A ideia de Daniel ficar fazendo companhia para mim naquela noite me deixou confuso, ele tinha entrado na minha vida de repente, e nós não éramos amigos, ele apenas era alguém que me ajudava a estudar, e ainda ganhava por isso, eu não tinha porque querer ele ali comigo, como se fosse alguém especial, ou um amigo de longa data. Eu sabia que o motivo para Juliana está querendo nos proporcionar aquele encontro tinha um proposito nobre da parte dele, pois ela acreditava que Daniel seria um bom amigo para mim, e assim eu poderia deixar de paranoia em achar que todos só se aproximavam de mim por interesse. Mas como eu tinha em mente em provar que minha opinião sobre ele era a certa e não a dele, resolvi aceitar.
Antes dela me avisar que meu pai aceitou sem demais alegações, fiquei me questionando se eu realmente deveria ficar com ele a sós no hospital, mas A Ju chegou dizendo que estava tudo certo, meu pai não só aceitou como disse que era uma ótima ideia, assim eu poderia não só por os estudos em dia, como teria alguém de minha idade para conversar. Eu sabia que ele estava mais era interessado em ficar livre para suas saídas noturnas. Sim, o Senhor Gonsalves gostava de sair e jantar com alguma interesseira, sempre era uma companheira diferente.
Depois ela me avisou que eu tinha aceito sem questionar muito, achei interessante sua disposição. Só então me dei conta do absurdo que estava para acontecer, seria bem mais pratico para meu pai contratar alguém para me fazer companhia logo o tempo que fosse preciso, e pronto, não teríamos que ficar incomodando ninguém, nem devendo favores, o que se passava na cabeça do meu? Creio que para seus princípios era bem melhor tem um amigo prestativo do que um empregado insatisfeito. Não tinha mais o que fazer. Era esperar.
Daniel entrou logo após o seu tio Carlos, eu gostava dele, mas a gente não conversava muito, ele era reservado e muito educado, sempre mantinha discrição. Daniel pareceu me envergonhado, o que me deixou curioso, sempre o achei muito seguro, como a Juliana já estava esperando-o chegar, logo foi embora, repassou algumas informações, me deu um beijo na testa e se foi junto com o Carlos. E lá estávamos, só ele e eu, frente a frente.
Eu estava ali deitado com uma pijama de hospital, daquelas que é aberta nas costas, enrolado num lençol verde claro. Pensei em quebrar aquele gelo, então pensei que a melhor forma seria provocando ele, e assim ainda jogava uma verde.
- Então, quanto o velho prometeu pagar a você para ficar aqui de baba?
- Nada, vim por que a Juliana se mostrou bem convincente. – então ele veio realmente sem receber nada, claro, ele queria preparar bem o terreno. E continuei.
- Então ela deve ter oferecido algo irrecusável, não?
- Pensei que poderíamos ter uma noite tranquila, e poderíamos estudar... Mas acho que me enganei, se você não me queria aqui, por que concordou com ela? – boa resposta, essa eu não esperava. Ele é bem rápido. Então resolvi parar e claro, manter o ambiente tranquilo.
Tentei acalmá-lo, explicando que eu só queria tirar uma com ele, depois sugerir que ele arrumasse suas coisas para depois estudarmos. Enquanto ele se organizava o notei bem pratico e resolvido, não parecia nenhum garoto mimado. Depois começamos a aula e eu o observava atentamente, falava com uma voz bem explicada e limpa, parecia um professor de verdade, me mostrava as observações, e por alguns momentos eu sentia toda sua dedicação no que fazia, sentia que ele estava ali por mim. Senti sua verdade, e me senti pequeno de ante de sua humildade.
Com o fim do conteúdo programado para aquele primeiro momento, nós nos ajeitamos para dormir, claro, ele, pois eu sempre estava pronto. Depois que ele se acomodou na poltrona, eu o observei bem, não me pareceu chateado por está ali, mas também não mostrou alegria, apenas se comportou como deveria. Então resolvi puxar assunto, resolvi perguntar pelo pessoal da minha turma, ele pareceu não se interessar em falar dos meus amigos, o que entendi bem, mas vendo que não tinha assunto, ainda tentei puxar uma velha questão, mas ele me cortou logo, quando eu perguntei sobre o fato dele gostar ou não de mim e ele foi bem direto ao lembrar:
- Não vamos ter essa conversa, já falamos tudo sobre isso pelo whats...
Sim, claro, conversamos e eu queria mastigar aquele assunto o máximo possível.
- É que eu não consigo entender você.
- Não entenda. Vamos dormir. – Como não entender, parece não querer ser amigo, ou não se importar se eu vou ou não vou me interessar por ele, seria essa característica dele, me mostrar que realmente não se importa comigo ou com meu dinheiro.
