Mas eu não estava relaxada. Não no começo. Quando cheguei na sacada, com o corrimão rústico à minha frente e as plantas balançando suavemente ao fundo, senti os olhos dele me estudando — não de um jeito invasivo, mas analítico, como se eu fosse uma tela em branco que ele precisava entender antes de pintar. Ele não disse nada por um tempo, só me observou, inclinando a cabeça de leve enquanto mexia na lente. “Dá um passo pro lado,” ele pediu, a voz calma, e eu obedeci, sentindo o assoalho de madeira ranger sob meus pés descalços. O vento levantou um pouco a barra da camiseta, e eu instintivamente puxei o tecido pra baixo, um gesto bobo que me traiu. Ele percebeu, claro. “Não precisa se preocupar com isso,” falou, com um meio sorriso que não sei se era pra me tranquilizar ou só uma reação automática.
Eu me sentia exposta mesmo estando vestida. Cada movimento dele — o jeito que ele se aproximava pra ajustar um refletor, o som dos cliques da câmera enquanto testava a luz — parecia amplificar minha percepção de mim mesma. Meu corpo estava tenso, os ombros travados, e eu respirava fundo, tentando encontrar algum equilíbrio naquele espaço aberto. Mas então algo mudou. Ele parou de mexer na câmera por um instante e me olhou nos olhos, direto, sem desviar. “Você já tem o que precisa aí dentro,” ele disse, apontando pro peito com um gesto vago. “É só deixar sair.” Não sei se era o tom dele, firme mas sem julgamento, ou o jeito que a luz batia na sacada e fazia tudo parecer um sonho, mas eu senti um calor subir pelo pescoço, não de vergonha, mas de curiosidade.
Comecei a me mexer sozinha, sem ele pedir. Primeiro, um passo tímido pro lado, deixando o vento brincar com meu cabelo. Depois, levantei o queixo, sentindo o sol aquecer meu rosto, e deixei os braços caírem, livres, em vez de cruzá-los como eu fazia por instinto. Rafael notou. “Isso,” ele murmurou, já voltando pra câmera, o clique soando como um elogio silencioso. A cada foto, eu me soltava mais — um giro leve do quadril, uma mão apoiada no corrimão, os dedos roçando a madeira áspera enquanto eu imaginava o que ele via através da lente. Meu coração ainda batia rápido, mas agora era diferente, como se o nervosismo estivesse virando outra coisa: uma confiança que eu nem sabia que tinha.
Ele se aproximou uma vez, só pra ajustar minha postura, os dedos roçando meu ombro de leve enquanto me guiava pra trás. “Fica aqui,” disse, e eu senti o arrepio, mas não recuei. O toque dele era profissional, quase indiferente, mas pra mim era um gatilho, um lembrete de que eu estava ali, viva, sendo vista. Voltei a posar, agora com mais firmeza, os olhos encontrando os dele entre os cliques, como se eu quisesse provar algo — pra ele, pra mim mesma. E então, depois de um silêncio que parecia eterno, ele baixou a câmera e falou, tranquilo: “Hora de tirar a camiseta.”
Eu hesitei por um segundo, sentindo o tecido leve entre meus dedos, mas já não era mais medo. Era expectativa. O vento soprou de novo, as plantas balançaram ao fundo, e eu deixei a mini camiseta amarela deslizar pelos ombros, caindo no chão da sacada como uma folha solta. Fiquei ali, exposta, com os braços instintivamente cobrindo o peito até ele dizer, calmo: “Não precisa se esconder, você é a arte aqui.” Aquilo me desarmou. Ele não olhava pra mim como homem, mas como alguém que via linhas, sombras, possibilidades. E, ao mesmo tempo, cada toque dele — ajustando meu ombro, reposicionando minha perna — era como um choque elétrico que eu não sabia explicar.
Teve um momento que ficou gravado em mim. A bermuda azul ainda estava no lugar, mas um canto da camiseta, que eu tinha largado, acabou sendo levado pelo vento e caiu sobre meus seios, quase como uma provocação do acaso. Rafael, sem nem piscar, esticou a mão e puxou o pano, jogando-o no canto da sacada como se fosse nada. “Assim fica melhor,” ele murmurou, já voltando pra câmera. Pra ele, era só composição. Pra mim, foi como se o mundo tivesse parado — o roçar dos dedos dele na minha pele, o arrepio que subiu pela espinha, a sensação de estar tão vulnerável e, ao mesmo tempo, tão poderosa, ali naquele espaço aberto, com as plantas balançando ao fundo.
Eu me lembro de pensar: “Isso é normal pra ele.” Rafael mexia no meu corpo com a mesma frieza que mexia na posição da bermuda, que ele desceu um pouco mais na minha cintura pra “pegar a luz certa”. Uma vez, ele segurou meu quadril pra me virar contra o corrimão da sacada, os dedos firmes contra minha pele nua, e disse: “Aqui, assim a curva fica perfeita.” Eu sentia o calor subindo pro rosto, o coração disparado com o som das folhas mexendo ao vento, mas ele só clicava a foto e seguia em frente. Era essa ambiguidade que me pegava. O toque dele não tinha intenção, mas pra mim carregava tudo — desejo, medo, liberdade.
E então, perto do fim, algo tomou conta de mim. O sol já estava quase se escondendo, pintando a sacada de tons alaranjados, e eu me senti leve, como se o vento tivesse levado embora qualquer resto de timidez. Sem ele pedir, minhas mãos foram até a bermuda azul. Eu a desci devagar, sentindo o tecido roçar minhas coxas antes de cair aos meus pés, e fiquei ali, completamente nua, o corpo inteiro exposto ao ar livre. O som das plantas, o calor da madeira sob meus pés, a brisa dançando na minha pele — eu estava livre. Rafael levantou os olhos da câmera, e pela primeira vez vi um brilho diferente nele, uma animação genuína. “Caramba, Alice, isso é incrível!” ele exclamou, clicando sem parar, quase correndo de um ângulo pro outro. “Você tá brilhando, continua assim!” E eu continuei, girando o corpo, jogando o cabelo pra trás, rindo alto enquanto a liberdade tomava conta de mim.
Olhando pra trás, eu sorrio. Porque foi ali, naquela dança estranha entre o profissional e o pessoal, com o céu aberto acima de mim, que eu comecei a entender quem eu podia ser diante da câmera. As fotos nuas, no fim, não entraram no álbum — não era o que tinham pago pra aquela sessão, afinal. Mas elas ficaram guardadas comigo, como um segredo precioso. Serviram pra me soltar, pra me preparar pros projetos futuros, quando eu já sabia que podia ser mais do que uma modelo: eu podia ser a arte inteira.
Q tesão!
Esses teus materiais iniciais prometem ficar cada vez melhores, meu anjo. Vou ficar te acompanhando, Alice delícia.
Delícia
Maravilhosa e perfeita
Maravilha de conto!