Conheci Elias no novo emprego. Assim que cheguei, cativou-me com o sorriso jovial, os olhos negros, brilhantes, o olhar meigo e amigo. Era mais novo que eu, 34 para 47 anos. Embora fosse superior minha posição na hierarquia da empresa, em pouco tempo as afinidades entre nós se manifestaram naturalmente, e a cordialidade protocolar evoluiu para amizade.
Ele possuía qualidades pessoais que me encantavam, como a dedicação ao trabalho, à família e aos amigos, numa proporção justa e sábia. Além disso, apreciava a música e, especialmente, o cinema. Era, também, um gourmet por excelência, embora jamais glutão. Por tudo isso, sucederam-se almoços, jantares, comemorações familiares, em companhia de outros colegas de trabalho e parentes.
Enquanto se fortalecia a amizade, não deixei de notar, igualmente, os atributos masculinos que despertavam em mim interesse além da fraternidade. A cor morena clara, canela, que tanto me inebria, em mulheres e homens. Os dentes brancos, alinhados, que potencializavam o sorriso fácil. O rosto másculo, mas não rude, de um homem-menino, alegre, pleno de vida. A emoldurar os lábios sensuais, um conjunto de barba e cavanhaque, cuidadosamente aparados, que lhe conferiam uma elegância de nobre linhagem. Tudo isso eu via, além de seu corpo jovem, de estatura mediana, rijo, mas não propriamente atlético, pois praticava esportes sem a disciplina necessária para esculpir a musculatura.
Reinava entre nós a amizade e o carinho familiar, e me agradava cada vez mais aquela juventude menina e máscula, a sensualidade intensa que eu antevia por trás daqueles grandes olhos negros, a lascívia que eu adivinhava em sua boca, o fogo todo que eu pressentia em seu corpo. Meu amigo, enfim, me encantava, não apenas no âmbito de suas qualidades de caráter, mas também o porte físico, belo,e sensual.
Certo dia, notei o que se tornou para mim o mais atraente de seus atributos físicos: suas pernas. Já nos conhecíamos há quase três anos sem que tivesse visto suas pernas, desde o alto das coxas até os pés. Foi numa reunião informal em sua casa, com a participação de poucas pessoas, num dia até de temperatura amena, quase fria. Todos os presentes, por isso, usavam calças compridas ou longas bermudas. Todos, exceto ele.
Para minha surpresa — e até um tanto de contrariedade, confesso, dado o arroubo de informalidade deslocada, em minha opinião —, Elias usava um calção curto, com aberturas laterais. Creio que apropriado para o jogo de futebol. Por isso mesmo pareceu-me inconveniente para a ocasião. Claro que, como convidado e amigo, nada manifestei e me ocupei em participar da reunião, de forma educada, alegre e agradável para com todos os presentes.
Mas a centelha da sensualidade brilhou em meu cérebro no momento em que aquelas pernas cruzaram meu caminho e despertaram em mim, pela primeira vez de modo consciente, o desejo físico por meu amigo.
Eram coxas grossas, másculas na forma, na consistência e até no aroma eu diria, pois parece que meu olfato aspirava delas um perfume de masculinidade, de sensualidade viril. Abaixo, as panturrilhas fortes, vigorosas, capazes de sustentar — assim imaginei, num átimo — a posse sexual intensa e prolongada. Todo esse belo e atraente conjunto de músculos estava coberto por uma relva de cabelos negros, que lhe acentuava o caráter másculo. E, no fervor da excitação que tomava conta de meu espírito e de meu corpo, minha mão espalmada percorria a textura desses músculos, em devaneio erótico que me queimava os sentidos.
Tudo isso constatei e imaginei de uma forma mais sensitiva que racional e somente agora organizo as emoções e impressões daquele dia, com o objetivo de compartilhar com você, amigo e tolerante leitor, as delícias daquela descoberta.
O tempo passou e outras reuniões sociais mantivemos, além do cotidiano contato profissional, mas não mais tive a oportunidade de rever as belas pernas de meu amigo. Aquela experiência já se diluía em meu imaginário quando novamente fomos, minha esposa e eu, convidados a um almoço na casa dele, juntamente com outros amigos.
Logo ao chegar, constatei que Elias usava o mesmo revelador e sensual calção e suas pernas se destacavam perante meus olhos já iniciados na discreta admiração de sua beleza. Ancorados nessa palavra — discrição —, julgamo-nos espertos o suficiente para agir sem risco, em situações em que normalmente há algum nível de risco. É a soberba, ou a embriguez desses desejos proibidos, fadados à escuridão e camuflagem, ou tudo isso, que nos trai, nos revela a alguém, quando o espião também é espionado e o caçador se torna caça.
