- Não chore, meu amor. Não chore... – Disse sem conseguir controlar minhas próprias lágrimas.
- Você precisa me deixar ir! – Seu rosto foi escondido em meu pescoço. Seu choro era insistente.
- Por favor, Renan. Eu preciso de você! – Abracei-o mais forte e pude sentir o seu cheiro emanar por seu corpo e me deixar anestesiado. – Eu não consigo mais sem você. Você é tudo que eu tenho, você é minha família. Por favor, diga-me que você irá ficar. Diga-me que esse apartamento não é, apenas, seu lar provisório. Diga-me que você sempre estará do meu lado.
- Eu jamais conseguiria ir embora e te deixar mal! Você não sabe o quanto é importante para mim sua felicidade. – Dessa vez ele que fixou seu olhar no meu. Lentamente nos deitamos na cama e ficamos deitados. Sua cabeça repousava em meu peito e pude sentir o perfume de seus fios de cabelo.
- Dorme, você deve estar muito cansado. – Sussurrei em seu ouvido.
- Obrigado! – Ele me disse num tom quase inaudível.
Em menos de dez minutos Renan dormia calmamente. Seu sono estava sereno e seu semblante sossegado. O segurei firme em meus braços. Nada e nem ninguém poderia nos afastar. Nesse momento, pela primeira vez, senti-me excitado em tê-lo tão próximo ao meu corpo. Seu calor e seu cheiro me embriagaram de desejo. Eu não podia desejá-lo desse modo! Meus pensamentos estavam confusos. Meu ex-aluno estava fragilizado e carente, não podia por puro desejo tomá-lo para mim. Que tipo de pessoa eu estou me tornando? Não posso desejar aquele que conheci quando ainda era um menino que necessitava da minha atenção! Renan não pode ser nada mais que meu irmão mais novo. Entretanto, seu cheiro estava me deixando tonto e minhas mãos, trêmulas, sentiam o calor de sua pele. Meu membro reagia a cada toque e parecia desejar, urgentemente, se libertar. Meu coração batia em um ritmo descompassado. Tremi de medo dos meus próprios desejos revelados naquela estreita cama. Minha mão afagou os cabelos daquele menino-homem e, vagarosamente, retirei sua cabeça de meu peito e o deixei sozinho na cama.
Abri a janela da sala, puxei uma cadeira e me sentei próximo àquela abertura. Sentindo, assim, a brisa do início da tarde adentrar e tocar minha face. Não percebi as horas passando, meu olhar estava fixo no horizonte e minha mente perdida em um algum lugar desconhecido. Estava me sentindo sujo por desejar Renan. Estava me sentindo um canalha por me excitar enquanto estávamos deitados. A frase “eu não posso e não devo fazer isso” foi repetida como um mantra em meus pensamentos.
- Ricardo. – A voz grossa e, ao mesmo, tempo doce me libertou do transe. Fechei meus olhos e ao abri-los de forma lenta percebi que a noite havia chegado e uma chuva torrencial caía na cidade. As mãos grandes de Renan apertaram meus ombros e em seguida fui abraçado por trás. Meu corpo estremeceu. – Tudo bem?
- Acho que sim. – Disse, ainda, atordoado com tantas revelações internas.
- Posso fechar a janela? A chuva está molhando a sala. – Ele perguntou.
- Claro! – Levantei-me e sentei-me no sofá. Renan fechou a janela e, depois, caminhou em minha direção.
- Tem certeza que está tudo bem? – Ele deitou no sofá. Colocou uma almofada em meu colo e repousou sua cabeça me olhando.
- Está! – Respondi passando a acariciar seu couro cabeludo e percebendo o quanto seu rosto era bonito. Sorri involuntariamente com minha constatação. – Obrigado por não me deixar.
