Parte 3 - O segredo de Amanda: Conflitos internos

        Acordo meio tonto, sem saber muito bem o que está acontecendo. Sinto um corpo ao lado do meu, olho e vejo Amanda ainda dormindo, com um olhar calmo, sereno… Me lembro de tudo que aconteceu, e me perco vendo ela dormir… Ela está descoberta, então tenho uma visão privilegiada de seu corpo… Seus pulmões enchendo e esvaziando com sua respiração, os seios subindo e descendo, mamilos rosados, seu rosto incrivelmente lindo, os cabelos um pouco bagunçados…

        Olho no relógio, são 12:40. Não sei quanto tempo dormimos, perdi completamente a noção temporal na noite passada. Me levanto, a cubro e vou ao banheiro. Sorte que sempre carrego uma escova de dentes extra na mochila, e faço minha higiene matinal.

        Volto para o quarto e continuo a observando, tentando entender o que pode acontecer conosco… Pensamentos conflitantes em minha mente; como ela vai me tratar quando acordar? E o que farei a respeito? A usarei como uma amante secreta? Fico extremamente chateado só por ter pensado nisso… Mas como gerenciar minha vida tendo uma relação homossexual? Me lembro do café e do barzinho que fomos, não houve nenhum tipo de preconceito; ou melhor, nem perceberam que ela é uma travesti. Eu também não percebi, se ela não tivesse me contado e se não houvessemos passado a noite juntos, eu estaria em casa desejando uma morena incrívelmente linda…

        Mas como gerenciar uma relação homossexual? Não faço idéia… E a sociedade, família, trabalho? As recordações ainda são frescas o suficientes para me causar sensações físicas; a forma que nos beijamos me faz pensar em como nossas bocas combinaram bem, a suavidade de sua língua se entrelaçando com a minha.

        Mas ela é uma travesti; é um universo a parte do meu, que não faço a menor idéia de como funciona… Quais são os parâmetros? Quais são as regras? A forma como ela me chupou, sua língua lambendo a cabeça do meu pau, como colocou meu pau inteiro na boca, a gozada fenomenal em sua garganta enquanto ela lambia meu saco…

        Mas ela é uma travesti; é um homem que se descobriu gay e decidiu alterar seu corpo para ter o aspecto feminino… Eu tive uma relação sexual gay? Isso faz de mim gay? O sexo foi delicioso, quente, totalmente entregue. Fizemos amor com selvageria, algo que eu nunca tinha experimentado antes; nenhuma das mulheres que já tive nem chegaram perto de me proporcionar tal experiência, e uma ou duas podem rivalizar com Amanda em beleza (pelos meus padrões).

        Mas ela tem um pau… E se ela quiser usar seu pau comigo, o que eu faço? Eu peguei em seu pau, lembro da textura, da firmeza e maciez, grande e duro pulsando em minha mão; lembro da sensação de sentir seu pau duro se esfregando no meu...

        E se ela quiser que eu a chupe? Isso fará de mim menos homem? Lembro do seu cuzinho engolindo minha rola, seu pau duro gozando forte e me lambuzando com sua porra... Como gozei intensamente dentro de seu corpo; talvez o melhor orgasmo que já tive.

        Tenho estes pensamentos olhando pra ela, e então percebo que não sei nada sobre Amanda... Quem ela é? Sei que gosta de lanches naturais, cerveja, porções de frango e rock n roll… Tento organizar minhas idéias, quem é Amanda? Se ela acordar agora e me ver em pé a observando, sei que vai assustar. Ela continua dormindo de um jeito tão gostoso que não tenho coragem de fazer um barulho sequer.

        Essa dicotomia está me deixando maluco, preciso andar um pouco. Seu apartamento é pequeno, perfeito para quem mora só; tudo bem organizado e discreto, decoração sutil, muito limpo. Escrevo um recado em uma folha de papel:

        “Estou com sua chave, volto logo. Meu celular é 123-456-789-0. Beijo no coração.”

        Deixo minha mochila na sala com o recado e saio. A caminhada acalma minha mente, me ajuda a organizar as idéias.

        Reflito um pouco sobre minhas dúvidas, e concluo que é uma besteira sem tamanho me preocupar com a sociedade… A sociedade é podre, cheia de falsos moralistas que traem suas esposas, seus amigos; que puxam o tapete de qualquer um por uma promoção ou por um aumento qualquer… Foda-se a sociedade.

        Como gerenciar uma relação homossexual? Não faço idéia… Não sei nem como gerenciar uma relação heterossexual… Existe alguma diferença? Cada relacionamento é único, besteira perder tempo pensando nisso.

        Ela é uma travesti, passei por uma experiência em um universo que nunca cogitei nem olhar; completamente a parte do meu. Ou não? A existência é uma só, aproveitar as oportunidades e experiências podem me tornar um ser humano mais completo? Parametros, regras, com o tempo vou entendendo como funcionam, se é que existem.

        Eu tive uma relação sexual gay, e além disso, tive momentos de amor gay; e não me sinto menos homem por isso. Sou gay? O que significa ser gay? É apenas um rótulo… Foda-se isso também...

        Quase solto uma gargalhada ao entender que estas dúvidas são preconceituosas, se ela fosse uma mulher natural metade dos receios não existiriam. Percebo que nada do que estou pensando faz sentido a menos que ela compartilhe destas emoções. E esta dúvida me corrói, como ela vai me tratar quando acordar?

        Percebo que minha confusão mental só pode ter uma explicação, estou me apaixonando por Amanda. Estou me envolvendo emocionalmente com uma travesti, um homem que se descobriu gay e decidiu alterar sua aparência física para ter o aspecto feminino… Lembro de nossos corpos nús lado a lado, sua cabeça em peu peito, o perfume de seu cabelo e a noite de sono revigorante… E, mais uma vez, digo foda-se. Um plano começa a se formar para conquistar essa “mulher”.

        Compro algumas coisas enquanto estou na rua, lanches naturais e suco de laranja em uma lanchonete; e, em uma floricultura, pétalas de rosas. Volto para o apartamento e Amanda ainda está dormindo. Guardo os lanches e o suco, jogo o bilhete fora e volto para o quarto, com um monte de pétalas de rosas comigo… E agora, o que eu faço?