004 :: Math - O Garoto estranho
Aquele episódio com o Junior e o Elói claramente se repetiu! Embora héteros, acredito que por forte influencia do Elói que tinha cabeça muito aberta para estes prazeres, mantiveram uma boa amizade comigo, e sempre que possível estavam lá me oferencendo suas rolas para me dar leitinho.
Mas estas brincadeiras não duraram muito tempo. O namoro do Elói com a Isa ficou mais sério, sim, pois certo dia ele apareceu com uma aliança no dedo, nada muito caro, pois este nem trabalhava ainda, mas sempre mostrou que era perdidamente apaixonado por aquela garota. E não demorou muito, de forma aliás bem inesperada o Junior conheceu uma garota do terceiro ano, Lucy, foi sua primeira vez de fato com uma garota. Andavam para cima e para baixo e acabaram cortando este laço sexual que tínhamos.
Com isso fui aprendendo a me virar, já não tinha muitos pudores e vez ou outra dava uns beijos pela escola. Descobri uns lugares aqui e ali onde era seguro levar garotos para dar uns amassos. Se assumir naquele ambiente foi muito desafiador mas ao mesmo tempo que tornava o ambiente um campo minado, eu me sentia em paz comigo mesmo. Não estava enganando ninguém e não estava mais caçando caras héteros, embora ficava com os carinhas que ainda não tinham saído do armário, mas cada um no seu tempo.
Minha amizade com o Elói acabou amadurecendo bastante. Este tinha mente aberta não somente para lances sexuais, mas ele conseguia falar comigo sobre muitos assuntos, me dava dicas e conselhos até sobre caras que eu achava interessante na escola. E como esperado, sua namorada Isa também ficou muito próxima de mim. A Isa em especial era muito curiosa, pois não percebia quando um cara gostava de meninos ou de meninas. Confesso que eu ainda era bem lento para isso, meu radar gay me enganava muito!
Incrivelmente o Elói tinha o radar gay muito bem desenvolvido, pois é, o cara hétero.
Certa vez sentados na escada da escola, durante o intervalo de aulas, estávamos conversando sobre isso:
— E aquele ali, como é que é o nome dele, Adam? Acho que é isso, o que vocês acham?
— Ele é hetero! Dizia o Elói!
— Como você tem certeza? Perguntava a Isa com tamanha admiração.
— O cara é um safado! Isa, meu amor, é o olhar! O cara gay te olha nos olhos por alguns segundos, e meio que diz em uma só olhada "oi tudo bem, também curto essas paradas que você curte!"...
Eu ria muito com toda a técnica que aquele garoto falava e por mais bizarro que parecesse, ele tinha toda a razão!
Naquele momento meus pensamentos saíram do ar, por alguns segundos não escutei o que o Elói e a Isa falavam....
— ... tudo isso na sexta feita, ele não tirava os olhos da bunda da Dani, nem por um segundo. E nem se atreveu a ajudar a garota! ... não é mesmo?... Hey!... Me perguntava o Elói.
— Desculpe! Eu me destrai!
— Pensando em quem hem? Ta apaixonadinho e não contou para nós? Dizia a Isa rindo!
Elói logo percebeu onde estava meus pensamentos, meus olhares...
— Esse é o Matt, o cara mais estranho, mais estranho... que já vi nesta escola. E meu radar gay não funciona nele, pois ele nunca cruzou o olhar comigo! Mas pelo visto, já reparei que seus olhos acompanham esse garoto por toda parte!
Fiquei impressionado com a descrição do Elói. Ele estava coberto de razão, até aquele momento não fazia ideia do nome daquele garoto estranho, mas ele tinha algo que prendia minha atenção e não fazia ideia o que era, pois assim como o Elói, ele jamais sequer cruzou um olhar comigo. Não falei muito sobre isso, apenas continuei o assunto que eles falavam. Mas o Elói havia percebido algo ali.
— Vocês querem ver uma coisa!? ...
A escadaria onde estávamos ficava exatamente no meio do pátio, em um longo corredor que cruzava a escola. Todo mundo passava por ali, então para um bom observador, aquele lugar na escada era o melhor lugar para ver todo mundo. Elói observou que o Matt, o garoto estranho, havia ido para a direita... banheiros, cantina e nada mais... jajá ele retornaria, pois segundo suas observações, ele era do segundo ano, C, da turma de uns garotos que escutavam heavy metal e a sala deles é para o outro lado!
Não passou muito tempo, coisa de um minuto e ele retornou, passando ali em frente a escada onde estávamos. Assim, Elói gritou:
— Hey Matt!? ... Matheus? E acenou em seguida.
O garoto parou de andar repentinamente, olhou para o lado assustado, procurando quem o chamava por seu nome e apelido... visualizou Elói, franziu a testa, fez uma certa cara de desconfiado. Levantou levemente sua mão direita, esboçou um sorrizo e seguiu seu caminho. Todos rimos muito!
— Qual é seu problema garoto!? Exclama Isa não acreditando o quão cara de pau era seu namorado. Mas e ai? Conseguiu pegar alguma coisa no olhar dele?
