13. Interditado



                                  Júlio
       Acho que se outra pessoa tivesse me contado eu não teria acreditado em uma única palavra. Mas foi Thomaz, meu melhor amigo (e até então, minha amizade colorida) que me debruçou em detalhes todo o encontro inesperado com o tal Horácio, o ex de Mario, meu padrasto. “O ex de Mario, meu padrasto”, era uma frase bizarra até pra eu formalizá-la. Thomaz tinha como provas duas notas de cem reais que Mario o entregou em troca do silêncio e uma conversa pelo Facebook com Horácio, sem contar ligação recebida e registrada de meu padrasto no celular dele. As evidências eram claras: o “namorido” de minha mãe era tão ou mais gay que eu.
       Foram meses tendo que aturar o machismo de Mario, quando, no fim, de macho ele não tinha absolutamente nada. Mario tinha um ex, talvez ex namorado ou marido, mas ele teve um caso com um outro homem, algo que eu sequer poderia imaginar, vindo de um troglodita preconceituoso que nem ele. Como foi aniversário de Thomaz, não houve tempo de os dois conversarem melhor, mas ainda iriam marcar um encontro. Meu amigo queria saber mais sobre o caso deles. E tudo o que eu queria era chegar em casa e encontrar meu padrasto, para saber como ele reagiria na minha presença, porque ele já devia suspeitar que eu já sabia do segredinho dele.
       Cheguei em casa e a encontrei silenciosa. Aliás, a vizinhança estava silenciosa. Nem Fabiana e suas amigas estavam em frente a casa fofocando, como sempre faziam. Liguei para minha mãe para saber por onde ela andava.
       - Oi, filho. Quase você não volta pra casa! – ela brincou, do outro lado da linha.
       - Eu acabei dormindo na casa do Thomaz, mãe.
       - Eu imaginei que isso aconteceria, nem me preocupei. Você almoçou lá, não foi?
       - Almocei. – fiquei um pouco surpreso com minha mãe. Ela me conhecia bem até demais. – E a senhora? E o Mário? Estão onde?
       - Me chamaram com urgência no hospital. Duas enfermeiras faltaram. E o Mário está na casa do Moca, pra variar.
       - Ah, tudo bem...
       - Vá lá com ele. Não fique sozinho em casa... – mamãe sugeriu.
       - Acho que vou fazer isso mesmo. – me despedi de minha mãe e desliguei o celular. Fiquei realmente decepcionado por ter que ficar sozinho em casa e ainda teria que aguardar até a noite para esperar Mario chegar, e ele, indubitavelmente, estaria bêbado. Mas oportunidades não iriam faltar para que ele e eu tivéssemos uma conversa.
       O sol em Luz Dos Olhos estava de rachar e mesmo que eu já tivesse tomado banho na casa de Thomaz, preferi tomar outro pra tentar amenizar um pouco. E assim que saí do banheiro, vi meu celular tocando. Era Zeca.
       Meio receoso, atendi:
       - Zeca? Tá tudo bem?
       - Tá, ué. Por quê?
       - Você normalmente não me telefona. – expliquei, desconfiado. Ele soltou uma risadinha e disse:
       - Júlio, vista uma sunga, um short, uma camiseta e me espera na frente da sua casa. Suzana, Regis e eu estamos te buscando para ir ao Terra Clube conosco. Agora. – Zeca intimou-me e eu não tive como recusar. Fazia um tempinho que eu estava me aproximando mais da família do tio Moca, sobretudo dos filhos dele. Portanto, um passeio ao clube com eles, que eram um pouco mais velhos que eu, divertidos e me queriam por perto, com um bom banho de piscina caiu muito bem naquela tarde solitária de domingo. De sunga, com meu celular no bolso do short e com uma toalha no ombro, fui para a frente da casa.
       No carro, fui recebido com a maior algazarra. Zeca estava dirigindo, Suzana estava no banco de carona e Regis, ao meu lado, no banco de trás, com uma bola de futebol nos pés. Suzana, com uma bolsa transparente no colo, já usava um biquíni amarelo e passava protetor solar no corpo, animada; sua intenção era ficar moreninha. Regis exiba seus braços negros e fortes sob uma camiseta, que cobria seu peitoral definido e me recebeu com seu sorriso embranquecido. Zeca, excêntrico como sempre, estava sem camisa e deu uma piscadela safada logo que entrei no carro.