- Ok, boa noite. - Ao me despedir, tentei me virar, mas minha perna presa à aquela estrutura metálica, não me permitia virar o corpo, então eu dormia apenas com a cabeça virada para o lado oposto a luz baixa que ficava próximo a entrada. Ali fiquei, parado a principio com os olhos fechados, me senti vigiado. Queria me virar e ver se ele dormia, mas tinha medo de encontrar seus olhos. Não queria parecer inconveniente. Mas eu sabia que algo estava diferente. Ainda demorei a dormir, mas não lembro bem o mento, apenas me virei e fiquei olhando para cima e então o vi, ele dormia bem tranquilo, estava todo enrolado, com a cabeça pendida para o lado esquerdo, na minha direção, mantinha uma expressão angelical, me deu uma paz, e me tranquilizei.
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Como sou muito sensível a luz, logo acordei quando a técnica veio trocar o soro, ao abrir os olhos ele ainda dormia, mas parece que seu instinto foi ativado pela luz, ele abriu os olhos e olhou em volta pareceu não reconhecer o local, então me viu, eu o encarei mas sem provocar, e logo a técnica saiu. Então falei:
- Infelizmente a noite não é toda tranquila.
- Tudo bem, vamos dormir.
Ele estava sonolento ainda, mas me deu vontade de urinar e não tinha lembrado desse detalhe, que tinha que ter alguém para ir pegar no banheiro.
- Você poderia me ajudar com o aparador.
- Com o que?
- O aparador, preciso urinar.
Pode parecer cômico meus amigos leitores, mas foi tão constrangedor para ele como para mim. Mas depois de assimilar o que estava acontecendo, pelo menos foi isso que imaginei que tenha acontecido na cabeça dele, ele foi no banheiro e voltou com o papagaio.
- É isso?
- Isso mesmo. – me entregou, pareceu curioso de como eu iria usá-lo, então eu falei. - poderia se virar, não consigo com alguém olhando. – então ele pareceu entender.
- Claro, desculpe, é que eu não entendi o que deveria fazer. – então ele se virou.
Levantei o lençol, tirei meu penes para fora e urinei no papagaio. Ao terminar, subi a calça e entreguei.
- Pronto pega aqui.
Ele pareceu em duvida se pegava ou não.
- O que devo fazer depois com isso?
- Você despeja no sanitário e depois joga um detergente que tem do lado e dar uma rápida lavada e deixa do lado.
Ele fez tudo sem dizer nada, e antes de se deitar perguntou.
- Já vou dormir, você ainda precisa de mais alguma coisa?
Seu tom de voz não indicou nenhuma alteração de humor, simplesmente ele se comportou com gentileza.
- Não, obrigado.
Então voltamos a dormir.
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Pela manha quando eu acordei, não vi na poltrona, no quarto apenas estava apenas eu, mas então escutei o barulho do chuveiro, ele tomava banho, então depois de um momento, ele saiu enrolado numa toalha, não me viu, foi até o armário e pegou um abolsa que continha sua roupa talvez. Ele estava com os cabelos bem molhados ainda, e as costas também.
- Mas que pouca vergonha é essa?
Ele me olhou assustado, mas logo se recompôs.
- Eu e meu esquecimento, fui tomar banho e esqueci de levar a roupa limpa...
- Na verdade estou é com inveja sua, pois tomar banho no meu estado, não é bem um banho.
- Mas veja o lado bom, as técnicas ficam te banhando.
E ele ainda sorriu. Então sua covinha apareceu me deixando desconcertado. Fiquei lembrando de Adriano, e meu humor logo ficou perturbado, virei minha cabeça e não olhei mais ele que seguiu para o banheiro. A Ju logo chegou deixando sua mãe, levando o Daniel.
Aquela manhã de quinta feira se passou voando. A tarde Eliza apareceu e me fez companhia, ela ficou super curiosa ao saber que o Daniel tinha ficado comigo, mas também se mostrou bem receptiva com a ideia dele me fazer companhia, o motivo de sua aceitação sem questionamentos me deixou intrigado, mas ela apenas me disse que vinha observando ele depois do acidente e tinha notado que ele era bem aceito pelos alunos da nossa turma, e sempre mantinha um comportamento exemplar na sala de aula, fazendo anotações, mantendo toda a atenção nos professores. Mesmo sentindo que poderia ter algo a mais, eu preferi não investigar, sabia que Eliza falava a verdade, e se ela escondia algo, eu saberia logo, pois ela não sabia guardar segredo de mim por muito tempo. E mais ninguém foi me visitar naquela tarde.
