Meu pênis de plástico
No último sábado eu e o Rui comemoramos 15 anos de casamento. Eu só percebo, mais nitidamente, o quanto o tempo passa, quando vejo a nossa filha, que já tem 13 anos, crescendo e ganhando formas de mulher.
Eu e o Rui nos casamos quando eu tinha 22, então já podem calcular a minha idade. Namorei muitos rapazes antes dele. Casei-me porque o Rui foi o primeiro homem a me fazer descobrir coisas novas.
Com o tempo, nossa relação desgastou-se um pouco, mas sexualmente sempre manteve-se activa. O Rui considera-se um “pervertido sexual”, e não define isso como um defeito. Acha que o sexo foi feito para ser desfrutado, e não para ser entendido ou debatido em congressos de intelectuais.
Ele foi o primeiro – e único – a comer meu cu. Gostei tanto que estou com ele até hoje. É de certeza o que ele mais gosta de fazer; e eu também. Não que eu tenha ficado com qualquer um que tivesse comido o meu cu, mas porque o Rui fez-me perceber que eu também tinha direito ao orgasmo, e que o sexo deveria ser uma experiência que também me desse prazer. Se alguma coisa não agradava a um dos dois, então tentaríamos outra. O mais delirante nisso tudo era que com o Rui a nossa vida sexual nunca virava rotina.
Costumávamos namorar no meio das árvores, numa rua quase deserta, perto da casa que meus pais haviam construído numa aldeia. Lembro de um dia em que ele encostou-me numa árvore, abaixou minha cueca, e meteu. Tão simples como isso: sem rodeios, sem jogos de palavras, sem jantares e rosas frescas. Foi deliciosa a sensação, pois era o sexo puro e desejado. Tentei gemer baixinho, com medo que alguém aparecesse. Mas o medo fazia parte. Às vezes eu via as luzes dos carros a passar, e por impulso eu abaixava-me. Ele metia as mãos por dentro do meu sutiã e ficava apertando meus seios. Outra vez fomos para um parque, onde ele dizia ser muito seguro para estarmos à noite. Mas quando estacionamos, vimos outros carros também parados. Pensei que seriam carros abandonados, e só depois notei o quanto fui estúpida e ingénua. Os carros balançavam, como se fossem colchões macios a suportar grande peso. Os carros dançavam e uivavam, como se fizessem parte do desejo que as suas portas trancavam. Como se o carro fosse um voyer, que presenciava um sexo tórrido, quente… e espremido. Andamos pela mata, ele segurando a minha mão por causa da escuridão, para que eu não tropeçasse em algo. Paramos perto de uma árvore, e já estávamos excitados mesmo antes de lá chegar. Mas quando nos preparávamos, ouvimos um barulho. Depois outro. E mais outro. Parecia uma sinfonia. Na verdade, muita gente estava ali, com o mesmo intuito que o nosso. “Vamos embora daqui.” – eu segredei no ouvido do Rui. “Não, vamos ficar… Vai ser até mais emocionante.” – ele disse. E foi. Nossos uivos e gemidos se misturavam com os das outras pessoas, e foi muito excitante trepar sabendo que muita gente também trepava ali perto. O Rui sempre gostou de me levar para lugares assim. Ele diz que é um sujeito ecológico, que adora fazer amor com a natureza. Na praia? Foram diversas vezes que também trepamos por lá, com ou sem companhia de uivos iguais, e até dentro da água também já fizemos amor. Já cheguei em casa com o cu todo sujo de areia e de sal, mas com a cona toda doce em função do orgasmo que havia tido.
O Rui é um homem inovador, mas só não tolera uma coisa: “Paneleirices”, é essa a expressão que ele utiliza. Ele quase chega a ser homofóbico nesse sentido. Basta ver um gay a menos de 10m de distância para ele soltar alguma piada.
Ele é muito impulsivo, e por vezes não escolhe as palavras, nem o momento certo para dizê-las. Basta eu engordar dois kilos, que ele é o primeiro a notar, e a dizer que eu deveria fazer uma dieta. Entendo suas palavras como carinho, como preocupação que tem comigo.
Pouco antes de ter a minha filha, fizemos amor no quartinho dela. Seria a última vez que foderíamos ali antes que ela chegasse. E seria a última vez que ele foderia uma grávida, pelo menos enquanto não decidíssemos ter outro filho. Coloquei-me de quatro e fiz anal, porque era mais prático com o tamanho da minha barriga.
Com o passar dos anos, fui dedicando o meu tempo mais à minha filha do que a ele. Ele notou, obviamente. Mas eu não tinha notado, até ele ter chamado a minha atenção para esse facto.
