O momento

Você chegou e me pegou em flagrante. Estava deitada na cama, nua, com o corpo suado, os joelhos dobrados, as pernas afastadas. Você chegou e ouvindo os murmúrios no quarto você veio, pé-ante-pé, para me surpreender. No ar, o som suave do meu prazer, combinado com a música que eu tinha colocado ao fundo. Você ficou à porta e observava o meu pescoço a alongar-se, os meus cabelos a dissolverem-se no travesseiro, as minhas mãos a dominarem-me, os meus dedos inquietos, a minha carne em fogo. Olhei e você estava se despindo. Nesse momento levei a mão mais abaixo, onde você gostaria de colocar a sua língua e suavemente imitei o que seria o teu trajeto, ascendente, descendente, fluído, circulante. Podia ver você vigorosamente apontando para mim, ainda à porta, sem autorização para entrar. Eu continuei, reconhecendo cada ponto da minha pele onde você iria colocar as suas mãos, a sua língua, o volume que entrevia a sair de você e te fazia contorcer à porta. Mas não, não era ainda o momento. E os meus olhos fecharam-se, o meu corpo arqueou-se, deixei de sentir as mãos e os dedos, a minha boca entreabriu-se num gemido mais forte que se transformou em grito, como você bem sabe que me deixo abandonar ao êxtase. Você esperou que eu parasse de tremer, que as minhas pernas se estendessem, que as minhas mãos se afastassem, que a minha alma regressasse ao corpo. E só então, em passos cautelosos, temerosos, você se aproximou de mim e me disseste,sussurrando : "Minha querida, prazer em encontrá-la assim." E então sorrindo, em tom deliciosamente cúmplice, de antecipação do que se seguiria, eu respondi: "O prazer é todo meu."