Terceiro Andar

Um lugar vermelho, cadeiras velhas e almofadadas, saída de um filme de terror psicológico, um lugar entre o tempo e o espaço que estavam ali próximo ao Cervantes no Rio de Janeiro. Ao som de Herbie Hancock, eu fui convidado pelo aroma que tem no ar um perfume saboroso e amistoso.

Estava com uma camisa branca, calça preta e tênis vermelhos, olhar curioso e sentindo o vapor barato espalhar aromas flutuantes pelo meu nariz sensível e confuso, a ida até a entrada, o caminhar que mais parecia um convite ao infinito, eu entrei. Com o olhar, eu avistei uma morena belíssima de seios em gota d'água e olhos de mel escuro, cabelo loiro e estatura mediana. Sua bunda mais parecia um desfile de bateria na Sapucaí dado volume e a força que carregava me seus quadris que pareciam tufões ao rebolar da música que agora era Earth, Wind and Fire.

Eu ri, sabe a gente ri por tanta coisa pra ser notado e pensa que vai ser mesmo pelo sorriso em marfim branco que temos cultivado ou seria desespero para não ser deixado de lado, enfim, eu não sei ao certo, mas ri. Encarei-a e fixei meus olhos feito quem acha o pote de ouro ao fim do arco-íris. Eu fui dançar na pista, busquei ficar perto, vai que sou chamado para apagar um incêndio, pensei.. Seu perfume foi me tomando e no ato que fechei os olhos, ela saltou com sua presença gatuna e manhosa.

- Você parece ser de outro lugar... É carioca?

- Sou Goiano. É tão fácil assim?

- Claro! Seu jeito de vestir, dançar, tá com medo?

Fiquei sentido, eu era tão perceptível assim? Ri, agora de desespero como quem toca o lampejo descompassado do sino. As suas mãos foram na cintura, o perfume foi tocando meu corpo nu e virgem até ali, eu sentia desejos.

- Você sabe o que sou né?

- Não, não sei.

- Sabe sim, olhe meu vestido.

Um belo vestido vermelho em tudo, com um salto preto com o pés alinhados a mostra em esmalte branco (adoro pés, acho excitante) e mãos com um esmalte preto bem fosco, brincos discretos, dourados com um brilhante leve cravado, um piercing charmoso em nariz que me deixava pensativo.

- Agora você sabe, não é possível.

- Não, eu não sei.

- Olhe então em sua volta.

Vi mesas cheias de casais, as mulheres pareciam risonhas com copos bem servidos de gin, as roupas pareciam seguir um padrão devido ao calor ou o costume, eu era somente turista e não iria entender essas nuances da cidade maravilhosa. Eu lá entendo minha vida quanto menos entender o que se passa ali naquele lugar, naqueles olhares, naqueles risos, naquele momento até que sua palma me puxa

- Vamos lá pro meu quarto, podemos conversar melhor.

- Claro, tudo bem.

O espaço era grande, tinha 5 ou 6 andares. Pegamos um elevador que deu no terceiro andar, a vista era bonita, o vento corria fresco e meu corpo, ela entrou no banheiro e esperei na mesa. Sentado, eu pensei em tantas coisas que vivia ali.

- Venha pro quarto, venha.

Fui puxado pela blusa, me deitou na cama, eu senti sua coxa pressionar meu quadril, ela foi sentando lentamente, o rebolado da dança foi sendo feito

- Agora sabe o que sou?

Eu nem queria saber, nem tinha noção, fui deixando me levar, ela foi beijando o meu pescoço, minha boca, estava insaciável e fora de controle, minhas mãos foram subindo e descendo feito um maestro conduzindo a orquestra, eu estava regendo aquele espetáculo, estava em meu auge, sentia o vibrar das notas, os arrepios, excitado e pronto para flautar seu corpo.

Mas então deram seis horas da manhã e tinha que pegar o ônibus....


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Ficha do conto

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Nome do conto:
Terceiro Andar

Codigo do conto:
177001

Categoria:
Fantasias

Data da Publicação:
22/04/2021

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