Ambos ofegantes e fedendo a sexo. Assim estávamos, dividindo a cama mas sem encostar um no outro.
Sentia o olhar dela escaneando a linha média das minhas costas. Aquelas duas esferas azuis grandes e brilhantes, faiscando de curiosidade e suplicando para encará-las. Mas eu não queria.
As duas últimas semanas foram o suficiente para descermos a espiral da loucura rumo ao âmago de nossos desejos reprimidos mais intensos e profundos. Nos rasgamos um ao outro, sedentos por carne e sangue. Ela gritava, puxando meus cabelos e pedindo por mais. Eu atendia e a esfolava sem dó nem piedade, sintonizando a dor e o prazer em uma combinação perfeita enquanto nossas mãos se entrelaçavam.
Porém, tudo precisa de um fim. Confesso que superestimei meu autocontrole com seu sorriso contido e decote discreto. Pensava que um noite só já abateria minha curiosidade. Mas não, era só a ponta do iceberg, uma peça de dominó de uma fileira inteira.
Adentramos demais um no outro, além da conta. Sinto os passos dela em terras misteriosas, desconhecidas até mesmo por mim.
Seu perfume está impregnado no meu carro, nas minhas roupas e no colchão barato dessa quitinete que mantenho escondido da minha esposa e para onde trago minhas casualidades de sexta à noite.
De repente senti o cheiro do cigarro e a fumaça que pairava sobre a cama. Sempre era um sinal de que mais uma vez ela tinha desistido de conversar ou esperar qualquer outra reação minha. Senti o colchão se movimentar e o barulho do zíper fechando. Desfez a trilha de roupas pelo chão, saiu e bateu a porta. Ela sabia que eu não estava dormindo.
E o ciclo vicioso se repetia, tão tóxico mas tão viciante. Trégua de segunda a quarta, aproximação na quinta e redenção na sexta. Sob o céu estrelado os desejos se convergiam e sob esse mesmo manto nos apartávamos. Pela última vez, assim espero. Ou não...
Isso é profundo... Entendedores, entenderão! Votado
Eroticidade plena...
Vocabulário bem interessante, escrita fluida, bom trabalho!
Votado - Então está bem !...