Do jeito que o diabo gosta - A paixão



Do jeito que o diabo gosta – A paixão

Aparentemente, poucos dias depois, minha presença na vida do Juvenal e da Lucinda já não era mais tão indesejada. Enquanto os dois saiam para trabalhar, eu dava um jeito nas poucas coisas que havia na casa, preparava as refeições, tinha consertado uma torneira vazando, havia melhorado a precária instalação elétrica do chuveiro e me dispunha a ajudar no que fosse preciso; perambulava pelas ruas de comércio próximas atrás de uma vaga de emprego e procurava centros de apoio ao trabalhador.
- Por que você não conversa com a sua patroa, você não estava querendo mudar de emprego? Assim vai ter mais tempo para procurar. – disse o Juvenal numa conversa com a esposa.
- Não sei se ela vai aceitar um homem trabalhando de faxineiro no salão. – respondeu a Lucinda. – Não custa tentar, a ideia é boa. – acrescentou, antes de me descrever a função que exercia num salão de cabeleireiros nos Jardins.
- Eu topo qualquer coisa. Não estou em condições de escolher trabalho, pego o primeiro que aparecer. – afirmei disposto.
Madame Jeanine, uma cinquentona esquálida e desbotada, supostamente francesa, cheia de “ouis”, “s’il vous plaits”, “mon chers”, “ma chéries” e “mon Dieus” conhecia tão bem a França quanto eu, recém-saído de Glaucilândia no interior mineiro. O pouco de francês que aprendeu num colégio particular e a pose enfadada que assumia eram suficientes para cativar uma clientela abonada de senhoras dispostas a investir no que lhes restara da beleza de outrora. Ela me entrevistou com muito interesse. Examinou-me com seus olhos claros como se estivesse examinando um cavalo de corrida. Por fim, disse que eu podia começar na semana seguinte, que a Lucinda podia me dar todos os detalhes do serviço. O salário era pequeno, mas cobria minhas despesas com a condução, uma ajuda de custo para o Juvenal e a Lucinda e, ainda sobravam uns trocados para uma roupa ou uma distração.
Jeanine deu-me um uniforme preto, calça e uma jaqueta de mangas curtas, que logo fizeram o maior sucesso entre as clientes. Eu retribuía os risinhos e cochichos ao pé do ouvido com um sorriso leve amistoso. O trabalho era simples e monótono, sobrava-me tempo suficiente para ver como dois rapagões, Fernandinho e Glauco, transformavam um cabelo desenxabido das clientes num arranjo glamoroso e bonito. O sucesso com as clientes foi tamanho que, dois meses depois, eu tinha sido promovido a lavador das madeixas das clientes. Algumas mais assanhadas e com filhos provavelmente mais velhos do que eu, sentiam uma atração irresistível pela minha bunda e, me beliscavam despudoradamente com um risinho cínico. Eu sempre as recompensava na saída com um abraço e três beijinhos, que deviam abrasar as xanas flácidas esquecidas pelos maridos, enquanto elas enfiavam ou, uma nota marrom com a figura de uma onça no reverso ou, uma azul com a imagem de uma garoupa no reverso, no cós da minha calça justa.
Com o que sobrou dos primeiros salários enviei um envelope para minha mãe devolvendo-lhe os trocados que tinha enfiado em minhas mãos antes de partir. Juntei uma folha de papel onde relatei as novidades, meus receios na metrópole e minhas saudades de casa. Em resposta recebi uma carta de um parágrafo, questionando se o dinheiro que havia lhe enviado tivera uma origem mais digna do que o pecado que tinha cometido com o Edivan.
Durante um ano foi essa a minha rotina. Seguia cedo para o trabalho, era assediado pelas clientes, voltava moído no metrô lotado e fazia pingar numa poupança aquelas notas que enfiavam nas minhas calças por mãos sorrateiras. A Lucinda tinha arranjado um emprego numa empresa perto de casa como copeira, além de menos estafante, o novo trabalho permitia que ela chegasse mais cedo em casa. Contando com o extra da minha pensão, os dois aceleraram o término na casinha que construíam conforme o dinheiro dava. O Juvenal era pedreiro e trabalhava pegando serviços por conta própria. Nunca estava sem trabalho e, algumas vezes podia se dar ao luxo de recusar alguns. Ele tinha se associado ao Saulo, um garotão talvez uns cinco anos mais velho do que eu e, isso permitiu que encarassem obras maiores, tomando mais alguns ajudantes quando necessário. Aos finais de semana os dois trabalhavam no término da casinha do Juvenal e da Lucinda, numa espécie de mutirão, onde não rolava nenhuma grana, apenas uns almoços ou churrascos caprichados e a promessa de um dia fazerem o mesmo quando o Roberto decidisse construir algo para si.
Umas das poucas distrações, no que restava do curto final de semana, que geralmente só se iniciava após o anoitecer dos sábados, eram longas conversas com o Saulo, quando ele e o Juvenal davam o serviço do dia por encerrado. No início, o Juvenal sempre estava presente nessas conversas, inclusive foi ele quem me apresentou o Saulo. Porém, com o tempo e, como elas muitas vezes entravam pelo avançado da noite, o Juvenal se tornou cada vez menos presente e, a bem da verdade, nós nem dávamos pela falta dele.
- Você e o Luis Paulo estão se entendendo bem, não é? – questionou o Juvenal, numa conversa que ouvi sem que me vissem.
- É, acho que sim. Ele é um carinha bacana. – respondeu o Saulo.
