Loucas aventuras de Mano zord - !I



Capitulo - II

Apesar de seus 46 anos Mary Grant era uma mulher voluptuosa. Ela representava muito bem o papel de amiga dele, trocando confidências e acenos. As luzes piscavam. Muita gente naquela noite. Mas para ele ali, só ele e ela. Desfrutava de situações inoportunas pra provocá-la. Mexia seu corpo de forma diferente dos dias normais, para que ela lhe notasse, até os seus olhos se tocaram. Era como se fosse possível. O grau zero do desejo em estado bruto. Uma veia que pulsava. a respiração acelerava e o coração disparava. Todo o corpo sentia. Ouvia mais, cheirava mais, respirava fundo, em uníssono todo o corpo pulsava, como a veia e o sangue corria rápido e a boca fica seca e a sede prosseguia e não saciava. Porém ele queria muito mais que isso. De repente ela começou se despedir dos amigos e:
- Vamos, estou livre para voar em seus braços.
A partir daí começaram a sair juntos. Mano Zord era alto, forte, queixo quadrado e sobrancelhas grossas. Com barba de uma semana estava um homão. Todas as mulheres caíam aos seus pés. Com os olhos, Maninho constatou a beleza de Mary, com os braços pode senti-la através do abraço, com as mãos acariciou aquela divina, brilhante, majestosa e impetuosa carioca dos olhos tão belos. Ao som de samba enredo, seu coração batia descompassado. Acalorado ante aquela situação pediu dois drinques enquanto observava a decoração do lugar. As luzes eram de todas as cores e as mesas enfeitadas de branco e vermelho muito intenso. Ele a observava e achava belas suas pernas. Para ela, tudo fazia parte de uma atração. Concomitantemente os olhares dela iam sobre o peito do modelo que estava exposta pelo vão da gola da camisa. Era um peito malhado sexy e musculoso.” Delicioso, pensava ela... Magistralmente delicioso.” Tudo isso provocava um enorme tesão nos dois. Simultaneamente os lábios do casal se encontraram e o beijo... Já não podiam dar seguimento ali.

