O garoto olhou pra mim, mordeu o lábio inferior e deu um pequeno sorriso. Fiquei estático. Não sabia como reagir. Logo eu, um homem experiente de 43 anos, intidimidado pelo olhar de um moleque. Mas não era apenas como ele me olhava, era também como sua boca carnuda se movia lentamente, como os seus dedos passeavam por seus cabelos ou até quando, algumas vezes, seu mailo se destacava na camisa branca. Tudo nele era extremamente provocante. A coisa mais tentadora de todas: sua bunda, que mexia de um lado para o outro quando andava, e aquilo me deixava doido. Ele passou por mim e eu olhei para trás e nossos olhares se encontraram, como sempre acontecia. Ele parou no balcão, ainda me olhando e sorriu mais uma vez, virou-se e fez o seu pedido. Era sempre assim, nos olhávamos, ele me provocava e nada acontecia. Muito provavelmente ele esperava que eu tomasse a iniciativa, o que eu não estava tão certo que faria algum dia.
Isso acontecia sempre que ia naquele Café, perto do trabalho, o que eu fazia esporadicamente. Aquele garoto deveria trabalhar ali perto, já que estava sempre muito bem arrumado, com roupa social apertada, que destacava seu corpo e marcava sua bunda. Ah, sua bunda. Chegava a sonhar acordado com ela. Mas eu era um covarde.
Desde que vira meu filho e seu namorado fazendo amor, o que me deixou extremamente excitado, vinha imaginando cenas em que eu transava com outros homens. Jovens rapazes, na maioria das vezes. Talvez aquelas cenas do Eduardo com o Marcelo tenham despertado algo que já existia em mim e eu não sabia. Passei a prestar mais atenção nos homens e me peguei desejando vários deles. Algo que eu nunca imaginava que pudesse acontecer comigo.
O garoto pegou o suco que sempre tomava àquela hora e levou o canudinho à boca da maneira mais sensual que tinha encontrado. Dessa vez algo novo aconteceu: ele piscou pra mim e em seguida abriu um sorriso encantador, ainda com o canudo na boca. Acho que cruzara com aquele rapaz naquele Café muitas vezes, sem nem ao menos notá-lo. Eu já frequentava o lugar há muito tempo, mas só depois que espionei o Edu e o Celo que passei a percebê-lo. Na primeira vez que olhei-o ele pareceu se surpreender e ficar feliz. Havia sido notado. Será que me observava há muito? Passei muito tempo encarando-o, o que certamente deu-lhe um sinal de algum interesse da minha parte. E então, toda vez que eu entrava naquele lugar, pedia o meu café, sentava numa mesa, de frente para a porta e esperava por ele. E ele sempre aparecia, com seu olhar sedutor, vendo o os meus desejos mais profundos e trazendo-os à tona.
Passei a mão na minha barba, exibindo minha aliança dourada, mas como das outras vezes ele apenas sorriu, inclinou-se no balcão e pediu mais alguma coisa. Ficava naquela posição para me castigar. Sabia que aquilo mexeria comigo e fazia-o de propósito. “Olhe o que está perdendo!”, seu corpo dizia. Minha mente se encheu de imagens devassas e estava duro, novamente.
Respirei fundo, tentei pensar em outras coisas. Fechei meus olhos por um instante, mas abri-os de repente, assustado, quando senti um toque no meu ombro. Ele estava se encaminhando para a porta, passara por mim e me tocara, olhou para trás e deu mais uma piscadela. Saiu, me deixando duro, com o coração aos pulos.
Cheguei em casa cansado mental e fisicamente. Ouvi risadinhas vindas do quarto do meu filho. Ele e o Marcelo pareciam estar se divertindo. Passei para o meu quarto e me joguei na cama. Aquela fora mesmo a única vez que tinha visto meu filho e seu namorado transarem e não senti vontade de repetir. No entanto, surgira em mim o desejo de estar com outros homens e aquele garoto do Café estava deixando a minha cabeça cheia de nós. Me martirizava sempre que olhava nos olhos da minha esposa e lembrava as coisas que haviam passado pela minha mente durante o dia. Eu sempre tentei ser um homem honesto, um bom pai e um marido fiel.
— Oi amor — cumprimentou-me Marina, saindo do banheiro colocando brincos. Estava toda arrumada, com um vestilho longo vermelho e sapatos de salto alto. Olhou para mim rapidamente e correu a se olhar no espelho do quarto, onda podia se ver de corpo inteiro. — Cansado?