- O que você acha dele? – inquiriu o Juvenal, querendo esmiuçar nossa amizade recente.
- Como assim? Bacana, como eu disse.
- Não se faça de besta que eu sei que você não é cego. As coxas e a bundinha do garoto são de fazer inveja a muita boazuda, vai me enganar que você nunca pensou em meter a pica naquela toba empinadinha, do jeito que o diabo gosta?
- Você está me estranhando, mano? Esse caralho aqui só entrou em buceta! – revidou o Saulo.
- Vou te confessar um negócio, mas é papo que morre aqui, entendeu? – disse o Juvenal, baixando o tom de voz. – Quando eu tinha a tua idade, lá no interior da Paraíba, eu enrabava um primo que tinha ido morar com a gente quando os pais vieram para São Paulo. Ele nem de longe era tão bonito quanto o Luis Paulo, mas era branquinho e lisinho como ele e, cara, só de me lembrar, fico de pau duro, o putinho tinha uma bunda gostosa para caralho! – revelou.
- Ah, mano! Não sei se encaro uma dessas. Comer esses boiolinhas cheios de miados não faz o meu tipo. – revidou o Saulo.
- Cara! Meu primo não era desse tipo. Ele só era tímido, um pouco envergonhado. Não dava bandeira alguma de que gostava do brinquedinho, mas fez os melhores boquetes que esse caralho já sentiu. Além do que, não sei se você sabe, mas esses caras são muito mais apertadinhos que qualquer bucetinha de virgem. O troço não alarga como as xanas, o que dá um tesão da porra. – afirmou o Juvenal.
- Que papo, mano! O Luis Paulo é o que da tua mulher, afinal de contas? Você já andou metendo a piça no brioco do garoto? – inquiriu o Saulo.
- Nem fale um troço desses. Se a Lucinda desconfia que dou uma espichada de olho naquela bundinha ela me esfola vivo. Nessas alturas do campeonato, não vou arriscar mais de dez anos de casamento por um passatempo. Minha época de aventuras já acabou. Ele é filho de uma prima de segundo grau da Lucinda. – sentenciou o Juvenal.
Quando voltei a por os olhos sobre o Saulo depois de ter ouvido essa conversa, notei que algo havia se transformado nele. Ele passou a me encarar com o mesmo brilho nos olhos que eu já conhecia do Edivan e do Sebastião. Apesar da pouca idade e experiência, eu sabia farejar um macho. E o Saulo era um macho cheio de quereres e necessidades, que não escondia suas qualidades, nem se furtava de aventurar-se por terrenos desconhecidos. Talvez ele simplesmente nunca tenha pensado nesse aspecto como uma oportunidade a ser explorada. Ele também nunca me passou despercebido. Havia algo como uma áurea ao redor dele que me atraía como as moscas para o mel. Provavelmente, era a testosterona que porejava por todo aquele corpão.
Quem me escrevia regularmente era o Edivan. Nas entrelinhas de suas cartas dava para perceber sua agonia em relação ao meu bem-estar. Eu respondia cada uma de suas cartas, mas logo percebemos que algumas não chegaram às suas mãos, provavelmente destruídas pelo nosso pai antes de ele saber da existência delas. Eu pedi várias vezes para ele vir para São Paulo, tinha inclusive conversado com o Juvenal e ele me disse que tinha um colega marceneiro que tinha começado a trabalhar por conta própria e estava procurando alguém para trabalhar com ele. O Edivan tinha feito alguns móveis lá em casa e eu sabia que ele levava jeito para a coisa. Mas, ele não se dispôs a vir. A relação dele com as aquelas terras era algo que transcendia o entendimento de outros. Sua ambição se satisfazia com o tamanho e a importância de Glaucilândia. Depois de chegar a São Paulo, tinha sonhado com ele diversas vezes. Talvez fosse a falta que ele me fazia que me levava a ter esses sonhos. Em alguns deles, eu via o Edivan debaixo de uma chuva constante, que durava dias, seus pés estavam mergulhados na lama e pareciam afundar no terreno. Depois, quando o sol voltava a brilhar, o Edivan tinha se transformado numa enorme árvore frondosa com um tronco imenso e galhos que pareciam com os seus braços vigorosos. Essa árvore abrigava os pássaros à noite entre sua folhagem e, amenizava o sol para aqueles que se sentavam a sua sombra durante o dia. Ela estava tão enraizada no chão que nada a podia mover. Convenci-me de que o Edivan jamais sairia de lá, como a árvore que jamais se moveria do lugar onde criou raízes.
Com intervalos de meses o Sebastião aparecia na casa do Juvenal e da Lucinda, toda vez que tinha um frente para São Paulo. Eu ficava eufórico, pois aquele era o único vínculo real que me restara do meu passado. Nas duas primeiras vezes eu me entreguei a ele, pois a carência que sentia só podia ser suprida com o esperma quente de um macho. Na terceira, quarta e quinta vez eu não abri mais as pernas. Tinha compreendido que ele não vinha atrás de mim por uma preocupação com a minha pessoa. Porém, ele vinha por causa do meu cuzinho. A carona que ele tão gentilmente me ofereceu já havia sido paga. Essa certeza me fez recusar seu assédio. Ele nunca mais me procurou.
- As clientes te amam, como você já deve estar cansado de saber. Você já pensou em fazer um curso para aprender a cortar e tratar o cabelo das clientes? Não é complicado e, você pode ganhar bem mais do que agora, o que acha, mon petit garçon? – perguntou-me madame Jeanine que, de uns tempos para cá vinha caíndo de amores por mim.