- Nossa... Como está mal cheirosa a Baia da Guanabara esta noite...
- Não é não... Fui eu que acabei de soltar um pum... Confessou sorrindo.
- Jesus Amado, como você é indiscreto. Nunca passei por isso na vida.
- É um problema nos intestinos que eu tenho desde criança. Na escola foi apelidado de Maninho Peidão . Isso sempre me acontece sem querer, entende?
- Não... Não entendo. O pior de tudo isso é passar pelo vexame de ou-vir explicações.
Na entrada do edifício, eles caminharam por um corredor amplo, decorado com aparadores de mogno e ladeado por poltronas estofadas de veludo em estilo Vitoriano. Arranjos de flores ornamentavam o ambiente. O porteiro abriu a porta do elevador para eles.
- Boa Noite, Senhora.
- Boa noite, José, respondeu Mary sem sorrir.
Na Avenida das Américas, ele teve consciência de que se tratava de uma cobertura duplex de 500 metros quadrados, elevador interno, quatro suítes e salão de festa. Edifício de frente pro mar na Barra da Tijuca. Bairro carioca de classe média alta esparramada num cenário deslumbrante, entre o mar, lagoas e montanhas da zona oeste da cidade. Ela destrancou a porta, deixou que ele a precedesse. Havia adornos cromados, muito vidro e couro preto na decoração do hall de entrada. Dois quadros originais de pintura contemporânea decoravam as paredes. O olhar dele correu pela vasta sala de estar, e pela sala de jantar, em ambiente aberto com uma mesa com tampo de vidro e lustre de ferro.
- Beleza de bairro! Disse Maninho surpreso.
- A Barra da Tijuca tem um clima de Miami. Qual é o problema? A gente tem que copiar o que é melhor, não acha?
- Acho... Respondeu ele boquiaberto com tanto luxo.
- Sabe Maninho, aqui todo mundo é rei de alguma coisa, enfatizou Mary.
- Não costumo ficar muito aqui. Este é um lugar no qual aproveito para tirar algumas horas de sono.
Atravessou a sala pegando-o pela mão:
- Venha, quero te mostrar uma coisa.
A caminho das portas duplas francesas, ela apertou um botão na parede, e uma melodia suave preencheu o ambiente. Após abrir a porta que dava para sacada, Maninho observou a vista panorâmica do Oceano Atlântico, boquiaberto. Milhões de pequenas luzes reluziam, delineando uma quantidade absurda de arranha-céus.
- Agora sei por que você vive aqui.
Mano Zord encostou-se na porta fechada com aquele sorriso brilhante, parecendo irresistível e perigoso. Ele ficava pensando no que poderia ele ouvir nos aparelhos sonoros caríssimo. Qual seria a seleção musical? Estava se sentindo um objeto do desejo e uma fonte de prazer. Em uma das confortáveis cadeiras da sacada, Mary colocou sua bolsa e caminhou até o peitoril gradeado.
- Estava louco para ficar sozinho contigo, confessou Maninho.
- Loucura é nada mais que o ápice do consentimento.
Naquela mini-saia Jeans Mary representava mais tentação do que qualquer homem poderia resistir. O cabelo estava cor de mel e reluzia, esvoaçando sob as luzes ambiente. Uma milionária chique esbanjando sensualidade. Ela percebeu a ereção claramente visível sob a calça dele. Ela rebolava numa dança extremamente sensual ao ritmo do samba. Seu corpo se movimentava pelo próprio prazer.
- Caraca! Você está divina! O que foi que você fez?
- Este é o meu estado natural, brincou ela.
- Soltei os cabelos, e comprei roupa mais jovem.
- Meu Deus! Você sabe como me deixar excitado, disse ele.
- Que bom. Porque eu estava mesmo tentando ser um pouco promíscua.
- Você está linda.
- Você acha mesmo? Perguntou parecendo assustada.
- Claro que acho.
Um pequeno hall conduzia a um imenso quarto com uma enorme cama de casal; penteadeira e cômoda de um lado, e um sofá de dois lugares, ladeados de mini poltronas, do outro. A camareira que arrumara tudo deixara a camisola de cetim rosa e verde de Mary dobrada sobre o colchão. O olhar fixo de Maninho sobre a peça.
- Você deveria saber Mary, que não é uma boa idéia convidar es-tranhos para dentro do seu quarto.
- Eu nunca fiz isso antes.
As experiências sexuais dela se resumiam a quartos de hotéis e motéis cinco estrelas da cidade. A paixão com que ela sonhara, mas que nunca conhecera, parecia ao seu alcance, agora. O sorriso dele era tão sedutor, as maneiras tão encantadoras e amigáveis que ela não pode resistir.
- Desde que o conheci que não consegui tirá-lo da minha cabeça!
