Depois de nossas transas, era raro mas as vezes eu ficava mal por transar com Alberto, não pela minha mãe, eu realmente não ligava pra ela, mas por ele, não queria que ele ficasse se sentindo mal por mentir pra ela. Já tinha sugerido que fossemos embora juntos e ele sempre pedia um tempo pra tomar coragem, não aguentava mais viver escondido sem ter ele 100% pra mim. Queria que ele deixasse de ser meu padrasto e passasse a ser meu namorado. Era péssimo pensar que eu dividia ele com aquela mulher que eu chamava de mãe, saber que eu beijava a mesma boca que ela me fazia mal.
Minha mãe e Alberto eram formados em direito, Alberto exercia como advogado e minha mãe trabalhava no cartório da cidade por isso era a primeira a sair de casa todas as manhãs.
Desci as escadas de casa mais pensativo que o normal, sentia que precisava insistir para que Alberto e eu ficassemos juntos, não conseguia mais suportar essa situação.
A mesa do café ainda estava posta, provavelmente a minha espera, nossa empregada Dona Marta sabia que eu demorava pra descer e sempre me esperava.
- Bom dia - eu disse assim que entrei na cozinha.
- Bom dia meu bem - como foi a noite?
- Ótima e a sua Marta?
- E pobre dorme direito por acaso?
E rimos e logo ela mudou de assunto:
- Você e sua mãe se estranharam de novo?
- Não que eu me lembre a última briga foi a da semana passada, por que?
- Ela tava meio atacada hoje cedo, reclamando de você.
- E ela precisa de motivo pra reclamar de mim?
- Se bem que você dá muitos né Felipe - ela falou rindo - mas dessa vez ameaçou até mandar você morar com seu pai, disse que você precisa de um emprego, ou pelo menos voltar pra faculdade.
Eu engasguei com meu café e comecei a rir.
- Se ela conseguir achar ele né, meu pai muda de número toda semana é um irresponsável, devo ter visto ele 5 vezes na minha vida toda, ele acha que o dinheiro que manda todo mês supre as necessidades de pai e quanto aos "motivos que eu dou", me buscar na delegacia três vezes não é nada comparado ao inferno que ela faz da minha vida, ela merece.
Marta respirou fundo
- Só acho melhor vocês resolverem seus problemas pra não piorar depois.
- Meus problemas só vão se resolver quando eu for embora dessa casa, e isso vai acontecer logo logo.
Terminei meu café, subi pro meu quarto e liguei para Alberto.
- Nossa, já tá com saudade? - ele brincou mas sua voz parecia embargada.
- A gente precisa conversar Beto!
- Pode falar!
- Não consigo mais ficar dividindo você com ela, a gente precisa ir embora daqui.
- Felipe, é complicado...
- Por que? A gente se gosta, é só terminar com ela e a gente vai embora, o dinheiro que meu pai me manda da pra ajudar.
- Mas e ela?...como fica...
- Não importa, ela nunca se importa com ninguém, por que a gente tem que se importar com ela?
- Preciso tomar coragem, mas...
- Ela quer me mandar morar com meu pai Alberto...
- Mas...esse cara nunca nem apareceu aí pra te ver - ele acabou levantando o tom de voz - sua mãe tá louca?
- Calma, só quero resolver isso, quero ficar com você!
- Nossa parece que tudo caiu no meu colo hoje - ele começou a soar nervoso.
- Ahn? Como assim, do que você tá falando?
- Chegando em casa a gente conversa.
Ele desligou na minha cara.
Na hora do jantar nós três estavam sentados à mesa em silêncio, o que só deixava claro a tensão no ambiente pois normalmente os dois ficavam papeando enquanto eu ficava calado.
- Nossa que climão hein! - falei quebrando o silêncio, parecia que os dois tinham brigado.
- Se tiver alguma coisa pra falar fala logo Felipe, não fica jogando piadinha - disse minha mãe.
- Não preciso jogar piadinha, só tô em dúvida de quando você iria me contar que quer me mandar morar com meu pai.
- Como as fofocas correm nessa casa né, e sim eu quero que você vá o quanto antes.
Eu ri.
- Queria saber os motivos!
- Todos Felipe, todos - ela largou o garfo - você se transformou num vagabundo, desistiu da faculdade, não faz absolutamente nada da vida sem contar que tive que te tirar da delegacia três vezes, você tá sem limites.
- Se é pela faculdade eu volto, tá satisfeita?
- Não é só por isso - ela respondeu.
- É pelo que mais? Por que você não me suporta? - falei olhando diretamente em seus olhos, ela desviou o olhar e voltou a comer.
- Vamos ter um convidado em casa!
- E por que eu preciso sair?
- Não acho que ele vai ser boa influência pra você e em parte é pq eu não te suporto mesmo! - ela disse de um jeito cínico.
Ouvir aquilo da minha mãe me fazia sentir ainda mais ódio.
Me levantei abruptamente e subi pro meu quarto, minutos depois Alberto também veio.
- Não da ouvidos Felipe.
- Como não dar ouvidos? Você viu o jeito que ela fala comigo? A gente precisa ir embora daqui, ela que fique por aí com o convidado dela.
Ele fez silêncio por um tempo.
- Eu não posso ir agora, não posso mesmo.
Fiz cara de interrogação, esperando uma explicação dele e ele continuou.