- Eu tenho muito interesse, até já andei pesquisando um curso, mas o horário não é compatível com o meu. Fico olhando como o Fernandinho e o Glauco trabalham e, ando praticando na minha prima e nas vizinhas. – respondi.
- Pois esta semana mesmo eu vou fazer uma reserva para a próxima turma. Vou dispensá-lo para que possa fazer o curso. As clientes estão me cobrando isso faz tempo. – retorquiu a Jeanine. Fiquei imensamente grato e, o beijinho que tasquei nas bochechas dela deixaram seus olhos marejados. – Oh! Vous et un diablotin salaud!
Quando o curso começou, caí na besteira de contar para o Roberto, motivado talvez pela oportunidade de crescer dentro do salão e, por que, há algum tempo, eu vinha me abrindo com ele. A reação dele me surpreendeu. Ele baixou e balançou a cabeça de um lado para o outro e riu.
- Eu disse alguma coisa engraçada?
- Não! É que é um serviço meio estranho para um homem. É coisa de boiola, não é não? – questionou, mantendo o risinho debochado.
- É, eu acho que é. Os dois caras que trabalham no salão são gays. – respondi. Ele me encarou sério.
- Você... – ele baixou a cabeça novamente e coçou o joelho, sem saber se concluía a pergunta ou onde enfiava as mãos.
- Se deitar e transar com outro cara é ser gay, eu sou sim. – respondi, encarando-o.
- Não parece! Tá certo que você é muito bonito e não tem aquele jeitão de macho, mas eu não pensei que fosse... – ele tinha dificuldade de pronunciar a palavra na minha frente.
- Você podia não ter certeza, mas faz tempo que você desconfiava, não é?
- Não sou muito bom em levar esse tipo de papo. – retrucou embaraçado.
- Beleza! Não vamos mais conversar sobre isso. Quem sabe depois do que te contei, nem conversar mais comigo você queira. – afirmei.
- Não! Eu gosto muito de conversar com você, acho nosso papo bem legal. Não quero terminar nossa amizade. – assegurou.
- Ok, então! Vamos mudar de assunto.
- Esse negócio de transar com outros caras, como foi que você fez? Quem eram esses caras? – o assunto o instigava ou, pelo menos, tinha despertado a curiosidade dele em saber que tipo de sujeito eu era para fazer isso.
- Acho melhor a gente não falar mais sobre isso. Não vou expor a minha vida e os meus problemas para alguém que não consiga aceitar certas coisas. Você vai acabar achando que sou um depravado, uma aberração ou, qualquer coisa desse tipo. – sentenciei.
-Jamais pensaria isso de você. Eu... eu te acho lindo! Mas, não sou veado. – afirmou.
- Eu sei que não é. – afiancei, abrindo um sorriso tímido na direção dele.
- Você me atrai! – sua afirmação pareceu mais um resmungo.
- Se você não gosta de veados, como posso te atrair? É meio confusa essa sua cabeça, não é não? – questionei.
- Sei lá! Eu só sei que gosto de ficar ao seu lado, gosto de olhar para você, acho seu corpo demais, você tem um cheiro que mexe comigo, essas coisas!
- Eu também gosto de ficar ao seu lado. E, já que você tocou no assunto, eu também acho seu corpo lindo, esses musculões e esse peitão peludo me dão um calor. – confessei, eu dei uma risadinha para disfarçar o nervosismo.
- Nunca percebi que você ficava me secando. Ou, você só está falando isso por que começamos a ter esse papo? – questionou.
- Eu jamais ia ficar te secando ou dando bandeira. Nem precisa, pois basta uma olhadinha para perceber tudo isso que eu falei. – respondi.
- Deu para perceber que eu não sou nada sutil, não é? Eu sou meio bronco, só terminei o ensino médio por que não gostava de estudar quando era garoto, agora vejo que foi uma puta besteira. Mas, estou aqui tocando a vida. – ele parecia estar se desculpando de alguma coisa.
- Eu também só concluí o ensino médio, precisei ajudar no sítio e não sobrava grana lá em casa para a gente pensar em ir para uma faculdade. – retorqui.
- Mas você é um cara educado, sabe conversar direito, conhece muita coisa. – afirmou.
- E sou veado! Para você ver com as coisas são. – concluí
- Desculpe pelo jeito que eu falei, eu não quis te ofender, juro. – revidou arrependido.
- Não ofendeu. Você só constatou uma verdade.
- Eu sei que você ficou aborrecido comigo, desculpe! Eu não gostaria que você ficasse zangado comigo, gosto muito de você para ficarmos estremecidos.
- Engano seu, não estou aborrecido nem zangado com você.
- Prometa que não vai me achar um sem-vergonha, nem um cafajeste, mas, depois dessa nossa conversa, eu queria te dizer que sinto um puta tesão toda vez que vejo essa sua bundinha. Cara, não consigo evitar, é mais forte do que aquilo que eu penso. – confessou.
- Pois essa é uma questão que você precisa resolver consigo mesmo. Não vou ser eu quem vai te dizer se isso é bom ou ruim, se está certo ou se está errado. Essas respostas você mesmo vai ter que encontrar. – sentenciei.
- É, eu sei. Nem é uma questão de ser bom ou ruim, certo ou errado, eu sinto tesão e gosto de sentir esse tesão. A questão é que não sei o que fazer com você. Se fosse uma mulher eu já tinha te pegado de jeito. – afirmou, fazendo um gracejo comedido.