- Que bom, respondeu ele.
Ela veio provocante como de hábito, veio rodopiando como uma baila-rina clássica veio intensa e insana, ela veio na pole dance, ela veio no lap dance, veio com seus dotes de sereia, provocante e semi despida com sorriso sacana, mais veio. Mais acentuado seu lado erótico aguça, tão profundo como uma ópera, tão intenso como uma paixão acesa em minutos.
Outra onda de desejo a dominou completamente. Prevaleceram os talentos sexuais do modelo para surgir uma paixão violenta e devastadora naquela mulher madura. Ele era sexo em estado puro. Ela usava um conjunto de calcinha e sutiã vermelho de renda, totalmente sexy e provocante. Ela tremeu quando os dedos dele desceram e tocaram o centro da feminilidade sobre o tecido fino. Depois abriu seu sutiã, liberando o maravilhoso volume com mamilos rosados numa onda de excitação para ambos. Depois ele moveu-se pelo pescoço elegante deslizando sua língua úmida e quente para os lóbulos de suas orelhas.
- Oh! Mon Dieu... Arfou ela entrando no clima.
Um beijo, sabor de vinho. A noite, a cama o carinho, o tempo perpassa e acende a libido. O corpo agora era dele e o coração também. Esquecendo o certo e o errado dizia com carinho.
- Vem... Vem... Vem... Crie coragem, vem matar as expectativas e me dar muito carinho.
Um trovão do lado de fora foi combinado com a excitação crescente dos dois corpos em chamas se unindo com desespero. Mary quase arfou de prazer, e decidiu que aproveitaria cada minuto que pudesse com aquele homem. Atrevidas caricias, corpos flutuando. Já não há palavras neste ensejo. Ardente e a paixão que os devora. Olhares refletem a paixão. Vem o clamor do clímax, uníssono... Lambidas, chupadas e mordiscadas, gemidos contorções e apalpadelas, percorrer e ser percorrido com mãos e línguas, sussurros e promessas, deleites e mimos, o colar dos corpos e o tesão incontido, o cheiro e a língua dele invadindo o ouvido, o suave passar de mãos sobre as costas, cueca úmida e calcinha molhada. Agora, uma mulher branca e bela, totalmente nua, de pelos negros, de pernas abertas, corpo delineado, numa cama enorme, quarto totalmente iluminado e ela louca para ser penetrada. Agora... Dois corpos em um, extenuados.
É lá pelas tantas, final da madrugada, quando insone ele viaja a procura de um colo abusado está naquela suíte magistral, vendo-a adormecida ao travesseiro exprimida sente que seu corpo vai explodir de prazer ao espreitar sua nudez sob as cobertas, respiração macia, qual um fruta em doce delírio, que a saboreia sempre em redobrado prazer. A cada movimento dela ele transpira o seu doce tormento e desejo ficando assim embevecido por tamanha delicadeza. Está indecentemente deitado ao seu lado, lentamente afasta as cobertas sentindo seu cheiro e seu odor.
- Por que parou?... O teste drive foi ótimo. Agora vamos fazer para valer!
A coroa não era fácil, as conseqüências... Arcaria com elas depois. Lá estava ela novamente, bela e perfeita, nunca abandonava sua mente. Lá estava ela, perfeita e sublime, com uma sensualidade tão intensa que deveria ser considerada crime. O seu corpo, o seu toque, deixa-o louco, deixa-o em choque. Lá estava ela, sensual e provocante, queria entrar em seu corpo provocar naquele instante. Sem hesitar ela pegou e fui com a boca até aquele pau e começou um belo boquete, no começo com alguma dificuldade pra colocar a boca devido a grossura, mas conforme a boca foi relaxando, ficou mais fácil e prazeroso. Chupava como se fosse um pirulito, e com a mão também o masturbava. Era uma delícia sentir aquele enorme cacete na boca, chupava um pouco, passava a língua naquela cabeça gostosa e voltava a mamar. Alguns minutos se passaram e ele colocou as mãos na sua cabeça e começava a foder sua boca com força…
- Gostaria de ir ao teatro ou dançar com você numa casa noturna badalada.
- Tudo bem, é o que faremos.
- Acho que você vive como uma realeza.
- Pode me dizer por quê?
- Você come em sala de jantar privada. Tem chofer particular. Eleva-dor privativo. Sem dúvida alguma, essas são as marcas de identificação da realeza.
- Suponho que algumas pessoas pareçam aristocratas, mas não é o meu caso.
- Sei...
- Trabalho muito e viajo mais ainda. Fico aqui muito pouco.
- E muito conforto para uma única pessoa.