- Eu que preciso agradecer. Eu não sei o que seria da minha vida sem você... – Ele levantou seu corpo e beijou minha bochecha. Excitei-me, instantaneamente, com seu toque. Agradeci a qualquer força superior existente por ter uma almofada entre meu membro e sua cabeça. Mesmo com a situação, um sorriso largo estampou meu rosto. – Esse seu sorriso é encantador, Ricardo. – Acho que fiquei corado. Ele sorriu.
- Vamos pedir uma pizza? Estou com fome e com preguiça de ir para cozinha...
- Eu quero de calabresa! – Falou como uma criança.
- Tudo bem! – Disse rindo. – Deixa que eu ligo para a pizzaria.
- Enquanto isso eu vou tomar um banho. Devo estar fedido. – Falou rindo e se cheirando. Pensei em responder: “Não, você está sempre cheiroso. Seu cheiro é sempre bom.”
- Bobo! – Foi o que consegui dizer para não dar bandeira. – Depois eu tomo também. – E a minha mente quis que eu dissesse outra idiotice: “Podemos tomar banho juntos! O que acha?” Sorte que consigo controlar meus pensamentos. Renan retirou a camisa e foi para o quarto. Seus braços torneados, seu peitoral perfeito e aquela barriga lisa ficaram à mostra. Pela primeira vez tive vergonha de vê-lo sem blusa. Pela primeira vez desejei vê-lo nu. Meu membro, insistente, queria se libertar e iniciar uma diversão. Não consegui desviar o olhar e acompanhei sua caminhada observando suas costas bem desenhadas, seu bumbum arredondado e seu belo par de pernas grossas. Acho que estou ficando louco.
Depois que Renan tomou banho, fui para o banheiro. Tomei um banho rápido e voltei para a sala. Meu ex-aluno arrumava a mesa. Não consegui desviar meu olhar de seu corpo. Fiquei hipnotizado. Como nunca havia me sentido atraído por ele antes? Como o seu corpo não havia, anteriormente, provocado uma crise de desejo? Eu não posso pensar dessa forma. Eu...
- Ricardo? – Sua voz me retirou daquele turbilhão de pensamentos.
- Oi... – Esbocei um sorriso envergonhado. Será que ele percebeu meu olhar de desejo?
- Está dormindo em pé? Chamei você três vezes... – Ele falou rindo.
- Estou meio aéreo! Desculpa...
- Percebi. – Ele falou franzindo a testa. – É por causa do Sérgio?
- Pior que não... – Falei sem pensar. Ele me olhou curioso! – Acho que não estou muito bem, só isso. – Falei tentando consertar as coisas.
- Entendi. – Falou com pesar. – Quer conversar sobre isso?
- Eu não sei direito. É tudo meio novo! Prefiro deixar tudo se organizar na minha cabeça... – Acho que falei demais. – Mas, não se preocupe. Eu estou bem.
- Tem certeza? – Renan parecia preocupado. Ele se aproximou e me abraçou. Meu corpo tremeu quando seu cheiro penetrou minhas narinas. Fechei meus olhos e retribui o abraço.
O interfone tocou. Era a pizza! Salvo pelo congo.
- Irei pegar os talhares e fazer um suco de laranja. – Renan falou indo para cozinha.
A campainha tocou e eu abri a porta. O entregador logo me deu a pizza e a notinha. Eu olhei o valor.
- Tudo bem, Ricardo? – O entregador me perguntou. Só nesse momento eu o observei. Era um dos caras com que eu me relacionava sexualmente quando estava entediado com Sérgio. Bruno era muito bonito, corpo grande, boca rosada e uma ótima pegada. Tive boas noites de sexo ao seu lado.
- Oi, Bruno! Estou bem sim. – Sorri! – Nem te reconheci.
- Pois é... o uniforme muda as pessoas, é o que dizem por aí. – Sorriu maliciosamente. Quando transávamos, normalmente, ele usava fantasias de uniforme de várias profissões. Eu não sou muito fã disso, mas como ele curtia, embarcava em sua fantasia.