O Rui sempre gostou de sair com os amigos, fazer programas só de homens, como ir à caça ou ao futebol, e nunca fui uma pedra no seu caminho nesse sentido. Os amigos dele eram sempre muito simpáticos e divertidos. Mas nos últimos anos eu tinha notado algo de estranho. Ele já não chegava à casa nos mesmos horários que antigamente, e sempre que eu ligava dizia estar com algum conhecido. Chegou a passar o telemóvel para o amigo, certa vez, para que eu confirmasse que estava com ele. Vasculhei os bolsos, para ver se encontrava algum papel, algum bilhete, algum número de telefone. Peguei seu telefone e verifiquei as últimas chamadas recebidas. Nenhum número de mulher. Teria apagado, propositadamente? Vi as chamadas efectuadas. Um número de mulher. Mas era o da minha mãe, e era eu que tinha feito a chamada pelo telefone dele, porque o meu estava sem saldo. Olhei nas mensagens. Nada de suspeito. Apenas uma mensagem do Gonçalo, que dizia: “Então, Rabo de Aço? Vais à caça no fim do mês?”. Achei estranha aquela expressão, Rabo de Aço, mas deve ser alguma brincadeirinha entre eles. Não há quem não observe que meu marido tem um rabo duro, e, cá entre nós, bonito e vistoso. Vasculhei sua camisa, para ver se havia alguma marca de batom. Cheirei-a. Não era esse o perfume do Rui. Era de facto um perfume muito forte, mas não era o dele. Fui tomar-lhe satisfações. Ele disse que eu estava histérica, paranóica, neurótica. “A gente passa por vários lugares e pega o odor desses lugares. Isso parece-te perfume de mulher?” – perguntou.
Conversamos muito nesse último mês. Chegamos à conclusão que nos amamos e que deveríamos voltar à nossa vidinha, como era antes. Numa noite dessas deixei a minha filha na casa da minha mãe, e saímos sem rumo. “Quero fazer-te uma surpresa” – ele disse. Levou-me até a primeira árvore onde trepamos no início do nosso namoro. Senti-me jovem e revigorada novamente. Gozei como não gozava desde então. Depois de ter comido a minha cona, virou-me e deixou-me com as mãos apoiadas numa árvore. Então penetrou o meu cu e foi metendo, até eu ter o meu segundo orgasmo. Dessa vez eu já gritava sem pudores, pois se o sexo fazia parte da nossa natureza, eu estaria no lugar ideal para expressar meus desejos. Gritei apoiando minhas mãos no tronco da árvore e, se ela tivesse mãos, possivelmente se masturbaria com os meus uivos. Era como se eu sentisse a energia daquela árvore a entrar pelo meu corpo e, através do meu corpo, essa mesma energia passasse para o corpo do Rui. Através dos seus pés, o Rui transmitia toda essa energia para o resto da natureza, e assim estávamos todos em comunhão.
O Rui achou que ainda precisaríamos de incrementar algo mais. Perguntou se eu nunca havia tido fantasia de ter outro homem na cama. “Você já me basta.” – eu disse espontaneamente, e não entendi se a reacção que via nos seus olhos era de felicidade ou descontentamento. “Pensei que deveríamos ter algum acessório, para melhor te satisfazer…” – ele começou. Pensei logo em algemas, mas ele completou: “Um vibrador. Não pensas em ter um?” Quis logo saber o que ele pensava fazer com o vibrador, e ele disse que seria interessante ter a minha primeira experiência de dupla penetração. “Mas eu não vou conseguir ir num sex shop comprar uma coisa dessas… E se encontro algum conhecido?” Ele disse que eu não me preocupasse, pois já existiam sites pela Internet que vendiam esses acessórios de forma discreta, e que nem precisava sair de casa, pois chegaria pelo correio.
Ficamos um bom par de horas juntos na Internet, eu sentada no seu colo enquanto ele mudava as páginas e seguia os links dos vibradores que mais interessavam. “Que tal esse preto?” – ele perguntou. Eu queria um pénis mais parecido com o dele, não tão grande, mais para o médio. Escolhemos um, e ele disse que depois faria a encomenda. Ele ficou excitado de ver tantos artigos eróticos, e resolvemos fazer amor ali mesmo, naquela cadeira, enquanto a miúda estava na casa de uma amiguinha.
Fizemos amor pela manhã, no dia do nosso aniversário de casamento. A noite seria muito agitada, pois tínhamos reservado um restaurante onde comemoraríamos a data com os nossos amigos. Dei-lhe um bom relógio de presente. Ele sussurrou no meu ouvido: “O meu presente espera-te em casa”, o que deixou nossos amigos um tanto curiosos.
