O pesadelo com a morte dos meus pais nunca foi embora, mesmo depois de 3 anos. A exaustão me ajudava a controlar isso. Eu simplesmente não somhava.
Estava no meu ultimo semestre da faculdafe medicina, quando recebi a notícia.
Sabe aquelas cenas de filme em que a policia vai ate sua porta dar os pesames pela perda de um ente, dai a personagem chora um pouco e depois fica tudo bem. A vida era muito mais cruel que aquilo. Não havia consolo nessas horas que me acalmasse ou me fizesse aceitar naquele momento o que tinha acontecido.
Não me lembro o que fiz depois. So sei que eu chorei muito e decidi trancar a faculdade por 6 meses. Depois dai, a vida me fugiu, eu mudei certamente. De fato, eu não sou mais tão alegre quanto era antes, e sinto que é irreversivel. Por mais que eu melhore, as sequelas iriam estar sempre presentes. Uma parte de mim se foi com eles, como se diz.
Um cheiro de café coado, forte e intenso me invadiu as narinas, fazendo eu acordar dos meus devaneios.
- Bom dia! - falou uma voz masculina rouca e reconfortante.
Conhecia bem o dono dessa voz.
- Bom dia, Gus! - Falei, dando um sorriso cansado - Se perdeu? A ala de oncologia é no 5° andar.
- Eu sei - ele sorriu - Eu vim ver como você estava, mas ja tenho o veredicto.
- E qual é? - Instiguei ele. Eu tinha certeza que ele acertaria na mosca, nos conhecíamos muito bem.
Ele sentou-se ao meu lado na mesa do refeitorio do 2° andar.
- Você tá com algum problema pessoal. - Disse, categoricamente.
Eu gargalhei - Jura? É sua melhor hipótese? - ironizei - o que me entregou, a cara de defunto ou a palidez doentia da minha pele?
Ele sorriu por um instante e logo seu semblante ficou serio.
- O que ta acontecendo, hein? - Começou ele, me abraçando - NÃo te vejo assim desde a última vez que você teve aqueles sonhos ruins com seus pais...
- Eu tive outra vez - Choraminguei no sou peito. Ele era bem mais alto que eu.
As batidas de seu coração coração tinham um efeito curioso de me acalmar.
- Eu vi tudo! - Comecei denovo - Minha mãe pedia socorro e eu não podia fazer nada, enquanto isso meu pai batia na porta do carro, tetando conseguir ar pra respirar , e sair dali.
Suas mãos de firmes amaciavam meus cabelos numa tentativa inutil de me trazer reconforto.
- Sabe que você não podia fazer nada, você nem estava la. - Suspirou ele.
- Eu sei. Mas era pra eu estar...
Me lembrava bem o porquê de não estar naquele carro. E, mesmo sendo uma causa nobre, para mim, mesmo assim, me arrependia de não ter adiado aquilo. Talvez ainda estivessem vivos, me rejeitando, mas vivos.
- Shiu! - Repreendeu-me ele - Nunca mais diga isso. Você teria morrido igual a eles. Não pense que eu ficaria bem se nunca o tivesse conhecido.
Gustavo Friedrick foi meu orientador da turma de imunologia da faculdade. Fiz meu ultimo estagio graças a ele, que fez de tudo para eu passar nas pouquissimas vagas de residência oferecidas pelo Cura D'Ars.
No início ele era bem pé no saco comigo. Juro que ate tentei sacanear uma ou duas vezes com ele, mas hospital é meio tenso fazer brincadeiras, alias, já é dificil manter algum senso de humor nesse ambiente.
Mas desde que ele começou a confiar mais em mim, - que por acaso foi quando eu fiz minha primeira punção lombar com êxito - pude me aproximar dele muito mais. Acabou que ele virou um irmão para mim. Nosso relacionamento era exatamente nesse nível, não havia qualquer conotação sexual entre nós, apesar de já o ter visto peladinho.
Foi numa especie de pelada em que ele me convidou para jogar com os amigos. Nesse tipo de ambiente o banho coletivo é quase que regra, uma espécie de ritual hetero - que ate hoje não entendo o que tem de hetero em tomar banho vendo o pau dos outros e mostrando o seu.
Ele estava indo para o banheiro depois do jogo junto dos amigos. Eu fiquei vermelho na hora, so em pensar na situação em que ia me meter. Decidi esperar um pouco maiz pra ir esvaziando.
- Você não vem tomar uma fresca? - perguntou ele, inocentemente. Para ele era facil, um hetero convicto ao lado dos amigos.
- Vou esperar so um pouco - disse, pensando numa desculpa - para a agua sair um pouco mais, não gosto de agua fria, sabe.
Ele riu da minha desculpa esfarrapada.
- Tudo bem, eu espero você.
- Não, fique à vontade, depois nos vemos.
- E quem vai te deixar? - Retrucou ele, carrancudo.
- Posso ir a pé - Respondi
- Mas nem pensar - Ele se levantou - Vamos, já não tem mais quase ninguém.
Tentei protestar, mas dai ele se inclinou sobre mim e me levantou, me arrastou ate o banheirão cheio de chuveiros, sem divisórias.
Foi ali que eu vi o espetáculo que Gustavo Friedrick, meu orientador, era. 1,88 metros de puro tesão. Seu corpo era muito bem trabalhado de academia, seu abdomen revelava curvinhas de musculos que eu jamais vira em outra pessoa. Suas pernas eram toras de musculo, simplesmente, e ficavam extremamente tentadoras naquele shortinho de futebol colado em sua bunda farta e firme.
Seu rosto era forte, como eu sempre vira, quadrado e simetrico, com um maxilar de ferro. Seus olhos azuis intensos combinavam perfeitamente com seus cabelos loiros, frequentemente bem arrumados num penteado para tras. E... Bom, seu pau era o maior e mais bonito que ja vi. Branquinho com uma cabeça rosada.
Em suma, Gus exalava tesão, mas isso não me afetava muito. Eu já o considerava um irmão de alma.
Enquanto pensava nisso, Gus virou meu rosto do peito dele para o seu rosto. Ele notou minha expressão suavizar.
- Melhor? - Perguntou. Ele já sabia que tinha esse efeito em mim.
- Sim - Sorri, contente - obrigado.
- Sabe que pode conversar comigo quando precisar sempre que quiser.
- Estou contanto com isso!
Fitei seus olhos cor de mar. Ele me encarou.
- O que? - Falei
- Nada não- Ele riu de leve - tenho que ir agora. Passe la depois, no meu escritório.
Disse isso ja me dando um selinho rápido e saindo. Isso era normal entre a gente, como eu disse, puro e simples amor fraterno.
Pude notar no mesmo instate que algumas pessoas no refeitorio cochichavam olhando de mim para Gus, que ja se afastava.
Eu sabia do boato que circulava esse hospital sobre nós dois, mas a verdade ele nunca saberiam de fato. Dei de ombros e me levantei rápido, seguindo ate o elevador.
Sua habilidade literária é evidente, descreve a estória de forma coesa e instigante. Parabéns, e continue com esta promissora saga...