Qual a chance de você, justamente você, ler esse conto?
Quase três décadas se passaram desde a última vez em que nos vimos. Tive outros amores (e muitos amantes) desde então, mas você foi o primeiro. E nesse sentido, o único. O primeiro amor, mesmo de um adolescente, é tão grandioso e poético porque ainda não tivemos a experiência do coração partido (foi você, também, a me dar isso), e amamos na pureza e perspectiva de que aquele sentimento irá durar para sempre... Você mesmo, apesar de mais velho do que eu, e de já ter tido outras estórias... Você dizia que, num mundo ideal e mais justo, seríamos o casal perfeito, e viveríamos felizes para sempre. Lembra?
Você foi também o primeiro homem a entrar em mim. Nunca esqueci a sensação maravilhosa de ser penetrado pela primeira vez na vida, justamente por você... Claro que teve dor; até o final do nosso relacionamento, sempre teve um pouco de dor, ao agasalhar o seu pauzão no meu cuzinho que parecia nunca lacear... Mas o que me recordo não é da dor, que rapidamente se tornava prazer, e sim da sensação de liberdade, de que minha verdadeira vida começava com o seu pau entrando em mim pela primeira vez. De que finalmente eu me tornava quem queria ser, dando o cu para você... Lembro-me de ter ficado com os braços abertos sobre a sua cama, desfrutando daquela sensação inebriante de liberdade, enquanto você me comia gostoso, tão gostoso, e me fazia gozar sem ter tocado no meu pau uma vez sequer... “Ligou o chuveirinho”, era o que você dizia, lembra? Porque quando você me fodia, em todas as ocasiões (e posições), eu gozava várias vezes... Ora saia um jato de porra que atingia meu pescoço... alguns minutos depois pingava no meu umbigo só uma ou duas gotas daquele esperma bem espesso de adolescente... mais um tempo depois outro jato, que podia atingir até a cabeceira da cama, ou só o meu abdômen, dependendo da força com que você me penetrava e acertava a minha próstata... Seu cacetão me cutucando fundo, e eu gemendo, gemendo, sem vergonha nem medo de ser ouvido... Jamais te disse isso, porque nunca mais nos encontramos depois do final da nossa estória, mas você me acostumou mal, muito mal, a gozar tanto assim (várias vezes, e sem me tocar) durante uma foda. Não foram muitos os homens que tiveram esse poder sobre mim, depois...
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Estou de mudança, e esvaziando armários encontrei os diários que escrevi naqueles anos. Poderia trazer aqui um relato pormenorizado da nossa estória mas, desimportando você chegar a ler ou não este conto, irei omitir detalhes e alterar outros. Além de mudar os nossos nomes, lógico. Já dei a dica de que nossa estória aconteceu nos anos 90, porém não serei mais específico do que isso. Por respeito a você.
Você não é mais tão famoso como era naqueles anos, mas ainda é uma figura pública. Uma breve busca no Google e descubro que você continua casado, tem filhos, e recentemente ganhou um netinho... Juro, não fui um stalker constante da sua vida durante todos esses anos. Procurei te esquecer, para poder seguir em frente. E achei que você tinha me esquecido completamente, para ser sincero. Porque vivemos em cenas artísticas que às vezes se entrecruzam, apesar de cidades diferentes, mas nunca nos reencontramos... Acontece que na busca do Google achei uma foto em que você aparece na sua casa... e não vou nem perder tempo dizendo que, cinquentão, você continua um gato... O que mais me chamou atenção (tá, tem seus olhos cor de mel que ainda me sugam pra dentro de você, e os seus peitorais potentes, que eu sempre gostei de chupar, agora cobertos de pelos brancos), o que me impressionou foi na verdade um quadro na parede da sua casa. Um quadro pintado por mim!
Não, afinal você não me esqueceu.
Muitas vezes quis crer que você sempre foi o lado forte do cabo-de-guerra ao qual nossa estória por vezes se assemelhou. O cara mais experiente, apesar de ser só quatro anos mais velho. O cantor famoso e focado na carreira, batalhador, fazendo de tudo para subir na vida... Inclusive me trair e dar o pé na bunda, quando foi conveniente para você. Enquanto eu era o pirralho riquinho e mimado que só queria a sua companhia, nada mais importando no mundo. Quis crer que eu fui muito mais apaixonado por você, do que você jamais foi por mim. E no entanto, vejo agora meu quadro pendurado com destaque na sala da sua casa, e fico pensando que esses anos todos você quis a minha presença a seu lado, junto da sua família... Obrigado.