Não via a hora de chegar em casa para saber qual era a tal surpresa. Ele abriu o armário do quarto e tirou de lá uma caixa, embrulhada com um papel estampado com rosas vermelhas. Abri aquele grande laço, e, já eufórica, rasguei o papel de presente. Era… o vibrador! Ele ficou a me mostrar os movimentos que o pénis de plástico fazia depois que colocávamos as pilhas. “Vamos testá-lo?” – fui eu a sugerir dessa vez. Ele logo ficou empolgado, tirando a minha roupa e despindo-se. Primeiro chupou-me toda a cona, lambendo bastante o meu clitóris, e com cuidado metia um dedo na minha vagina e o outro no meu cu. “Está a gostar? Calcula a excitação maior que vai ter depois?” Eu já estava a delirar com seus dedos, e tive que me segurar para não gozar já ali. “Pára um pouco…” – eu tive que pedir, de tanto tesão que sentia. Ele parou por uns segundos, e seu pau manteve-se rijo. Me colocou de quatro e começou a meter na minha cona. Eu rebolava em cima do caralho dele, já à espera do outro, no meu rabo. Ouvi o click do botãozinho do vibrador, e comecei a ouvir aquele barulhinho. Estava ligado. Passou saliva no meu ânus com o dedo, e depois foi aproximando o vibrador, quase que a acariciar, fazendo movimentos circulares. Meteu a cabeça, e depois foi metendo o resto. Contraí a minha cona instantaneamente, espremendo seu pau dentro de mim. Comecei a rebolar de forma mais intensa, espremendo o rabo para dentro e para fora, e seguindo seu movimento. Gozei e ele gozou também. Repetimos essa experiência durante muitos dias, e o meu pénis de plástico foi o nosso companheiro de noitadas.
Fui levar a minha filha para passar o fim-de-semana na casa dos meus pais, e disse que passaria a tarde por lá. O Rui não quis ir, porque assistiria uma partida de futebol no canal a cabo, com o Gonçalo. Resolvi voltar um pouco mais cedo, para fazer uma surpresa.
Abro a porta sem querer fazer barulho, e vou caminhando pelo corredor na ponta dos pés e despindo a roupa, que ia deixando pelo caminho. Ouvi um barulho estranho que vinha justamente do quarto. Cheguei com o ouvido na porta. Era o Rui, a uivar, como fazia quando estava trepando. Estaria a tocar uma punheta… ou teria uma mulher com ele, na nossa cama de casal? Abri a porta com cuidado, e choquei-me. Um filme passava no vídeo. O lençol estava completamente desarrumado e tinha várias roupas espalhadas pelo chão. O Rui segurava o nosso vibrador, bem penetrado no seu cu e, na sua frente, estava o Gonçalo, a ser penetrado por ele, meio curvado de costas, com uma das mãos apoiada num travesseiro, e a outra a tocar uma punheta. Fiquei ali, nua, parada, sem dizer nada ou ter reacção alguma. Eles estavam de costas, e não me perceberam ali. Só notaram a minha presença quando eu acendi a luz.
O mundo caiu.
Separei-me do Rui. E não foi por descobrir que ele era bissexual, ou talvez um homossexual com medo de assumir, que apenas tinha relações de fachada comigo, para provar sua suposta masculinidade, mas por descobrir que vivia com um estranho. Eu libertei-me a todas as fantasias que ele propôs, mas nunca tinha libertado as suas comigo. Dizia ter nojo de homem, e estava ali agarrado a um. Dizia que tinha me dado o vibrador para eu ter prazer, e quem tinha prazer agora, com o meu pénis de plástico, era ele. Descobri que o pénis de plástico era muito mais honesto comigo. Não sei se não teria me separado do Rui da mesma forma caso ele tivesse me contado do seu caso com o Gonçalo, ou com tantos outros que talvez eu nunca venha a saber. Eu sei que pelo menos não teria aquela sensação que tive naquele instante, de que tinha vivido uma mentira. Teria ele me desejado verdadeiramente? Agora eu não queria mais nenhuma mentira na minha vida. O vibrador não precisava de qualquer estímulo para estar rijo. Apenas precisaria de pilhas quando quisesse se mexer. Mas não me faria promessas, nem faria acreditar que eu precisava de experimentar coisas novas para gozar. Ele me bastaria, enquanto não encontrasse algo de mais verdadeiro.
“Devolva o meu presente.” – eu ordenei. Os presentes já pareciam prever o que aconteceria. Eu fiquei com o vibrador de plástico e ele com o relógio, que marcava a sua hora de partir.