- Continua o mesmo galanteador. – Ri. – Aqui está o dinheiro! – Entreguei a nota de cinquenta reais em suas mãos. – Está trabalhando como entregador? – Bruno é filho de um empresário, não fazia sentido está trabalhando com isso.
- Meu pai me colocou de castigo. – Falou rindo. – Terei que trabalhar esse mês inteiro como entregador em uma de suas pizzarias. – Apesar de rico e já ter 23 anos, Bruno é muito infantil e vive à custa do pai.
- O que você aprontou dessa vez?
- Tranquei a faculdade e não contei nada para ele. – Falou gargalhando. – Que tal matarmos as saudades hoje, hein? Está acompanhado do seu namoradinho?
- Estou acompanhado, mas não é o Sérgio! – Bruno me olhou curioso. – Tem um amigo morando comigo.
- Amigo, sei! – Falou ironicamente. – Então, não sou mais seu amante preferido? – Fez biquinho se aproximando.
- Ricardo, o suco já está pronto! – Renan gritou da cozinha.
- Tá... Estou pagando a pizza! – Gritei. E voltei à atenção a Bruno. – Deixa de bobeira!
- Vamos ou não matar as saudades hoje? – Falou apertando minha cintura.
- Não sei! – Disse morrendo de vontade falar sim.
- Te ligo em meia-hora. Está com o mesmo número? – Disse apertando o botão do elevador.
- O mesmo número de sempre. – Respondi piscando o olho.
- Estou indo. – Antes que o elevador chegasse e sem que eu esperasse, Bruno me deu um beijo. Foi rápido, mas me deixou com um tesão filho da puta. – Até daqui a pouco. – Piscou o olho entrando no elevador que havia acabado de chegar ao meu andar.
Fiquei o observando partir. Antes que as portas se fechassem, ele acenou e me mandou um beijo. Eu apenas sorri. Fechei a porta e percebi que Renan me olhava encabulado.
- Aqui está a pizza! – Falei tentando me desviar de seu olhar curioso.
- Você conhecia o entregador? – Pensei em mentir.
- Sim. É um velho colega! – Falei sorrindo.
- Entendi! – Renan falou meio ríspido e cortando o assunto. Pegou a pizza das minhas mãos. Sentamos, em silêncio, à mesa e nos servimos.
- Está tudo bem, Renan? – Perguntei após cinco minutos de um silêncio ensurdecedor.
- Sim! – Ele me respondeu sem levantar o olhar do prato.
- Tem certeza?
- É só uma dor de cabeça! Daqui a pouco tomo um analgésico e passa. – Novamente respondeu sem me olhar.
Voltamos a ficar em silêncio. Renan comeu apenas um pedaço de pizza e logo se levantou.
- Já estou indo dormir! – Falou me abraçando. – Boa noite!
- Boa noite! – Levantei e dei um beijo em sua testa. – Você não está bem! – Novamente seus olhos não se fixaram nos meus. – Você está febril. – Disse colocando minha mão em sua testa.
- Está tudo bem, Ricardo. Eu vou dormir. – Uma lágrima escorreu por seu rosto. – Só que me deu uma dor de cabeça forte. Tomarei um remédio e vou dormir...
- Pode ir para o quarto que eu pego o remédio para você. – Fui ao armário do banheiro e peguei um analgésico. Fui à cozinha e peguei um copo d’água. Entrei no quarto de Renan e o entreguei. Ele tomou o remédio!
- Irei ficar aqui até você pegar no sono. – Naquele momento, percebi que Renan precisava de mim. Não sabia o que estava acontecendo, porém queria ficar perto.
- Não precisa... – Ele disse se deitando na cama.
- Eu quero ficar aqui, por favor. – Falei com cara de pidão e puxando a cadeira que havia no quarto para próximo da cama.
- Tudo bem!
