FABULA

avistei-a ao dobrar a esquina. estava sentada à mesa, destas mesas de madeira que os artesões de minas fazem da natureza morta. uma grande mesa e um banco tosco sobre o qual ela estava sentada, de costas para mim, naquela varanda que só as casas de campo ainda tem, assim como o campo, que descia verdemente suave até um riacho, artéria translúcida do tempo, a dividir o gramado macio do bosque profundo, profícuo de árvores frondosas, de copas largas, e outras magrelas, de flores belas, difusas, coloridas, emaranhados por trepadeiras e cipós, uma áurea infantil como nas fábulas dos Grimm.

fosse um pintor, desses expressionistas, teria aqui a montagem para uma obra-prima, como não o sou, foi outra a minha ocupação. reparei que a moça era branca como uma nuvem estéril, seu cabelo muito louro, à altura dos ombros, estavam como que ali jogados, sem arrumamento, valorizando seu pescoço fino onde os pelos dourados, eriçados pelo vento, embrunhavam-se num vestido curto de seda vermelha. os braços apoiados à mesa, as coxas macias suportavam as pernas que balouçavam docemente. não via seus olhos, só os adivinhavam anis, e uns lábios carnudos, carmim, sedentos, que murmuravam uma prece de agradecimento pela vida, como se temesse perdê-la a qualquer momento. parecia-se com um filhote de pássaro caído do ninho, à espera da mãe para alçá-la de volta, à mercê d’uma ave de rapina que a tomaria por alimento.
decidi ser o gavião. arquitetei pacientemente o golpe. aproximar-me sem ruído, e antes que ela se apercebesse, desferir-lhe o golpe no pescoço. este era um detalhe importante, tinha de ser rápido, sem dar-lhe tempo para armar a defesa ou entregar-se como fatídica presa.

assim pensei, assim agi, tomei-lhe o pescoço com uma mão feito garra e empurrei-a para a frente, o torso contra a mesa. no impulso seus braços seguiram o movimento, e ela ficou esticada no tampo, enquanto minha outra mão saia de entre suas pernas com um pedaço rendado de tecido, atirado para o lado, desobstruindo o caminho que imediatamente tomei, penetrei, com movimentos de avanço e retirada, ela parada, estática, até que seu corpo retesou-se ainda mais, curvou-se ainda mais, e após sua garganta emitir um grito longo e rouco, relaxou e ficou a tremer.

permaneci em pé, na expectativa do que fosse ocorrer, ainda teso, ainda ofegante, vi seus braços se alongarem, seus pés se levantarem, os joelhos dobrarem sobre o banco, e pela primeira vez ela virou seu rosto, olhou-me sem espanto, e disse: continue amor, agora é a sua vez.


Faca o seu login para poder votar neste conto.


Faca o seu login para poder recomendar esse conto para seus amigos.


Faca o seu login para adicionar esse conto como seu favorito.


Twitter Facebook

Comentários


foto perfil usuario aventura.ctba

aventura.ctba Comentou em 25/01/2013

Parabéns, texto poético e ao mesmo tempo sensual e excitante. teve meu voto. Leia meus contos, comente, vote se gostar, irei adorar. Beijos. Ângela: Casal aventura.ctba

foto perfil usuario carinha de menininha

carinha de menininha Comentou em 25/01/2013

Muito bom

foto perfil usuario belladomme

belladomme Comentou em 24/01/2013

Continue...continue por favooooorrr

foto perfil usuario terranova

terranova Comentou em 24/01/2013

LInda emoçao , um filme me passou

foto perfil usuario

Comentou em 24/01/2013

Parabéns amigo, se fantasioso ou real, o importante é que teu conto nos faz viajar nas letras! Abraço e voto do Zeus!




Atenção! Faca o seu login para poder comentar este conto.


Contos enviados pelo mesmo autor


Ficha do conto

Foto Perfil Conto Erotico lordbyron

Nome do conto:
FABULA

Codigo do conto:
24971

Categoria:
Fantasias

Data da Publicação:
23/01/2013

Quant.de Votos:
3

Quant.de Fotos:
0