— Muito.
— Vou ter que sair, vou a um jantar com mamãe.
— Tá certo.
— Já vou, te vejo mais tarde, beijo!
Fiquei pensando em muitas loucuras que poderia fazer. Já estava com 43 anos, casado há 22 e estagnado numa relação morna há pelo menos 7 anos. Poderia eu, com essa idade, largar tudo e começar novamente? Seria sensato eu pôr um casamento de duas décadas a perder para viver aventuras?
E o meu filho, o que pensaria ele de mim?
A verdade é que fora o meu filho quem havia feito eu perceber que eu não estava sendo exatamente feliz. Entendi, naquele momento, que toda aquela obsessão por descobrir a vida sexual do meu garoto e a curiosidade de ver ele e o namorado em sua intimidade revelava o que temia: minha vida estava parada e desinteressante. E dependia de mim fazer alguma coisa para mudar isso. E era isso o que mais me afligia, a maneira como eu deveria mudar a minha vida.
***
A campanhia tocou. Eu, que estava tentando fritar um bife enorme numa frigideira minúscula, corri para abrir a porta. Passei pela pequena sala e poucos passos depois já recebia meu filho com um abraço.
— Que bagunça é essa, pai? — perguntou ele ao ver as roupas espalhadas, a pia cheia de louça e um montinho de lixo num canto.
— Ah, filho, eu não tenho muito jeito com esse tipo de coisa — respondi, acanhado. — Cadê o Marcelo?
— Está precisando contratar alguém!
— O Marcelo? Ele precisa contratar alguém pra o que?
— Não, você precisa contratar alguém pra limpar sua casa. O Marcelo tá vindo, pedi pra ele pegar umas pizzas pra gente. O que você tá queimando na cozinha?
Corri para salvar o meu bife. Eduardo me acompanhou e fez uma careta.
— Ainda bem que estamos trazendo pizza.
Dei um sorriso amarelo e joguei o bife queimado no lixo.
— E sua mãe, como está? — mudei de assunto, levando o meu menino para a sala.
— Ela está ok. O que me surpreendeu né? Primeiro que não imaginava que vocês dois iriam se separar, e segundo que pensei que a mamãe iria sofrer, mas não, tá levando numa boa.
— Que bom, fico feliz, você sabe que quero o bem dela.
Depois de várias semanas ponderando e pensando e refletindo, resolvi tomar a iniciativa de me separar de Marina. A nossa conversa foi incrivelmente tranquila. Marina chorou um pouco, disse que ela também se sentia daquela maneira e que a situação do nosso relacionamento a incomodava. Disse ainda que aquela era provavelmente a melhor solução, que precisávamos daquilo e que tínhamos tido uma história bonita.
Marcelo chegou com as pizzas e comemos juntos. Os dois falaram sobre os planos que tinham para morarem juntos em breve, mas que pensaram em adiar um pouco, para que a mãe de Eduardo não ficasse sozinha. Admirei-os por isso. Era muito bonito o amor deles e a forma como os dois eram parceiros. Queria conversar com eles sobre os meus desejos e as coisas que dominavam os meus pensamentos ultimamente, mas ainda faltava coragem. Recebi uma mensagem no Whatsapp. Abri discretamente e vi a imagem daquele garoto com óculos escuros e sorriso aberto. “Me liga mais tarde”, dizia. Respondi com um “OK”. Logo pensei se não estava sendo muito frio. Mandei também uma carinha sorrindo e ele me respondeu com dois corações vermelhos.
Guardei o celular e levantei a cabeça. Eduardo e Marcelo olhavam pra mim, com aquele sorrisinho de quem descobriu algo importante. Acho que devo ter corado.
— Eu sabia que isso não podia ter sido do nada. O seu sorriso bobo ai confirma. Quem é ela, pai? — eu me senti como da vez que fui falar com ele que percebera seu relacionamento com Marcelo, só que os papéis estavam invertidos. Entendi o que Marina dissera, já que eu estava extremamente constrangido com a situação.
Respirei fundo.
— Na verdade... — eu não sabia como dizer isso, suava um pouco, minha mão estava trêmula. — Na verdade, eu estou conhecendo, só conhecendo por enquanto, a gente não teve nada... é...