- A pessoa que vem pra cá, é por minha causa.
- Que?
- Meu irmão, ele teve uns... problemas e tá sem lugar pra ficar, eu neguei mas sua mãe colocou na cabeça que temos que ajudar.
- Ela tá vendo a oportunidade perfeita pra me fazer ir embora com esse papo de 'má influência', afinal o que ele tem de problema que é assim tão grave?
- Isso não vem ao caso, só que...
- 'Só que' nada, eu não vou morar com meu pai só por causa de um hóspede, não vai mudar nada na minha vida. Eu só saio dessa casa se for pra morar com você.
Ele ficou em silêncio por um longo tempo até que caminhou até a porta, quando estava prestes a sair minha amei apareceu e começou a falar comigo com seu tom cínico:
- Olha, eu queria que você fosse pro seu próprio bem mas já que você não me entende não tem nada que eu possa fazer. Ah, outra coisa nosso convidado vai ficar no seu quarto.
- Que? - falei incrédulo - o convidado é de vocês, coloca pra dormir no seu quarto, e também tem o quarto de hóspedes.
- O quarto de hóspedes agora é meu escritório e do Alberto, nós não vamos abrir mão dele.
Meus olhos se encheram de lágrimas, não de tristeza, sim de ódio. Ela queria me ver longe daqui e era por isso mesmo que eu ficaria.
- Faz o que você quiser - fui até a porta e bati na cara dela.
Se ela queria começar uma guerra contra mim eu faria de tudo pra ganhar.
E eu iria ganhar.
Praticamente não dormi a noite toda me corroendo de raiva, cheguei a sentir até de Alberto, ele poderia ter impedido isso se quisesse mas resolvi ficar forte e não fraquejar, precisava continuar aqui, isso tinha se tornado uma questão de orgulho.
Acordei no outro dia com os olhos mais inchados que o normal, acordar sem Alberto por perto me deixou pra baixo, ele já devia ter saído pra trabalhar e também não estávamos no clima pra isso.
Olhei em volta e vi duas malas no canto do meu quarto, o tal hóspede devia ter chegado.
Desci as escadas e a casa estava mais barulhenta que o normal. Cheguei na cozinha e haviam três pessoas à mesa, minha mãe, Alberto e um homem que até então estava de costas pra mim.
- Bom dia Marta - falei com ela unicamente, peguei alguns biscoitos, suco e pão, coloquei num prato e voltei pro meu quarto sem olhar pra ninguém.
Ouvi os carros saindo da garagem, minha mãe e Alberto estavam indo trabalhar.
Pouco tempo depois o hóspede aparece na porta do meu quarto:
- Olha eu sinceramente não quero incomodar...
- Mas já tá incomodando! - falei mais rude do que pretendia ainda sem olhar para o homem.
- Tô vendo que nada que eu fale vai suavizar a situação, então vou ser direito, vou ficar aqui você se incomode ou não, sua mãe já me contou o... conflito todo, ela e meu irmão são os donos dessa casa e eles permitiram que eu ficasse então não vou embora só pra fazer as vontades de um moleque mimado igual a você.
Olhei pra ele pela primeira vez e me assustei por um segundo, ela era idêntico a Alberto, tirando o cabelo que era raspado e a barba bem mais curta. Ele usava uma camisa preta grudada ao corpo musculoso que era tão grande quanto o de Alberto, também usava um jeans surrado e tênis.
- Ah jura? Só que não se esquece que quando se cansarem, você volta pra sarjeta que você provavelmente deve ter saído e eu continuo no conforto da minha casa, até por que uma...como eles disseram mesmo? Ah, uma "má influência" com certeza vai fazer alguma merda que obrigue eles a te expulsarem daqui, então...seja bem vindo!
Seu rosto que antes era carregado de indiferença de repente transparecia raiva, pura e genuína.
Ele ficou em silêncio e sumiu pelo corredor a fora. Longos minutos depois ele voltou ao meu quarto mas agora estava molhado da cabeça aos pés com uma toalha enrolada na cintura. O chão embaixo dele estava ficando encharcado com a água que escorria de seu corpo.
- Você não pode se secar no banheiro? - perguntei rude - Vai molhar a porra do meu chão inteiro!
- A porra do NOSSO chão - ele tirou a toalha e ficou totalmente pelado, inesperadamente ele começou andar e parou aos pés da minha cama - esse agora é NOSSO quarto!
Seu pau estava mole mas me assustou pela grossura, foi impossível não imaginar aquilo duro, seu corpo era ainda mais definido que o de Alberto.
- Ué, nunca viu um macho? Pela sua carinha dá pra ver que você gosta - ele riu tentando me provocar.
- Não não, nunca precisei tomar banho perto de outros homens, você por outro lado com certeza teve né, com esse jeito e essas tatuagens de presidiário deve ter visto bastante - brinquei tentando provocar mais ainda.
Novamente ele fechou a cara, terminou de se secar, se vestiu e não vi mais ele até o fim do dia.
Fiquei me perguntando o por que dele se sentir tão ofendido com a brincadeira. Alguém só se ofenderia assim se... realmente tivesse estado na cadeia.
Introdução ótima, e capitulo bem produzido e fica aquele gostinho quero mais.
Muito gostei do primeiro impacto muito bom.
Afrontosa sim, rs