[O Estagiário] Cap. 4 - A Conversa

***

Recebi uma tapa na bunda, mais um beijo molhado e gostoso enquanto ele ia novamente pro box tomar outro banho. Antes que eu o seguisse, ouvi meu celular tocando. Corri até ele e o nome que aparecia no visor me fez paralisar por um instante. Thiago. O que diabos eu havia acabado de fazer?

***

Fiquei estático em meu lugar por mais tempo do que pudera imaginar. Só me dei conta de que ainda estava ali quando o Alex saiu do banheiro e tocou em meu ombro, perguntando se eu não tinha achado o telefone, porque não havia parado de tocar. 3 chamadas perdidas. Soltei o celular na mesa e coloquei as mãos na cabeça, em um claro sinal de que eu não fazia a menor ideia de como agir.

- Ei, você ta legal? Tá me deixando preocupado. - perguntou o Alex pegando meu rosto com uma das mãos e girando em sua direção. Eu sabia que ele estranharia meu pedido, até porque eu nunca havia feito nenhum do tipo, mas a confusão em que meus pensamentos estavam me fizeram seguir adiante.

- Não muito... Fica chateado comigo se eu te pedir pra ficar sozinho? - pedi sem conseguir encará-lo.

- Eu te machuquei? Fiz algo que não gostou? Poxa, Guga. Podia ter me dado um toque... você parecia tão entregue. - ele sequer respirou entre as sentenças ditas, claramente perturbado com a possibilidade de ter feito algo ruim comigo.

- Exatamente. Me entreguei, e eu não poderia. - seu rosto formou uma expressão de confusão, e tentei resolver aquilo pra que enfim ficasse sozinho. - Relaxa, amigo. Não é nada com você.

- Meus antigos relacionamentos acabavam logo depois dessa frase. - ele tentou soar divertido, mas eu realmente não tava legal, principalmente após ouvir a palavra relacionamento. Provavelmente acabei com um que estava tentando construir.

- Não temos um relacionamento amoroso, então não há nada pra acabar, Alex. E quando eu digo que não é nada com você, é porque não é mesmo. São consequencias das minhas ações que afetam outras pessoas, só isso.

- Saquei. Tá a fim de alguém. Tá, tá. Foi mal. - disse, levantando os braços em sinal de rendição logo após eu provavelmente ter entregado pelas minhas feições que ele tinha acertado o ponto em questão. - Eu vou indo nessa. Ia agradecer pelo momento, mas não sei mais se faz sentido. De toda forma, se precisar conversar, só conversar, só bater na porta da frente.

[DOIS DIAS DEPOIS]

- E aí, como você tá? - me perguntou a Kamila quando sentamos em uma das mesas da praça de alimentação do shopping. Nas quintas, sempre almoçávamos no mesmo restaurante. Ela pegou aquele treco que a gente pega quando faz o pedido e leva pra mesa, e uma hora ele pisca informando que o pedido está feito. Não sei como chama. Enfim... ela postou um storie com "Tradição sendo mantida com sucesso" e me marcou. Na verdade, estranhei. Ela não é de postar nada quando saímos, mas né... vai que esteja tentando me agradar, dada a minha situação de fossa.

- Vivo, mas é como se não estivesse. - respondi, cruzando os braços um por cima do outro em cima da mesa e deitando minha cabeça sobre eles.

- Eita canceriano exagerado da gota! - exclamou pouco antes de me dar uma tapa na cabeça. - Você se isola porque quer. Tá aí sem atender ligação ou responder ele, isso quando só responde friamente, porque não consegue entender que vocês nem tinham nada ainda. Você se cobra demais por pouca coisa.

- Pouca coisa, Kamila?! - quase elevei a voz, mas lembrei de onde estávamos. - Você fala isso como se o Thiago não fosse nada.

Ela fez o sinal de "T" que nem fazem no futebol, porque os pedidos estavam prontos e ela foi pegar. Mas quando voltou veio com a mulesta toda.