- Pode ser, pode ser. Mas uma coisa é certa. Você me proporcionou uma noite maravilhosa. Sempre me lembrarei desses momentos únicos.
- Que bom!
- Deixarei a cama, como você a deixou, desfeita e amassada, os lençóis misturados a fim de que a forma do seu corpo fique gravada ao lado meu. Até amanhã não tomarei banho, não vestirei roupas, não pentearei meus cabelos para não apagar as suas caricias. Nesta manhã não comerei, nem esta noite e não colocarei nenhum batom nem pó nos meus lábios para que seu beijo permaneça. Deixarei as janelas fechadas e não abrirei a porta, receosa de que a lembrança deixada se vá com o vento.
- Não precisas tanto! Por que tu és tão bela.
No dia seguinte ele acordou assustado com o tocar do telefone. Acordou tarde, com o telefone celular tocava, no visor arranhado apareceu o nome de Mary.
- Alô, oi.
- Oh Bebê, fazendo o quê?
- Sei lá. Acabei de acordar.
- Você acordando agora?
- Sim... Acho que fui dormir meio tarde ontem.
- Por quê? Posso saber?
- Sei lá, fiquei acordado pensando na vida.
- Ah tá! Você pensa! Vamos hoje ao Shopping?
- Sim... Vamos sim...
- Em qual?
- Ah, pode ser na Barra Shopping.
- É... Por que não vamos a uma galeria qualquer?
- Porque eu não acharia as coisas que procuro.
- Ah, tá bom... Mas levo uma hora para me banhar e me arrumar, pode ser?
- Claro! Passo ai daqui uma hora.
Mais tarde ela chegou...
- Você está linda!
- Gostou?
- Adorei.
- Ok. Vamos dar uma voltinha.
- Beleza... Vamos lá então
Garoava um pouco, ela foi ultrapassando com sua bela Mercedez Benz preta, caminhões e carros lerdos aqui e ali, aquela cena passava com flash aos olhos de Maninho... Agora ele prestava atenção mais no RAP americano que tocava no auto-rádio que nas paisagens externas.
        Como sempre acontecia, havia uma fila enorme de carros para entrar no Shopping. Levaram vinte e cinco minutos para estacionarem o carro. Caia uma garoa insistente afugentando as pessoas e as fazendo correr até a entrada principal.
- O quê você quer ganhar de presente?
- Verdade?
- Sim... Eu quero te dar um presente legal.
- Que tal uma jaqueta de couro, Baby?
- Ok. Vamos procurá-la.
Entraram numa butique e ela comprou logo a jaqueta mais transada que achou. Um luxo. Trezentos e cinqüenta reais.
Eles ainda não tinham acabado. Maninho já. Esparramado na cama banhada de suor, ainda ouvindo os sons do espadachim e sua vítima feliz. Não sei bem dizer o que aconteceu então. Ele se sentia esgotado. Sentia a parede pulsar nos seus dedos. Eles não paravam mais. Caía num sono leve, um sono quase acordado, embalada pela canção de gemidos. Quem nunca teve a impressão de flutuar por um instante e acordar de repente, chutando ou socando algo num sonho? Aconteceu com ele. Algo vermelho piscou na sua mente, algo brutal. Uns olhos vidrados, sem viço, sem vida. Um corpo abandonado na cama. Deu um tranco com o pé, voltou a si, viu-a deitada, pernas entreabertas num convite. Fechou-as por instinto. O quarto estava quente.
Um sedutor incorrigível. Seu corpo, ela havia descoberto em detalhes. Mas aquela sedução tinha um alto preço. Ela lhe dera de presente de aniversário um Citröen na cor preta zero quilometro. Uma noite os dois foram assistir à peça de teatro, “BENT”, encenada no Rio de Janeiro. Ela esta enfiada num vestido tubinho preto com uma enorme fenda lateral exibindo belas pernas com meias na mesma cor e um decote de fazer corar bispo de qualquer igreja. Como era um espetáculo homossexual, uma repórter da revista “Amiga” perguntou indelicadamente se Mano Zord era gay. Como resposta ele abaixou as calças! O que até poderia não provar nada; mas mostrou como era um bocado impetuoso.
A repórter, então perguntou a Mary Grant:
- O que você viu nesse homem de tão especial, mulher?
- Não tem nada a ver com esses lábios carnudos e um sorriso curioso, com seu corpo lânguido ou com seu estilo de sentar. Nem com seus olhos quentes ou frios. Nem com a soma de tudo isso. Você o vê e simplesmente o sente. Ele é muito mais forte do que aparenta. Eu trago o cheiro dela. Todos os neurônios do seu cérebro fervilham.
- Pare... Pare... Pare... Não me torture mais, brincou a repórter.
- E você, não diz nada? Indagou a Mano Zord.
- As mulheres querem me ter e os homens querem me matar, é isso.