Queria deitar com ele, mas meus desejos libidinosos me impediam disso. Queria abraçar, mas não queria me excitar com o toque de seu corpo. Preferi ficar próximo, porém a uma distância segura. Meu ex-aluno fechou os olhos! Meu celular tocou e eu me assustei. Olhei no visor e vi que era o Bruno. Tirei o volume e deixei tocar. Olhei para cama e vi que Renan me olhava.
- Você não vai atender? – Renan me indagou.
- Não! É um amigo me chamando para sair. Não estou com cabeça para isso...
- Pode ir. Eu estou bem!
- Não mesmo! Prefiro ficar aqui de verdade. – Renan me olhou e, vagarosamente, fechou seus olhos.
Logicamente que queria transar até a exaustão com Bruno. Realmente aquele cara é muito bom de cama. Esquecer todos os problemas que tenho com Sérgio por algumas horas seria, de fato, esplêndido. Além do mais, poderia saciar o meu tesão e parar de desejar aquele que até algumas horas atrás via como um irmão mais novo. Porém, não podia deixar Renan sozinho. Queria ficar ao seu lado.
Vigiei seu sono por algumas horas, não percebendo o tempo passar. Olhar Renan sempre me provocou certa calma, pois ali encontrava um jovem indefeso que eu desejava cuidar. Porém, assistindo meu ex-aluno dormir nessa noite me fez ter medo. Sim, medo. Medo dos meus sentimentos. Medo de machucá-lo. Medo de desejá-lo. Medo de que ele me odiasse se soubesse que eu estava o desejando sexualmente. Medo de perder sua amizade e carinho. Medo do futuro incerto. Lágrimas escorreram pelo meu rosto e uma angústia dominou meu ser. Seu sono era sereno. Queria tê-lo em meus braços e jamais deixá-lo.
Fui para o meu quarto já de madrugada. A imagem de Renan não saía de minha mente. Demorei a pegar no sono. Lembro-me que a última vez que conferi as horas já passava das 5 horas da manhã.
Acordei com Renan fazendo carinho na minha cabeça. Não precisei abrir os olhos para saber que era ele. O seu cheiro é inigualável. Sorri involuntariamente e abri meus olhos.
- Bom dia! – Falei bocejando e me espreguiçando.
- Desculpa entrar no seu quarto. Mas, bati várias vezes e te chamei, mas você não acordou. Fiquei preocupado. Já são quase duas da tarde.
- Caramba! – Falei me sentando na cama. – Fui dormir muito tarde. Tive uma crise de insônia!
Renan se jogou na minha cama e me abraçou deixando sua cabeça, como sempre, em meu peito. Instantaneamente me excitei com o calor de seu corpo. Precisei me contorcer de uma maneira inumana para que não percebesse minha ereção. Minha única vestimenta, uma cueca branca, denunciaria meu descontrole. Por sorte, um lençol me cobria.
- Obrigado por ontem, tá?
- Por nada...
- Você é muito especial para mim... – Ele me abraçou mais e eu passei por uma das situações mais vexatórias da minha vida. Seu corpo foi jogado contra o meu e meu órgão ereto tocou sua perna. No mesmo segundo fiquei vermelho e ele também.
- Des... Desculpa. – Gaguejei. – Sabe como nós homens acordamos pela manhã.
- Que isso! Tudo bem...
- Preciso ir ao banheiro mijar. – Falei tentando consertar aquela situação. Levantei rápido e coloquei as mãos na frente indo correndo ao banheiro. O difícil foi urinar com uma ereção. Doeu para caralho e acho que molhei com urina boa parte do chão.
Voltei, envergonhado, para o quarto.
- Desculpa, Renan. – Disse coçando a cabeça quando me sentei na cama. Ele começou a rir descontroladamente. – Para de rir. – Falei rindo também.
- Foi hilária a sua cara. – Ele disse tentando segurar o riso.
- Foi vexatório! Isso sim. – Falei rindo.