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O turno foi trocado mais cedo, as cinco A Juliana chegou e com ela o Daniel, Eliza ao vê-los entrar, ficou toda sorridente, falou com ambos, e eles a cumprimentaram com toda formalidade.
- Tudo bem Eliza? – Daniel perguntou para ela de uma forma tão polida e ao mesmo tempo pareceram tão íntimos, que não consegui compreender a singularidade na troca de olhares entre eles.
- Tudo sim, Lucas, obrigada.
Depois ela se foi, ficamos só nós três, Ju de um lado ajeitava algumas coisas que me trouxe para comer, pois eu detestava a janta do hospital, e pelo volume ela tinha preparado o jantar completo. Do outro Daniel guardava suas coisas, parecendo já bem a vontade ali, como se fosse seu próprio quarto. E eu bem. Fiquei só olhando.
Ainda conversamos um pouco antes da Ju ir, mas ela nos deixou bem humorados e confortáveis. O Daniel parecia se dar muito bem com ela. Então ficamos só nós dois mais uma vez.
Lá pelas setes, ele perguntou se não tinha nada se Filipe fosse fazer uma visita, claro que estranhei sua pergunta, mas então responde que não, que tudo bem. E logo percebi que eles já tinha combinado, pois Filipe chegou logo depois. Ele pareceu um pouco sem jeito, mas procurou se acomodar numa cadeira. Logo que começamos a conversar, eu procurei uma oportunidade e pedi desculpas pelo outro dia, ele já foi logo dizer que estava tudo bem e que eu não precisava me preocupar pois ele já tinha esquecido.
Tivemos um bom momento juntos, foi interessante vê-los conversando, pois contavam histórias engraçadas, e pareciam que ainda estavam se conhecendo, o que poderia ser verdade, mesmo a covinha do Daniel surgindo uma vez e outra, eu terminei não me incomodando mais, afinal eu tinha que apagar de vez o Adriano da minha mente.
Quando o Filipe se foi, nós ficamos um momento em silencio.
Mas alguém tinha que falar.
- Obrigado Daniel.
- Pelo que?
- Por este momento, vocês fizeram não só esquecer de minha perna como de muitas coisas ruins que aconteceram comigo.
- Tem momentos Alex, que devemos esquecer nosso orgulho, ou mesmo enfrentar nosso próprio modo de pensar e encarar que possa existir outras verdades.
- Por que você diz isso?
- Porque eu era como você, eu também era preconceituoso com pessoas ricas e mimadas como você?
- Mas eu não sou mimada...
- Talvez não seja... como eu imaginava. Mas...
- Mas o quê?
- Mas como já disse antes, nem tudo está perdido. Creio que você possa ter bons amigos, amigos que realmente se importem com você, amigos que te respeitão, que te defendam e claro, se lembrem que você possa está precisando deles.
- Onde você quer chegar com isso? Quer dizer que eu não tenho amigos assim?
- Eu queria poder te falar, mas minha conduta impede, tem coisas na sua vida que só cabe a você descobrir, abrir os olhos e ver....
- Agora é você que me provoca, chama seu amigo aqui, se confraternizam comigo e depois passa na minha cara, como se eu fosse apenas uma diversão sua...
Eu me senti ofendido, mas ele não parou, procurou amenizar suas palavras.
- É verdade, não estou aqui para isso, só não interprete mal a vinda do Filipe aqui, ele veio por vontade dele, ele é um cara legal de quem eu estou começando a admirar como amigo, não sei se você sabe, mas tive que sair da minha cidade deixando para traz bons amigos e toda uma vida... todo o meu passado... tudo que eu tinha construído...só ando cansado com tudo isso. Me desculpe se o irritei. Melhor a gente ir dormir.
Senti uma dor em suas palavras, senti suas lagrimas queimando sua face, ele se controlava, mas chorava por dentro. Resolvi não retrucar, apenas o deixei em paz.
Queria pedir desculpas, mas pensei direito e achei melhor continuar calado. Eu não queria mais continuar com aquilo. Estava pronto a desisti dos meus planos. E então pensei direito e na sexta eu iria pedir para a Ju acabar com aquilo. Não queria mais o Daniel me fazendo companhia.
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Continua....
Ambos tinham seus preconceitos e parecem desarmados agora
Ansioso.. espero que que o proximo capítulo saia amanhã... <3
Nossa esse capítulo de hoje foi sensacional. meus Parabens, ja li 3 vezes, to viciado nessa sua historia. parabens cara vc é genial escreve muito bem, consegue prender nossa atenção e sempre fica com aquele gostinho de quero mais.
Amando, mau posso esperar para que aconteça algo logo kk