— Pai, não precisa disso, me diz o nome dela! — insistiu ele. Marcelo permaneceu calado ao seu lado, não era muito de se meter nesse tipo de conversa entre pai e filho.
— Felipe. O nome dele é Felipe?
— Caralho! — soltou o Marcelo, supreso. Eduardo estava de olhos arregalos e boquiaberto.
— Pai, eu tô... caramba... como foi isso?
— Ultimamente, eu tenho sentido algumas coisas que eu não imaginava, e esse garoto, digo, o Felipe, ele tem mexido comigo de um jeito que... — minha boca estava seca, minha voz saía falhada. Eduardo abriu a boca, mas me adiantei — Não me entenda mal, eu não traí sua mãe, nunca, eu juro. Eu nunca nem mesmo tinha falado com o Felipe antes de me separar. Eu só me permiti conhecer ele semanas atrás, depois que encerrei a minha história com a Marina.
— Mas espera, deixa eu entender, você se separou da mamãe por causa dele ou não?
— Mais ou menos, não foi exatamente por causa dele, mas pela maneira como estava me sentindo, como ambos estávamos. A nossa vida não estava andando, entende? Eu via o Felipe num Café perto do meu trabalho, nós somente trocávamos olhares... Só quando eu conversei com a sua mãe e a gente decidiu que era melhor acabar o nosso casamento, é que tive coragem de falar com ele e desde então temos conversado.
Eduardo veio até mim e me abraçou. Me senti aconchegado e amado. Marcelo se aproximou de nós e também veio participar do nosso abraço.
— Tomara que ele te faça feliz, meu velho!
— Velho? Que história de velho é essa?
Rimos juntos. Mostrei a eles algumas fotos do Felipe e me zombaram de mim, por estar paquerando um cara que tem a idade do meu filho. Me chamaram de tiozão e que eu era um “daddy” bonitão.
— O que vai ter de novinho em cima do senhor, seu Carlos — brincou o Marcelo —, com todo o respeito — completou ele.
— Imagina os nossos amigos, flertando com o meu pai...
— Ei, ei. Eu não pretendo sair por aí pegando geral não. Eu tô focando no Felipe.
— Menos mal né, imagina se o senhor despirocasse e inventasse de aproveitar a solteirice e começasse a sair com todo mundo...
A noite foi extremente divertida e já eram mais de 23h quando os dois se despediram de mim e foram embora. Liguei para Felipe. Ele atendeu sem demora.
— Oi, Lipe, tudo bom?
— Tudo ótimo, Carlos. Já estava achando que não ia ligar mais.
— Meu filho e o namorado dele acabaram de sair daqui.
— E então, como foi com eles?
— Foi ok. Conversei com eles, falei sobre você, eles reagiram bem.
— Hum, falou de mim foi? Disse o que?
— Nada demais, disse que você virou minha cabeça e me deixa de pau duro só de pensar.
— Sério que você falou isso?
— Não, mas se eu tivesse falado não seria nenhuma mentira. Falei somente que estamos nos conhecendo.
— Deveria ter pego umas dicas com eles, né...
— Acha que eu não sei essas coisa? Garoto... eu sou experiente, vou te ensinar muita coisa.
— Hum, acho que eu vou te ensinar mais hein...
— Eu deveria ter dito a eles que você é um garoto muito mal que fica tentando me enlouquecer.
— Você deveria ter dito a eles que é um velho que fica dizendo coisas inapropriadas a um rapaz inocente...
Dei uma gargalhada.
— É a segunda vez hoje que me chamam de velho. Quando a gente se encontrar eu vou mostrar a você do que o velhote é capaz...
— Até agora o velhote só sabe falar, só promete...
— É melhor não brincar com fogo...
— Eu vou arriscar!
— Amanhã.
— Amanhã?
— É, amanhã a gente se encontra, eu te pego aí na sua república e você vem pra cá, a gente pede alguma coisa, jantamos juntos e você passa a noite aqui comigo...
— Já estou ansioso, vou dormir pensando em você.
— Eu também, ou dormir pensando no que vou fazer com você amanhã aqui nessa cama.
Ficamos conversando até mais da meia noite. Falamos algumas sacanagens, eu fiquei muito duro, mas resolvi não me estimular, queria dar tudo ao meu garoto e adormeci pensando no paraiso que seria estar dentro dele.
Previsão confirmada... rsrs