Lembranças e sensações



Estava tarde, resolvi dormir. Desliguei o computador, deitei-me na cama e senti um arrepio de frio ao encostar nos lençóis cujo vermelho sangue era imperceptível no escuro quase completo do quarto àquela hora. Cobri a cabeça e comecei a respirar profundamente, deixando minha expiração aquecer o ar sob as cobertas. Não sabia se a técnica é eficiente, mas fazia isso desde sempre mesmo assim.

Como todas as noites antes de dormir, vaguei por mil assuntos mentalmente até empacar na lembrança dele. Um arrepio me percorreu a espinha, ainda não sei se pelo frio ou pela memória daquele sorriso malicioso que parecia inseparável do rosto que me lembrava. Não sei bem o que tinha aquele sorriso de tão especial para ter tanto efeito. Solteira, tenho sempre muitas opções sobre quem pensar quando a noite cai, mas volta e meia eu me prendo a dele. Não que eu goste, até tentaria negar que faço isso se a única testemunha não fosse eu mesma.

Os outros me despertavam sensações superficiais, sentimentos de outro tipo. Ah, sim, os desejava, claro, mas mais como acessórios ou companhia do que como homens. E como homem eu pensava nele. As sensações que ele me despertava eram diferentes, pareciam sair do fundo dos meus pulmões para serem exaladas pela boca, que sentia seus gostos quentes e adocicados. Nunca parei para pesar vantagens e desvantagens de sua personalidade, eu apenas as aceitava como parte dele. Me distraíam dos defeitos suas qualidades tão marcantes, tão íntimas e flamejantes.

Enquanto o gosto de um beijo de brigadeiro com hortelã me foi trazido à boca pela memória, fechei os olhos enquanto meu sorriso se lembrava da noite compartilhada. Longe de qualquer julgamento, deixei a memória vagar por cada sensação daquela noite maluca em que descobri uma mulher dentro desta menina.

A primeira. Agora parecem-me nada mais do que cócegas a estranha perturbação causada pelo sorriso cheio de malícia, aquela coisinha indescritível na barriga, um frio, um formigamento que senti quando nos conhecemos.

Depois, a pele molhada e lisa do seu peito sob o meu pé. Na banheira dividida com um amigo pairava aquele falso clima de inocência, de quem se reuniu para conversar somente. O contraste entre a água quente e o ar frio do lado de fora aumentava a sensibilidade da minha pele ao calor de suas mãos enquanto me massageava o pé. Então ele me cativou com um estranho interesse pela parte do corpo que suas mãos tocavam, acompanhado por uma palavra que, sozinha, já desperta uma curiosidade diferente: fetiche.

Veio o interesse pelo seu interesse, a curiosidade de menina por aquilo que parecia de brincadeira, um fetiche por pés. Se aproveitou do meu riso e tomou mais liberdades, acariciou seu rosto com meu pé e o mordiscou levemente enquanto eu o mirava curiosa, enfeitiçada pela novidade. Eis que me beijou o pé, que loucura. Aquela sensação de poder que eu senti porque tinha o objeto de desejo dele e por ter alguém literalmente beijando meus pés se contrastava com a sensação de ter sido completamente dominada, sensação dada pela forma como tomava liberdades sem pedir e pelo seu sorriso que gritava que ele planejava fazer tão mais.

Eis que a temperatura da água pareceu mais alta.

Ligou-se a TV e dividimos um sofá. Sua pele estava diferente agora, seca, menos escorregadia, porém mais quente. Cobertos por causa do frio, a confiança dele parecia aumentar e ele ia me tomando aos poucos, dos pés às canelas, às batatas da perna, ao começo da coxa. Uma ou outra vez seus dedos deram um aperto sofrido no meio das minhas coxas, desejosos de seguir adiante. Eu senti aquela intenção maliciosa e me enchi medo, adrenalina e prazer. A menina o negava assustada, a mulher se rendia.

A barriga dele se revelou uma parte sensível a estímulos. Gastei um bom e delicioso tempo lhe tocando a barriga de várias formas com os pés e analisando as reações enquanto fingia me concentrar na televisão, mas sem poder conter um riso divertido. Ele jogava a cabeça pra trás, se contorcia e eu sentia seu pulmão encher e esvaziar-se com intensidade. Que bem me fez ter o poder de causar aquela euforia em alguém com aquele sorriso de quem já viu tudo; me fez sentir-me bonita, sensual, mulher. Como tamanha sensação de poder poderia vir do ato de se dedicar ao prazer alheio? As contradições daquele mundo de adultos me embriagavam.

Se não bastassem as novidades, a presença do quase-esquecido amigo que se rendeu ao sono no sofá ao lado me dando medo de ser descoberta deu um gosto especial à experiência, uma dose extra de adrenalina ao meu corpo já estressado com tantas emoções.

Suas expresões, sua temperatura, suas palavras, sua voz, suas mãos. As lembranças dele e daquela noite me aqueciam, deixando meu corpo febril a sangrar prazeres até a exaustão, até um desmaio do qual eu só acordaria na manhã seguinte, sentindo-me estranhamente bem.


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Comentários


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apeduardo Comentou em 22/05/2013

Aira, seu próprio nome nos leva às mil e uma noites. A narrativa é sensual e provocante. Parabens pelo conto.

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Comentou em 22/05/2013

Leitores: chamo-lhes atenção à essa autora sensacional que nos dá o prazer de poder viajar em sua companhia! Sim amigos(as), guardem esse nome: AIRA. Que tão bem nos descreve um estado de êxtase desejado! Aira querida, aceite meu parabéns, vc tem o domínio da narrativa! Continue nos brindando com textos de extremo erotismo! Agora que eu senti paixão no ar, ah, isso senti, heim! Bjão/voto do Zeus!

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notório Comentou em 22/05/2013

Realmente, um clássico da literatura erótica !

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Comentou em 21/05/2013

MUITO BOM, PARABÉNS, GANHOU UM FÃ, E MAIS UM VOTO, VISITE MINHA PG.




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Ficha do conto

Foto Perfil Conto Erotico airaafba

Nome do conto:
Lembranças e sensações

Codigo do conto:
29562

Categoria:
Masturbação

Data da Publicação:
21/05/2013

Quant.de Votos:
6

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