No regrets. Escrevendo esses primeiros parágrafos fiquei com o pau coçando de tesão e a cueca já está molhada... Acho que só de lembrar de você me comendo gostoso, tão gostoso, eu poderia voltar a gozar daquele jeito... “em suaves prestações”, como você dizia.
Quem sabe você não goza comigo também, lendo a nossa estória?
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Tem também o fato de que eu era menor de idade durante todo o tempo que durou o nosso relacionamento... Se bem que a polícia não vá bater à porta da sua casa para te prender, 30 anos depois. E para sermos justos, você foi muito mais a caça e eu o caçador, desajeitado porém insistente, no começo da nossa estória.
Fui eu quem procurou você na tenda armada atrás da Concha Acústica do parque, quando você encerrou seu show. Sua fase baladeiro romântico, no estilo banquinho e violão, lembra? Eu não tinha assistido o início da apresentação, porque fora de carona com minha prima e as amigas dela, que estavam interessadas no show que viria depois do seu. Mas quiseram chegar cedo para pegar um bom lugar no gramado, então tive sorte de assistir você tocar a música que tinha sido tema de novela e te alçara ao sucesso. Um sucesso que você estava com dificuldade de manter... Todo mundo cantava aquela única música, e parecia desconhecer o resto do seu repertório. Só eu cantei a Balada de Chagall (creio que por associação você vai saber qual canção eu renomeei assim, e o porquê), e como eu estava perto do palco acho que você ouviu, ou pelo menos viu minha boca dizendo as palavras... e você sorriu e piscou para mim...
Fui à tenda, que funcionava como camarins, banheiros e cozinha improvisados. Nem tanto para pedir seu autógrafo, mas para entregar um desenho que tinha feito do seu rosto. Guardado dentro de uma pastinha escolar... gente, como eu era criança aos 15 anos de idade! Surpreendi você trocando de camisa a um canto, enquanto o restante do espaço estava ocupado com grande alarde pela banda de rock que entraria no palco em seguida. Perdi o fôlego ao ver a moita de pelos negros entre os seus peitorais fortes e ao redor dos mamilos grandes e escuros, e o abdômen trincado, e o caminho de pelos descendo do seu umbigo até dentro da cueca, branca como pude averiguar através da braguilha aberta, verificando também pela primeira vez o volumão entre suas pernas... E que bíceps lindos, bem torneados, sem dúvida não só de tocar violão. Você ainda mantinha o corpo de surfista carioca, musculoso pelo esporte, mas não inchado de academia... embora em sua encarnação paulista você não estivesse pegando muita onda, né. Bronzeado você estava, por conta de uma piscina no seu prédio. Anotei no diário que você me deixou de pau duro à primeira vista, que tentei esconder atrás da pastinha escolar.
-- Que lindo! – você disse, depois que te entreguei (com a mão trêmula) a folha de papel. E disse isso olhando para mim, não mais para o meu desenho, também isso escrevi no diário. Fiquei feliz, animado com o elogio. – Vou colocar numa moldura! – você inclinou a cabeça de lado e, franzindo a sobrancelha, apertou os olhos (eu ainda não sabia que você usava óculos de grau, mas jamais em público), naquela expressão inquisitiva que eu sempre amei, e me perguntou – Era você quem estava cantando comigo a Balada de Chagall, não era?
-- Era sim. – sorri encabulado, sem coragem de te encarar. O simples fato de ter ido conversar com você, para entregar meu desenho, numa confissão muda de que era seu fã... fã do músico mais lindo e gato da cena nacional... quando eu era tão, tão tímido... foi uma enorme vitória para mim!
-- Sempre bom saber que alguém ouviu alguma outra canção do meu cd...
-- Eu ouvi e gosto de todas! – agora que minha língua tinha destravado, eu não queria perder a sua atenção. -- Mas minha preferida é a Balada de Chagall... Ouço você cantando sua estória dos amantes perseguidos que fogem pela janela voando, quando na verdade eles estão sendo mortos pela polícia política a tiros, abraçados um ao outro na cama... E a morte que chega num abraço de amor é o vôo deles né? – você confirmou com a cabeça, parecendo verdadeiramente feliz com meu entendimento da sua poesia. -- Fico olhando o quadro do Chagall que tem lá em casa, dois amantes flutuando sobre uma cidadezinha e...
