No outro dia pela manhã continuei a agir como se nada tivesse acontecido, tomei café a mesa com minha mãe, Alberto e Toni. Estava me corroendo por dentro mas por fora fingia ter superado a briga, o dom da atuação foi concedido a mim desde muito cedo.
Depois que minha mãe e Alberto saíram, Toni começou a puxar assunto com aquele tom sacana:
- Fiquei surpreso, topou ser meu motorista sem reclamar...!
- Jesus mandou ajudar os pobres né - brinquei revirando o olhos.
- Não sabia que era religioso - ele falou sorrindo
- Tô longe de ser, mas precisava de uma desculpa pra você ficar quieto... pelo visto não vai funcionar.
- Não mesmo - ele se levantou - então, vamos, vamos andar bastante.
Passei praticamente toda manhã, dirigindo levando Toni de um lado pro outro, eu o ignorava na maioria das vezes que ele tentava puxar assunto por que minha raiva não passava, mas tinha certeza de que se não fosse por isso nós iríamos nos dar muito bem. Passamos em canteiros de obras, lojas de todos os tipos, escritórios, literalmente qualquer lugar.
Quase na hora do almoço paramos em frente a um prédio comercial um tanto quanto velho, muito alto e que provavelmente tinha muitos negócios espalhados por seus andares.
Entramos na recepção e havia uma placa com o nome de todas as lojas e uma chamou atenção dele, era uma de artigos esportivos.
- Te espero aqui embaixo!
- Não pode ir comigo? Não conheço nada aqui!
- Você disse isso em todos os prédios que entramos!
- E você ainda não percebeu que quero sua companhia.
Revirei o olhos e bufei.
- Que carência!
Assim que saímos da tal loja que ficava no nono andar, entramos no elevador precário para descer; quando estávamos passando pelo terceiro andar o elevador chacoalhou um pouco as luzes pisacaram e ele parou. Meu coração começou a bater mais forte esperando que a porta se abrisse e nada, no meio do nervosismo comecei a bater na porta com força e gritar por socorro, pelo visto não havia ninguém por perto pois eu não ouvia nada do lado de fora.
- O que a gente te vai fazer? - perguntei com os olhos arregalados.
Toni agia como se nada tivesse acontecido, estava parado me olhando.
- Esperar ué, o que mais?
Sabia que ele estava certo, não tinha nada mais a fazer mas meu nervosismo não deixava que eu me acalmasse.
A essa altura eu estava tremendo e a luz amarelada de dentro do elevador nos fazia suar, a porcaria do botão de emergência não funcionava, estávamos ali a quase vinte minutos mas por conta do nervosismo pareciam horas. Toni estava paciente sentado no chão e eu não conseguia parar de falar.
- Isso é culpa da minha mãe...e sua também...eu poderia estar na minha casa, deitado, mas tive que pagar de chofer e agora tô aqui... INFERNO - falei e dei um chute tão forte na porta que fez o elevador mexer.
- Chega! - ele gritou - Você não consegue calar a boca? Não da nem pra pensar!
Toni se levantou e tirou sua camisa exibindo seu corpo delicioso todo suado, o que me fez ficar calado por uns instantes.
Ele olhou em volta e pelo visto não viu muita saída, foi até a porta e começou a tentar abrir, seus músculos se enrijeceram e ele não parava de fazer força, uma fresta se abriu e consegui ver do outro lado, o elevador tinha parado num nível diferente da porta de fora, mesmo que conseguíssemos abrir (o que já parecia impossível), iria ser muito difícil sair.
Ele desistiu e voltou para o fundo elevador.
- Vem cá - ele me chamou e eu não me movi até que ele repetiu - VEM CÁ! Tá achando que vou fazer o que?
Me aproximei dele.
- Você vai precisar me ajudar a subir - ele apontou para um tipo de abertura na parte de cima do elevador.
- E fazer o que depois, subir pelo cabo de aço?
- NÃO SEI TÁ BOM? - ele gritou me assustando - Eu tô tão assustado quando você, mas tô tentando arrumar um jeito, então colabora.
Ele se aproximou mais ainda, tão perto que com um movimento poderíamos nos beijar, suas mãos seguraram meu ombro enquanto fiz suporte com minhas duas mãos para que ele subisse. Nesse momento sua mala, estava na altura do meu rosto, eu podia sentir seu cheiro intenso invadindo minhas narinas. Ele empurrou a abertura e olhou em cima.
- Realmente, não tem nada aqui, não tem o que fazer!
Ele desceu e ficamos frente a frente, não vou negar que fiquei um tanto quanto hipnotizado com ele naquele momento, seu corpo suado tão perto, seu jeito bruto, e até sua respiração profunda. Não fui para trás e ele começou a me olhar estranho, com um sorriso safado no canto da boca.
- Isso que você tá fazendo é um jogo? - ele me perguntou sério.
- Como assim?
- Me odiou ontem, passou a manhã inteira me ignorando e agora tá aqui a centímetros de mim me olhando desse jeito...
Dei de ombros, não sabia o que responder, não sabia nem por que estava daquele jeito, parecia enfeitiçado.
De repente uma de suas mãos segurou firmemente na minha cintura e outra em minha nuca, ele me jogou com força na parede dos fundos do elevador causando um barulho alto e um pequeno tremor e ficou me olhando fixamente, com uma expressão que fez minhas pernas tremerem.
As luzes do elevador voltaram a piscar e no momento mais inoportuno ele voltou a descer; só quando o elevador chegou ao térreo Toni me largou e tirou seus olhos de mim. As portas se abriram e nós saímos, eu ainda abalado com o que tinha acabado de acontecer, o recepcionista do prédio ainda estava parado no mesmo lugar de quando chegamos e provavelmente nem notou que ficamos presos.
Quando entrei no carro fiquei estática lo por uns segundos e me dei conta do que quase aconteceu no elevador, eu literalmente não tinha entendido de onde veio toda aquela hipnose por Toni, talvez fosse só o nervosismo.
Fomos pra casa em silêncio e não conversamos mais o resto do dia.
Resolvi dormir um pouco a tarde e algumas horas depois de deitar fui acordado por um peso em cima de mim, uma barba roçando minha nuca e mãos firmes em minha cintura.
Ainda meio grogue pelo sono falei:
- Ai Beto?... só agora você vem...?
Num súbito Toni se levantou e eu arregalei os olhos.
Com certeza eu tinha falado demais.
- Como assim 'Beto'? - perguntou Toni - por acaso ele faz isso com você?
Cada capítulo tá melhor.
Delicioso esse conto! To doido pra que haja o próximo capítulo!
Uma estória tipo Nelson Rodrigues? Continue.Estou gostando.