Relato apaixonado de uma primeira vez

Minha primeira vez foi durante uma aula particular de inglês. Tínhamos 18 anos, eu e ele. O garoto era da minha sala no colégio e sentávamos lado a lado. Ele me convidou para a sua casa. Era véspera da prova de inglês. Na casa, só estávamos eu, ele e a cozinheira, que logo foi embora. Sentamo-nos lado a lado, à mesa, para estudar. Ele era bastante machinho, tipo menino problema, os pelos da perna querendo aflorar, o rosto tomando as formas mais retilíneas, másculas... Menino do Rio era a imagem que me vinha à cabeça quando pensava nele. O sol no seu corpo delineado, aquele andar malandro, leve, de felino preguiçoso, calculista... predador. A malícia saltava-lhe dos poros; todo ele transpirava desejo adolescente, viril. As conversas sobre sexo eram sempre uma grande descoberta. O seu mundo era um constante tesão que ele descobria, quando se descobria sozinho com suas revistas de mulheres nuas e desejáveis. E ali estávamos sós, lado a lado, eu pensando que não havia nada mais distante no mundo do que ele. Foi quando seu braço, num movimento sutil e delicado, fez uma curva e roçou a minha perna. Raio de sol... a janela se enfeitava da luz da tarde e tudo me pareceu mais perto, mais nítido. Olhei-o. Eu parecia assustado, não me lembro... talvez fosse o medo do reconhecimento, da possibilidade do encontro. Ele me encarava com a expressão mais deliciosa do mundo, uma mistura de sagacidade, provocação e desejo naqueles olhos felinos, deslizáveis... E me percorreu... ah ! isso ele fez: me percorreu nos milímetros imperceptíveis de um olhar... percorreu-me por dentro, indevassável... e sorriu. Estremeci. A tarde caía como uma ameaça, mas eu não suspeitava de que era apenas uma distância que se encurtava, um aceno, um lento aproximar... "O que foi ?", talvez tenha perguntado. Eu nada respondi e vi meu braço percorrer o contorno de sua perna para alojar-se em sua mão desnuda... apertei-a com amor, delicadeza e gozo... medo. Quando me apercebi do que tinha feito, tentei recuar, amedrontado, sufocado por um ato que não sabia explicar como, nem de onde viera... mas ele me reteve. Guiou minha mão, minha alma inteira para dentro dele, devagar, pousando seus dedos em minha face gélida, sentindo meus tremores incontroláveis de presa indefesa, sem destino. Deixei-me ir. Os olhos fechados, o coração silencioso e o corpo pedinte... as mãos entrelaçadas logo se afastaram para que pudessem estudar os corpos cada vez mais juntos, eterno aproximar... E descobriram novos caminhos, recantos inexplorados, doces abismos em que um cair era tão somente um doce cair, um eterno cair, um dentro do outro, olhos nos olhos, bocas, respiração e fogo... A mesa ficara abandonada... os cadernos... onde estavam ? A tudo assistiam, é claro. O chão foi cama urgente para esse amor adolescente, que uniu dois felinos, duas hastes de fogo entrelaçadas, duas vidas que, depois do momento mais selvagem, nunca mais se tocaram como naquele dia... depois disso, apenas um eterno distanciar...