O protagonista, um homem cuja vida é dedicada à exploração dos limites do prazer e da dor, se reclina em um divã de veludo. Sua expressão é de contemplação, enquanto seus olhos percorrem os corpos dos seis escravos que se encontram diante dele, ajoelhados e em completa submissão. Três homens, três mulheres, cada um escolhido a dedo por suas características únicas, como instrumentos afinados prontos para tocar a sinfonia de seus desejos mais profundos.
Este é um momento de reflexão. O libertino pondera sobre a natureza da liberdade e da servidão, questionando até que ponto o domínio sobre outro ser humano pode realmente saciar sua sede por poder e prazer. Ele se recorda das palavras do filósofo: "Se é verdade que sou dono de meu corpo, então é igualmente verdade que sou senhor absoluto do corpo de outrem, contanto que este se submeta à minha vontade."
O ambiente é silencioso, à exceção do som suave das respirações controladas dos escravos, que aguardam, temerosos e excitados, as próximas palavras de seu senhor.
Com um gesto deliberado e cruel, ele indica um dos homens ajoelhados diante de si. Seus olhos encontram os dele, e naquele olhar há uma mistura de submissão e receio, mas também algo mais profundo, um resquício de expectativa. O homem levanta-se com a elegância de quem domina a arte do desejo, aproximando-se lentamente, cada passo ecoando no silêncio opressivo do salão.
"Levanta-te," ordena com voz firme, mas quase sussurrada. O escravo obedece sem hesitação, seu corpo tremendo levemente enquanto seus pulsos são firmemente atados por detrás das costas. A corda morde sua pele, apertando com precisão meticulosa, e ele não ousa soltar sequer um gemido, consciente do prazer que o seu sofrimento proporciona ao seu senhor.
O libertino o posiciona à sua frente, a uma distância que permita observar cada detalhe de sua expressão, cada contorção de seus traços. Lentamente, suas mãos descem até o centro de seu corpo, alcançando o ponto onde o prazer e a dor convergem em um só. Sem pressa, seus dedos envolvem o objeto de seu interesse, o apertando com uma pressão calculada, cruel, mas hábil.
À medida que ele começa a torcer, o corpo do escravo estremece involuntariamente, e seus olhos, outrora abaixados em submissão, agora encontram os seus. Naqueles olhos, ele vê o que procurava: a confusão sublime entre dor e prazer, a luta interna entre a agonia que se desenha em cada fibra de seu ser e o prazer que, contra toda lógica, começa a emergir. É uma dança paradoxal que o fascina, uma evidência de que os limites entre os opostos podem se dissolver com a manipulação certa.
"Como pode ser," ele pensa, "que estes sentimentos, tão distintos e opostos, possam convergir em um único instante, em um único olhar?" O enigma da condição humana se desdobra diante de seus olhos, e é esta complexidade que alimenta sua obsessão.
A cada torção, o escravo arqueia o corpo, seus lábios se abrindo para soltar um gemido que ele rapidamente reprime, não por desejo de mostrar força, mas por puro instinto de sobrevivência. E, no entanto, há algo mais profundo em jogo, algo que o libertino, como um maestro, controla com maestria.
Num ímpeto de crueldade e curiosidade, ele puxa com tanta força que ouve um estalo. No mesmo instante, algo ainda mais surpreendente ocorre: o escravo, em um ato reflexo e incontrolável, atinge o ápice do prazer. O néctar quente e inesperado escorre pelo braço do libertino, que, por um breve momento, é tomado por um misto de espanto e deleite.
"Como pode?" ele se pergunta, fascinado pela contradição. "Como pode o corpo humano alcançar o êxtase no auge da dor mais excruciante?" O enigma da condição humana se torna ainda mais profundo, mais intrigante. O libertino reflete sobre os limites da dor para o prazer, ponderando se a dor extrema é, na verdade, um portal secreto para o prazer mais puro, ou se ambos são apenas dois lados de uma mesma moeda, inseparáveis e interdependentes.
Ele ordena a uma das escravas que se aproxime e o limpe com a língua. A mulher, tremendo de medo e desejo, obedece prontamente, ajoelhando-se ao lado dele e começando a lamber o néctar de seu braço. O libertino agarra sua cabeça com força, guiando-a sem misericórdia, forçando-a a se submeter completamente ao seu controle. Enquanto ela o limpa, ele se deleita com a sensação de poder absoluto que exerce sobre ela.