       Regis me puxou para perto dele e me abraçou. Sentir aquele corpo másculo e cheiroso ao meu redor fez meu coração acelerar, mas tentei disfarçar.
       - Vai jogar uma bola com a gente, loirinho? – convidou-me Regis. Era apelido que ele me dava, em homenagem aos meus cabelos loiros.
       - É! Vamos lá, Júlio?! – chamou-me Zeca. Mas eu não gostava de jogar futebol e eles sabiam disso.
       - Faça o que você quiser, meu primo. – disse Suzana. – O importante é que você se divirta.
       - Ele é teu primo agora, é? – perguntou Regis, rindo.
       - É. Não é?
       Durante o caminho ao Terra Clube, a bagunça permeava no carro, com música alta e uma faladeira sem fim. Eles me obrigavam a cantar a música junto com eles, e aos berros. De fora, poderiam até pensar que eles estavam bêbados. Porém, não haviam colocado um pingo de álcool sequer na boca e só o fariam quando chegarmos ao clube. Um tio de Regis, aliás, era um dos donos do Clube Terra e ele poderia levar quem e quantas pessoas quisessem.
       Zeca mal estacionou e correu com Regis para o campo de futebol do Terra Clube, enérgicos. Suzana, com o corpo todo melecado de protetor solar, me chamou para acompanhá-la à piscina e seguimos juntos. Por onde nós andávamos ela chamava atenção, tanto pelos homens quanto pelas mulheres. Ela arrancava olhares invejosos das moças e assovios dos rapazes, na maior pose. Regis não se importava em deixar a namorada desfilar sozinha no clube lotado de gente, principalmente de homens bonitos e atrevidos. Ele devia confiar na namorada e seu próprio taco.
       Suzana, assim que chegamos na área da piscina, encontrou com uma amiga morena e meio gordinha, Leda, e logo esqueceu de mim. As duas se deitaram em uma cadeira de praia e começaram a conversar, enquanto tentavam se bronzear. Tirei a camisa e o short e pedi o protetor solar dela emprestado. Ela o retirou da bolsa e me entregou o vidro quase cheio. Sentei-me em outra cadeira próximo a elas e deixei minha toalha na bolsa de Suzana. O local estava até tranquilo para um fim de semana de início de férias, com pouca gente para uma tarde ensolarada e bonita para se aproveitar o domingo. Eu passei a protetor solar no meu rosto e nos meus braços, mas precisava de alguém para passar nas minhas costas. E nesse instante, ouvi uma voz feminina em meu ouvido:
       - Quer ajuda, Julinho?
       Era Roberta, a prima de Luma. Ela usava um biquíni branco, realçando sua pele negra e esbelta. De corpo quase nu, ela era ainda mais sensual e seus cabelos encaracolados completavam o charme. Eu sorri e respondi:
       - Quero sim.
       Entreguei a ela o vidro de protetor e logo senti minha costa com o líquido gelado no corpo. Roberta cumprimentou Suzana e Leda com um “Oi” e depois voltou a atenção para mim. Curiosamente, perguntei:
       - Lígia ou Luma não estão aqui com você?
       - Não, não. Vim com meu pai. Ele está jogando bola com uns amigos lá no campo. – Roberta respondeu, enquanto massageava minha costa.
       - Ah, o meu primo e o cunhado dele, que é namorado dela – e direcionei a cabeça à Suzana - também estão lá...
       - Seu primo?
       - Ele é sobrinho do Mario, meu padrasto. Mas eu me dou bem com eles, então...
       Roberta parou de passar protetor na minha costa e se sentou ao meu lado. Com um sorriso fascinante, convidou-me para entrar na piscina e eu aceitei. Sem derramar muita água pelos cantos, mergulhamos na azul e profunda piscina do clube. A água estava morna e aconchegante. Fazia um bom tempo que eu não tomava um bom banho como aqueles e numa companhia tão divertida como a de Roberta. Notei que seus seios, mesmo para uma garota de apenas dezesseis anos, eram fartos e atraentes.
       - Posso te fazer uma pergunta?
       - Já fez, Júlio. Mas pode fazer outra. – ela riu.
       - Você tem quantos anos?
       - Tenho dezessete. Sou um ano mais velha que você, seu besta... – e me jogou água na cara. – Quando você faz dezessete anos?