- Pois é, não sou! Para você ver como as coisas acontecem, a gente se liga em alguém sem que saibamos o porquê, sem que a razão consiga explicar o que o coração sente. Simplesmente acontece. – retruquei.
- Quero te pedir uma coisa, posso? – inquiriu encabulado.
- Se estiver ao meu alcance e não for nenhum absurdo, tudo bem. – respondi
- Não se afaste de mim. – havia uma repentina tristeza em seu olhar.
- Você está sempre por aqui com o Juvenal, a gente vai se ver toda hora. – afirmei.
- Não foi isso que eu quis dizer. Eu não quero que você desista de mim. – ele pegou minha mão e a apertou entre as dele. Eu estremeci quando seu olhar penetrou fundo no meu. Dei um sorriso bobo.
Nada mudou por quase um ano, à exceção do meu trabalho. Concluído o curso de cabeleireiro, a Jeanine deu-me a oportunidade de atender as clientes que há tempos queriam meus serviços. Do ponto de vista econômico foi muito compensador. A Lucinda e o Juvenal não quiseram que eu me mudasse quando anunciei que pretendia alugar um cantinho só meu. Como não tinham filhos, haviam se afeiçoado a mim, embora não tivessem idade para ser meus pais. O Saulo continuava a frequentar a casa apesar de ele e o Juvenal terem terminado as obras de ampliação. O único parente dele que deixara o interior paulista, um primo, morava com a família em Osasco, no outro extremo da cidade. Por isso, ele raramente o visitava. O Juvenal tinha se transformado numa espécie de irmão mais velho e, os dois se davam muito bem, tanto no trabalho, que estava melhorando substancialmente suas condições de vida, quanto no relacionamento interpessoal, tornando-os confidentes.
Depois daquela conversa com o Saulo eu não desistira dele. Não pelo pedido em si, mas por que estava gostando cada vez mais dele. No entanto, havia perdido as esperanças de um dia termos algum relacionamento, nem sexual e, muito menos afetivo. Nem todo heterossexual é como o Edivan ou o Sebastião, que se sentem atraídos tanto por mulheres quanto por homens e, são capazes de se relacionar emocional e fisicamente com os dois sexos. O Saulo continuava a me olhar com tesão, dava para notar isso quando estávamos juntos, mas relutava em aceitar o que estava sentindo.
Numa conversa que tive com a Lucinda, resolvi me abrir e contar o real motivo da minha vinda para São Paulo, isso depois de ele comentar que eu devia arranjar uma namorada, que duas garotas que moravam na mesma rua já tinham comentado com ela como eu era bonito e charmoso e estavam interessadas querendo saber se eu tinha namorada.
- Se depois do que te contei você não quiser que eu fique mais aqui, morando com vocês, vou entender. – afirmei, após ter contado toda a história, inclusive que tinha me afeiçoado ao meu meio irmão Edivan, numa espécie de paixão juvenil que acabou evoluindo para a junção carnal.
- Nossa! Que história! Eu não imaginava que o motivo da briga com seu pai fosse algo desse tipo. – revelou aturdida.
- Pois foi! Não fizemos nada intencionalmente, tudo foi acontecendo de forma gradual, quando demos por nós, estávamos apaixonados, e aconteceu. – resumi.
- O Juvenal comentou comigo que o Saulo está arrastando um bonde por sua causa. Eu e ele já conversamos sobre isso algumas vezes, pois não dá para não notar a troca de olhares entre vocês. Você está a fim dele? – questionou.
- Acho-o um cara interessante, mas não rolou e nem vai rolar nada entre nós. Pode até ser que ele se interesse por algum aspecto físico meu, porém, é só isso. Eu quero alguém que goste de mim de verdade, não da minha bunda. Você deve saber como são esses caras, querem trepar, mas não querem assumir um relacionamento. – respondi.
- É bem por aí.
- Então, vou procurar novamente um lugar para ficar, talvez mais perto do trabalho, pois é uma barra enfrentar esse trajeto todos os dias. Só peço a você e ao Juvenal que me deem um tempo até conseguir algo legal. Assim vocês não precisam se preocupar com a opinião ou comentários de vizinhos e nem conviver comigo. – pedi.
- Não foi por que fiquei sabendo de tudo que as coisas mudaram entre nós. Gostaria que você continuasse a morar conosco, é bem legal ter você aqui. Quanto aos vizinhos ou qualquer outro nem pense nisso. Aliás, tem mais mulherada interessada em você do que você pode imaginar. – disse rindo.
- Mas o Juvenal pode não ter a mesma opinião quando souber da verdade. As pessoas têm dificuldade para aceitar certas coisas. Como eu disse, vou entender se quiserem que eu me mude.
- Pois fique sabendo que o Juvenal já teve um caso com um primo. O safado pensa que eu não sei de nada, no entanto, quando a gente namorava, uma tia dele me contou tudo. Homem é bicho safado, não pode ver um buraquinho que já quer botar aquele troço deles dentro. – afirmou rindo. – Além disso, ele está botando pilha no Saulo. Já o flagrei dando uns conselhos bem machistas para o Saulo, a seu respeito. Fique! Não volte mais a falar em se mudar que eu fico com o coração apertado. – disse, me abraçando emocionada.
