*História Fictícia*
1) Mais um dia...
Hoje foi um dia de merda. Aparentemente as pessoas dessa cidade decidiram ter o mesmo hobby, encher meu saco. E meu dia só está começando... ainda não é meio-dia.
Logo de manhã, a digníssima dama (puta) que mora em um apartamento ao lado do meu, começa uma briga acalorada com seu digníssimo marido (corno). Quando digo manhã, quero dizer QUATRO HORAS DA MADRUGADA. Para quê comprar um despertador se todos os dias esses dois indivíduos (fdp) amanhecem brigando. Não sei nem se meu despertador realmente funciona. No dia que não brigarem, irei me preocupar. Como moro sozinho, não tenho que ver ninguém reclamando dos problemas do dia anterior e não preciso, por educação, fingir que estou escutando. Às vezes me sinto sozinho dentro do meu apartamento, mas tento apenas seguir com meu dia.
As desventuras continuam ocorrendo, acabou o sabão, estou sem toalhas limpas, há pratos sujos na pia, a casa está uma bagunça e acho que vi uma barata, mas pode ter sido um rato. De qualquer maneira, comprarei um gato para espantar qualquer outro animal. Após me arrumar para o trabalho, saio correndo, pois estou atrasado como de costume. Saio de meu prédio resmungando, pois o elevador não está funcionando e tive que pegar as escadas. Estava na grande maioria do tempo xingando a todos que passavam pelo meu caminho e me preparava para a pior parte de morar em uma grande cidade como São Paulo, o transporte público. Alguma coisa eu fiz em algum momento de minha vida para merecer esse inferno todas as manhãs. Meu carro seria uma boa opção, mas como moro perto do trabalho, não vale a pena usá-lo. O que me irrita não é o atraso do metrô, não é o preço da passagem, são as pessoas lerdas que insistem em existir na face da Terra. Há pessoas que não saem do caminho porque estão com a cara enfiada na porcaria do celular, pessoas que não entendem que é preciso aguardar as outras saírem do vagão para que elas possam entrar e pessoas lerdas no geral. Essas pessoas conseguem fazer crescer fios brancos em meu saco escrotal. Minha raiva é imensurável nesse ponto de meu dia.
Saio correndo da estação República e chego em 5 minutos na entrada do prédio comercial onde fica a empresa onde sou diretor geral. Minhas costas estão molhadas de suor. Alguém pode me explicar o motivo de tanto calor se já estamos na MERDA do outono? Meu pau provavelmente já virou um peru assado dentro da minha cueca. E adivinha, elevador quebrado... Respirei fundo para não socar alguém. Trabalho no 24º andar, mas pelo menos não subi as escadas sozinho, o presidente da empresa subiu comigo. Lógico que ele estava reclamando que eu estava atrasado e não havia entregado um relatório sem importância. Estou disposto a pagar aulas de gestão para ele. Assim, quem sabe, ele aprende a fazer o próprio trabalho... Queria tornar-me o presidente dessa empresa o quanto antes. Ser um diretor já não atende a minhas necessidades de poder. Passei pelo escritório bufando e não olhei para ninguém. Entrei em minha sala e finalmente estou sozinho. Sentei em minha cadeira e estou há uma hora fazendo a porcaria do relatório.
Viu? Como eu posso ser uma pessoa amável, carinhosa, respeitadora e atenciosa se o mundo não colabora? De qualquer maneira, estou aqui a muito tempo e quero dar uma volta pelo escritório para ver como andam as coisas. Reparo na organização impecável de todas as coisas ao meu redor. Levanto de minha cadeira e ando em direção a porta. É maravilhoso ter uma secretária como a Dona Vera. Tem 67 anos, ou algo parecido (ela é velha), e cuida de meus assuntos e de minha sala como se fosse minha verdadeira mãe. Eu poderia comer no chão sem prato se quisesse. Claro que não faria isso, pois sei o quanto minha bunda foi comida nesse mesmo chão. Eu não como onde sou comido, é quase uma regra filosófica e espiritual que eu sigo. Abro a porta de madeira e saio de minha sala. O corredor principal está vazio. Todas as portas fechadas e o silêncio enche o ambiente. Acho que a notícia de minha chegada foi espalhada. No final do corredor, vejo uma pequena bolinha com cabelos brancos correndo em minha direção. Dona Vera é uma ótima pessoa, mas não consigo levá-la a sério quando ela tem o tamanho de um dos anões da Branca.
- Senhor Felipe! Bom dia! Quero dizer, boa tarde, não é mesmo. - Dona Vera disse quase sem fôlego.
- Boa tarde, Vera. Como vamos hoje?
- Vamos a onde, senhor?
Respiro fundo. - Tomou seus remédios, Dunga?