       - Mês que vem.
       - E eu faço dezoito daqui a dois meses... Ei... Não me lembro de já ter te visto aqui nesse clube outras vezes. – Roberta comentou.
       - Eu realmente não venho muito. Minha mãe e meu padrasto vêm mais que eu aqui no clube. É que o tio do Regis, o namorado de Suzana, é um dos donos. Como eu não gosto muito do meu padrasto prefiro ficar em casa.
       Nadando, continuamos a conversa.
       - Falando nisso, e eles dois? Ainda estão brigados?
       - Brigados?
       - Sim, no colégio, eles dois tinham brigado. Não lembra? Você falou com eles pelo telefone...
       - É verdade... – por pouco eu não me entreguei. Eu havia me esquecido da desculpa que Thomaz inventou para as meninas, no Colégio Disciplina, para elas não desconfiarem de nós dois trancafiados em uma sala, sozinhos. – Foi só um susto. Dois dias depois, estavam bem de novo.
       Roberta riu e disse?
       - Meus pais são assim também. Ou eram.
       - Eram?
       - Eram. Decidiram se separar essa semana. – Roberta contou, na maior tranquilidade. Eu, contudo, levei um baita susto.
       Naquele instante, os dois descamisados e suados apareceram correndo, tiraram os shorts e pularam na piscina. Zeca e Regis ouviram uma bronca de Suzana e de Leda, mas ambos nem se importaram; pelo contrário: jogaram água nas duas, que não resistiram e pularam na água. Apaixonado, Regis beijou a namorada, enquanto Zeca nadava pela piscina. Roberta e eu nos afastamos deles e ela cochichou no meu ouvido:
       - Nossa, que gatos, hein!
       - É...
       - Mas mesmo assim... Acho você mais bonito que eles. – Roberta elogiou-me, embora o elogio parecesse mais com uma cantada. Com um olhar duvidoso, duvidei:
       - Você tá de sacanagem com a minha cara.
       - Não tô não. Eles são bonitos, mas você é mais. – disse, de um modo quase convincente. Mas para ter certeza, inquiri:
       - E se você tivesse chance de ficar comigo ou com ele – e apontei para Regis, que conversava com a namorada e a amiga dela - com quem você ficaria?
       - Quer saber mesmo?
       - Quero.
       Para o meu espanto, Roberta me puxou para perto dela e me beijou. Um beijo molhado, um tipo que eu ainda não havia experimentado e que não achei nada ruim. E mesmo gostando muito mais de homens, tenho que reconhecer que o beijo dela foi uma delícia.
       - Aê, esse aí é meu primo! – gritou a voz de Zeca, ao meu lado. Além dele, eu ouvia aplausos e assovios. Deveriam ser Suzana e Regis.
       Mas Roberta e eu não nos beijamos por muito tempo. Tive medo de me excitar, por mais esporádico que possa acontecer. Era mais fácil meu pênis ficar ereto em um minuto só de ver Zeca seminu do que com um beijo de Roberta. E quando nos soltamos, ela soltou:
       - Eu sabia que você beijava bem. – passando os braços sobre meus ombros.
       - Como você poderia saber? – e percebi que os outros se afastaram um pouco de nós dois.
       - Seus lábios são atraentes. São bonitos. Era de esperar que tivessem um gosto bom.
       - Não fala desse jeito, não... – e a beijei de novo.
       - Você sabia que esses seus cabelos loirinhos ficam mais bonitos quando estão molhados? – e deu outro beijo. Tive duas surpresas em dois dias: a transa com Thomaz, que foi bem melhor do que com Zeca, em todos os sentidos e receber uma cantada e um beijo de Roberta. Ela me puxou mais pra perto, beijando-me, com as mãos nas minhas costas. Por sorte, meu amigo de baixo não me envergonhou.
       - Mas Júlio, Luma não pode nem saber disso, hein. – alertou.
       - Por que não?
       - Porque ela é louquinha por você. – Roberta confessou, meio desgostosa. – E como vocês dois ficaram ontem, no aniversário do Thomaz...
       - Mas eu só fiquei com Luma, ontem, porque ela me beijou. – esclareci. – E pra ser sincero, eu estava a fim de ficar com você desde o início.
       - Eu também, mas...
       - Mas o quê? Já sei, pensou que eu também estava fim de Luma?
       - Nem tanto... – Roberta, envergonhada, tentando evitar meu olhar.