Ao lado da casa do Juvenal e da Lucinda havia um terreno à venda, desde que me mudei para lá. De repente, começamos a notar uma movimentação e a retirada de inúmeras placas de imobiliárias que estavam presas no muro. Um casal de meia idade com dois filhos na casa dos vinte e poucos anos adquiriu o lote e procurou o Juvenal e o Saulo para construírem a casa. Iniciadas as obras, eles sempre estavam por lá. O filho mais velho, Miguel, era um pedaço de mau caminho. Na primeira vez que nos vimos, seu olhar penetrante e aguçado me fez sentir um calafrio percorrendo minha espinha. Ele começou a vir à obra junto com o pai e, toda vez, perguntava por mim, achando que eu era um irmão mais novo do Juvenal ou da Lucinda. Num sábado, ele e o pai chegaram à obra bastante cedo, o Juvenal nem havia terminado de tomar seu café e, eu me preparava para encarar mais um dia de muito trabalho no salão. Sem perder tempo e a oportunidade, o Miguel me ofereceu uma carona até onde eu quisesse. Assim que eu estava entrando no carro, o Saulo apareceu. Ele já tinha torcido a cara para os sorrisos e os papinhos que o Miguel levava comigo, porém, ver-me entrando no carro dele transfigurou seu semblante como eu jamais tinha visto. Pensei comigo mesmo, de que adianta fazer essa cara agora se, quando todas as chances estavam ao seu favor, você nunca pensou em mim como eu gostaria. O Miguel estava mexendo muito comigo, talvez fosse o caso de eu ver onde isso podia chegar. O melhor de tudo é que, com o Miguel, havia um retorno como nunca houve com o Saulo.
As caronas que a princípio eram espaçadas e só cobriam um trajeto de alguns quarteirões até a estação do metrô, foram aumentando tanto na frequência quanto no trajeto. Quase todas as manhãs, com o pretexto de averiguar o andamento das obras, o Miguel vinha me buscar e me deixava na porta do salão.
- Jesus me abana! Que homem é esse? – suspirava o Fernandinho, quando o Miguel me dava um beijo disfarçado no pescoço enquanto fingia me abraçar ao nos despedirmos na porta do salão.
- Na minha horta não chove um bofe desses! – exclamava o Glauco, fazendo coro aos suspiros do Fernandinho.
Na antevéspera de um feriadão, quando o Juvenal e a Lucinda foram passar uns dias na praia, na casa de uns amigos e eu ia ficar sozinho em casa, o Saulo se desentendeu com o Miguel. Tudo teria começado com uma crítica ao trabalho que o Saulo estava tocando. Ele, que já andava com o Miguel atravessado na garganta, revidou e mandou-o se foder. O Miguel que não suportava aquela cara desafiadora que o Saulo lhe lançava toda vez que eu entrava no carro dele, não deixou por menos e o mandou a puta que o pariu. As porradas começaram antes que alguém conseguisse intervir e, quando os outros funcionários do Juvenal e do Saulo conseguiram apartar a briga, já havia camisas rasgadas, sangue na boca de um e no nariz do outro e, muito suor cobrindo aqueles corpos titânicos. Eu escutei a gritaria de casa e, ao identificar as vozes altercadas de ambos, desconfiei do motivo daquela discussão. Não se tratava de algo que o Saulo não tivesse feito com capricho, pois esse era seu jeito de trabalhar. Tratava-se, na verdade, em qual dos dois machos mijava mais longe. Um puro exibicionismo de dominância.
Eu levei o Miguel para dentro de casa e cuidei de seus machucados, acabei chegando tarde ao salão naquele dia e estava com o Saulo entalado na garganta.
Na manhã do dia seguinte fiquei feliz por poder continuar dormindo até mais tarde, havia tempos que andava exausto, por isso também tinha declinado do convite para acompanhar o Juvenal e a Lucinda até a praia. Eu tinha me espreguiçado e voltado a enfiar a cara no travesseiro quando escutei alguém esmurrando a porta da frente. Trôpego, sonolento e vestindo um short curto fui destrancá-la, um Saulo carrancudo estava encostado ao batente.
- O que faz aqui há essas horas? Você sabe que o Juvenal não está. – resmunguei chateado.
- Você está dando o cu para aquele sujeito? – rosnou ele em resposta.
- Saia da minha frente! Quem você pensa que é para exigir uma explicação da minha parte? Você acha que eu sou como uma dessas vadias que você anda pegando por aí? Vai embora Saulo, estou falando sério! – revidei encolerizado.
- Não vou, não! Temos que conversar. E vai ser agora! – respondeu, passando pela porta e quase me levando consigo, ignorando meu protesto.
- Eu não vou conversar com você só por que essa é a sua vontade. E, muito menos sobre esse assunto. Isso não lhe diz respeito. – retruquei. Ele me pegou pelo braço e me arrastou até o sofá, obrigando-me a sentar ao seu lado.
- Eu não quero que você se envolva com aquele cara! Eu não te disse que gostava de você? – subitamente suas palavras se tornaram menos impositivas e agressivas.
- Numa boa, Saulo. Você tem suas convicções, seu modo de vida e, você já percebeu que não vai existir um você e eu numa relação que não seja de amizade. Só que eu quero alguém para compartilhar a vida, e o Miguel é um cara muito legal. Não sei se vai ser com ele que vou compartilhar meus dias, mas com certeza vai ser alguém como ele. – eu procurava deixar claro que já não nutria nenhuma esperança em relação ele.
- Você desistiu de mim! – balbuciou entristecido.
