Sandro parecia mesmo feito de pedra. Era todo grande, em altura, largura e caralho, recheado de músculos rochosos que chamavam atenção a longa distância e alimentavam loucas fantasias de admiradores, pagantes e esperançosos. Sandro era o garoto de programa mais popular do Jardim das Delícias e adjacências.
O Jardim é aquele de que falei em vários outros contos: um espaço de liberdade, transgressão e luxúria em plena luz do dia, revelado para quem sabe das paradinhas, oculto diante dos olhos de todos os outros.
Naquele gramado, no meio dos transeuntes sedentos de prazer, circulavam alguns garotos de programa que eram “instituições” em seus horários de atividade. Ajudavam a tomar conta do espaço e aumentavam a tranquilidade de todo mundo. Não sei quanta grana aquilo rendia, mas devia compensar o tempo de exposição debaixo do sol.
É claro, há quem pense que basta ser jovem, ter corpo legal e um pau grande para ganhar dinheiro desse jeito, mas, no microcosmo de aventuras eróticas, os frequentadores do terreno trocavam ideias e já sabiam quais eram os GPs que prestavam e quais eram picaretas dos quais era melhor mantermos distância. Pelo menos dois se ambientavam bem e valiam nem que fosse uma conversa rápida. Um era negro, muito definido, pau enorme. Outro era Sandro.
Em minhas visitas “recreativas”, já tinha visto Sandro algumas vezes oferecendo seus serviços íntimos para os tarados engomadinhos. Uma mistura racial como só existe no Brasil, e um jeito de corpo, resultante de boa alimentação natural e muita academia de subúrbio, muito parecido com o do primeiro cara bombado que eu comi há décadas.
E, por cima da montanha de carne que eram seus trapézios, um sorrisão moleque, um ar de quem domina o espaço público como quem está em casa, uma sensualidade discreta de quem se exibia fingindo não estar se exibindo. É claro que, só de vê-lo, eu ficava com tesão imediato.
Sandro tinha uma clientela bem razoável. Num dia de sorte, ele não ficava nem cinco minutos parado no meio-fio antes que um carrão com vidros escuros encostasse para o motorista conferir o material e combinar de levá-lo para um lugar qualquer.
Mas eu não ia pagar por sexo com Sandro. Minha única experiência nesse segmento, há muito tempo, também foi com um cara alto e musculoso, mas foi decepcionante: só serviu para consolidar a certeza de que foda grátis é muito melhor. Porém, não custava nada ir bater um papo e conhecer melhor Sandro, já que nos víamos com frequência no Jardim.
A aproximação mesmo foi num dia de poucos negócios, quando Sandro dava um tempo conversando despreocupadamente com um branquinho passivo (que eu acabei pegando em outra ocasião) que, na base da brincadeira, não disfarçava o fascínio com o peitoral descamisado e os braços grossos e poderosos do garoto de programa.
Entrei no papo e, daí em diante, sempre trocava umas palavras com Sandro quando ele não estava procurando “atividade”. E não era só no Jardim.
Em duas saunas diferentes encontrei Sandro de toalhinha na cintura, mostrando o corpanzil para seu público-alvo de balofos pelancudos enquanto conversava aleatoriamente. Certo dia, entrei na sauna, fui tomar banho, e Sandro estava lá, nuzão, aquele caralho que era gigante mesmo mole, mijando no ralinho do chuveiro coletivo, fingindo indiferença aos sentimentos que despertava nos outros - e em mim.
Também no chuveiro, já aproveitando uma certa intimidade entre nós, Sandro me passou um sabonete e me pediu para esfregar suas costas. Como não ia atender a um pedido daqueles? Ensaboei legal todos os músculos das costas e da bunda do rapaz. Com todo mundo em volta tomando banho e olhando. Meu pau estava mais duro que os bíceps e tríceps flexionados de Sandro.
E houve outros encontros no Jardim. Num dia de pouco movimento, estávamos falando de fantasias. Perguntei se ele mijaria para eu ver. Mijou. Ali mesmo, no gramado. Mas Sandro era de fases: às vezes ele se mostrava sem grande disposição para bate-papo, sumia por uns tempos e reaparecia animadíssimo a fim de meter em qualquer buraco.
Esses ciclos cobraram seu preço, o que percebi na última vez em que encontrei Sandro: seus músculos já não chamavam aquela atenção toda, sua pele tinha perdido o brilho e seu comportamento estava diferente, mas ainda assim continuava um tipão. Estava a fim de mais do que uma graninha para levar para casa: estava a fim de aventuras, ponto.
A conversa esquentava entre nós. Botei o pau duro para fora, sem falar nada, e Sandro caiu de joelhos na hora, como que recordando o cacete que ele já tinha visto várias vezes, no Jardim ou nas saunas, e com o qual nunca tinha feito nada.
Foi como uma despedida, um sinal de que os tempos estavam para mudar para mim, para ele e para todo mundo: aí veio a pandemia, ficamos meses sem Jardim, e nunca mais vi o gostoso do Sandro.
Narrativa instigante, bom conto!