       - O quê? Diz logo. – insisti, vendo Zeca sair da piscina e gritar “Vou ao banheiro e depois comer alguma coisa!”.
       - Tá. É que... – voltei-me a atenção a ela - Ah, eu pensei que você e Thomaz... Pensei que vocês tivessem alguma coisa. Pronto. Falei.
       - Pensou o quê?
       - Ah, Júlio. Eu já percebi que vocês sempre andam juntos e depois do beijo que vocês deram na “Verdade ou desafio”... Vocês pareceram tão à vontade.
       - Então você pensava que ele e eu... – comecei a pergunta, com um sorriso contido, mas ela interrompeu.
       - Ah, eu sei que ele é hetero. Mas você eu tinha minhas dúvidas.
“Você é esperta, hein”, pensei.
       - Mas eu estava enganada. Inteiramente enganada. – e me beijou de novo. “Não é tão esperta assim”, repensei. Porém, uma coisa estava certa: Thomaz e eu nos arriscamos demais com aquele beijo. Tínhamos que tomar muito mais cuidado de agora em diante.
Suzana e a amiga dela ficaram ao nosso lado, do nada. Regis beijou a namorada e avisou que ia ao banheiro. Ele se levantou e Roberta comentou:
       - Acho que o namorado da sua prima não sabe, mas o banheiro masculino tá interditado.
       - Tá?
       - Tá. Meu pai foi lá agora há pouco, mas sei que tem outro que fica próximo do campo.
       - Bom, eu vou lá avisá-lo, então. Aproveito e vou ao banheiro também. – inventei essa desculpa esfarrapada somente para poder ver o corpo másculo de Regis mais uma vez. Roberta disse “Vá lá. Vou te esperar aqui” e me deu um longo beijo. Quando saí da área da piscina, Regis já estava entrando no banheiro.
       Fui em direção ao banheiro e vi que havia, de fato, uma placa com um “INTERDITADO” bem na frente. O mais estanho, no entanto, é ter visto que ele havia entrado. Regis era teimoso, pois a placa estava exposta para que qualquer um pudesse ler. Mas se ele entrou, eu também podia entrar.
       Vi que a porta de um dos boxes mais largos havia se trancado. O banheiro estava em perfeita ordem. Não estava sujo, nem com nenhum cano ou pia com defeito. Estava aparentemente normal, mas o que me chamava atenção foi o barulho que vinha justamente daquele boxe. Um barulho muito familiar e sugestivo. Aproximei-me dele, devagarzinho, o máximo que eu pude. Com os ouvidos colados na porta pude ter certeza de qual barulho era: alguém estava se agarrando lá dentro. E esse alguém era Regis, pois ele foi o único a entrar ali. Então Regis estava traindo Suzana?! Safado! Ela não merecia isso!
       Incomodado com os chifres que Suzana estava ganhando de presente do namorado, bati duas vezes na porta e perguntei:
       - Regis? Você tá aí dentro?
Ouvi uma risadinha do lado de dentro e uma voz soou:
       - Eu sabia que você apareceria aqui, Júlio.
       Não era a voz de Regis. Era a voz de Zeca.
       A porta foi destrancada. Abriu-se. Meu coração foi ainda mais acelerado quando vi que Regis dividia o banheiro com Zeca e estava agarrado a ele. Os dois riram um para o outro. A sunga deles estava apertada demais, faltava pouco para explodir. Zeca abriu mais a porta, pegou minha mão e disse:
       - Entra rápido antes que apareça alguém.
       Eu entrei e Zeca trancou a porta novamente.

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Comentários


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haroldolemos Comentou em 18/11/2015

Rapaz, bom demais...fica cada vez melhor. Muito excitante e envolvente.Os diálogos estão ótimos. Por favor, não pare. Abração.

foto perfil usuario jeovanerosa

jeovanerosa Comentou em 17/11/2015

Nossa que reviravolta, esse conto e um dos melhores que eu leio aqui. Podia ter um romance lésbico também, sei que talvez não seja o foco do conto, mais ficaria mais equilibrado.




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Ficha do conto

Foto Perfil Conto Erotico historiasemsegredo

Nome do conto:
13. Interditado

Codigo do conto:
74297

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
16/11/2015

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