- Acho que sim. Você não quer e não vai mudar sua postura. A vida passa e eu não pretendo deixar a minha passar sem a chance de viver um amor verdadeiro. – respondi.
- Eu amo você! – disse ele, pela primeira vez e com toda a sinceridade.
- Pode até ser, mas você não sabe o que fazer com seus sentimentos. Canalize-os para uma garota legal, case-se com ela e tenha filhos. Você vai ser feliz. E, para mim que gosto muito de você é tudo que eu te desejo. – eu segurei uma de suas mãos entre as minhas e a acariciei.
- Eu quero você! Minha felicidade está ao seu lado. – afirmou, fixando seu olhar no meu.
No mesmo instante ele se inclinou sobre mim e deitou meu tronco no sofá. Senti os lábios inseguros dele tocando os meus, estremeci todo. Quando comecei a retribuir o beijo, ele me apertou com mais força e me puxou para junto dele, bruto e decidido. A língua dele me penetrou e, quando nossas salivas se mesclaram, o tesão que se apoderou dele deixou de ser racional. Pela fenda do meu short entrou uma daquelas mãos calejadas e ásperas, rumando em direção às minhas nádegas. Parecia que estavam passando uma lixa sobre a minha pele, eu gemi excitado. Os biquinhos dos meus mamilos afloraram como se fossem periscópios emergindo das águas. Ele se sentiu atraído por essa demonstração libertina. A mão que estava nas minhas costas dirigiu-se avidamente para eles. Agora, uma lixava meus glúteos e a outra lixava meu mamilo, eu estava me perdendo na sensualidade daqueles toques. Desde minha viagem para São Paulo eu não sabia o que era ser tocado novamente por um macho. Meu corpo parecia querer entrar em convulsão. Eu segurei a cabeça do Saulo entre as mãos e ergui meu tronco para que meus mamilos chegassem a sua boca. Ele os lambeu e chupou lenta e demoradamente. Eu gemia. Enfiei meus dedos na cabeleira dele e o aninhei em meu peito. Ele não estava tanto carinho e receptividade de outro homem. Enquanto me mordiscava os biquinhos, arrancou meu short. A bunda pela qual ele estava seduzido há tempos, não só estava completamente nua e exposta a seu olhar aquilino como estava ao alcance de suas mãos predadoras. A mordida nas minhas carnes rijas foi tão intensa, que soltei um – aiiii – longo e devasso. Amassando as nádegas como se fosse massa de pão, ele as apartou. O reguinho profundo e estreito, imaculadamente liso e branquinho, escondia um diminuto ponto rosado, circundado por preguinhas frágeis. Em nada aquilo se parecia com os cus das vadias que ele tinha pego, amarronzados e largos. Aquele cuzinho piscando de desejo tinha que ser dele, pensou consigo mesmo. Soltei um gritinho quando os pelos de sua barba espetaram a pele do meu rego e sua língua úmida tocou na minha rosquinha. Eu estava com tanto tesão que rebolava e empinava a bundinha na direção daquela língua sedenta. Ele me conteve com uma força desmesurada, bruta até, sob a forma de um tapa com sua mão pesada. Se eu não fosse capaz de fazê-lo sentir a brandura dos meus afagos, ele ia me foder como fodia as putas que pegava na rua. Girei meu corpo e voltei a beijá-lo com ternura e delicadeza, aquilo o desestabilizava. Ele ficava entre a necessidade primal de seus instintos e a sensualidade carinhosa dos meus mimos sutis, ambos enchiam-no de tesão. Ergui a camiseta dele enfiando minhas mãos em seu peito, até tirá-la pela cabeça. Beijei repetida, suave e provocadoramente aquele torso másculo e potente. Ele se entregou lascivo e generoso. A verga estava absurdamente definida debaixo do jeans numa ereção que já o incomodava. À medida que meus beijos desciam por seu umbigo peludo ele desabotoou e baixou apressadamente o zíper do jeans. Penetrei meus dedos na braguilha aberta e baixei a cueca. A jeba escapuliu num salto espetacular, fazendo com que o pré-gozo espirrasse no meu rosto. O cheiro viril de macho excitado invadiu minhas narinas e eu coloquei o pauzão na boca. Nunca tinha visto uma rola tão grande e, particularmente, grossa. Uma mente obstruída pelo instinto carnal é incapaz de avaliar os perigos. Era exatamente isso que estava acontecendo comigo quando caí de boca sobre aquele troço imenso, lambendo, chupando o sumo cheiroso que fluía profícuo, e instigando aquele macho com meus afagos pecaminosos. Quase fiz o Saulo gozar na minha boca, ele se conteve sacando a rola abruptamente.
- Caralho! Por pouco não te faço tomar meu leitinho. – grunhiu tarado.
Ele me empurrou contra um dos braços do sofá de modo que eu não pudesse escapulir. Abriu minhas pernas e se enfiou entre elas. Apontou a pica contra meu buraquinho e meteu em mim. Eu gritei enquanto ele me rasgava todo.
- Aiiii Saulo! Para, para! Você está me machucando! – berrei desesperado, enquanto ele continuava a enfiar aquele troço imenso nas minhas entranhas.
Meus músculos anais apertavam tanto a pica dele como ele jamais tinha sido apertado antes. O tesão virou loucura.
- Eu sou um fodedor! Quando fodo, fodo para caralho. – grunhiu tomado por um delírio devastador.
- Ai Saulo! Eu não sou como as vadias que você está acostumado a foder. Meu cuzinho não está dando conta dessa pica enorme. Para, para, por favor. – eu gritava aflito, procurando preservar minha integridade ou, o que houvesse restado dela.