- Nada mais óbvio, respondeu Mary Grant puxando-o pelo braço.
Aquela relação estranha. Aquela estranha coisa que acendia a alma e perpassava por entre os dedos, como areia fina. Era a certeza do ir sem a certeza do chegar. Ou, quem sabe, como um blues, que tocamos com os dedos no ar, sem saber onde ficam as notas certas. Havia uma janela de frente para o abismo, que separa o querer e o poder. Um átimo que diferencia realidades, que pode negar acessos, gerar sonhos e deixar as essências em polvorosa, como a mão que tateava no vazio e tocava o rastro vácuo deixado pelo silêncio.
Assim são seus desejos e alguns, mais intensos, lançava-a em desertos, sem os prometidos oásis, levando-se à condição de refém da esperança da água que, talvez, nunca saiba se miragem ou não.
Os dois riam enquanto subiam os degraus e estavam de mãos dadas. Estava projetando um mundo perfeito, um tentando ultrapassar o outro em tolice e rindo até as lágrimas com as próprias piadas. Homem seguro de si, decidido e corajoso. Frio e auto-suficiente demonstrando não ter sentimentos. Tornara-se um assíduo freqüentador do restaurante “Fasano” quando estava em São Paulo. Ele não se dava conta que estava sendo um tolo se corrompendo num mundo de vícios e corrupção. A empresária carioca Mary Grant passara a mentir sua idade depois que conhecera Mano Zord. Mentir não; simplesmente optou por adotar respostas longas a uma pergunta objetiva... “Jura? Você quer mesmo saber? Ai que loucura, pare! Não me pergunte isso”. É o que ela costumava dizer antes de pronunciar a sua idade. Fora ex-garota de praia, bronzeada, que andava o dia todo de biquíni a ponto de transformar a micro peça como fonte de seu sustento, naquela época. Ela, que sempre servira de modelo para os biquínis que criou para sua grife. Ela reclamava de quatro quilinhos a mais nos quadris, motivo para visita no seu cirurgião plástico. Os 98 centímetros de quadris, barriga sequinha e as pernas firmes revelavam seu passado de ex-modelo. Ela mesma se surpreendera com a intensidade das suas inquietações que passara a ter com o corpo, com os hormônios e com a saúde. Primeiro foi com a pele. Um dermatologista eliminou suas manchas de sol e agora ela estava atenta com a inibição dos radicais livres causadores de rugas. Ela se cuidava para retardar o envelhecimento.
Seu modo de vida, seus projetos empresariais, sobretudo seu corpo tinha menos idade do que a realidade aparentava. Ser bonita e inteligente era uma combinação explosiva.
Na passarela não tinha rival a altura. Seu cachê oficial era de mil dólares por hora para o moço das algumas voltinhas na passarela. Na semana de moda do Rio de Janeiro, marcou a apresentação das coleções de outono, inverno, das maiores grifes do país. Não era pouca coisa. Ele fora reconhecido no baile por algumas mulheres. Nas passarelas do Fashion Week Rio que era o mais importante evento de moda do planeta. Lá estava ele com seu desempenho impecável. Na primeira fila a bela Mary Grant, proferindo teorias sobre moda Mano Zord notou que ela estava com humor azul aquele dia. Azul safira, para ser mais específico. A saia safira fazia par com um suéter da mesma cor, além das botas e dos brincos também azul safira. Os cabelos negros, como sempre, estavam ajeitados em um coque desfiados no alto da cabeça. Mas até entre os cabelos dela parecia haver algo azul. Mary Grant observava:
- Ele tem estilo inconfundível. O que mais me encanta, é a maneira pela qual este rapaz desfila em becas básicas como jeans e camisetas.
Mais contidos que o do Rio de Janeiro, os desfiles do São Paulo Fashion Week da temporada outono inverno daquele ano, mesmo assim, tiveram seus momentos, se não de alta moda, pelo menos da presença de gente bonita na passarela. Homens e mulheres de cabelos curtos, até o modelo prodígio chamados Mano Zord. Ele desfilou topando tudo por dinheiro. Teve o cabelo cortado em plena passarela, e por isso ganhou um cachê diferenciado. Por trás de muita gente crítica, ele só recebia elogios. Era uma unanimidade.
No ano seguinte fora convidado para desfilar numa escola de samba da cidade maravilhosa, como destaque na Avenida. A caminho da escola, ele passou pelo meio de uma manifestação, um protesto. Um grupo de estudantes gritava numa manifestação:

