Naquela noite sem precedentes provei do vestido negro com o qual me presenteou, coloquei a máscara, peguei o endereço e fui. O ardor que seu toque me causa cegou minhas inibições, queria o inominável em termos de tê-lo. Ser possuída, quebrada e reconstruída nas suas vontades. Dirigi ansiosa no tesão da expectativa, a cada curva onde a proximidade fazia-se presente, meu corpo estremecia inaudível e deliciosamente. Era isso, essa incerteza de doar-se que acordava minha alma cansada do vazio. Sua ânsia preenchia-me, eu precisava ser preenchida novamente.
Não demorou muito, e pareceu uma eternidade, esbarrei com a placa indicativa da casa. O carro segue a trilha e estaciona. Pus-me em direção a porta fechada. Sem campainhas, apenas um aviso em letras pequenas: Entre. Será que meu bom juízo faria o que meu corpo todo implora? Deveria eu invadir aquele território inexplorado unicamente para deleitar-me no prazer mundano do nosso sexo? No tempo de questionar, já havia aceitado o convite.
Meus olhos buscavam um ajuste à turva ambientação de lapsos de luz versus escuridão. Estou sozinha aqui? A casa inabitada e fria ganhou vida quando meu nome ecoou do outro lado daquele espaço. Você e seu tom são hábeis em eriçar cada célula do meu corpo. Um comando de voz e respondo automaticamente; "Venha para a luz, quero ver como ficou o meu presente em você". Trançando meu andar por entre a pouca luminosidade escuto: "Pare!" Estática no feixe amarelado de um sol artificialmente quente sigo o ritmo de um velho blues rasgado. Tudo perde foco e vira dança. No balanço permito-me sentir seu olhar percorrer meus detalhes. Antes mesmo das ordens, não aguento, finjo que minhas mãos são as suas e traço com meus dedos o caminho do meu desejo, passando por meus lábios, meus seios, minha bunda, minha vagina... "Aí! Eu quero você se dando prazer para mim". Não exito com ele. Eu faço. Vou acariciando meu clitóris, minha agitada região vaginal, já cheia de vontades, quando: "Não, eu quero você despida. Nua em pelo, para eu assistir toda você me querendo". Querer parece ter um peso diferente quando saído daquela boca deliciosa dele. Só me resta satisfazê-lo para me satisfazer. Escorrego o vestido preto sob minha branca pele, lá se vai sutiã de renda, lá se vai calcinha. Resta eu, a máscara e o salto, prontos para tremer no auto-prazer.
Minhas mãos tocam-me, deixam-me ofegante, invadem-me, esperando o toque e a invasão dele. Só uma ordem e serei sua, penso, murmuro, grito. Dou graças que meus apelos são atendidos, quando percebo uma porta se abrindo enquanto seu vulto afirma: "Entre". Entre calor e falta de fôlego sigo seus passos até este quarto cheirando à almíscar. Até que enfim estou diante do meu mestre, pronto para agir e dominar quem dele já é.
Passo por passo ele se aproxima, mãos fazem a trilha da boca, pescoço, cintura, bunda, coxas e vagina... Com as bocas quase se tocando, ele enfia seus dedos no meu sexo já delirante. Beijos que seguem, esquentam e findam-se de susto, vítimas das ordens que idolatro seguir:
"Chupa"
"Senta"
"Vira"
"Chão"
"Grita"
"Apanha"
"Enfia"
"Morde"
"Engole"
"Cavalga"
"De Quatro"
"Geme"
"Goza"
E gozo do ser dele, de não revidar, de libertar-me naqueles braços. Até que todo meu ser se esvaia na vontade e repouse relaxado, ofegante, satisfeito de ser parte daquele cenário controlado dele. Satisfeita em satisfazer.