Quando viu minhas lágrimas brotando nos cantos dos olhos ele abrandou a pegada e parou de estocar meu rabo. Eu respirava com dificuldade. Minha pelve retesada doía pungentemente. O cacetão pulsava nas minhas entranhas, indomado e ávido. Ele nunca havia transado com alguém a quem não visse como um mero objeto sexual, alguém a quem, de alguma forma, houvesse pago para ter o direito de foder como bem lhe aprouvesse, alguém a quem nunca mais viria após ter se saciado. Quem estava gemendo e brandindo debaixo de seu corpanzil nesse momento era alguém por quem ele nutria sentimentos ambíguos. Porém, ele sabia que, quem estava ali, não era alguém descartável, era alguém a quem ele queria proteger, de quem queria cuidar, em quem queria se aninhar. Eu senti sua angústia naquele olhar perdido. Puxei seu rosto para perto da minha boca e o beijei carinhosamente. Quando a dor o permitiu, eu comecei a contrair ritmicamente meus músculos anais, prendendo o caralhão dentro de mim e estimulando-o a se movimentar cuidadosa e cadenciadamente no meu cu. Ergui meus quadris de encontro a sua virilha, o que fazia o caralhão deslizar para dentro de mim. Pela primeira vez ele percebeu que estava dando prazer ao mesmo tempo em que o recebia. Aquilo que estava acontecendo não era uma foda egoísta, era uma troca sublime. Ele delirava de prazer. Eu gemia num tesão desumano, agasalhando aquela jeba descomunal. Assim que a língua dele voltou a penetrar minha boca eu comecei a gozar, esporrei toda minha barriga. Ele movia a pelve num vaivém torturantemente prazeroso, sentindo minha mucosa anal massagear seu falo sedento. A pele da cabeçorra estava tão sensível que fazia subir uma onda dolorosa por sua espinha. Seus músculos começaram a se retesar, o vaivém foi se transformando em estocadas secas. Eu voltei a ganir plangentemente. Fixando seu olhar no meu, ele soltou um som rouco que brotou prazeroso do fundo de seu peito, fazendo-o estremecer e ejacular. Pelo menos dez jatos de porra quente inundaram meu cuzinho. Eu sentia o creme pegajoso aderindo nas minhas entranhas e chorei de prazer.
- Que porra foi essa? Eu pensava que sabia foder, mas você acaba de me ensinar o que é uma foda de verdade. Nunca senti tanto prazer na vida! – rosnou, me apertando em seus braços enquanto eu continuava aninhando sua rola na maciez tépida do meu ânus e, afagava seu rosto suado.
- A minha perdição é te amar tanto assim. Você é um bruto! Se eu pudesse mandar no meu coração não teria me entregado para você. Estou todo arregaçado. – gemi exausto e, ainda mais apaixonado, agora que toda a masculinidade daquele macho estava entranhada em mim.
- Eu amo você, seu boiolinha tesudo! Eu te avisei que era um bronco. – grunhiu, cobrindo-me de beijos como forma de se penitenciar pelo flagelo que me havia feito passar.
- Mas, não precisava me tratar como se eu fosse um saco de cimento! Um pouco de sutileza não ia te fazer mal. – exclamei, aceitando sua explicação como se fosse um pedido de desculpas enviesado.
- Esse troço de sutileza é coisa de veado. Macho é grosseiro mesmo ou, não é macho. – retrucou ele, embora no momento estivesse me acariciando com uma delicadeza ímpar.
- Estou vendo que preciso fazer você rever uma porção de conceitos nessa sua cabecinha machista. – balbuciei, entregando-me a seus afagos.
Ele acabou passando todo feriadão comigo. Como morava numa pensão, ficar ao meu lado naquela casa todinha a nossa disposição, significou voltar a sentir que tinha um lugar em comum com alguém que amava. Um saudosismo dos tempos em que morava com os pais no interior tomou conta dele. Eu percebi isso por ele começar a me contar uma porção de coisas que aconteceram com ele naquele tempo. Eu me diverti com as coisas engraçadas que ele contou e, acariciei seu rosto apertando-o contra meu peito quando relatou algum episódio triste.
- Quero morar com você! – exclamou, de supetão, erguendo meu queixo para que eu o encarasse.
- Não tenho a menor vontade de me mudar para aquela pensão onde você mora. – devolvi, lembrando-me de uma ocasião em que fui levar um recado do Juvenal para ele e, constatado como era a pensão era esquisita.
- Lá não, claro! Pensa que quero você circulando no meio daquele montão de machos tarados para encontrar onde enfiar os cacetes que não veem uma xana há tempos? Nem pensar! Eu quero você só para mim. Eu sou seu macho agora. – declarou enfático.
- Ah, é? Não me diga! Quer dizer que bastou botar esse pirocão em mim para se sentir dono do pedaço! – retruquei, com um sorriso benevolente.
- É isso aí! É bom você ficar sabendo que território marcado é território conquistado, entendeu meu boiolinha safado? – rosnou.
- Não vá pensando que, por eu ser passivo, vou deixar que você faça o que bem entender comigo. Ficar com você é uma escolha minha e não uma imposição sua. Uma vez que estamos deixando tudo em pratos limpos, é bom você saber também que esse seu geniozinho enfezado precisa mudar. – declarei, sem rodeios.
