Prostituta no Bois de Boulogne

“As aventuras da verdade na terra ocorrem nas grandes estradas, nos bordéis, nos covis de ladrões, nas tabernas, nas feiras, prisões, orgias eróticas dos cultos secretos, etc. Aqui a ideia não teme o ambiente de submundo nem a lama da vida” (Bakhtin, 1992, p. 115).
“Livros e putas podem-se levar para a cama... ao ver livros e putas ninguém diz que os minutos lhes são preciosos. Mas quem se deixa envolver mais de perto com eles, só então nota como têm pressa. Fazem contas, enquanto afundamos neles”. (Walter Benjamin, 1987, p. 33).
Ao ler aqui no site um conto de uma amiga sobre as montras com prostitutas em algumas ruas de Amesterdam (na Holanda) logo pensei em contar uma experiência que vivi aqui em Paris.
Como em todas as cidades do mundo existem aqui duas formas de prostituição.
Aquela em que me movimento, ambientes de luxo, clientes exigentes e que pagam muito bem, máxima segurança (hotéis, festas particulares e alguns domicílios) e máxima higiene. Forma de prostituição em que a maioria das mulheres é jovem, algumas universitárias, sem traumas familiares que as tenham marcado e que de forma racional e independente escolheram este modo de vida e não são exploradas por ninguém. Exige investimento permanente em cuidados de beleza, pele, cabelo e guarda-roupa. Somos as chamadas acompanhantes de luxo, aqui em França chamadas de escorte de luxe, call girls ou GP de luxo.
Infelizmente existe outra forma de prostituição em que a mulher é explorada, ganha muito pouco e desse pouco grande parte vai para o homem ou organizações que a explora. Chamados chulos, proxenetas e aqui em França gigolo. Vivem na miséria, alguma são toxicodependentes e geralmente oriundas de famílias não estruturadas.
Achei que tinha que experimentar esse mundo e para tal escolhi o Bois de Boulogne. Eu diria que é um parque ambivalente. Durante o dia é frequentado por mães e pais com bébés, pessoas a passear ou em jogging. Piquenique e alguns restaurantes românticos. Ao escurecer transfigura-se. Fica cheio de prostitutas e grandes engarrafamentos de clientes procurando companhia. Hoje é proibido mas anos atrás estava cheio de roulottes e vans em que as prostitutas recebiam os clientes. Agora tudo se passa no chão, nos bancos de jardim, na relva e nos canteiros. E tudo se passa rapidamente e todas as mulheres mudam de homem de 5 em 5 minutos. É frequente uma mulher ser usada por vários homens ao mesmo tempo. Há também muitos travesti, curiosamente mais brasileiros do que franceses.
Pela manhã aparecem brigadas da prefeitura e que recolhem milhares de preservativos usados e lenços de papel cheios de esporra. É impressionante.
Perguntei ao Michel se me acompanhava, ele entendeu o meu desejo mas não estava interessado em me acompanhar. Combinei com o Charles (o GP masculino com quem costumo trabalhar). Ele achou piada e foi comigo. Ali é mesmo preciso guarda-costas apesar de haver grande policiamento.
Foi uma experiência única. Inclusive fiquei com os joelhos um pouco esfolados. Nessa noite devo ter chupado mais de trinta homens, alguns não saiam do carro e eu não chegava a entrar. Eles abriam a porta e eu de joelhos chupava-os. Com alguns fui para a relva, canteiros de flores e fui enrabada por um num banco de jardim. Perdi a conta a quantos homens estiveram comigo. A minha única preocupação foi não ser fodida ou enrabada por algum deles sem camisinha. Estava prevenida e sei que gastei mais de três caixas. Estive lá quatro horas, fiquei cansada e sentia-me muito suja. Decidi não cobrar dinheiro a ninguém. Contudo houve um que me pôs uma nota de 20 euros dentro do soutien.
Muto giro mas para não repetir. Antes de voltar para casa, passei no apartamento do Charles, tomei um, brincámos um bocado e fui para casa.
O Michel comentou que eu era completamente louca.
Quando contei a minha aventura à Anne ela ficou com pena de eu não a ter desafiado para me acompanhar. Ficou entusiasmada e disse que queria mesmo fazer essa experiência. Disse-lhe que não contasse comigo.
Mas …….