- Revolução! Revolução! Mas lá do fundo ouvia-se Maninho que dizia:
- Menstruação! Menstruação!
Os colegas viram-se para o Maninho e dizem:
- Ó pá, não é menstruação, é revolução!
- Não interessa! É preciso é que corra sangue!

Mano Zord espalhou beleza física em sua nudez carnavalesca para os sequiosos olhos femininos do alto do carro abre-alas da escola “Porto da Pedra”. Esse Carnaval como celebridade ele nunca esqueceu. O problema veio depois. Ao chegar à dispersão. Inexperiente modelo de passarela tirou seu capacete de guerreiro Fenício e ficou somente de sunga crente que alguém o esperava com outra roupa. Nada disso. Diante da perspectiva de ir sem roupa para a rua junto a massa ululante, Maninho apelou para o uso de um camarote da Sapucaí. Depois de resolvida essa pendência, o alívio.
Havia notado ela, que o sucesso dele no universo feminino era total. Então ela lhe perguntou de repente:
- Você deve ter tido experiências com muitas mulheres antes de mim. Como eram elas? Fale um pouco delas...
- Eram, algumas racionais e de muitas possibilidades, tacanhas e pa-tentes, rejeitadas e vaidosas, algumas menosprezadas, uma crente evangélica, outras hereges e teóricas, concluiu Maninho.
- Meu Deus! Como você é galinha!
- Nem tanto! Nem tanto... Aliás, eu tenho uma surpresa para você. Decorei uma poesia especialmente para o momento.
- Qual é?
- Eu te desejo mundana, com charme de Balzaquiana, trejeito de mulher sacana, que o aroma de mel emana. De quem brinco com a chama, depois me atiça na cama, um pouquinho doidivanas, um punhado de fulanas, se me provoca e, insanas só tu me abusas e profana, me conduzes a Nirvana, depois sossega e leviana, ainda me sorve com gana.
- Nossa que lida... Adorei. É bem a minha cara.
Mary estava tão angustiada que quase sentia vergonha de si mesma, porém não queria dar por vencida, uma concepção moral que fazia se arre-pender da luxúria a que se entregou. A demonstração de sentimento de Maninho tornava-se cada vez mais abstrata. Associações inesperadas sem as quais não existia situação poética. A relação estava perdendo a graça. O encanto rompera encontrando-se como ao sair de um sonho.
Mary Grant fora apanhada pelo fascínio. Sentindo o pulsar desse mercado não exato, e no momento que ele escalava as alturas, que lidava com seu próprio ego, não sabendo mais onde colocar o nariz. Ela estava pagando o preço da beleza. Maninho fazia o tipo naquele momento de quem indagava:
- Quem dá o primeiro lance...
Um dia, ao retornar do trabalho. Ela olhava as cinzas dos cigarros, enquanto desvanecia sentindo o cheiro doce da presença dele. Toda aquelas cinza e a sujeira de seu apartamento. As inúmeras xícaras de café sujas na pia. No chão os CDs, as roupas e os livros formavam um tapete. A geladeira tão vazia quanto a cama. Vários maços de cigarros vazios e uma garrafa de Vodka pela metade. Tudo, Nada. Ele havia ultrapassado o limite de um caminho sem volta. Ainda conseguia olhar as luzes de uma convivência morna e comum que levava antes. Ainda ouviu passos familiares na escada. Logo, entrou na sala trazendo nas mãos um amor morto. Ele percebeu em seu coração aquele olhar que lhe desnudava a alma. Ele a olhou pela última vez ouvindo algo incessante: sabe que eu ando meio cansada disso tudo.
- A vodka não mata mais minha sede, e o suor do meu corpo quente desejava se juntar a tua saliva. E cada passo teu me seduzia, o modo do teu caminhar, e teus olhos que sintonizavam com os meus. Teu corpo?! Uma usina nuclear em plena atividade. Você é o fogo que arde em mim...
Tentando agradá-la, mas, impossível. A decisão já estava tomada. Era difícil voltar depois de tanto tempo e ver que nada mudava com o rapaz. Os mesmos desrespeitos, as mesmas criancices, as mesmas atitudes medíocres de pobreza de espírito. “Assim não dá, assim não dá, vá embora e não volte nunca mais!” Ninguém mais entraria no seu abismo.
Mary o deixou tateando no escuro. Com a mesma boca entreaberta e idiota tão ridicularizada por ela, antes de tudo, ao ver uma cena assim. Alguém no meio de uma palavra que nunca encontrou caminho. Com as mãos buscando pateticamente formas ausentes. Estupefata inércia, ele diria, se naquele momento articulasse idéias além da realidade que lhe cobria. O fino pó de consciência e tempo. E se dissesse que voltaria que se recolocaria naquele espaço vazio ainda desenhando na sua cabeça, e contornado pelas suas memórias absurdas de uma presença que nunca existiu, ainda assim estaria no escuro do seu pavor.