Aconteceu de uma forma tão ligeira que me é difícil encontrar a unidade de tempo que a expresse. O fato é que Elias percebeu meu olhar sobre suas pernas. Eu até duvidaria dessa percepção, mas o evento seguinte a confirmou e os eventos que se sucederam a essa confirmação atestaram que Elias tinha ciência de meu interesse em suas pernas — e tinha também interesse em meu interesse.
Esse evento seguinte foi o encontro de nossos olhares. Tão fugaz! Mais ligeiro que o mais ligeiro dos pensamentos, diria eu, para dar-lhe, leitor amigo, uma pálida ideia da brevidade dessa comunicação silenciosa. Silenciosa mas real, a ponto de mexer comigo. Como saber o que se passava na cabeça dele? Eu não sabia. E isso me torturava, pois temia que meus olhares lhe tivessem desagradado a ponto, talvez, de romper nossa amizade.
Fiquei alguns dias sem ver Elias e me torturava a dúvida sobre o destino de nossa amizade, sem contar o temor de possíveis efeitos colaterais sobre minha reputação, no âmbito profissional e privado, caso ele fizesse comentários maldosos sobre meu assédio. Tomado por esses pensamentos angustiantes, reencontrei Elias no ambiente de trabalho e — surpresa! — fui alegre e efusivamente cumprimentado por ele. Então tudo estava bem, melhor até, pois sua recepção me pareceu tão mais intensa que o usual.
Assim se passaram os dias: Elias bastante amigável e próximo, já que passou a me procurar com mais freqüência, ora para um café, ora para uma trivialidade qualquer, um chope ao fim do dia. Passou a florescer em mim um sentimento oposto ao de crise e afastamento, que me atormentara nas semanas anteriores. Sentia agora mais proximidade, mais empatia, uma quase cumplicidade, como se ambos compartilhássemos um segredo, mas não um segredo qualquer — um segredo nosso.
Elias me procurou, certa manhã, e revelou que precisava falar comigo um assunto sério. Tão sério que a conversa não deveria acontecer no ambiente da empresa nem mesmo em uma de nossas casas. Percebi que ele estava tenso, ansioso. Combinamos um encontro na saída do trabalho, que antecipamos em uma hora para termos mais tempo para conversar. Aguardei o momento de nossa conversa com o espírito tomado por mil pensamentos: Seria um caso de doença? Uma crise conjugal? Dificuldade financeira? Ou seria sobre... nós? Não! Absurdo! Estava delirando! Aguardei ansiosamente...
Como ele desejava conversar com a máxima privacidade possível, sugeri que fôssemos no meu carro ao estacionamento de um hipermercado. Estacionei em uma área mais afastada e disse estar a sua disposição, pronto para ouvi-lo. Ele me perguntou, sem mais preâmbulos, o que eu achava dele. Mesmo tomado de surpresa, percebi que o nervosismo maior era dele: sua voz denotava emoção, ansiedade, talvez temor. Fiquei mudo, vacilei. Tentava encontrar uma resposta digna do momento, mas eu mesmo não entendia aquele momento.
Foi nessa brevíssima lacuna de minha fala que a ação de Elias mais ainda me surpreendeu: ele colocou a mão direita sobre a minha, que repousava sobre meu joelho. Mão quente, mão que parecia um terminal de sensações, mão que falava todas as palavras contidas, mão que gritava todos os desejos, mão que afrontava todos os tabus. Mão que não apenas pousou sobre a minha, mas a envolveu em carícias, carícias retribuídas por mim, carícias que falaram as nossas palavras, confirmadas por nossos olhares, um sobre o outro.
Eu ainda não voltara à razão, quando ouvi a voz de Elias dizer que desde muito sentia uma atração por mim, de um tipo que jamais experimentara por outro homem. A princípio, dominara esse sentimento, até o instante em que percebeu que eu lançava sobre ele olhos de um desejo latente, de um desejo que lhe clareava o que ele sentia por mim — um inédito desejo erótico por outro homem. Sim, nos meus olhos ele viu refletido o próprio desejo, e essa constatação lhe trouxe alegria e perturbação. Alegria na correspondência de sentimentos e perturbação pelo que representava essa correspondência, uma alteração no ritmo regular de sua sexualidade, monogâmica e heterossexual.