Por sorte, tudo foi levado na brincadeira.
Meus desejos por Renan ficavam cada vez maiores. Vê-lo saindo do banheiro utilizando apenas uma toalha como vestimenta passou a ser uma tortura e ao mesmo tempo um dos momentos mais sublimes de minha vida. Receber seus carinhos, beijos e abraços me faziam viajar por todo universo e encontrar com estrelas que já haviam se apagado há milhões de anos luzes. Tocá-lo era ao mesmo tempo um pecado capital e um momento divino. Meus sentimentos estavam confusos. Não podia acreditar que sentia desejos por Renan. Passei noites sem dormir pensando no que eu poderia fazer para cessar tais desejos. E se meu aluno descobrisse o que passava por minha mente insana? Não podia perder sua amizade! Logicamente que ele se afastaria. Assim como eu o vi, até dias atrás, como um irmão mais novo, não há dúvidas que ele me enxerga como um irmão mais velho. Ele ficaria decepcionado comigo! Sim, ele acharia que o convidei para morar comigo apenas para seduzi-lo. Sua confiança em mim seria nula. Nossa amizade iria para o ralo! Acima de tudo, quero Renan como meu amigo. Quero-o ao meu lado! Como já disse, ele é tudo que tenho. Ele é a pessoa na qual penso quando ouço a palavra família.
- Ricardo?
- Oi...
- Você está com a cabeça aonde?
- Desculpa... – Falei tentando esboçar um sorriso. – Estou com alguns problemas no trabalho...
- Vamos esquecer nossos problemas essa noite. – Sérgio disse beijando meu pescoço.
Havíamos feito às pazes três dias antes, após quase uma semana sem que ele me desse sinal vida. Para comemorar, resolvemos jantar em um restaurante e depois fomos a um motel para, dessa maneira, quebrarmos a rotina. Entretanto, ficamos conversando durante horas sobre Renan. Meu namorado queria, de qualquer forma, que ele se mudasse do meu apartamento. Chegou a propor que dividíssemos o aluguel de um conjugado para que meu hóspede morasse até que ele se formasse na faculdade e arrumasse um emprego decente. Eu, coerentemente, neguei a oferta sem nexo.
- Isso não faz sentido, Sérgio.
- Eu acho a melhor opção! – Ele falou categoricamente. – Eu não consigo mais aceitar que ele more sob o mesmo teto que você.
- Sérgio, eu não vou pedir para que ele se mude do meu apartamento.
- Nós ficamos pagando o aluguel de um conjugado para ele, meu amor.
- E você acha que ele irá aceitar? – Perguntei. – Claro que não, né? Ele ficará chateado e sairá do meu apartamento e não terá onde morar. – Respondi sem esperar que ele respondesse primeiro.
- Ricardo, essa situação é muito desconfortável.
- Sérgio, você precisava entender. Ele é como se fosse da minha família. Ele é como um irmão...
- Irmão? Eu não acredito nisso.
- O que você está insinuado? – Perguntei alterando a voz.
- Eu não estou insinuando nada. Eu estou é percebendo algumas coisas...
- Que coisas, Sérgio? Você só pode está ficando paranoico... – Disse irritado me levantando da cama.
- Eu percebi o jeito que você olhou para ele ontem... – Ele falou segurando meu braço.
- Agora eu tenho certeza, você enlouqueceu de vez. – Falei tentando me soltar.
- Você está gostando desse garoto, né, Ricardo? – Seus olhos pareciam de um inquisidor próximo ao momento que desmascararia um herege.
- Você é louco! – Disse tentando parecer convicto, mas por dentro sentia um medo avassalador. Nem eu mesmo sei definir o que sinto por Renan. De fato, sinto desejos carnais. No entanto, sinto um amor que é maior que esse desejo. Não estou apaixonado por ele, só sinto-me atraído. É, desse modo, que defino meus sentimentos pelo meu ex-aluno.