-- Peraí!?!! – você ironizou, rindo. -- Você tá dizendo que tem um Chagall na sua casa? Poster, você quer dizer?
Eu aquiesci à sua primeira pergunta, negando a segunda. Tinha perdido o fio da meada com a sua interrupção, e resolvi ficar mudo depois de você rir na minha cara. Lógico, quem iria acreditar que eu tinha um quadro que valia milhões na parede de casa? Quando na verdade tinha vários... Não eu, minha avó, claro.
Nisso chegou uma garota bonitona que se pendurou possessivamente no seu ombro, te chamando de “Cacao”. Estava estranhando a ausência de fãs no camarim, sem imaginar que um segurança tinha se postado à porta da tenda menos de um minuto depois de eu ter me esgueirado para dentro, e agora barrava a entrada de todos que não estivessem autorizados. Como a Carol era sua namorada, ali estava, te chamando pra ir embora.
-- Vou nessa também... – eu disse, desanimado. Se isso aqui fosse uma fantasia sexual, não teria menina nenhuma, e tendo aproveitado que você tinha esquecido de fechar o zíper da calça, eu já estaria ajoelhado a seus pés, tirando o seu pauzão pra fora da cueca, fazendo ele endurecer na minha boca... Mas, tadinho de mim, apesar de muito querer, jamais tinha sequer beijado um outro menino, quando mais feito um boquete...
-- Valeu pelo desenho! – você agradeceu, mostrando o papel à menina, que não pareceu muito impressionada, interessada apenas em marcar você como propriedade dela.
Eu estava para sair da tenda quando você me chamou, perguntando meu nome.
-- É Felipe. (Por que escolhi esse nome para mim? Talvez porque não me lembre ninguém. Mas tenho certeza de que meu username aqui terá chamado sua atenção, se é que não foi o que te fisgou para ler este conto... Você ainda lembra como se referia a mim, não lembra?)
-- Valeu então, Lipe! – me chamando por um apelido que ninguém usava na minha família, é como se você estivesse declarando que pretendia ser íntimo de mim desde o nosso primeiro encontro.
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Quando voltei para o gramado, encontrei-o lotado! Até tentei chegar onde minha prima e as amigas estariam, mas tinha de ir pedindo passagem e incomodanado muita gente, o que detesto... Tinha combinado com ela que, se nos desencontrássemos, eu voltaria para casa de táxi.
Foi assim que me vi, sozinho, aparentemente procurando uma saída e um ponto de táxi, perambulando pelo parque, ao cair da noite. Eu tinha ouvido falar que aconteciam coisas do arco-da-velha em alguns pontos do parque, coisas que eu só podia imaginar e torcer para que um dia acontecessem comigo também. Tinha lido em blogs (estou falando em um tempo de internet discada, alguém aqui se lembra ou sabe a lentidão, paciência e frustração que significava isso?) relatos de homens fazendo sexo anônimo ao ar livre, só não sabia exatamente onde... Instintivamente, fui caminhando na direção contrária à de todas as pessoas, que continuavam chegando para os concorridos shows noturnos.
Chamou-me atenção um rapaz mais velho, parecido com o George Michael e com aquele mesmo topete de gel no cabelo, que passou por mim na alameda de jaqueiras encarando-me com um leve sorriso... tendo reconhecido em mim alguém que buscava o mesmo que ele?
Seria autoengano dizer que o cover do George não me enxergou tão pirralho (ou não se importou com isso, ou até preferia que eu fosse bem novinho...) e mais bonitinho do que eu próprio me achava? Quando agora olho fotos daquela época, vejo um menino lindo que se enxergava feio. O fato de ser ruivo e de cabelos cacheados não só acabava com qualquer autoestima na minha adolescência... também acentuava o aspecto infantil do meu rosto redondo e imberbe, de grandes olhos verdes, nariz arrebitado e boquinha rosada. Até covinha ao sorrir eu tinha, e as maçãs do rosto coradas, cheias de sardas, como um bebê Johnson. Não era só no rosto que eu não tinha pelos: além de tufinhos de um vermelho bem clarinho no púbis e nas axilas, o resto do meu corpo era lisinho. Detestava trocar-me no vestiário da escola. Embora ali pudesse espiar os colegas mais bonitos ou dotados, sofria ao ver o corpo deles coberto de pelos que pareciam catapulta-los a uma idade mais adulta que para mim não parecia chegar nunca. Pelo menos eu era alto, e como o médico da família exigira que eu fizesse natação para não voltar a ter bronquite, meu corpo era bem desenvolvido e proporcional. Talvez meus quadris fossem um pouco grandes e as nádegas, redondinhas, eram quase femininas... já tinha ouvido de mais de uma menina que elas tinham inveja da minha bunda bonita!