- Veremos! – exclamou desafiador. – Talvez eu faça algumas concessões, se você se comportar direitinho e, continuar a ser tão gostoso como foi há pouco. – declarou. No fundo eu sabia que ele queria mudar por mim. O próprio fato de termos tido aquela relação sexual tinha sido uma superação de conflitos para ele, mesmo assim, ela aconteceu e foi maravilhosa. Havia na expressão dele uma certeza de que teria outras experiências maravilhosas se, se desse a chance de compartilha-las comigo, um boiolinha, como dizia carinhosamente, para amenizar o fato de estar apaixonado por outro homem.
Naquele feriadão eu também revelei a ele o meu passado. Queria que ele soubesse que a experiência que eu tinha demonstrado durante a nossa transa não era fruto de nenhuma devassidão, mas de sentimentos afetuosos. Eu notei que sua mente se desanuviou, afastando inúmeras suposições que ele havia imaginado.
- Agora você sabe quem foram os outros únicos caras com quem me deitei. – revelei.
- Obrigado por me contar! Naquele dia que te cobrei uma explicação eu estava de cabeça quente. Você tem o dom de me tirar de sério! É foda gostar tanto assim de alguém. Qualquer coisinha e, a gente já começa a imaginar besteira. Quando vi você com o Miguel e ele com aquele olhar de bagre faminto em cima de você, fiquei puto. – afirmou constrangido.
- O Miguel nunca me tocou. Para azar dele eu estava caidinho por um bronco. – disse, sorrindo para ele. Ele ficou cheio de si e devolveu um sorriso maroto.
O Saulo e eu tínhamos assumido nossa relação muito discretamente. Demorou um bom tempo para que o Juvenal e a Lucinda tivessem a confirmação do que rolava concretamente entre nós. Isso só aconteceu por que o Saulo não se continha e cismava de me dar uns amassos achando que ninguém estava vendo e, me roubar uns beijos ardentes entre vãos de paredes e cantos escurinhos. Quando o tesão ficava incontrolável, o carro dele virava uma espécie de garçonnière, um cafofo onde aplacávamos nossos desejos libidinosos. Outras vezes, seguíamos para um motel e passávamos a noite esvaindo nossos corpos em luxúria.
Numa tarde de verão, depois de a chuva torrencial ter instalado o caos no trânsito, o Saulo me esperava na saída do trabalho. No trajeto para casa percebi que ele se desviou do caminho. Quando o questionei para onde estávamos indo, ele embromou e fez mistério. Acabou estacionando diante de uma casinha muito antiga, caindo aos pedaços, numa rua residencial entre o Alto da Mooca e a Vila Prudente, bairros bem mais próximos do centro da cidade.
- Você e o Juvenal vão reformar essa casa? Pegaram outro serviço? – perguntei, depois de ele me fazer descer do carro e começar a empurrar um portão de ferro emperrado. – Não me parece que isso ainda tem jeito. Está tudo em ruínas!
- É aqui que quero morar com você! – exclamou, virando-se na minha direção para ver minha reação.
- Esse telhado vai cair nas nossas cabeças na primeira semana. Ninguém consegue morar aqui. – exclamei. Meu coração palpitava agitado sem ter me pedido permissão para isso.
- Vou demolir tudo e construir uma novinha em folha, só para você! – revelou. Comecei a chorar.
- Isso vai sair uma fortuna! – exclamei, como se não quisesse acreditar que aquela possibilidade era algo real.
- Tenho minhas economias. O Juvenal vai me ajudar, como eu o ajudei no término da casa dele. Ficaremos quites. – ele falava pausadamente, como se estivesse verbalizando seus pensamentos.
- Eu também tenho minhas economias, posso te ajudar. – afirmei, meu coração disparara.
- O macho aqui sou eu! Sei que o mundo está cheio de modernidades, mas comigo essas são questões cruciais. Sou eu quem vai sustentar o cuzinho que como. Nesse aspecto não tem modernidade nenhuma, está entendendo? – retrucou, sério e determinado.
- Mandão! Só dependi de um homem na vida, meu pai. Quando ele me botou para correr, jurei que nunca mais iria depender de alguém. – revidei.
- Pois comigo é assim! Você pode ter seu trabalho e fazer o que quiser com a sua grana. Mas, serei eu a sustentar a casa. A nossa casa e você! – determinou, fazendo um charminho para amenizar sua imposição.
- Isso tudo é para provar que é meu macho? – questionei petulante.
- Não. Para te provar que sou seu macho eu tenho outros métodos. – disse, me puxando para junto dele e agarrando impudicamente uma das minhas nádegas. – Quer que eu te mostre?
- Quero. – sussurrei em seu ouvido, lambendo a seguir seu pescoço. Instantes depois eu estava debruçado de quatro sobre o que outrora tinha sido uma mesa, levando o cacetão do Saulo no cu entre gemidos de tesão, enquanto a mesa balançava no ritmo das estocadas firmes dele e, se esfacelava sob o peso do meu corpo.
Mudamo-nos na semana do Natal daquele ano para o sobradinho charmoso que o Saulo e Juvenal construíram. Eu nunca tinha sido tão feliz em toda minha vida. Aprendi a amar aquele homem apesar de suas turrices. Elas estavam diminuindo gradualmente e, eu tinha aprendido a ligar com as que persistiam.

Foto 1 do Conto erotico: Do jeito que o diabo gosta - A paixão

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Ficha do conto

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Nome do conto:
Do jeito que o diabo gosta - A paixão

Codigo do conto:
114215

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
09/03/2018

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