Seria uma reunião de amigos apenas. Beber alguma coisa, ouvir música, jogar conversa fora, sem mais pretensões. Coisa boa de se fazer, mas às vezes ela sentia falta de algo mais.
Os ingredientes de que precisaria: uma lata de leite condensado, uma lata de leite (medida na mesma lata do outro), três ovos inteiros. Para a calda, uma xícara de açúcar e meia de água. Uma receita básica, poucos ingredientes, fácil de fazer. Simples e gostoso.
Foi conferir se tinha tudo em casa: o leite, o condensado, os ovos. Tudo certo, mãos à obra
Primeiro, bateu os ovos no liquidificador. Pensou na expressão bater os ovos, derivou para bater nos ovos e riu sozinha.
Depois acrescentou o leite condensado, o leite e bateu de novo. Ficou observando o leite condensado descer da lata. Um pouco escorreu para fora. Passou o dedo, levou-o à boca. Sentiu um leve arrepio ao saborear o dedo lambuzado.
Derreteu o açúcar na panela até ficar moreno. O cheiro do melado ativou seu olfato, a cor morena, suas lembranças. Acrescentou a água e deixou engrossar.
Colocou com calma, numa forma redonda. Em seguida, despejou a massa. A calda por baixo, a massa por cima. Levou ao forno médio.
Havia ainda um pouco de leite condensado no fundo da lata. Pegou uma colher para raspar. Olhou a colher cheia. Deixou o conteúdo escorrer novamente para a lata, enquanto observava o fio cremoso e suculento.
Começou a devanear sobre a receita: ovos, leite, bater, a calda morna escorrendo para dentro da forma redonda, o furo no meio, mexer até engrossar. Olhou novamente para o leite grosso descendo da colher para a lata.
Ficou assim um tempo, tirando e colocando.
Sim, jantar com as amigas é bom. Rir, beber, ouvir música, pudim de leite condensado, tudo isso é bom. Mas há momentos em que o leite que ela gostaria não é o condensado.
Finalmente, levou a colher à boca e engoliu tudo.