Mas sua crueldade não termina aí. Ele pega uma vela recém-apagada, ainda quente, e a introduz no orifício traseiro da escrava, observando sua reação com um olhar clínico. A mulher, surpreendentemente, parece encontrar prazer na humilhação, seus olhos traindo um brilho de excitação. "Por que," o libertino se pergunta, "um ser se subjugaria a outro, se não teria mais opção a não ser se rebelar e tentar contra a própria vida?"
Este paradoxo, essa dança entre o poder absoluto e a submissão extrema, é o que fascina seu espírito inquisitivo. A filosofia do libertino ecoa em sua mente, lembrando-o de que o desejo humano é uma força selvagem e imprevisível, capaz de encontrar prazer até mesmo na degradação mais profunda. Seria a vontade de submissão uma fuga dos horrores da liberdade? Ou seria uma aceitação perversa de um destino que se impõe quando todas as outras opções parecem ainda mais terríveis?
O libertino reflete sobre o poder que exerce, não apenas fisicamente, mas psicologicamente. Talvez, como os grandes filósofos propuseram, a verdadeira liberdade seja algo aterrorizante, e a submissão, uma maneira de escapar da responsabilidade esmagadora que a liberdade traz consigo. Ou talvez seja simplesmente o desejo de ser consumido, de se perder na vontade de outro, que leva alguém a se sujeitar a tamanha humilhação.
Ainda absorto em suas reflexões, ele ordena aos dois escravos restantes que pratiquem penetração conjunta no orifício quente da vela, enquanto amarra uma corda em cada testículo e as prende a um cavalo. A cena é tentadora, e ele os observa no ato de depravação, fascinado pelo contraste entre a submissão voluntária e a ameaça iminente de dor extrema.
O prazer que os escravos encontram, mesmo sob a ameaça de dor intensa, é uma prova da complexidade dos desejos que habitam o coração humano. A submissão e o medo se entrelaçam em um balé perverso, onde o prazer e a dor se tornam indistinguíveis, e a linha entre o tormento e o êxtase se dissolve.
Ao ouvir a escrava gemendo forte, ele açoita os cavalos para que corram. As cordas tensionam-se e os dois escravos são arrastados pelo chão, seus corpos sendo brutalmente puxados pelo ímpeto dos cavalos. O chão de mármore é manchado com um rastro de sangue que se espalha em padrões aleatórios, como se fosse uma obra de arte macabra. O libertino observa, maravilhado, batizando aquela visão de "neve rubra," uma criação sua, onde violência e beleza se entrelaçam de forma perversa.
Agora, sua atenção volta-se para o primeiro escravo, que ainda está consciente, embora gravemente ferido e com o testículo torcido. Ele é o único que resta em condições de continuar os experimentos do libertino, um símbolo de resistência involuntária. Seu corpo está quebrado, mas sua mente ainda é um campo aberto para a exploração.
O libertino decide aumentar a crueldade do seu jogo. Ordena às duas escravas restantes que usem seus pés para trazer alívio e conforto ao escravo amarrado e agora deitado. Elas deslizam os pés sobre seu corpo, e rapidamente o néctar surge novamente, escorrendo como uma confissão involuntária do desejo que persiste, mesmo em meio ao tormento.
Mas o ato final do libertino é o mais cruel. Ele ordena que uma das escravas pese no outro testículo do escravo até destruí-lo com outro estalo. A pressão aumenta gradualmente, até que o som fatídico reverbera pelo salão, seguido por um grito de dor tão intenso que parece perfurar a alma. O escravo está agora completamente destruído, tanto fisicamente quanto mentalmente, uma casca vazia de um ser que já foi humano.
O libertino, sem perder o ritmo, amarra as duas escravas que participaram do último ato de crueldade de costas uma para a outra, suas carnes pressionadas juntas, o suor misturado com sangue criando uma visão de completa submissão. Elas tremem, cientes de que sua própria degradação está longe de terminar.
Com um gesto frio e calculado, ele chama a terceira escrava, aquela que havia testemunhado a brutalidade anterior, ainda abalada pela cena dos cavalos. Seus olhos estão cheios de terror, mas sua obediência é absoluta. Ele lhe entrega uma cinta equipada com uma protuberância de madeira, grotescamente esculpida para se assemelhar ao membro de um cavalo. Ela coloca a cinta com mãos trêmulas, a protuberância balançando sinistramente à sua frente.
