Em outro lugar, Leão. - parte 2



Parte 2


Estava correndo na mata. Estava ainda com fome. Estava com medo. Não conseguia respirar direito, pois estava muito cansado. Parei numa árvore. Ela era meu apoio enquanto tentava recuperar o ar.

Ouvi galhos se quebrando. Era minha deixa de começar a correr de novo. Contudo, senti uma mão no meu ombro direito. Virei para o lado para saber quem era. Meu coração acelerou quando vi que era o Gustavo todo desfigurado.

- Você me deixou lá para morrer! – Ele estava andando devagar. Sua perna estava com sangue seco. Muito sangue tinha ali. Seu rosto estava queimado e não tinha mais seu braço esquerdo. – Você deve morrer como todos nós. Você deve isso ao Capitão.

Minhas lágrimas começavam a surgir. Percebo que estou tremendo muito. A cada passo que o Gustavo dava, eu dava para trás. Contudo, acabo escorregando em uma raiz de árvore. Meus olhos estavam voltados para ele. O Gustavo estava tirando uma arma de trás da costa. Mirou. A arma estava bem próxima a meu rosto. “Agora, você irá comigo para o outro mundo!” Essas foram suas palavras antes de ouvir o disparo e acordar.

Tinha sido um sonho.

Acordei assustado. Meu coração estava batendo forte, pois o sonho era um pesadelo. Acordar, ainda era um pesadelo.

Visão começava a reconhecer o local onde me encontrava. Parecia ser um quarto. Era um quarto pequeno. Estava numa cama de solteiro de ferro. Tinha um criado do lado da cama. Um pequeno guarda roupa no canto. Olho para meu lado direito e percebo que não estou só. Era o mesmo rapaz que tinha aparecido antes de apagar. Ele estava sentado numa cadeira me observando. Seu olhar era de análise. Ele me olhava dos pés a cabeça.

Minha cabeça começou a doer. Quando fui colocar a mão na minha cabeça, em virtude de tenta amenizar a dor, percebi que estava preso. Preso com minha mão amarradas em cada canto da cama. Estava de peito para cima com os braços esticados amarrado no punho. Meus pés estavam livres. Sentia que estava completamente nu naquela cama. Olhei para ele assustado depois que percebi isso.

- O que você fez com minhas roupas? O que você fez comigo? – Meu tom de voz começou a ficar alterado e ele só me olhava. Aquilo estava me dando raiva. Ele estava completamente sereno vendo-me agitado. – Responda!

- Eu só cuidei de você. Relaxa. – Ele continuava só me observando com seu olhar penetrante. Se não fosse a situação, já teria dado em cima dele. – Você estava sujo junto com sua roupa. Coloquei para lavar e deixei você pelado.

- Me solte! Não quero ficar preso.

Me batia naquela cama como um louco. Queria sair dali. Queria voltar pra casa. Meus pensamentos eram de que tinha sido estuprado. Queria ir embora.

- Acalme-se. – Era voz do homem. Uma voz bastante grave. Deu-me até medo quando ouvi. Acalmei-me depois de ouvi-lo falar. – Deixei comida na outra ponta da cama.

- Primeiro me responde. Por que estou preso?

- Porque você é do país da Gaivota. Sabe que está em guerra com Tubarã, meu país. – Ele começou a levantar e andar para porta indicando que iria sair. – Não confio em você. Por isso, ficará preso até o momento de descobrir o que fazer com você.

Ele saiu pela porta sem menos olhar de novo pra mim. Era muito sinistro aquilo. Estava no país inimigo, Tubarã. Preso numa cama. Longe de casa. Era pra foder qualquer um.

Não tinha nada que me indicasse o tempo, além da janela onde mostrava o sol indo embora. Sentia fome desde momento que acordei, mas tinha medo de comer. Penso que está envenenado. Era um pretexto, a fim de matar melhor uma pessoa. Contudo, chegou momento já na noite que não aguentava mais. Tentei virar pra comer, mas como iria fazer isso? Meus braços estavam amarrados!

- Ei, como vou comer!? Estou amarrado!

Repeti essa frase por cinco vezes até sentir que não tinha mais forças para gritar. Estava muito tempo sem comer. Minha cabeça girava e meus olhos começaram a se fechar.

- Ei! Acorda! – O homem estava com seu rosto bem acima do meu. Peguei um susto. Senti minha mão direita liberta, mas a esquerda ainda estava presa. – Soltei um dos seus braços para comer, mas só isso.

Não pensei muito. Comecei a comer. Minha boca ansiava por comida. Demorei um pouco para perceber ele me analisando, mas era um olhar tranquilo e sedutor. Senti vergonha na hora por tá comendo que nem um bicho.

- Desculpa.

- Pelo o que? Por tá comendo? – Balancei a cabeça concordando. Estava envergonhado. Minhas bochechas estavam rosadas. Como sei? Sentia todo meu rosto ficar quente. – Não se preocupe. Não consigo imaginar o que tenha passado.

Comecei a deslumbrar todas minhas memórias que tinha da guerra. Parecia uma maldição na minha vida. Morte. Sangue. Vidas sendo perdidas por motivos políticos. Meu coração batia lentamente acompanhando meus pensamentos. Minhas lágrimas começavam a escorrer pelo meu rosto. Eu estava triste e não sabia mais se era tristeza mesmo. Estava confuso. Sentado na cama.

Sentia uma mão no ombro. Olho para esse homem que me salvou. Ele puxa-me para seus braços. Acabo ficando de joelhos cama enquanto ele de pé. Seus braços começaram a percorrer minha costa. Ele apertava com carinho e compaixão. Era isso passado pelos seus toques. Seu perfume tinha essência amadeirada.
Ele me soltou depois de uns dois minutos. Foi o suficiente para saber que podia confiar nele. Queria contar muita coisa. Queria desabafar. No entanto, aquele abraço tinha sido meu relaxamento.

Fiquei na cama vendo-o ir embora mais uma vez do quarto. Queria perguntar o nome dele, mas minha voz parecia que tinha travado. Só meus olhos suplicavam para ele ficar comigo naquela noite. Queria ser dele.

- Qual seu nome? – Essa pergunta tinha saído como suplica. Meu tom de voz denunciava muita coisa. Ele continuava andado para portar. Tinha que fazê-lo parar. – Meu nome é Fábio.

Já no final da porta, ele se vira. Olha pra mim. Fica uns 10 segundos olhando-me. Dá um pequeno sorriso falando seu nome, “Leonardo. Até amanhã, Fábio.” Ele vai embora fechando a porta junto a si.


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Ficha do conto

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Nome do conto:
Em outro lugar, Leão. - parte 2

Codigo do conto:
139142

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
26/05/2019

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