O Filho da Patroa da Minha Mãe - O Vencedor - Capítulo 22



O Vencedor

Capítulo 22

Outra vez, me desculpe pela longa ausência. Uma pessoa não pode sair ilesa ao revisitar os pormenores de sua vida. Algumas feridas que se acreditava cicatrizadas, simplesmente eclodem de volta, abertas e pútridas já. Ou ainda.

Fico fugindo de seguir te contando como que tentando evitar rever tudo o que reviro todos os dias. Tornar texto faz ganhar uma vida absolutamente maior do que meramente a vida que já tem, enorme, de ruminações. Toda essa delonga não é fruto de preguiça, falta de inspiração e ainda nem mais a dificuldade em conseguir um dispositivo pra escrever e publicar agora que fui solto. É como se pausar “A Paixão de Cristo” na cena da última ceia me pudesse poupar da carnificina toda, pudesse alterar o resultado da história.

Estou em liberdade desde outubro passado. Até agora ainda não consegui entender por que. Eu devia estar lá dentro, junto dos outros como eu.

Tenho trabalhado muito e tentado fugir de tudo o que aconteceu pra tentar evitar as crises, os acessos de choro, as mordidas profundas no interior das bochechas, com os olhos fechados, como se pudessem apagar o passado em agudeza de dor.

Mas não posso fugir mais. Preciso te contar, preciso dividir o fardo com você aí do outro lado, que talvez tenha vindo apenas se inspirar, nos convidando, a mim, Maurício e todos os outros para integrar o seu prazer, fazer parte do seu desejo e da sua satisfação.   

Peço desculpas se a história tomou este rumo tão distinto. E peço perdão a você que lê, mas eu mesmo que vivi não me dou perdão algum pelo rumo que minha história tomou.

O caso é que eu não tinha outra via para contar minha história senão através do erotismo. O desejo se fez o protagonista da minha vida e o sexo, parte grande de quem eu sou. Daí é que fui começar a dividir isso tudo com pessoas acostumadas a ler sexo, buscando, talvez, ser acolhido, menos julgamento.

E se mesmo assim, ciente de que muito pouco do que ler daqui pra frente vá te fazer gozar, você for generoso ao ponto de perdoar o tempo de crises que me impedem de atualizar a trajetória e quiser continuar aqui comigo, lá vou eu retomando de onde parei.

Eu resolvi não te levar a nenhuma de minhas aulas na faculdade já que não cheguei sequer a concluir o primeiro período. Não vi graça em te contar do que não foi pra frente. Não quero ficar lambendo as feridas de quem eu seria agora se tivesse concluído o curso, se tivesse feito escolhas diferentes, se tivesse sido outra pessoa. Nada disso faz sentido. O tempo não anda pra trás.

Mas quero, sim, te apresentar a um amigo que fiz lá e que foi a única visita que recebi, de tempos em tempos, lá no presídio.

Rodolfo, ou Dona Rod – o “o” aberto como se de acento agudo - como lhe chamavam os amigos com quem andava, colou do meu lado logo na nossa primeira aula. No começo, o achei bastante inconveniente, bicha chata, entrona, mas não precisei de muitos dias pra fechar com aquele ser esquisito, lânguido e mórbido que é o amor encarnado em pessoa.

"Nossa! Credo!" Rodolfo disse levando a mão à boca, apavorado quando, enfim, terminei de lhe contar a verdadeira tragédia grega que é a minha história com Maurício. "Mana, a senhora precisa de libertação. Esse bofe da senhora é uó. Não. Sem noção. Para tudo. Ai, amor próprio, agora, querida! Pelo amor. Quero provas."

Nós estávamos num bar perto do campus onde todo mundo (ou todos os fanfarrões) ia depois das aulas, ou durante as mesmas. Eu vinha sendo introduzido ao mundo da cerveja desde o dia em que tínhamos saído pela cidade coloridos de guache e de pires nas mãos.

"Pra você ver como sofro."

"Por que quer, né?"

"Como assim?"

"Como assim o quê, meu anjo?" Ele tomou um gole e bateu o copo cheio de decisão na mesa.

"Tá nessa porque quer, sim. Pode muito bem virar a página, aliás, o bofe já te fez esse favor. Tá tudo bem fácil."

"Não tem nada fácil nisso."

"Meu bem, tem sim. Tudo é mais fácil que ficar nesse ciclo maldito. Aceita e pronto. Sabe esse papo de desapego, aceita que dói menos? Isso tudo aí. Então, faz assim."

"Simples, assim?"

"Simples não é, né? Dói pra caralho, mas qual o outro jeito? Começa a trabalhar isso na sua cabeça, gata. Tem tanta gente por aí, menina. Eu, hein."

Muito sinceramente, eu cagava para cada um dos conselhos de Rodolfo no tocante a me libertar da razão porque eu respirava. Eu estava doente e era exatamente assim que eu queria estar. E apesar de bastante incomodado - incomodado de um jeito que só a verdade sabe deixar a gente -, era um alívio poder me abrir pra alguém. Eu não tinha nenhum amigo e tudo o que sofri a custa do meu sentimento por Maurício, sofri pra mim apenas, pra dentro. A única pessoa pra quem, até então, eu tinha podido contar da minha dor era aquela que a causava toda.

E era muito bom ter um amigo, sobretudo porque Rodolfo tinha sempre alguma coisa pra fazer, uma festa que ir e me arrastava junto. Logo conheci seus amigos, e posso dizer que iam se tornando também meus amigos. Nós passávamos horas juntos, dançando nas festas (Rodolfo me arranjara uma identidade falsa), no cinema, comendo ou apenas bebendo jogados no chão da casa de alguém tentando acertar as diretrizes do movimento artístico/filosófico que iríamos fundar.

Isso tudo me afastou um pouco do desenfreio sexual que se tinha apossado de mim. Só um pouco, porque eu já tinha me dado a alguns dos meus veteranos.

"Ninguém pode te fazer se sentir inferior sem o seu consentimento. Eleanor Roosevelt." Rodolfo continuava tagarelando sobre eu me livrar de Maurício.

"Eleanor Roosevelt?!" Perguntei com as mãos na cintura e os olhos semicerrados de descrença.

"Ai, Mia Thermopolis, okay?!"

"Quer pagar de culta." E ri.

"Não deixa de ser cultura, amor. Tá querendo o quê? Ai, sua vez." Disse apontando o casco vazio de cerveja na mesa.

Tomei a garrafa e me levantei, ligeiramente bamba, e fui na direção do bar. Sempre cheio, era difícil se fazer ouvir do balcão. Estava eu lá, todo paciente e comportado, esperando minha vez, quando um braço branquelo de pelos loiros passa por mim e se apoia na ponta do balcão. A respiração do dono do braço rente à minha nuca, me arrepiando, como sempre acontecia quando alguém fazia isso.

Ele não encostava em mim. Tomou o cuidado de não se mexer em nenhum momento. Só ficou lá parado como que me fechando, me trancando entre ele e o balcão. Eu permaneci igualmente imóvel, muito embora sentisse minha espinha derreter.

Quando, finalmente fui atendido, meio que me virei de lado olhando pro seu braço.

"Me dá licença."

"Passa." Ele disse e ao invés de remover o braço apontou o outro lado, onde meu caminho estava livre.

Petrifiquei aos seus olhos frios, lindos. Olhos de Maurício.

A garrafa gelada já queimava meus dedos quando ele voltou a falar:

"Tô te segurando?"


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Ficha do conto

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Nome do conto:
O Filho da Patroa da Minha Mãe - O Vencedor - Capítulo 22

Codigo do conto:
137833

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
28/04/2019

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