Com o coração disparado, mudei de trajetória e fui atrás do George Michael do parque, que me deu um sorriso encorajador ao perceber-me seguindo-o. Ele caminhava decidido, parecendo saber aonde ia, e eu o seguia espantado com minha própria coragem e ousadia. Ainda bem que o rapaz era discreto, e ao olhar para mim, além de sorrir só passava a mão no cabelo, pelo qual demonstrava ter enorme vaidade. Porque, se ao invés disso ele tivesse agarrado o pau, eu já teria saído correndo embora, de tanto medo de assumir o que estava prestes a acontecer comigo. Digamos que seguir aquele rapaz bonito porém discreto não era comprometedor nem revelador, e eu me sentia menos culpado e intimidado... embora a ereção duradoura e latejante em minha calça não deixasse dúvidas sobre a carga erótica e o intento daquela perseguição por alamedas cada vez menos frequentadas.
Por fim, chegamos a um local um pouco mais elevado, porém ermo e escuro. Ele diminuiu o passo, e eu estaquei, alerta. E se fosse um golpe, um assalto ou até sequestro relâmpago? Quanto medo eu sentia! Do meu próprio desejo, afinal. Caminhando de costas, virado na minha direção e me encarando, o George tupiniquim adentrou as moitas atrás dele, e na escuridão sumiu dentre elas como num passe de mágica. Com enorme antecipação e ansiedade, fui atrás dele, certo de que ele tinha me conduzido ao meu destino... ao destino da minha vida, onde ia me encontrar comigo mesmo.
(De repente, me dou conta de que, se você estiver lendo esse relato da nossa estória, esta é uma parte que você desconhece, que nunca contei a você... minha introdução à pegação gay)
Atravessar aquelas moitas foi como atravessar um portal. De um lado, o que ficara para trás, estava o mundo conhecido onde eu sempre vivera, onde existia a casa da minha avó, a minha escola, as aulas de Inglês e Francês, a natação; uma vida onde as pessoas trabalhavam durante os dias uteis e no fim de semana iam ao shopping ou vinham ao parque assistir shows; uma multidão de pessoas, sozinhas como eu, ou em casais, grupos, em família, de todas as idades e raças... Do outro lado das moitas, também havia todas as idades e raças, mas éramos todos homens... e homens atraídos por outros homens. Meu olhar faminto e embasbacado (imagino que meus olhos estivessem esbugalhados e a boca aberta) abarcou várias cenas ao mesmo tempo (talvez não todas fossem de uma única noite, pois voltei lá mais vezes depois). Homens se masturbando, sozinhos ou em dupla ou em grupo. Homens se chupando, de pé ou deitados no chão. Homens transando, igualmente em pé ou deitados ou de quatro no chão, ou cavalgando sentados sobre uma pedra... Um deles gemia alto levando linguada no cu, e outro desfrutava de uma dedada que quase o levantava do chão... Alguns homens estavam completamente nus, a não ser talvez pelos calçados e meias. Outros estavam completamente vestidos, um deles até de terno e gravata, apenas com os pintos para fora da calça (pintos duros ou moles e em todos os estágios intermediários, pintos de todos os tamanhos, alguns enormes e outros pequenos, tortos ou retos e lindos ou não tão lindos). Enquanto que outros tinham baixado a calça para exibirem a bunda, uma oferta de bundas grandes e pequenas, fartas ou magras, pretas e brancas. E o cheiro embriagador daquele lugar... não só de grama pisada e terra úmida e plantas pisoteadas, mas de suor, de esperma, de cuspe, até de merda e sangue, e de cerveja, de cigarro... uma combinação acre de podridão e sedução que me assaltou as narinas e inebriou.
Parecia estar vendo um ballet... e quantos ballets eu não tinha assistido no Teatro Municipal, em companhia da minha avó, embora nenhum fosse como aquele que eu assistia ali no parque, espontâneo ao invés de coreografado, caoticamente belo e atraente ao olhar. Os caras que não estavam engajados em sexo se deslocavam num frenético ir e vir, colidindo e se pegando e se roçando e se enganchando e se apalpando... Tapas, beijos, caricias, mordidas, estocadas... E no centro do palco, recém-chegado, o cover bonito do George Michael, sobre o qual já choviam homens... Um pegava no pinto dele, agora visivelmente duro sob a calça, enquanto outro enfiava a mão dentro da camisa do George, revelando um peito bonito e bronzeado, enquanto meu bailarino principal agarrava ele mesmo a bunda metida em jockstrap de um dos caras...