Ela entra no chuveiro com todos os vestígios desses pensamentos e espera que a água o redima para o resto do dia. Prefere-a gelada e imagina-se um faquir por sentir como se milhares de espadas o transpassassem o corpo inteiro. É a dor que o devolve para a sensação de algo que ele costuma chamar de realidade
Depois que ele sai, ela liga para uma amiga, uma chamada de longa distância no meio da noite chorando como se tivesse acordado de um sonho ruim, só que ela ainda não tinha ido ainda para cama. Os sonhos ruins são seus últimos problemas. Uma ciranda do improvável. E ele está nela. Na improvável posição de estar daqui a poucos segundos, do outro lado da rua. E este é novamente o último café, e está é novamente a última vez que se senta naquele lugar, mais uma das últimas vezes em que se imagina de frente aquele prédio, do outro lado da rua, experimentando o sabor real do sentimento tantas vezes provado entre cafés e cigarros.
Foi nessa época que seu progenitor adoeceu e morreu. Mano Zord ganhara até então muito dinheiro. Seu estilo de vida refletia a renda que tinha. Encontrando-se diante do rompimento repentino entre ele e seu pai sua vida entrou imediatamente em parafuso. Seu pai tinha uma referência muito forte em sua vida. Bares monótonos, porres homéricos, noites de chuva e coração partido fora a receita ideal para uma mudança radical. Desesperado e sem estímulo, ele abandonou as passarelas e voltou para Teresina. Sua vida virara de cabeça para baixo. Como sempre dizia... (depois da tempestade vem a ambulância).
        Naquele dia que soubera que ia morrer, seu pai passou a maior parte do dia em que completara 54 anos, rodeado de mulheres num cabaré de quinta categoria. Gostava de mulheres insensatas, cruéis, mas sexualmente ativas. Nessas ocasiões lhe fazia lembrar ainda mais sua mortalidade. Chegou a especular se morreria durante um coito ou dormindo. Detestava a vulnerabilidade que a solidão criava. Era um devoto a irregularidade. Uma noite ao tentar alcançar a rua levou uma queda ao tempo somente de soltar um grito de horror diante de algumas prostitutas que ali circulavam livremente. Teve o fim que queria. Morrer na Zona de meretrício. Partir deixando somente dívidas como um hipocondríaco manipulador. Ele sempre ouvira em silêncio os acessos de ódio da família. A mãe de Mano Zord, ao contrário era quase uma santa. Dona Maria como era chamada na vizinhança, suportou o funeral que se prolongou pelo dia inteiro com uma determinação inabalada, decidida a não desapontar sob pressão. Aconteceu de tudo naquele velório: Um bêbado amigo de copo do defunto atendeu o celular e falando bem alto... "É que eu tô no meio de um velório super legal, mas assim que ele for enterrado, eu te ligo Ok? Se vai demorar? Acho que não, pois já está um fedor insuportável aqui!"
Outro colega de farra soltou um sonoro Pum... Todos olharam indignados para ele que se justificou: “Sabe... Os mortos acumulam muitos gazes! Um outro soltou uma gargalhada e tentou também justificar, dizendo: "A vida continua… pelo menos a nossa né moçada!"