Sem hesitar, ele ordena que ela penetre o escravo ferido. A escrava, com um olhar de medo absoluto, obedece, virando-se de costas para ele e introduzindo a protuberância em seu corpo. O grito do escravo é visceral, uma mistura de agonia e surpresa. Mas, em meio ao tormento, algo ainda mais perturbador ocorre: o néctar começa a fluir novamente, escorrendo pelo lado de seu corpo.
O libertino observa com fascinação, perguntando-se como um ser humano pode continuar a encontrar prazer mesmo quando submetido a tamanha dor e humilhação. Ele reflete sobre a natureza do desejo, questionando se é uma força tão poderosa que transcende os limites do corpo e da mente, ou se o prazer e a dor, em seus extremos, acabam por se fundir em uma única experiência.
A escrava continua o ato, seu rosto uma máscara de angústia enquanto força o objeto de madeira em seu corpo. O escravo, por sua vez, é consumido por uma tempestade de sensações conflitantes, seu corpo respondendo de maneiras que desafiam toda lógica.
Quando o libertino finalmente ordena que a escrava pare, o escravo é deixado no chão, gemendo de dor, sua mente e corpo quebrados além da reparação. Mas o libertino não termina aí. Ele ordena que a escrava use a mesma protuberância de madeira para penetrar o espaço entre as outras duas escravas amarradas. Ela obedece, penetrando-as enquanto os três corpos se entrelaçam em um nó grotesco de dor e submissão.
E então, com um sorriso cruel, o libertino dá sua última ordem. Ele amarra as três escravas juntas, suas carnes pressionadas umas contra as outras, seus corpos marcados pela degradação. Com uma voz que não deixa margem para dúvidas, ele ordena que cem homens sejam trazidos para cada uma, para que consumam suas carnes marcadas e destruídas.
Os homens entram no salão, preenchendo o espaço com uma cacofonia de sons, uma tempestade de carne e desejo prestes a ser liberada. Mas antes que possam tocar as escravas, o libertino levanta a mão, silenciando a sala. Ele decide que este último ato será um ritual, um sacrifício final ao altar do prazer, dor e poder.
Ele ordena que, após cada interação, os homens marquem as escravas com um ferro quente, gravando em sua carne os números de um a cem. O salão, já em um estado de caos contido, explode em atividade enquanto o ritual começa. As escravas são marcadas repetidamente, seus corpos tornando-se um palimpsesto de dor, cada número uma lembrança de um desejo satisfeito, mas também de uma alma que foi perdida no processo.
O libertino observa tudo, fascinado, mas à medida que o ritual avança, algo muda dentro dele. Ele começa a perceber que, apesar de todo o poder e controle que exerce, o que ele criou não é uma celebração do prazer, mas uma destruição absoluta do ser humano. O prazer que ele tanto buscou está agora envolto em um vazio, uma ausência de significado que o consome.
Então, no momento em que o último número é marcado, ele toma uma decisão final. Ele ordena que as grandes portas do salão sejam abertas, revelando o amanhecer que rompe a escuridão da noite. A luz do sol inunda o espaço, iluminando os corpos das escravas agora completamente marcadas, seus rostos uma mistura de agonia, submissão e uma estranha aceitação.
A luz revela a verdadeira natureza do que aconteceu: a busca incessante por prazer e poder deixou apenas corpos quebrados e almas vazias. O desejo, que começou como uma faísca, consumiu tudo e todos em seu caminho, deixando apenas cinzas de uma humanidade que outrora existiu.
"Será que é isso o que nos resta," o libertino reflete, "quando buscamos ultrapassar todos os limites? Será que, no final, o desejo é uma chama que nos destrói, deixando-nos como sombras do que um dia fomos?"
As escravas, agora sombras de si mesmas, caem no chão, seus corpos marcados e destroçados, mas seus olhos revelam uma aceitação sombria: o reconhecimento de que não há mais nada a perder, que tudo foi consumido na busca pelo prazer e pelo poder.
O final, embora cruel, é profundamente reflexivo. O que o libertino construiu com tanto fervor agora se desmorona diante de seus olhos, deixando apenas um vazio, um silêncio pesado que ecoa com a pergunta: "O que significa ser humano quando tudo o que é humano foi destruído?"
O amanhecer, com sua luz fria e implacável, é o símbolo do fim deste jogo cruel, deixando todos — inclusive o próprio libertino — à mercê das reflexões que surgem quando a noite finalmente dá lugar ao dia.
Não curto violência...Só carinhos. S2 Betto o admirador do que é belo S2