- Não, eu estou dizendo que com menos de uma semana você já ficou mal por não ter cumprindo com uma necessidade de fidelidade que não era necessária ainda. - era falando e comendo, praticamente sozinha, o balde de fritas. - Eu tava deixando o tempo passar mais pra ver se você ia se tocar, ou se ia continuar descendo fossa abaixo. Eu já sabia que ia ser a segunda opção, mas a gente aprende nesse curso que tem a mulinga lá do benefício da dúvida, então né... tentei. Mas cá estou eu, tendo que ser a adulta da dupla, jogando na sua cara verdades que você conhece, mas que não aceita, porque romantiza até com o entregador do ifood.

- Porra, quando tu quer pegar pesado tu vai com tudo, hein?

- Eu tô mentindo?

- Não é tanto assim ao ponto do ifood, mas você tem que entender... já viu o sorriso do Thiago? Já viu ele com outras pessoas, o quanto é atencioso, carismático, inteligente? Ele é lindo de qualquer ângulo, de qualquer jeito, dentro e fora.

Ela concordou. Quem não concordaria? Eu poderia ser exagerado com algumas coisas, mas não falei nenhuma mentira com os atributos do Thiago. Ela relembrou algumas das minhas péssimas decisões em relacionamentos (ou tentativas deles) anteriores para basear seus argumentos, e isso só me fez pensar na possibilidade de que eu não tinha o mínimo de sorte pra essas coisas. O almoço foi regado a conselhos, choque de realidade, e um ou outro beliscão quando eu ensaiava um "mas é que...".

Estava na dúvida se me levantava pra comprar nossos sorvetes ou se dava o almoço encerrado por ali e iria logo pro estágio, terminar de lascar o resto da semana que ainda tinha com pilhas de processos de direitos do consumidor.

- E então, o que você aprendeu hoje?

- Que sua fome aumenta consideravelmente quando tá bancando a adulta.

- Vai se lascar! - sua fúria foi retratada no bolo de guardanapo sujo jogado em minha direção.

- Eu vou tentar sair dessa situação. - ela me olhou como quem não põe muita fé no que diz. - Eu só não sei como agir agora. Eu tava começando a me habituar com ele nos meus dias...

- E precisa parar de me imaginar neles? - ouvir aquela voz atrás de mim causou uma corrente passando pela minha espinha e se espalhando pelo meu corpo, deixando meus pêlos arrepiados, o que não passou despercebido pela minha amiga, que deu um risinho de canto, antes de pegar sua bolsa que estava apoiada em uma das laterais da cadeira e se levantar.

- Bem, vou deixar vocês conversarem. - ela piscou pra ele e saiu. Tava tudo explicado! Levei alguns segundos pra entender o que tinha acontecido.

- O stories que ela postou... - deduzi esperando que o Thiago confirmasse.

- Sim. Se ela me ligasse ou mandasse mensagem você desconfiaria de algo. Ela me disse que esses almoços são meio que sagrados. Vocês, sem distrações. Eu precisava saber a localização de alguma forma.

Nota mental: deixar ela sem comer a torta da doceria que ela ama por um bom tempo.

- Mas é uma filha da mãe mesmo...

- Se quiser, eu vou embora. - falou ao dar de ombros e olhar em direção à saída. - Não é como se você tivesse fazendo questão da minha companhia ultimamente, afinal de contas.

- Ok, eu poderia ter ficado sem essa. - silêncio. Mais silêncio. - Ela te contou o que aconteceu? - perguntei olhando para a manga da minha camisa tentando encontrar algo pra mexer.

- Não. Algumas coisas só competem a pessoas específicas. E prefiro que você me conte olhando pra mim, porque eu não gost --

- Eu transei com um amigo dias atrás. - interrompi sua fala, confessando de uma vez por todas o que havíamos feito. Sua expressão não mudou, seus olhos não se arregalaram, seus punhos não cerraram. Sua boca se abriu e tudo que eu esperava que ele dissesse, não foi dito. Foi pior.

- Que massa. Fiquei com um cara no domingo. - o que aconteceu entre eu e o Alex foi na terça. Eu devo ter feito todas as expressões e reações que eu esperava dele, porque ele franziu a testa pra mim, cruzando os dedos à sua frente, como se me analisasse. - Certo, já entendi. Você se culpa por ter estragado tudo comigo porque ficou com alguém no período em que estávamos conversando, tendo uma rotina de papo e interação bacana e tal. Mas ao saber que eu fiz o mesmo, tá se roendo de ciúmes. Acertei?