Ela dá uma risada estridente. - O senhor é muito engraçado!.
- Sei... - É melhor eu me acalmar um pouco agora.
- Senhor, tenho alguns recados que deixaram ontem e hoje de manhã. Além disso, mandei um pessoal de limpeza ao seu apartamento para que possam arrumar toda aquela bagunça. Não se preocupe, já solicitei seu almoço ao restaurante de sempre. Liguei também para o serviço de manutenção para que verifiquem a situação do elevador. E queria te informar também....
- Calma Verinha. Vai ficar sem ar dessa maneira. Eu vejo tudo isso com você depois, vou ao setores de produção verificar se está tudo ok. - Começo a andar mas percebo a excitação de Dona Vera. Ela ficou vermelha quase que instantaneamente quando a interrompi. Acredito que esteja escondendo algo de mim. Logo eu descubro o que é.
- Tudo bem, senhor. - Ela fala em um tom maternal. - Aliás, solicitei um terno para você. Acredito que já estão chegando. O senhor ficará lindo hoje à noite.
- Um terno? Para que?
- É... um terno... para, você. - Nem mesmo um gago falaria dessa maneira.
- Sei... e por que preciso de um terno? - Comecei a ficar ainda mais desconfiado. O que esse anão de jardim fofo e carinhoso está escondendo?
- É relacionado a um dos seus recados. Solicitei o terno porque acredito que irá a um compromisso hoje à noite. - Os olhos dela começaram a brilhar com o pensamento que passou por sua cabeça. Ela começou a dar pequenos saltos de alegria. Essa mulher deve ser louca. Espero que não esteja planejando me matar. "Quero matar meu chefe 3: o massacre do anão furioso".
- Ok, Vera. Depois falamos sobre isso. - Virei-me e entrei na segunda porta a direita, o banheiro.
Olho-me no espelho pela primeira vez no dia. Sei que não sou o homem mais vaidoso do mundo, mas também não sou desleixado. Arrumo meu cabelo preto e alinho minha camisa social azul. Vejo meu rosto. A sombra da barba fina começa a aparecer acentuando meu queixo retangular. Minha boca está vermelha dando contraste a clareza de minha pele. Saio apenas de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Não tenho tempo de tomar sol ou fazer qualquer outra coisa. Só tenho o cabelo cortado, pois a Dona Vera traz semanalmente uma equipe para arrumá-lo. Com o estilo de vida que levo, ainda não consegui entender como sou atlético. Acho que Dona Vera mistura Whey em minha comida. Quase que diariamente percebo olhares de homens e mulheres que cochicham com os colegas que quase sempre olham diretamente para mim. Acho que gostam do que estão vendo. Eu recebo, no metrô, esbarrões, apertões e até mesmo passadas de mão em minha bunda arrebitada. Acho que lá não é um lugar tão ruim assim. Lembro do dia que transei com um dos motoristas dentro da cabine de um dos trens. Que homem gostoso. Sabe aqueles caras com pelos bem finos que fazem uma camada na pele apenas no peitoral, nos músculos do abdômen e nos antebraços? Fico até de pau duro quando me lembro. Aposto que está tentando tirar minha porra do rabo até hoje.
- Senhor? Está tudo bem ai dentro? Precisa de algo? Papel, um jornal, seu celular?
Isso sim é o que eu chamo de broxada.
- Não, Vera! Está tudo bem... Pode continuar com seu dia.
- Ok. - Ouço os passos leves da criatura mística se afastando da porta.
Saio do banheiro um pouco mais calmo. Ainda estou no nível "ninja" de stress... mas é a vida. Após minha inspeção nos setores de produção, volto a minha sala.
2) O convite inesperado...
Lá está o misterioso terno envolvido em plástico em cima do sofá. Fecho a porta e tento ignorar a peça de roupa. Vou a minha mesa e termino o relatório. Assim que eu o envio, ouço três leves batidas em minha porta. Provavelmente é o chaveirinho querendo me explicar a situação. Abro a porta.
- Dona Vera, mas que diabos... - Paro de falar assim que percebo que não é Dona Vera quem está do outro lado da porta.
- Senhor Felipe? Sou do restaurante Itália. Trouxe seu pedido. - Esse é um dos meninos mais gostosos que vi em minha vida. Acredito que tem uns 20 anos, corpo magro, mas um rosto digno de um belo banho de porra quente.
Indico para que ele entre em minha sala e fecho a porta assim que ele passa. Sua bunda é suculenta e me chamava desesperadamente. Apertar aquilo deveria ser um presente divino. Imagino minha mão passando por dentro da calça jeans dele e meu dedo molhado de baba entrando naquele cuzinho apertado com força e sem piedade. Qual deve ser o cheiro do cu de homem tão gostoso? Se ele quisesse, também o deixaria cheirar o meu cu, lamber, lambuzar, enfiar, gozar...
