Desejos de uma CD enrustida - Parte I



Olhando para trás, não consigo precisar bem desde quando sou uma crossdresser. Eu – um pai de família respeitado na comunidade e acima de qualquer suspeitas – vestindo roupinhas femininas e desfilando em frente ao espelho. Esse sentimento ambíguo que vai de encontro a todos os preceitos da humanidade “hipócrita”, me assola e me deprime.
O fato é que sou assim e tenho que manter escondidos todos os desejos que a Fombelle – meu codinome e personagem desta série de contos que pretendo escrever – tem vontade de realizar.

        Segue o início desta ficção, mas que é real em minhas fantasias e, quem sabe um dia, possa realiza-las.

PRIMEIRA FANTASIA. Estava a serviço em São Paulo e hospedado num hotel que costumo ficar próximo a Marginal Tietê. Estava um dia chuvoso, que desestimulava a sair à noite, já que estava também frio. Então, desci até restaurante para jantar, pois queria ver gente.
Não estava pensando em encontrar ninguém para realizar minhas fantasias, mesmo que tenha trazido algumas roupinhas escondido na mala.
– Posso me sentar aqui? – Disse uma voz masculina, que puder constatar que vinha de um homem vestindo-se socialmente, já com seus 40 e poucos anos e exalava uma fragrância suave.
– Claro! – respondi prontamente, mas com a mente limpa de qualquer desejo. Na verdade, não ando na rua olhando e desejando homens. Percebi que realmente o restaurante se enchera e sobravam poucos lugares para se sentar.
Após se sentar, ele iniciou um assunto sobre o tempo e o trânsito de São Paulo. Correspondi, fazendo comentários que ratificavam os seus e dava margem ao prosseguimento do bate-papo.
Identificou-se como Marcos e eu como Carlos.