O que ainda não havia me dado conta é de que eu também estava naquele palco, e não numa imaginária plateia reservada, ou no camarote da minha avó... Só fui perceber isso quando senti um homem bem mais alto e forte do que eu encostando-se atrás de mim e me abraçando, me puxando contra ele com uma mão grande e braço peludo, ralando seu pinto duro na minha bunda, a outra mão tentando baixar minha calça... E eu gritei! De susto, de terror... mas também de gozo, pois tinha bastado aquela pegada de macho, que eu afinal nunca tinha sentido antes, para me fazer ejacular dentro da cueca. Ainda bem que o homenzarrão estava me segurando, senão eu teria caído ao solo, pois minhas pernas fraquejaram, senti vertigem e quase desmaiei, tão intenso foi meu gozo, sem dúvida o maior desde que tinha começado a bater punheta. Tinha sido excessivamente súbita e violenta, aquela passagem de uma vida inteira transcorrida em inocência, fantasias e desejo reprimido, para a realidade potente de um corpo de homem me envolvendo, me aprisionando, me domando, me submetendo à sua masculinidade intensa e exigente. Quem quer que ele fosse, o macho tinha me abraçado e me encoxado com tanta força que eu até perdera o fôlego.
Ainda bem que meu grito não foi tão alto, embora bastante agudo, e depois de alguma hesitação entre os presentes sobre saírem correndo dali ou não, no caso do meu grito ter atraído atenção indesejada, num dia de show em que havia mais polícia no parque, tudo pareceu voltar ao normal naquele Paraíso exclusivo para Adões, que não pretendiam abrir mão tão fácil de sexo tão longamente e constantemente desejado, nunca suficientemente desfrutado.
-- Moleque... – ouvi o macho que me agarrara dizer, rindo, ao me soltar e me ver imediatamente sair correndo dali, largando para trás a pastinha escolar que tinha deixado cair aos pés dele, por entre camisinhas usadas e bitucas de cigarro.
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-- Lipe? Você ainda por aqui?
-- Caio! – exclamei. Está na hora de dar um nome a você, não acha? E como quando jovem você era muito parecido com um certo ator sexy e muito bonito da atualidade... Os cabelos escuros cacheados, o nariz afilado, os lábios cheios, a barbinha pouco cerrada, os olhos amendoados cor de mel... E um corpo de escultura grega... Bom, justifico assim a minha escolha.
-- Você tá perdido? – era uma pergunta pertinente, já que eu era a única pessoa além de você no estacionamento pouco iluminado. Tolamente, pensava que poderia encontrar o carro da minha prima.
-- Estou procurando um ponto de táxi...
-- Conheço um ponto de ônibus, serve? – você rebateu. -- Estou indo para lá agora...
Eu nunca havia andado de ônibus coletivo na vida, mas não quis dizer isso a você. Estava exultante por termos nos reencontrado, e por você ter me resgatado e estar me conduzindo. Acostumado a andar de carro com motorista, eu tinha péssimo senso de direção naquela época. Tive sorte de que aquela foi justamente a noite em que você tinha acabado de desmanchar o namoro com a Carol, tendo brigado com ela no outro canto do estacionamento. Que tonta, aquela garota! Como ela conseguia desprezar um cara assim tão lindo? Você carregava seu violão às costas, e a cinta de couro da capa do instrumento apertava seus peitorais e fazia-os incharem e parecem ainda maiores, os mamilos escuros perfeitamente delineados, bicudinhos... Você estava super sexy naquela camiseta branca apertada, dava para ver alguns pelos pretos escapando através do tecido, eu me lembro bem... Olhava aquele troço preto fálico brotando atrás do seu corpo, por cima da sua cabeça, e caminhando a seu lado, sem pastinha escolar para esconder, eu quase tropeçava na minha própria ereção. Como se impusesse um limite de decência a mim mesmo, não tinha coragem de inspecionar você da cintura para baixo. Ou já teria visto que sua braguilha continuava aberta, por culpa minha até, que tinha te surpreendido no camarim trocando de roupa...
