Eu tinha vinte e cinco anos e minha namorada (na época), era uma linda garota de pele negra, magrinha e com longos cabelos encaracolados (algo que atraia alguns olhares raivosos de outras garotas), e que estava com vinte e quatro, apesar de parecer bem mais jovem, namorávamos já a seis anos e ela era tudo o que eu desejaria. E eu praticava artes marciais num dojo da cidadezinha em que morava. Pra dizer a verdade, os treinos eram muito mais um encontro entre amigos do que qualquer outra coisa. Eramos todos conhecidos, na verdade, vindos de outras escolas (por isso praticávamos mais de um estilo) e nos reuníamos não só para treinar, como também para desenrolar longos debates sobre os mais variados assuntos, desde teorias da conspiração, passando pela filosofia e religião, e indo aos filmes de artes marciais da TV.
Naquela semana o professor responsável precisou se ausentar, e eu era o aluno mais graduado, juntamente, é claro, com o sensei Patrício, mas, este não havia firmado nenhum compromisso, já que também não estaria disponível em todos os dias daquela semana, então eu fiquei como responsável por tudo.
Pode me chamar como “dos Anjos”, é meu sobrenome e a maioria (atualmente) me chama assim. Como já disse, na época tinha vinte e cinco, tenho pele extremamente clara, o que gerava um “comentado” contraste entre minha namorada e eu… meus cabelos (naquele momento) e olhos também são escuros, tenho um e setenta e dois de altura e meu corpo é “levemente definido”, quero dizer, tenho algo como uma “sombra” de uma barriga tanquinho, devido aos treinos e alguns muculos discretos nos braços e pernas, nada que realmente seja digno de atenção, é claro, mas, chega de falar de mim, vou apenas contar sobre aquela primeira semana incrível que passei com ela:
PRÓLOGO: SEMANA PASSADA
Na semana passada estive conversando com uma amiga – bem, não diga isso a ela mas, não se trata(va) exatamente uma amiga, estava mais para uma conhecida que fez o mesmo curso técnico que eu, e que ajudei com um trabalho ou outro – ela tinha vinte e um anos e seu nome era Amanda, de pele apenas levemente mais escura que a de minha namorada e cabelos quase a altura dos ombros, embora ela usasse mais algum aplique para que ultrapassassem a marca; Amanda tinha um corpo muito bonito, era magra e de seios pequenos, mas tinha um bum-bum maravilhoso que podia ser plenamente admirado, mesmo escondido pelas roupas bem-comportadas que usava, isso, devido as convicções que tinha. Era realmente uma moça muito bonita, e que atraia o meu olhar (um olhar sempre discreto, é claro, desses de “canto de olho”, de modo a não deixar nada transparecer para a própria garota e nem para os outros ao redor). O curso que fizemos juntos havia acabado a poucos meses quando a encontrei numa rede social, a princípio, apanas a adicionei por ser um rosto conhecido, não tinha nenhuma intenção de sequer trocar mensagens, nem nada do tipo, na verdade, foi ela quem me mandou um – oi, tudo bem? – logo em seguida, e passamos a trocar cumprimentos de vez em quando. A conversa evoluiu bem de vagar, bem devagar mesmo, até chegar a semana passada, quando comentamos sobre o curso que fizemos, o que me pareceu vagamente estranho, porque ela insistia muito em falar sobre os trabalhos que fizemos juntos (mesmo eu não dando muita continuidade ao assunto, devido ao meu namoro). As coisas acontecem de um jeito bem engraçado nessa vida e, durante uma conversa, em que ela insistia em falar sobre o curso, me lembrei de um filme qualquer ou série, não sei bem, mas soltei a seguinte pergunta:
– “Amanda, tem algo que você queira me dizer?”
E, para minha surpresa, ela respondeu:
– Talvez…
Foi inesperado, falei aquilo mais pra fazer graça, talvez até imaginando que ela quisesse reclamar de algo que coloquei nos relatórios, não tinha intenção e nem ciência do que poderia levar a pergunta… Certamente você já sabe o que aconteceu não é?
A resposta de Amanda simplesmente me arrebatou para ela, mas levei algum tempo para convencê-la a me contar (acho que estava se fazendo de difícil), então ela perguntou:
– Sabe aquele curso?
Respondi que sim, e ela retrucou:
– Eu odiava!
Diante disso, perguntei:
– Então, por que continuou fazendo?
Amanda me respondeu simples e direta:
– Porque VOCÊ estava lá!
Fiquei em silêncio por um momento, surpreso e fascinado, depois perguntei:
– Sério?
– Terminou o curso só por minha causa?
E ela me respondeu:
– Sim. Se lembra que nunca conseguia fazer os relatórios e que precisava da sua ajuda?