        Vez por outra, notava que ele olhava-me fixamente quando eu falava. Do jeito de uma pessoa que está realmente interessada no assunto, desprezando a premissa de que o assunto é banal.
Foi aí que comecei a reparar mais nele. Não sei o que me deu, parece que ligou uma tomada em mim. Reparei em seu semblante, em seus cabelos, na sua voz. Então constatei que ele era realmente “pintoso”. Mas isso não me encorajou a tomar nenhuma postura que não fosse de dois homens desconhecidos conversando um assunto normal. Mas, o que tem que acontecer acontece. Ele, pela primeira vez depois de terminarmos a janta e de umas três latinhas de cerveja, levou a conversa para um lado mais sensual e comentou: – Hoje, quando estava vindo para o hotel percebi que haviam algumas travestis numa das ruas de meu itinerário. Caramba! Tinha uma que era uma mulher inscrita, meu amigo. Tive que quebrar o pescoço – deu um sorriso e me encarou.
– Realmente, tem umas que tomam hormônios desde novas e acabam por ficar com o corpo bem definido. – comentei já me interessando polo desenrolar do assunto e torcendo para ele não sair dele.
        – Não sei não – disse ele com um sorriso de canto de boca – sozinho em Sampa, longe de casa, acho que até arriscaria – fez uma pausa e emendou: – Você não?
        – Não sei – disse querendo disfarçar, mas com um tom de voz que denunciava não estar bem certo de minha afirmação.
        – Ah! Já pensou? Essas bonecas devem dar muito prazer a um macho. Afinal elas sabem o que um macho sente e precisa. Sabem onde deve e como devem ser tocados.
        – Você já saiu com alguma? – perguntei, como que lançando uma isca.
        Depois de uma pequena pausa, mas que pareceu uma eternidade, com seus olhos fixos nos meus, e ele respondeu: – Sinceramente? Já – e continuou me olhando. Acho que ali já se instalara um flerte, oculto, intruso, mas excitante. Tentei manter um ar despreconceituoso e disse: – Não sei. Olhando por esse lado, você pode ter razão. Quantas já pegou? – mostrei-me bastante interessado.
        – Algumas – disse não querendo ser preciso em números, mostrando-se preocupado em não se mostrar promíscuo.
        – Já vi que tem bastante experiência no assunto – eu já denunciava meu interesse em sua história com as bonecas. Acabei esquecendo-me que estava em um lugar público e falei um pouco alto.
        – Desse jeito vão acabar escutando nossa conversa aqui – alertou-me – Que tal sairmos do restaurante?
        – Desculpe-me. Você tem razão, acabei por me distrair com a conversa.
        – Pelo que percebi você está bem interessado mesmo – disse enquanto já levantávamos para sair.
         No hall do elevador ele me perguntou se eu tinha algo pra fazer ou estava à toa, pois poderíamos continuar o papo num dos quartos, já que eu estava interessado em suas histórias. Olhei pra ele e pensei que estava prestes a acontecer algo. Senti um calafrio, um gelo no estômago, mas não me fiz de rogado e aceitei sua proposta: – OK. Não vou a lugar algum com uma chuva dessas e não tenho trabalho a fazer.
        Ao entrar no elevador ele já foi dizendo para irmos para seu quarto, pois havia enchido a geladeira com cerveja. Notei um ar levemente autoritário. Como de um homem que conduz sua mulher.
        Já no quarto, ele foi abrindo duas cervejas e dizendo que iria dar uma mijada. Enquanto ele urinava, dei uma passada de olho no quarto e percebi que ele era muito organizado. Seus pertences em cima da escrivaninha bem arrumados, etc. Fiquei por um momento pensando: O que eu estou fazendo aqui? No que isso vai dar?
– Elas realmente sabem dar prazer a um homem – levei um susto com ele bem próximo, logo atrás de mim, não o suficiente para me tocar, mas o suficiente para me arrepiar.
        – Ah! É. Conte-me aí. Quer dizer que você é comedor de bonecas! – disse ainda me recuperando do susto.
        Ele, já com um semblante mais sacana, respondeu: – Amigo, não me julgue errado, mas eu adoro. Já saí com boneca duas vezes, mas o que gosto mesmo é de crossdresser.
– O quê? – perguntei disfarçando que não conhecia o termo.
– Não sabe o que é? É homem que se veste de mulher ou vice-versa. E te digo uma coisa, existem muitos assim. São homens no dia-a-dia e soltam a franga na intimidade. São verdadeiras fêmeas na cama. Eu digo ainda que melhores que fêmea.
– Mesmo? E onde você as encontra? – meus olhos brilhavam.
– Na internet, salas de bate-papo basicamente.
– E se vestem por completo?
– Algumas fazem uma produção, outras só vestem uma calcinha. O importante é que todas são deliciosas. – disse ele já abrindo mais duas latinhas.
Notei que ele se referia também no feminino para os crossdresser.
– Acho que vou parar por aqui, amanhã tenho um compromisso às 8:00. – disse eu sem muita convicção. Aliás, o tom de minha voz e meu semblante denunciava que tudo que eu afirmava não era verdade. Eu estava mesmo era querendo que ele prosseguisse.
– Ah! Deixa disso! – retrucou – ainda é cedo e dará tempo para você se recuperar.
– Mas, me diz então, como são seus encontros? – bebi um grande gole mostrando que havia concordado com ele.
– Se interessou mesmo pelo assunto, hein!
– Ah! Isso tudo é novo pra mim. – menti pra manter as aparências.
– E você tem curiosidade em saber o que?
– O que elas fazem que te deixa tão tesudo por elas?
– Você tá curioso porque tem vontade de possuir uma ou de se passar por uma? – disse assim na lata.
Não esperava que ele me perguntasse isso e quase engasguei. – Que isso?...é...é...só curiosidade. Nem uma coisa nem outra. – tremi.
– Não precisa se defender. Como disse, adoro crossdresser e se você quisesse experimentar ser uma, eu iria te mostrar como se pode viver um momento de tesão incrível.
– Não, não. Não é nada disso. – só estou curioso mesmo.
– Não acho que seja só curiosidade, acho que está interessado mesmo – nesse momento estávamos um de frente para o outro, segurando cada um seu copo. Ele pôs a mão em meu braço e disse: – Não se avexe, pois isso é mais comum do que você imagina, deve ter muitos maridos perto de você que fazem isso escondido.
– Para com isso, amigo! Não sou gay! – tentei mostrar indignação, mas sem ser rude, pois não queria espantá-lo.
– Agora você está sendo preconceituoso.
– Claro que não! Nunca tive preconceito.
– Do jeito que falou sobre ser gay, denuncia isso. O que você pensa sobre rótulos?
– Do tipo gay, sapatão, essas coisas?
– Sim, exatamente.
Pensativo, respondi: – Não quis rotular. É só uma maneira de falar. – tentei me defender.
– Pois é isso que a sociedade faz, rotula e impede as pessoas de serem felizes do jeito que elas querem.
Marcos andou até a cozinha, pois o quarto era conjugado, onde um balcão dividia o ambiente. Iniciou um preparo de petiscos de frios e azeitona. Colocou-os em cima do balcão, onde me sentei do lado oposto em um dos banquinhos. Ele deu a volta e, enquanto me distraía com os petiscos, ele se esfregou em minhas costas, fazendo-me sentir seu pau duro passar quente. Eu estava com uma camisa social de mangas compridas, assim como ele. Vestia também uma calça social, fina. Estávamos em trajes iguais.
Assustei-me com sua ousadia, na verdade, senti como se um raio de tesão percorresse minha espinha e fizesse meu cuzinho piscar. Foi realmente um choque ligando a nuca com o rabo.
Suspirei sem querer e ele sorriu, me encarando.
– O que é isso, cara! – falei com um semblante de quem nem sabia o que havia acontecido.

O que se sucedeu, relatarei no próximo conto.
Quem se identificar com minhas fantasias é só me escrever.


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Comentários


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kzdopass48es Comentou em 23/08/2022

Me identifico, mas não tenho ousadia de investir em uma "pescaria" desse jeito. Embora, tenha muito desejo. S2 Betto o admirador do que é belo S2

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miguelita- Comentou em 22/06/2022

Delícia maravilhoso

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kzadosp50zsul Comentou em 08/04/2020

Nossa que conto delicioso. Um sonho.

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silva ou silvia Comentou em 09/05/2015

Nossa que delicia, eu me identifiquei. votei, lerei o próximo.




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Ficha do conto

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fombelle

Nome do conto:
Desejos de uma CD enrustida - Parte I

Codigo do conto:
64271

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
28/04/2015

Quant.de Votos:
16

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