Estávamos ali, num carro fechado, com vidros escuros, num ponto ermo de um estacionamento subterrâneo, no êxtase das confissões sobre o inconfessável desejo mútuo, desejo proibido, desejo reprovado por todos, desejo que causava medo, mas também desejo forte o bastante para nos fazer afrontar as convenções sociais e partir em busca de sua satisfação. Palavras já não precisavam ser proferidas e eu, mais experiente, subi com minha mão pelo braço de Elias, acariciei seu rosto e trouxe sua boca ao encontro da minha.
Nosso beijo começou terno, meio experimental, confesso, mas aos poucos evoluiu para um beijo de amantes adestrados, e eu senti a paixão de Elias na língua que me invadia a boca, língua que eu suguei avidamente, enquanto nos abraçávamos com a intensidade que o local permitia. Nosso beijo foi intenso e demorado até o ponto em que murmurávamos, um para o outro, confissões de nosso desejo, de nosso afeto, enquanto também beijávamos nossas orelhas e pescoços.
Minha mão desceu para o objeto maior de meu desejo, as pernas de Elias, aquelas pernas grossas, fortes, cabeludas na proporção certa para estimular minha luxúria. Sobre as calças mesmo pude senti-las finalmente, realizando sem nenhum pudor o sonho de tocá-las, apalpá-las com sofreguidão. Ele percebeu meu movimento e buscou melhor posição para facilitar minhas carícias, que evoluíram desde abaixo do joelho à coxa, em ambas as pernas, até se fixarem na parte interna, de onde saltaram para a dura excitação de Elias, que se projetava sob o fino tecido da calça social.
Sob meu contato, Elias acusou o prazer que sentia, fechando os olhos, respirando mais fortemente e gemendo de leve também. Soltei a fivela do cinto e puxei as calças para baixo, até os sapatos. Minhas mãos tremiam levemente ante a excitação de ter à disposição aquelas pernas que incendiaram meu desejo nos últimos meses. Então me dediquei a acariciá-las intensamente, chegando mesmo a beijá-las algumas vezes. Elias se entregou ao momento, de olhos fechados, aproveitando (curtir) o máximo daquela sensação nova de ser tocado e beijado eroticamente por um homem.
Minhas mãos trabalhavam sofisticadamente no corpo de meu amigo, pois eu as conduzia por baixo da cueca, tocando-lhe com os dedos e a unha, de leve, o saco, a virilha, as nádegas e a região entre o ânus e as bolas. Elias arfava e gemia. Alcancei, finalmente, seu pênis, ainda dentro da cueca, duro e molhado de excitação. Um pênis que me surpreendeu pelas proporções, grande e grosso além do que havia imaginado para o dote de meu amigo. O cheiro de sexo já dominava o interior do carro e o desejo se tornava incontrolável para nós dois. Liberei o falo jovem e poderoso, aspirei seu perfume com intensa volúpia e passei a sugá-lo com dedicação, enquanto minhas mãos ainda percorriam as pernas e a bunda de Elias.
Num movimento mais ousado, aproximei um dedo de seu ânus, jamais tocado por outras mãos, e percebi o efeito desse toque no prazer de Elias, que gemeu, se arrepiou e pressionou ainda mais minha boca no pinto que eu chupava. Ao mesmo tempo, percebi que ele se ajeitava no banco do carro, procurando melhor posição para facilitar meu ataque a seu intocável mas sensível cuzinho. Com o dedo já salivado, intensifiquei minhas carícias, a ponto de penetrar a primeira falange. Meu amigo então foi ao êxtase e, gemendo e se contorcendo, gozou fartamente em minha boca, enquanto eu sentia as contrações de seus músculos anais em meu dedo.
Degustei, como a um manjar olímpico, o ejaculado de meu amigo. Recebi com prazer os jatos fortes do esperma, abundante, denso, com delicioso sabor agridoce. Saboreei o sumo da vida e tudo engolia, enquanto persistia no carinho anal, com meu dedo penetrando-o vigorosamente, e sugava com vigor o portentoso membro de Elias. E meu novo amante de certa forma até se transfigurava nos espasmos do intenso orgasmo que sentia.
Esgotada a ejaculação, fui diminuindo gradativamente o estímulo no ânus e no pinto, até retirar o dedo da gruta apertada e reduzir o carinho no pênis a beijos suaves, curtindo o refluxo da ereção. A respiração de Elias foi se normalizando também, a ponto de ele me olhar carinhosamente e, envolvendo minha cabeça com ambas as mãos, dizer-me: obrigado.
Em seguida, beijou-me com terna paixão.