– Eu apenas continuava pedindo sua ajuda porque percebi que você me olhava enquanto fazíamos, mas disfarçava bem, ninguém mais percebeu, pelo menos, minhas amigas nunca disseram nada sobre você, e olha que elas tentaram me arrumar muitos pares lá.
Mesmo que elas estivesse colocando as coisas dessas forma, achei melhor tentar me desculpar, e foi o que fiz, depois acrescentei:
– Não sabia que percebia… mas não tinha a intenção de te constranger, é que você é muito linda, era difícil não olhar.
Amanda falou:
– Não precisa me pedir desculpas, eu gostava da sua companhia… e dos seus olhares, foram o ponto alto do curso.
– Depois que o terminei, fiz outro que eu queria, e bem que poderíamos tê-lo feito juntos…
Como uma luz que se acende com um clique, comentei sobre meu treino artes marciais, disse que estaria como instrutor substituto na semana seguinte e a convidei a participar. Amanda disse que não conseguiria acompanhar todo o exercício, mas que gostaria de ir para assistir. Era tudo muito oportuno na verdade, porque, coincidentemente, descobri que ela morava a duas quadras do local do dojo, então combinamos de nos ver lá no incio da noite.
Chegamos ao dojo no horário de sempre, quero dizer, meus amigos, companheiros de treino e eu. Limpamos o lugar, como de costume para iniciar, mas Amanda estava atrasada. Todos haviam entrado no vestiário para se trocarem, enquanto Cristina, uma companheira de treino de bem pouco tempo, veio falar comigo. Era uma garota realmente bonita, tinha vinte e três anos, um e sessenta (ou menos) de altura, cabelos compridos, pouco abaixo dos ombros, os quais, sempre usava em um rabo de cavalo (para facilitar no treino), sua pele era clara, mas com um tom levemente bronzeado, eu poderia dizer até “quase dourado”, e também era magra, ainda que tivesse uma barriguinha um pouco aparente, seus seios eram bem grandes (algo que meu amigo, o Batata, e também os outros rapazes, sempre comentavam), na verdade, todas as suas curvas eram bem provocantes, como eu poderia descrevê-la com outra palavra que não fosse, gostosa?
Mas, não comece a pensar em segundas intenções, não estávamos conversando nada de mais. Falamos sobre as músicas do computador que usávamos com uma caixa de som durante os treinos, estava tocando uma playlist aleatória que fora alimentada por todos (a maior parte era heavy metal), e Cristina queria alimentar a lista de músicas.
Ajustamos nosso som, mas Amanda não apareceu; fizemos um aquecimento, e ela também não chegou; golpeamos um pouco o saco de pancadas; treinamos alguns, algumas imobilizações no tatame, e Amanda não veio…
No final, combinamos o que faríamos no dia seguinte e encerramos. Enquanto fechava as janelas do fundo. Apanhei meu celular na mochila para tentar falar com Amanda, mas fui interrompido pelas despedidas de meus amigos, o Batata, Patrício e Cristina, que precisou voltar ao vestiário feminino porque havia esquecido alguma coisa e acabou ficando para trás. Antes de ir, ela me perguntou sobre uma raspagem que havíamos praticado (e, com “havíamos praticado”, me refiro ela e eu), uma inversão da tirando o adversário da montada e indo para sua guarda. Pensando bem, parecia mesmo uma posição “mais íntima” para um rapaz e uma moça, então perguntei se a havia constrangido. Cristina sorriu e comentou:
– Não, claro que não, é uma postura de guarda durante o combate, não tem nada de mais…
Respondi ao sorriso dela e falei:
– Que bom que não achou desconfortável.
Só depois eu percebi que havia contribuído ainda mais para o “clima”, ao apagar quase todas as luzes enquanto Cristina me dizia:
– Na verdade, não fiquei nem um pouco desconfortável. Pelo contrário…
E ela se aproximou mais de mim para terminar a frase com um sussurro:
– Eu gostei.
A meia luz, ela sorriu e me perguntou:
– E você, não gostou também?
É claro que concordei, até um pouco sem jeito, mas nada poderia desfazer o clima e, quando percebi, já estávamos abraçados e nos beijando… Na verdade, foi um beijo de despedida, porque Cristina tinha de ir para casa. Confesso que me senti culpado quase que instantaneamente, não que não tenha sido bom, pelo contrário, mas eu tinha namorada… e também… tinha aquela outra garota, com quem havia combinado, qual era mesmo o nome dela?
Mas, o que eu poderia ter feito?
Se o próprio Odisseu, sequer tinha a opção de poder recusar a deusa Calipso, como eu poderia agir diferente e recusar um simples beijo?