Descobrimos que morávamos próximos. Se não no mesmo CEP, em bairros limítrofes. O seu pequeno estúdio ficava a seis quadras da mansão da minha avó, não é isso? Quantas vezes percorri aquele caminho, mas nunca contei a distância...
E como já falei dela muitas vezes, uma breve introdução à minha história de família. Digamos que minha avó tenha sido uma atriz de teatro, ou uma bailarina clássica, ou uma cantora do rádio, ou quem sabe uma pianista erudita (o leitor pode escolher, pois não posso dar os detalhes apropriados sem me comprometer), que tinha desistido da carreira artística para se casar com meu avô, um industrial que parecia aumentar a fortuna a cada respiração. Daí termos um Chagall em nossa parede. E muitas outras obras de arte espalhadas pelos três andares de nossa casa, e pelo jardim também. Vivia com minha avó porque, há uns tantos anos (estou sendo intencionalmente vago), meu avô e meu pai tinham morrido num trágico acidente (de carro, de helicóptero, de lancha, de avião, de novo o leitor pode escolher, e até consultar jornais da época se quiser descobrir). Minha mãe era muito nova, muito bonita e muito fogosa também para ficar relegada ao papel de viúva inconsolável, e quando ela se casara pela segunda vez, eu tinha preferido morar com minha avó a juntar-me à nova família de minha mãe.
Morando perto, você e eu poderíamos pegar o mesmo ônibus, e você sabia qual. Assim, engatamos conversa, enquanto eu aproveitava para continuar olhando a sua cueca branca inchadona aparecendo pelo zíper aberto... Eu tentava ser discreto, para você não perceber e fechar o zíper... Mas ao ver um táxi aproximando-se do ponto de ônibus onde esperávamos já há uns bons 10 minutos, não resisti e acenei.
-- Okay. – você parecia decepcionado com a minha deserção, ofendido até. Tínhamos engatado uma conversa que parecia promissora, o nascimento de uma amizade. – A gente se vê por aí, então! – você disse, ao me ver entrar no carro.
Mas eu mantive a porta aberta.
-- Você vem comigo, Caio. Deixo você em casa primeiro, e depois eu sigo. – e como você estivesse reticente, e eu imaginei que era por causa de dinheiro, emendei logo. – Vamos. Por minha conta.
Lembro que durante o trajeto conversamos sobre vídeos de música, tão importantes àquela época. E logo na nossa primeira noite juntos, você me confidenciou sobre seus planos para produzir um videoclipe seu, e como você o imaginava, e o que eu achava do projeto. A Carol tinha terminado o namoro justamente porque você estava sempre falando de si mesmo. Mas na minha rotina tão pacata, viver a sua vida era meu maior prazer! Embora eu não me lembre de detalhes dessa conversa no banco de trás do taxi, porque em flashes me voltavam cenas daquela orgia no parque, que eu sobrepunha à sua beleza e à sua presença embriagadora ali ao alcance da minha mão... Enquanto você falava eu fantasiava fazer com você tudo o que presenciara. Sobretudo, que você me pegasse firme por trás, como aquele desconhecido tinha feito. Com o pau latejando e quicando dentro da minha calça, meu cuzinho piscando, eu estava morrendo de tesão por você, enquanto você batucava distraidamente sobre a capa do seu violão no colo e falava, falava...
-- Você não quer subir? – você sempre jurou que fez o convite sem segundas intenções, quando o carro estacionou em frente ao seu prédio. – O mínimo que eu posso fazer para retribuir o desenho e essa carona é te dar um CD autografado. Você vem?
Foi quando o motorista finalmente te reconheceu, lembra, e pediu um autógrafo pra filha dele. Eu aguardava você do lado de fora do carro, enquanto você escrevia uma dedicatória. Estava agarrado ao seu violão, que você tinha me dado para carregar --querendo na verdade poder estar agarrado assim a você. E enquanto isso, aproveitava para olhar de novo o volume na sua cueca, achando que tinha aumentado, pressionando para escapar pelo zíper aberto... Você jura que não, mas eu acho sim que você estava na expectativa de me comer no seu apartamento...
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Então vamos ao que interessa? Até porque aquela primeira vez foi tão breve.
Na sala do seu apartamento, quando você me entregou seu CD autografado com dedicatória, eu tomei coragem e te dei um beijo na boca. Sabia que podia estar pondo tudo a perder, matando uma amizade antes de ela vingar, mas a cena orgiástica no parque tinha subido a minha temperatura e pressão, acho, e eu estava meio delirante, muito empolgado... transbordando de tesão, na verdade. Tinha começado a achar que você deixava a braguilha aberta de propósito, para me provocar... Por que quem fica mais de uma hora com os balangandãs quase escapando da calça e não percebe?