Pqp. Assenti.

- Nego, deixa eu te contar uma coisa: já passei exatamente por isso. E sabe o que resultou? Em merda. Sabe porque? Porque eu sou igual a você. - fiz que não entendi e ele tratou de explicar. - Nós gostamos de putaria.

- Acho que você errou aí. Tá no plural. Você evita putaria. - declarei me baseando nas nossas conversas.

- Não, eu me controlo com você, porque eu não quero que nosso envolvimento seja puramente sacanagem, é diferente. Se um cara passar por você, for tesudo, retribuir o olhar e rolar uma oportunidade, vai me dizer que não vai acontecer nada? - antes que eu falasse algo ele advertiu. - Antes de me responder, lembre das vezes que ocorreu algo parecido e qual foi o resultado. - é, eu não perderia a chance mesmo. - Não é porque estamos curtindo o que estamos descobrindo um do outro que isso nos prive de vivermos outras coisas de forma apenas casual. Eu não vou mentir pra você, não quero relacionamento pra agora, e tenho quase certeza de ter comentado isso contigo em algum momento, eu só não havia dito o porque. Eu fui casado por 6 anos, e quando tudo acabou eu percebi que fui muito trouxa por tempo demais, então tá sendo o momento de me colocar como prioridade. Te curti, te achei super interessante, inteligente, safado, até onde havia notado e hoje comprovado, um puto delicioso e sacana e um ser humano admirável. Não quero me casar contigo, mas não vou negar, quero ver onde isso vai dar, sem que nenhum de nós precisemos suprimir vontades quando elas surgem, desde que respeitando um ao outro, sem expor, nem nada do tipo. - fiquei estático por um momento. Em parte porque muitas coisas que ele disse, eram verdades, em outra parte porque é aquela coisa: verdades são difíceis de engolir.

- Acho que entendi. Você não quer se prender a um rótulo de relacionamento. Quer ir vivendo conforme a banda for tocando. Um amigo com benefícios.

- Esse termo é muito simplório pra o que eu tenho imaginado, Guga. Eu tenho me importado com você, há momentos do dia que quero saber o que tá fazendo, como tá... Só não quero que essas coisas sejam manchadas por discussões por atenção, por cobranças, e coisas do tipo. Um dos motivos pra não querer um rótulo, também é porque nem eu sei como isso que pretendo ter é rotulado.

- Me parece um relacionamento aberto. - dei de ombros.

- Tudo que vem com a palavra relacionamento, inclui tudo que eu falei antes. - e riu. Fazia sentido. - Vamos levando um dia após o outro, por favor? Me dá essa chance de viver uma coisa bacana com alguém legal sem precisar ter dor de cabeça...

- E se aparecer alguém que queira algo sério comigo, Thi?

- Isso aí a gente resolve quando essa pessoa aparecer, ou então chama ele pra fazer a 3.

- Safado.

- Não, safadeza é o que eu quero fazer com você agora. Já esperamos tempo demais. Sua moto fica aí e você vem de carro comigo. Vamos ver se essa química toda funciona na cama também.

***

Fala, cambada sacana! Tudo tranquilo? Sei que esse ep. foi zero putaria, mas há momentos em que preciso deixar algumas coisas claras e definidas pra vocês pra poder seguir em frente com a trama.

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Comentários


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natho Comentou em 21/04/2020

Claro. Aliás já tô a espera. Cadê a continuação? 😕

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puroprazerrn Comentou em 16/04/2020

Opa, Natho! Tranquilo? Imaginei que alguém se sentiria assim, por isso expliquei no término do conto que esse ep. era necessário pra situar a visão dos personagens em relação aos últimos acontecimentos. Se tiver reviravolta sempre acaba sendo previsível tb. Abraço e espero que continue acompanhando! ;)

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natho Comentou em 15/04/2020

Confesso que esperava mais, demorou pra postar a continuação é teve zero surpresas. 😑




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Ficha do conto

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Nome do conto:
[O Estagiário] Cap. 4 - A Conversa

Codigo do conto:
154759

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
15/04/2020

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