— Na-di-nha! Dizia o Elói!... Mas o garoto aqui mudou até de cor! ...— Cara você tem um Crush! [não sei qual palavra usávamos naquele época, mas a ideia é essa].
Se mudei de cor? Eu nem respirei! Foi a primeira vez que o Matt, Matheus eu acho, olhou nos meus olhos. Jamais cruzamos um olhar sequer. Contudo ele deve achar que somos mais idiotas do que muitos já acham.
Depois daquele dia parece que encontrei com o garoto estranho algumas vezes mais. Sua turma, os garotos do rock, estes que andavam de preto e pareciam estar sempre rindo e falando de assuntos ligados ao rock, música e sei lá mais o que, pareciam sempre cruzar nosso caminho e ele sempre mais quieto um pouco atrás. Elói seguiu com seu experimento por mais algumas vezes, me fazendo morrer de vergonha. Algumas vezes que passávamos por ele, Elói o cumprimentava. O garoto sentia-se invadido e não sabia o porque. Fazia a mesma cara de desconfiado e seguia seu caminho.
Certo dia naquela mesma semana, fui até a biblioteca da escola devolver um livro de história que utilizamos no trabalho. Entreguei os volumes e aguardava que a bibliotecária desse baixa na minha ficha, mas estava ainda ao telefone. O garoto apareceu. Aproximou-se ali no guichê e olhou para o lado, diretamente para mim. Nos encaramos por um pouco, ele fez a mesma expressão de sempre, como quando o Elói o chama. Me encarou por uns segundos mais. Então tomei a palavra que estava presa na garganta.
— O-Oi!
— É...Oi! Respondeu ele ainda pensativo.... Fez um intervalo e continuou... — Cara me fala uma coisa: Qual é o problema daquele seu amigo?
— Que amigo? ... me fiz desentendido.
— Aquele que me cumprimenta de longe!
— Ah, claro! É o Elói! Sinceramente eu não sei qual é o problema dele.
Pela primeira vez ele sorriu. Olhou para mim alguns segundos mais, deve ter pensado alguma coisa... E olhou o livro que estava devolvendo.
— E você, é doido que nem ele? ... finalmente disse e sorriu.
— Provavelmente sou bem pior, afinal eu ando com ele.
Ele riu, pensou um pouco, e continuou:
— Te entendo, meus amigos me surpreendem bastante também.
Neste momento ele já folheava o livro que eu estava devolvendo. Minha ficha da Biblioteca caiu de dentro do livro e foi parar no chão, ele a pegou, olhou para a frente e o verso e comentou.
— Então é por aqui que o Senhor anda! Pega bastante livro emprestado!
— Gosto de vir aqui algumas vezes para ler, as vezes no intervalo. Mas quase sempre levo pra casa os livros.
— Nunca te vi aqui! E se tem alguém que sabe desaparecer nessa escola, sou eu!
Me senti encurralado, aquela pequena mentira foi descoberta em segundos. Mas não fora nada demais. O garoto era muito observador.
Nosso breve diálogo foi interrompido pela bibliotecária finalizou a liação e seguiu com meu atendimento, assinou minha ficha e de imediato começou a atender o Matt.
— A gente se fala! ... Disse para ele já saindo dali.
— Ele respondeu com um sorriso e concordando com a cabeça, enquanto começava a falar com a Bibliotecária.
Era a última semana que tínhamos para terminar aquele trabalho de história. Só faltava a minha parte e precisava terminar um resumo. O Elói estava terminado as falas da pequena peça que faríamos. Conversei com a professora de Educação Física e ficamos eu e Elói sentados na biblioteca trabalhando. Passou pouco tempo e o Matt entrou ali. Estava como sempre de preto, com uma blusa de lã e aqueles tênis de roqueiro completamente preto. Ele não usava nenhum tipo de estampa. A roupa preta contrastava muito bem com seu rosto branco e seus olhos negros.
Desta vez ele que parou ao lado de Elói e o cumprimentou:
— Oi Elói! Tudo bem? Falou de modo bastante sarcástico e meio pausado.
Elói mudou de cor na hora. Mesmo ele que é desinibido ao extremo, ficou sem reação.
— Oi.... M... Matt!
O garoto riu e disse:
— Realmente é bem legal fazer isso!
O garoto se sentou algumas mesas depois e começou abrir os seus cadernos ali.
Elói olhou para mim, ainda sem graça com o ocorrido e não perdeu tempo, disse:
— Hey, Matt!
O garoto levantou a cabeça, olhou para nós com a mesma expressão de sempre. Mas desta vez Elói continuou...
— Senta aqui com a gente!
Ele sorriu, pegou seu caderno e seus livros e se sentou ali.
Aquelas duas últimas aulas passaram voando. Elói foi um importante elo para que conhecêssemos mais o garoto estranho. Descobrimos que ele não era nada estranho, mas um cara muito agradável. Conversava muito bem, embora não falava praticamente nada de sua família ou coisa do tipo. Reservado, pensei.
A história com o Matt de fato começa aqui.