--Ôaaa! Que isso, garoto? – você recuou, surpreso, mas logo um sorriso malicioso tomou seu rosto.
-- Desculpe! – eu estava apoplético -- Eu já vou, então!
-- Não. – você me segurou pelo braço, mas continuamos um pouco afastados. – Sem problema. Eu também curto. Ainda mais com um gatinho como você!
Aquele “gatinho”, referindo-se a mim, me desarmou, me congelou. Porque na minha cabeça, bonito ali só tinha você. Se você acendesse mais luzes além do abajur, provavelmente mudaria de ideia, e veria o quanto eu era feinho, e sem graça, pensei.
-- Vem cá... – e você passou um braço pelas minhas costas e com a outra segurando minha cabeça, fazendo um leve cafuné, mostrou-me o que era um beijo de verdade. Meu primeiro beijo, inclusive, lógico, foi seu. Durante um réveillon, a amiga de uma outra prima tinha tentado me beijar, mas eu a tinha empurrado. Agora, permitiria a você me usar como quisesse. Senti pela primeira vez uma outra língua vibrando dentro da minha boca, e a gente trocando saliva, a fricção da sua barba áspera contra minha pele macia, você mordiscando meus lábios, e eu tentando tudo retribuir como bom aprendiz... Depois de não sei quantos minutos (ou foram segundos? Poderiam ter sido dias, para mim...) você me deitou gentilmente no sofá, sem desengatar nosso beijo, e ficando por cima de mim, começou a esfregar seu pau duro contra o meu... – Ahhhhhh! – eu gemi dentro da sua boca, enquanto gozava pela segunda vez naquela noite. Você parou e me encarou. – Lipe, você tá...? – e o seu olhar desceu para a minha virilha, onde uma mancha enorme tinha brotado, e continuava aumentado. A cueca tinha segurado uma ejaculação, no parque, que tinha sido intensíssima porém breve, por causa do medo. Mas na sua casa, sentindo-me seguro e querido nos seus braços fortes e desejáveis, eu não parava de gozar, uma torneira de porra tinha se aberto...
– Caralho moleque, que delícia! Gozar assim com um beijo... – você comentou, sorrindo. A isso eu devia ter correspondido sorrindo também, enquanto curtia meu gozo se prolongando ali coberto por você, aninhado em seus braços. E devia ter dito algo do tipo, “Agora é a sua vez, Caio...” e tirado seu pau da calça, já que a braguilha já estava aberta mesmo, e batido uma punheta pra você, ou quem sabe até ter tentado te chupar...
Pelo contrário, eu entrei em pânico, te empurrei e sai correndo em direção à porta do apartamento, que destranquei. Num instante estava descendo as escadas de incêndio, já que você morava no primeiro andar, e só parei quando me vi na calçada, sem a menor noção da direção onde ficava a minha casa. Detalhe: tinha esquecido minha carteira e a chave de casa no seu apartamento, que colocara sobre um console na entrada. E não voltei para buscar – pelo menos não naquela mesma noite. De novo, sai correndo.
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kriokzdorj obrigado pela leitura, o comentário e o voto!
longo, mas excitante!! votado
olavo, que bom que você gostou e ficou intrigado! muito obrigado por ter comentado! a continuação já está pronta. um amigo meu está revisando, em breve publico.
A gente termina o texto com a curiosidade aguçada se perguntando: E agora o que vai acontecer? Perfeito... Erótico e intrigante... Votado!
oldjard, muito obrigado pelo comentário, que bom que você gostou!
Ótimo conto,muito bem escrito !
kaka96, seu comentário me deixou contente! que bom que você ficou entretido lendo meu texto. e adoro quando conheço alguém que gosta de escrever! vou lá ler os seus textos!
yant, que bom que você gostou! o Mau já tinha me falado de você, agora quero conhecer seus contos... que bom que o Tito te recomendou minha historinha!
Escrever é um exercício delicioso que tenho gostado cada vez mais e lendo esse texto lindo fico motivado a aprender sempre mais... Maravilha cara! A gente fica lendo rápido pra ver o que pode acontecer na próxima linha... Votado!