Vestida toda de preto a beira da sepultura, com a cabeça baixa em oração recebia os cumprimentos de pesares das pessoas amigas. Ouviu no mínimo vinte vezes “sinto muito, lamento profundamente”. Mano Zord, um rapaz ambicioso sagaz, dotado de um grande talento para a safadeza; tinha uma mente extremamente engenhosa e flexível. Suas idéias fecundavam certas problemáticas, em especiais as neuroses. Ostentava orgulhosamente uma postura de símbolo sexual, vinte quatro horas por dia. Capaz de escamotear suas vítimas sufocando-as com um palavreado chulo, sem coloquialismo. Fazia sexo como os coelhos e tomava droga. Ingeria álcool como também começava a praticar pequenos ilícitos penais impunemente, sem o menor arrependimento. Em resumo. Um playboy de periferia sem regras, mergulhado num mar de luxúria, transitando alegremente pelas variações da libido praticando incesto, triolismo, swing, homossexualismo num quadro de promiscuidade e prostituição de mãos dadas. Sua sexualidade explodira numa mudança abrupta. Em suma, gostava de viver perigosamente, correndo todos os riscos com suas aventuras pecaminosas. Entre todas as diferenças que trazem a beleza da raça humana, uma delas estudados é por algumas pessoas o pendor de acumular riquezas, enquanto a outra; representado pela imensa maioria da humanidade, se especializam em gastar tudo o que ganham... Ou, em muitos casos, mais do que recebem, portanto ficando endividadas. Esse era o caso de Mano Zord que estava sempre acompanhado de mulheres maravilhosas, extravagantes e imprevisíveis. Em pouco tempo, vivendo sempre fora de sua realidade, achava que o mundo girava sempre em torno de seu umbigo. A essa altura ele havia queimado tudo que ganhara. Voltara a morar com a mãe longe dos holofotes e badalação. Ele achava que ser um playboy era basicamente tentar infundir cor a um cotidiano cinzento e sem perspectiva. Nem que para isso fosse preciso gastar todo dinheiro disponível.
Especulava-se por entre secretos dentes, de forma concisa e calma sobre o modo que Mano Zord deixou sua marca indelével nas passarelas, como homem-corpo, como organismo em pleno funcionamento, até o momento que decidira desligar-se voluntariamente, num suicídio profissional boiando na transparência cristalina de uma garrafa de cajuína.

Continua...


Ivan Ribeiro Lagos
                                


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Ficha do conto

Foto Perfil bresilien
bresilien

Nome do conto:
Loucas aventuras de Mano zord - !I

Codigo do conto:
17940

Categoria:
Grupal e Orgias

Data da Publicação:
23/06/2012

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2

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