Aventura de rebeca

Eu deveria ter previsto. João Paulo nunca faz nada sem um propósito oculto.

Quando Clóvis teve o infarto, foi como se meu mundo desabasse. A gente pode até ter nossos problemas, mas eu nunca estive pronta para perdê-lo. As horas no hospital eram intermináveis, a incerteza me consumia. Eu estava cansada, perdida… vulnerável.

Foi nesse momento que João Paulo apareceu.

— Eu vou até aí — disse pelo telefone, sem dar espaço para discussão.

Eu deveria ter recusado. Eu sabia que ele não viria apenas por compaixão. Mas naquele momento, qualquer ajuda parecia necessária.

Quando ele chegou, parecia o homem perfeito. Acompanhava-me nas visitas, trazia café, segurava minha mão quando a preocupação me engolia. Todo mundo achava que ele era apenas um primo prestativo. Mas eu conhecia aquele olhar. João nunca fazia nada sem segundas intenções.

— Você precisa descansar — ele disse uma noite, depois que voltei do hospital.

— Não consigo. Minha cabeça não para.

Ele me olhou daquele jeito que sempre olhava—como um predador estudando sua presa.

— Deixa eu te ajudar, Rebeca.

Eu deveria ter dito não. Mas ao invés disso, suspirei.

— Como?

Ele se aproximou, os dedos deslizando pela minha cintura.

— Você sabe como.

Meu coração batia acelerado, mas não de medo. De excitação. Era isso que me matava em João: ele sempre sabia como me encontrar nos momentos em que eu estava mais frágil. Quando meu corpo pedia alívio, quando minha mente queria um escape.

— João… — tentei protestar, mas minha voz saiu trêmula.

— Não precisa falar nada.

E eu não falei. Não quando ele me empurrou contra a parede. Não quando seus lábios esmagaram os meus, nem quando suas mãos ávidas percorreram meu corpo.

Foi rápido, desesperado, como um incêndio consumindo o que restava da minha moralidade. A sala escura, nossos corpos entrelaçados, o som das nossas respirações ofegantes preenchendo o espaço.

Quando terminou, o silêncio foi pior que a culpa. Ele me olhou, satisfeito, como se soubesse que já havia vencido.

— Eu disse que ia te ajudar — murmurou, vestindo a camisa.

E saiu, como se nada tivesse acontecido.

Eu fiquei ali, deitada no sofá, tentando decidir o que era pior: a traição ou o fato de eu já saber que aconteceria desde o momento em que ele ligou dizendo que viria.