O homem das punhetas tristes

Eu sou o homem que bate punhetas por essas horas tristes
Você quase não me vê, porque eu quase não existo
Vivo de teimoso, um viver aturdido e aflito
Pertenço à classe dos que foram quase esquecidos
Quase amados, quase vencedores, sempre vencidos
Defenestrados do mundo, à margem do abismo
Porque eu praticamente quase não estou vivo
A morte ronda perto, ouço os seus passou, o ritmo
Calmo com que ela me espera, oferece carona, eu sinto
Como uma estranha quimera, num cais restrito
Onde o prazer é abandonado pelo sacrifício
Onde o amor é um luxo inatingível
Onde eu tenho apenas o meu membro ereto
E as mãos com que o aperto e agito
No meu quarto soturno, sinistro
Paredes num tom de de ocre, como um túmulo num labirinto
Onde resido ou sobrevivo
Onde serei achado, exumado
Algum dia, em estado de decomposição
Depois da última masturbação
Depois da derradeira ejaculação
Que outra - nunca mais
Enfim, imerso, na mais total solidão:
Descansando em paz.