Ele deixa o prato em minha mesa e vira o corpo encarando-me. O cheiro de seu perfume encheu minha sala e me deixava ainda mais louco de prazer. Conseguia sentir meu pau latejando dentro de minha calça soltando um pouco de porra. Seus olhos eram castanhos e me chamavam de um jeito provocador.
- Fiz questão de trazer seu pedido no momento que vi seu nome no restaurante. Sempre quis saber qual seria o gosto do seu pau.
Acho que ele sabe ler mentes. A declaração não foi uma surpresa pois sabia que homens desse jeito são loucos para foder um cara rico e acabar na moleza. Conseguia ver a malícia e a ambição dentro de seus olhos. Sempre me aproveitei desses momentos, mas... não posso.
- Acredito que é melhor você sair. - Eu disse com minha voz grossa como um trovão.
- O quê? Diga que não está louco para me comer e me deixar arrombado gritando por mais.- A expressão dele era de confusão e desapontamento.
- Decidi ser um homem assexuado. Saia. - Abri a porta e o esperei andar todo o corredor enquanto ele tentava olhar discretamente em minha direção. Para ele, ser rejeitado deveria ser novidade, mas não me importo. Fechei a porta com força e fui em direção a minha mesa.
Abri a gaveta superior com minha chave e procurei a foto. A memória daquele dia ainda era nítida em minha mente. Tantas risadas e alegrias. Quando conseguirei me livrar de você? Senti aquele puxão em meu peito e me recusei a pensar mais sobre o assunto. Guardei a foto olhando o par de sorrisos que guardavam memórias do paraíso. Pelo menos consigo usar toda essa tristeza que sinto hoje no trabalho. Continuei com meu dia.
Dona Vera entra algumas horas depois toda apressada gritando meu nome. Essa mulher deve ter tomado energéticos com a mamadeira quando criança. Juro que um dia morrerei com um susto dessa pequena obra.
- Senhor Felipe!! Já são quase 15:00. Não vai se arrumar? Irá chegar atrasado para a fes... - Vera parou no meio da frase. Vou matá-la...
- Fes...?
Ela se aproximou com cuidado e pude perceber o seu rosto queimando. Esticou o braço e me entregou um envelope. Será que ela consegue ser mais dramática?
- O que seria isso? - Falei enquanto abria um convite. Estava escrito a mão e quando vi aqueles traços delicados e quase desenhados, senti o chão cair.
"Olá Felipe H.
Gostaria de convidá-lo a minha festa. Estou comemorando uma nova realização. ;)
Estarei esperando por você. Vista-se apropriadamente, por favor.
Dia 20/12/2016 em minha casa às 17:00.
Com muito carinho, Fernando L."
- Ele pediu para que eu lhe entregasse o convite. Como pode ver, a festa é hoje em duas horas.
- Você está tramando pelas minhas costas com ELE? - Falei com a voz trêmula e vi Dona Vera afastando-se lentamente.
- Por favor, vá a festa senhor. Ele gostaria de sua presença. - Vera falou com a voz claramente abalada.
Por um momento vi minha sala desaparecer. Tudo estava borrado pelas lágrimas que enchiam meus olhos. A dor em meu peito atingiu-me em cheio e me deixou ainda mais desnorteado. Reli o convite imaginando as consequências da minha ida a uma festa dele. Não consegui imaginar um motivo para ele me chamar. Lutei para manter-me de pé. Os olhos de Vera me olhavam com pena e preocupação. Sentei-me e apoiei meu rosto em minhas mãos enquanto fechava os olhos. Seu rosto apareceu em minha mente. Tão nítido como uma fotografia. Ele estava sorrindo, deixando evidente suas covinhas encantadoras e seus dentes brancos. Sua boca estava vermelha e seus olhos brilhavam com a luz quente do sol. Ele estava deitado em minha cama olhando-me intensamente. Eu estava tão perto que conseguia sentir seu hálito e poderia beijá-lo sem muito esforço. Seu cabelo escuro e liso apontavam para todos os lados em uma bagunça que caia bem nele. O lençol branco cobria metade de seu peito deixando sua pele clara e macia a mostra. Seu peitoral era levemente musculoso, com traços delicados e uma pelugem macia e fina. Pude sentir o cheiro de lavanda que com pouco tempo tornou-se minha droga favorita. Eu estava perdido no paraíso com um anjo ao meu lado. Meu coração estava quente e pulava de modo frenético. "Eu te amo" eram as únicas palavras que eu pensava em dizer nesse momento. Nada mais do que isso, para sempre. "Fernando, por favor, não me deixe.. Fernando?".
- Senhor? - Vera falou preocupada, colocando as mão em minhas costas. Quando ela sentou-se ao meu lado?
