhar para os dois rapazes.
— Quer fazer o favor de ficar atento aqui? — repreendeu Adam. — Você está estudando a minha casa desde que chegou.
Jonatas desejou explicar-lhe que apenas o pai do amigo merecia ser seu objeto de estudo, mas conteve-se. Sentiu-se novamente insinuante como uma vagabunda de metrô, e como se Jeff estivesse o analisando por trás e descendo os olhos famintos sobre a sua bunda muito branca.
Um calafrio de tesão o assaltou, ao ohar para a porta e ver Jeff parado no umbral. Ele estava olhando-o de verdade! E encarava-o com a fome de um selvagem que vê surgir entre as folhas um mamífero frágil. Jonatas desejou abandonar as canetas e correr ao encontro das mãos sujas do mecânico, para suspirar longamente em seus ouvidos habituados aos gemidos de amantes ordinárias e para arrastar a língua trêmula sobre seu peito peludo. Vira o corpo repleto de masculinidade, na hora em que o banheiro abrira, e sabia que teria de prová-lo. Queria sentir toda a grossura do volume de Jeff penetrá-lo, rápido e lento, e depois lento e rápido. Mais ogro que com qualquer de suas outras amantes; mais voraz que nas horas de sexo frígido com a esposa.
Esperou até que Adam concluísse a primeira parte do trabalho e falou:
— Você se importa se eu sair um instante?
— Agora? Mas por quê? E para onde?
— Prometi fazer um pagamento aos homens que ajudaram Jardel a arrastar o carro até aqui, na manhã de ontem — mentiu. — Vou lá agora, antes que esqueça.
Adam o olhou com pouca simpatia, mas assentiu.
Caminhando em passos indecisos, Jonatas aproximou-se da porta de entrada, a abriu, e parou ao lado da garagem da oficina.
"É uma loucura! Não acredito que este insano cheio de inconsequência sexual sou eu", pensou, ouvindo os sons do trabalho de Jeff falarem brutalidades atraentes a todo seu corpo.
Como em um mergulho arriscado em águas turvas, entrou na oficina. Jeff estava de costas, ajoelhado e distraído diante de uma moto vermelha, com ferramentas nas duas mãos. De repente, pareceu sentir um perfume fora do padrão dos cheiros do lugar, virando-se para a abertura da garagem.
— Quer alguma ajuda, camarada?
— Não...não quero não.
Jeff o olhou com estranheza maliciosa no rosto.
Ou a malícia apenas estava surgindo de um delírio?
"A história de Raul com a vizinha me deixou maluco, estou vendo coisas!"
O mecânico soltou as ferramentas sobre o chão, emitindo intenso ruído metálico. Não se moveu. Jonatas deu um passo à frente, sentindo que não mais poderia prosseguir com aquilo. O corpo estremecia em tremores de um tesão inclemente e desrespeitoso que o fazia insinuar-se no local de trabalho do pai de seu amigo.
Subitamente, Jeff andou até ele, com vermelhidão em todo seu rosto, e segurou Jonatas pela cintura. — Tá aqui o seu homem! — vociferou, como um pitbull dilacerante. — Não precisa dar nem mais um passo. Deixa que o homem da casa faz o que precisa ser feito.
Apertava a cintura de Jonatas com uma força que que o fez derramar uma lágrima de dor. Já se preparava para pedir que Jeff agarrasse sua bunda, quando percebeu que ele já a apertava, muito violentamente, até que cintura e bumbum parecessem a mesma coisa. Eram apenas a carne destinada a satisfazer aquele homem.
Jonatas quis falar, falar muito, e fazer pedidos dos mais submissos, mas não pôde dizer nada: a fome que Jeff demonstrava o emudecia como se vedado por uma mordaça de couro. Ele fechou os olhos e sentiu Jeff o empurrar para o chão, ajoelhando-o e puxando seus cabelos pretos. O rosto pálido de Jonatas convertia-se no rosto de uma vadia entregue e antecipadamente paga.
— Engole. Engole, sua branquela!
Ele chupou Jeff com destreza profissional e alegrou-se ao perceber que um homem de tal virilidade tremia ao sentir sua boca sedosa.
— Que boca! Se for iniciante, é a puta que mais fez por merecer um prêmio de revelação.
Engoliu até o talo e retirou o membro da boca. Olhou-o com atrevimento e depois abocanhou tudo de uma vez, engasgando dolorosamente.
Jeff o ergueu pelos braços, manipulando-o com completo domínio, e o arrastou à mesa da oficina. Deitou-o de bruços e retirou dele o short e a cueca. O bumbum de Jonatas resplandeceu sob os raios de sol que entravam pelas frestas na parede.
— Vou cuspir e meter tudo — alertou Jeff, e cuspiu na bunda de sua fêmea. — Aqui não tem lubrificante caro e o serviço aqui é outro!
Enfiou uma vez e ouviu Jonatas gemer com a feminilidade latente e provocadora.
— Aqui é tudo diferente da galera do teu colégio!
Socou com força e aumentou o número de metidas. O bumbum de Jonatas empinava-se, em entrega arrepiante.
— Se quiser metida cuidadosa, procura os do teu colégio, vadia.
Jonatas escancarou a boca, sentindo os dedos de Jeff invadirem-na.
— Não quero eles — gemeu, chupando a mão invasora. — Quero um homem de verdade! Um homem!
— Então fale de novo — ordenou Jeff, acelerando a metida por trás e continuando a ferir os lábios de Jonatas com seus dedos. — Fala que sou o único macho da alcateia, e que todos os outros são fracos.
— É o único! — assegurou ele, sorrindo e suspirando. — Eu não acharia um igual em ambiente nenhum!
Motivado pelas palavras de sua fêmea, Jeff desabou sobre o corpo de Jonatas e gozou. O esperma esquentou ainda mais os corpos trêmulos sobre a mesa.
Pensando nos dias que viriam, Jonatas soube que necessitaria da fome de Jeff em todos os dias de sua vida, para que nunca mais fosse apenas um espectador do sexo de jardineiros de sua casa.


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Ficha do conto

Foto Perfil Conto Erotico vampiro-boemio-

Nome do conto:
A caixa de ferramentas de Jeff Lobo

Codigo do conto:
213269

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
04/05/2024

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