Laurinho era um rapaz discreto, reservado e, poderíamos dizer, até mesmo arredio. Íamos juntos ao colégio, mas era possível afirmar que nunca estávamos juntos. Apesar de tudo isso, ele me olhava com reiterada frequência, apenas tirando seus olhos de cima de mim quando eu o encarava. Sentava-se a duas carteira do lado esquerdo da minha, na mesma linha. Certo dia, puto da cara com o jeito que aquele rapaz me olhava, perguntei-lhe se ele achava que eu era veado para me secar do jeito que me secava, o tempo todo com seus olhos para cima de mim. Finalmente o Laurinho falou, para dizer que não tinha opinião formada a respeito, mas que se eu fosse veado, ele teria imenso prazer de “namorar” comigo. Claro que eu sabia da minha condição de alma feminina em corpo errado, e ouvir o que ouvi do Laurinho, sinceramente, mexeu com tudo o que existia no meu emocional. Um misto de raiva e de tesão pelo garoto se instalaram em mim. Eu fazia tudo para parecer um machão delirante, grosseiro, cheio de testosterona, e logo o Laurinho, aquele garoto que todo mundo achava que tinha até vergonha de falar com as pessoas de fora do seu círculo familiar, havia não só percebido o meu drama como gostava de mim e ainda me deu uma cantada sutil. Aquele foi um dia difícil. Dramático até, dá para dizer. Na manhã seguinte, encontrei Laurinho encostado no portão do colégio, com jeito de quem não queria nada com a vida. Aproximei-me e disse que gostaria de lhe falar uma coisa muito séria. Ele assentiu plenamente em me ouvir. Sem rodeios, fui logo ao assunto do dia anterior e me abri para o garoto, informando-lhe que suas palavras haviam mexido profundamente comigo, que se eu escondia ser veado, como ele havia aludido, nada impedia que eu de fato fosse um, e que namorar com ele, Laurinho, era, sim, uma boa. Que o seu jeito estranho me atraia profundamente, e que muitas foram as noites que eu já sonhado estar nos braços dele, sendo não só o seu veado, mas muito mais que isso, a sua mulherzinha. Sim, Laurinho, por mais que eu me parasse de machão o tempo todo, eu tinha um Ser Feminino dentro de mim, e ele, Laurinho, na sua sensibilidade havia percebido essa minha condição. Eu ainda não completara 18 anos mas já era emancipado, tinha minha renda e me sustentava, de modo que poderia muito bem sair do armário e namorar com o Laurinho, Eu gostava dele, do seu jeito, do seu rosto, da sua voz e dos seus traços suaves, porém não efeminados. Eu queria um macho para mim, e pelos meus padrões ele muito bem poderia ser esse macho. Eu topava namorar com ele, mas gostaria que primeiro a gente se conhecesse melhor, para daí então irmos às vias de fato e nos darmos ao sexo. Pedi a ele que passasse a me tratar pelo nome social por mim escolhido, de Martina. Completei o papo contando-lhe que eu tinha certeza de ser alma de mulher mal posta em corpo de homem. Eu não tinha genitália de mulher, mas tinha certeza que na cama reagiria como mulher. Propus a ele um período de três meses de namoro, em que ele me trataria como mulher, e que então poderíamos viver intensa troca de carícias. Laurinho também achou fantástico eu me vestir de mulher para ele, destacando minha natureza feminina também na indumentária do namoro. Ao final do estágio, se a vontade mútua persistisse, passaríamos então a viver nosso caso em sua plenitude. Foram noventa dias de muita sacanagem, mas nenhuma penetração, conforme o combinado. O Laurinho com quem eu namorei nos últimos três meses era um moço completamente diferente daquele da minha impressão de lá de trás sobre ele. Equilibrado, carinhoso, ciente de onde queria chegar e do que esperava de nosso relacionamento, ele me convenceu plenamente a ser sua mulherzinha dali em diante. Preparadíssimos para dar o passo final em nossa relação, marcamos data, local e ambiente para a primeira trepada. Laurinho me disse que estava absolutamente seguro que apesar do calote que a natureza aplicou em mim trazendo ao mundo uma mulher em corpo errado, era comigo que ele queria ficar. Eu pensava exatamente como ele: o futuro não nos pertencia e sequer podíamos avaliar se dali a um ano ainda estaríamos nos curtindo como durante o namoro. Portanto, importava viver o presente. E o presente que ele me deu para a primeira noite de sexo foi a melhor suíte do melhor motel da cidade. Isso no plano material, claro, porque o melhor de todos os presentes dele foi aquela noite em si, que passamos quase toda ela dando vazão a o que havíamos até então sublimado. Laurinho tirou o selo do meu traseiro com elogiável maestria. Quase nada senti de dor, apenas uma sensação indescritível de prazer geral. Seu mastro comprido e fino massageou-me a próstata de tal maneira que gozei fartamente sem precisar da mão. Enquanto ele esporeava dentro de mim, eu inundava o lençol da cama do motel com minha “baba clitoriana”. Nossa vida em comum era melhor do que tínhamos imaginado. Tanto eu como Laurinho nos bastávamos. Estávamos trabalhando em bons empregos, que nos davam o necessário conforto material. Vivíamos felizes em nossa condição de ser e em nosso relacionamento geral, incluindo-se aí também nossa intimidade, na qual eu me sentia realizada como fêmea daquele valoroso rapaz. Tudo foi muito bom enquanto durou. E durou exatamente cinco anos, ao cabo dos quais concluímos que nossa vibração de estarmos juntos tinha diminuído demais. Uma verdadeira fadiga de material, dizem os engenheiros. Decidimos nos separar e cada um tomar seu destino. Sem cobrança e sem exigências. Cada um de nós saiu da relação como nela entrou. Vinicius de Morais estava certo: o amor só é bom enquanto dura...