Abri os olhos que já não conseguiam manter as lágrimas. Dona Vera estava ao meu lado chorando comigo.
- Verinha, por favor, não chore. Eu sei o quanto você se importa comigo, mas isso passará logo. Não posso ir a essa festa. Não conseguirei olhar para ele. - Eu falei.
- Senhor, não quero te chatear, mas já se passaram 3 anos. O senhor mudou muito desde então. Ficou mais irritadiço e afastou todos de sua vida. Só trabalha e vai para casa. Sei que fica todos os fins de semana sozinho. Eu sei que tudo o que aconteceu não foi justo com nenhum de vocês.
Ela continuou:
- O senhor sempre foi orgulhoso. Quer que todos pensem que é forte e não se importa. Mas eu vi o seu sofrimento de perto. Por favor, faça algo para terminar com tudo isso, senhor. Eu te amo como um filho e não deixarei nada te acontecer, mas não estarei nesse mundo para sempre. - Ela disse com calma. Seus olhos brilharam com as lágrimas que começavam a escorrer.
- Não fale isso Verinha, por favor. - Falei entre soluços. - Eu sei que mudei muito, mas todas as minhas perdas te trouxeram para perto. Eu te amo Verinha. Você é um presente que minha mãe me mandou depois de partir, sem você eu estaria perdido e sozinho mais uma vez.
- Então, como sua mãe - Ela falou limpando as lágrimas - estou dizendo para ir a festa. Você deve falar com o Fernando e resolver tudo. E isso é uma ordem.
Nós rimos. Eu hesitei um pouco pensando em como conseguiria me controlar na presença dele.
- Irei a essa festa. Mas não será fácil vê-lo novamente.
- Eu sei, mas como você pretende assumir o novo posto de Presidente da empresa semana que vem se nem mesmo tem coragem de encarar um problema amoroso? - Ela falou cuidadosamente olhando para mim com um sorriso de orgulho.
- Presidente? - Eu disse.
- Sim. Soube que o senhor Bernardo casou-se e irá abrir uma empresa com o marido. Não sabia que era gay, mas aparentemente era um grande amigo de muito tempo. Estavam esperando a venda da casa para viajarem. Assim, a vaga ficou livre e o conselho de acionistas escolheu você! Todos tentaram te parabenizar, mas você parecia um furação quando chegou e ninguém teve coragem.
- Humm... VERA! PRESIDENTE! - Pulei do sofá animado e fazendo com que o terno caísse. Vera levantou-se e começou a dar pequenos saltinhos, mas vi em seu rosto um pouco de preocupação.
- O quê foi agora mulher? - Esse montanha-russa de emoções estava acabando comigo.
- Posso lhe perguntar algo? - Ela disse com vergonha. Lá vem bomba.
- Vera, fale logo.
- Continuarei sua secretária quando for presidente? Ouvi dizer pela empresa que você estava irritado pois não tinha uma secretária gostosona e estava preso com uma múmia animalesca.
- Hahaha, múmia animalesca? Claro que continuará como minha secretária. Nunca te abandonarei. E pare de fofocar pela empresa, recomponha-se. - Falei tentando esconder a risada. - Obrigado Verinha.
Abraçamo-nos. Dona Vera é tão pequena e tem um cabelo tão branquinho. Vendo ela tão perto me abraçando, parece até uma ovelha fofinha.
- No convite não tem o endereço dele. Você precisa que eu ligue para confirmar? - Vera disse recompondo-se.
- Eu sei o endereço. Passo por lá sempre que estou de carro.
- Mas não é do outro lado da cidade?
- Vera, vamos agilizar? - Tentei disfarçar. Lembrei de quando o vi saindo de casa um ano atrás com outro homem. Não sai de casa por duas semanas.
Arrumei minhas coisas, peguei o terno do chão e sai de minha sala com um pequeno poodle nos meus calcanhares. Estava sorrindo? Não havia percebido, mas estranhei a quantidade de pessoas na empresa me parabenizando pelo novo cargo. Meu sorriso era um convite para que os outros pudessem se aproximar? É melhor eu parar com isso. Será que posso? Não. Hoje terei a chance de estar perto do meu amor. Eu o olharei nos olhos, falarei algo adequado e ... Ai meu Deus! O que farei? Não sei como irei me comportar perto dele. E quem mais irá nessa festa? Festa do quê? E se ele não falar comigo? Será que conseguirei falar com ele a sós?
- Boa sorte. - Vera disse.
- O que?
- Boa sorte na festa senhor. - Ela falou fora do taxi.
- Obrigado Verinha. - Eu disse. Fechei a porta e fui para casa.
*** A história ainda não está terminada. Se gostaram, me avisem e eu termino. :D
Parabéns gostei muito bem detalhado continuar