Muito bom cara! Realmente nos desperta vários gatilhos, principalmente o da curiosidade...rsrsrs... Lembranças doces e marcantes num texto muito bem cuidado... O Tito me falou tão bem deste texto e ele tem razão nos seus elogios... Parabéns! Votado...
karalegal, quando o comentario começa com "gosto de escrever", já me conquistou! vou lá ler seus contos para aprender também!
sapeka2000 obrigado pelo voto e o comentario, que bom que meu texto te fez companhia num dia chuvoso, muito gostoso!
obrigado pelo comentario e pelo voto vgrsantos! que coisa mais gostosa ouvir que aqueci o coração de um menino tão bonito!
Gosto de escrever e aprendo muito com bons textos como é esse seu e se tem recomendação do Tito a gente fica curioso.. Adorei o tema e a abordagem... Votado!
Beleza de conto menino! O Tito havia me indicado, eu resolvi apreciar neste domingo chuvoso e foi uma bela surpresa... Parabéns e que venham outros! Votado Claro.
Delícia de conto rapaz.. Mais uma recomendação certeira do Tito e a gente corre pra ver e apreciar... Senti até um quentinho no coração ao ler... Parabéns! Votado!
continuando para o Tito (parece que tem limite de caracteres no comentário mas não avisam?)... isso de juntar tudo numa unica intensa noite foi a mão do maurzen. achei que criou um encadeamento tão bom que parece que aconteceu exatamente assim, e não em ocasiões separadas. muito obrigado pelo comentario e voto e recomendação e mensagens!
tito, de fato as palavras intensas do engmen são imbativeis. isso pra dizer que adorei seu comentário também! interessante o que você falou sobre tentar acertar. tinha escrito em ordem cronológica. na noite em que conheci o Caio até saimos do parque juntos, mas não fui para a casa dele. Naquela noite vi dois caras se beijando, mas só fui descobrir o lugar de pegação depois. e também não encotrei a Carol naquela primeira noite, nem sei se o Caio e ela estavam brigados.
O meu querido Engmen falou tão lindamente sobre o conto que fica difícil agora...rsrsrs... A saudade e, talvez, a lembrança são ambas um bem concreto mas não seguro, nos acompanha e as vezes nos larga por motivos adversos... Seu texto fala sobre esse sentimento com um cuidado e com uma vontade de acertar que a gente sente em cada linha lida... Estou imaginando o erotismo invadindo esse mar de lembranças... No aguardo! Belíssimo texto... Votado Claro e muito bem recomendado!
anonimo66, a ideia é justamente publicar as lembranças da minha primeira estória com outro cara. mas o que eu contei como uma só noite aqui no conto na verdade ocorreram em várias. sim, deverá ter uma continuação, mas sou daqueles de procrastinar. muito obirgado!
que comentário mais elogioso engmen! muito obrigado por ler e perceber o trabalho por trás... o maurzen sempre fala em encadeamento e fluidez, e me ensinou a ler em voz alta para perceber isso... sim, que venham mais -- e estou dizendo de pessoas que queiram escrever e ler! obrigado de novo!
Cara; as lembranças parecem, no fundo, ser o que nos acompanha pra sempre e você trabalhou bem o tema nesse primeiro conto que, parece, terá continuação. O Tito me deu um toque e eu vim conferir... Valeu a pena!! Votado...
Em tempos de superficialidade imediatistas e interações lacônicas, onde conteúdo e estrutura são relegados a segundo plano, estórias como esta são um revigorar de literatura erótica envolvente. Você e seu talentoso "mecenas" são diferenciais lampejos de contos memoráveis. Parabéns e que venham mais!
obrigado pelo comentario morsolix, e que bom que você gostou do tom do texto... ele ficou longo mesmo, porque foi escrito a 4 mãos com o maurzen, que foi quem me trouxe pra cá... Obrigado de novo!
Obrigado morrisey por seu comentário tão amigo e o voto também! Fico empolagado de continuar escrevendo :)
Adoro textos bem escritos.Um tom saudosista e ao mesmo tempo uma leve sensualidade.Confesso que de cara, achei longo o texto,mas,insistindo na leitura,se descobre uma história boa e envolvente.Parabens.
Você escreve muitíssimo bem, parabéns. A história está envolvente, delicada e sensual na medida certa. Novamente parabéns!
Agradeço o voto e o comentário cidilou... com esse estímulo, em breve vou começar a escrever a 2a parte!
Gatão maurzen... eu é que adoro poder estar pelo menos assim perto de você... quanto à 2a parte... ai ai... vou escrever. Beijo
já esperando a parte 2...muito bem escrito...parabéns...