- Responde! – Ele disse berrando.
- Eu gosto dele como gostaria de um irmão caso tivesse um. Só que você não compreende que dois homens gays podem se gostar sem ir para cama... – Falei no mesmo tom de voz.
- Ontem, no jantar, seus olhares não foram de um irmão mais velho para um irmão mais novo. Vi chamas incendiando seus olhos, Ricardo. Vi um forte desejo em seu olhar. Se afaste do Renan, por favor. – Sérgio falou me abraçando. Suas palavras, dessa vez, não foram inquisidoras. Pareceram-me mais um alerta.
- Você está vendo coisa onde não tem. – Falei retribuindo o abraço.
- Ricardo, eu sei que erro muito e que não sou um namorado perfeito. – Ele se soltou do abraço e me encarou. – Conheço todos os meus defeitos. Queria muito ter forças para mudar e ser o homem que você merece ter ao seu lado, mas ainda não consegui. – Seus olhos brilharam e começaram a lacrimejar. – Porém, meu amor, quero que saiba que eu te amo muito e que minha vida sem você não teria a menor graça. Eu te amo demais e morro de medo de te perder. – Lágrimas escorreram.
- Eu também te amo, Sérgio. Eu te amo muito. – Emocionei-me com suas palavras.
O beijo, logo depois, foi, definitivamente, inevitável. Assim como tudo que veio a seguir: os beijos quentes; as mãos trêmulas que acariciavam todas as partes de nossos corpos nus; as línguas que percorriam nossos sexos sedentos por lambidas e chupadas; as unhas que marcavam nossas costas com pequenos, dolorosos e prazerosos arranhões; os gemidos que quebravam o silêncio daquele quarto de motel; o barulho cadenciado e ritmado das penetrações que se uniam aos gemidos para criarem uma melodia de prazer única; os orgasmos alcançados com gemidos intensos e expressões de êxtase em nossas faces... Tudo foi inevitável!
Não posso negar que amo muito o Sérgio. Nunca nenhum outro homem me fez sentir algo que chegasse próximo ao que sinto por ele. Apesar de todos os seus erros, de todas as suas traições e mancadas, eu o amo perdidamente. Sinceramente, eu não sei o que sinto por Renan. Porém, sei que não é um amor comparável ao me sinto por meu namorado. É, provavelmente, apenas um desejo momentâneo. Amo sim o dono daquele olhar com um brilho peculiar e penetrante, todavia só pode ser um amor fraternal, ou seja, um amor sem malícia, sem o pecado da carne. Algo se perdeu no meu relacionamento com meu “menino-homem”. Algo que me fez desejá-lo. Entretanto, é apenas uma fase e farei de tudo para esquecer tais desejos pecaminosos.
Foi com esses pensamentos que esperei o sono chegar após uma maravilhosa sessão de sexo com Sérgio. Meu namorado dormia um sono tranquilo enquanto eu estava vivendo mais uma noite agitada por meus pensamentos confusos. A noite parecia não ter fim e o sono – assim como um filho adolescente que sai para balada – demorou a chegar.
Sérgio e eu acordamos cedo, antes das sete da manhã. Precisávamos ir para casa, pois trabalharíamos. Deixei-o em casa e depois segui para meu apartamento.
- Bom dia! – Disse assim que abri a porta do apartamento e vi Renan tomando o café da manhã.
- Bom dia, Ricardo. – Seus olhos estavam inchados e sua voz um tanto quanto rouca.
- Está tudo bem? Andou chorando? – Disse enquanto beijava sua testa.
- Não... só tive uma insônia! – Sentei-me à mesa e o encarei.
- Tem certeza?
- Só insônia mesmo e acho que estou meio resfriado... – Falou esboçando um meio sorriso.
- Você já tomou um antigripal?
- Já sim! Não se preocupe... Já estou indo para a faculdade. – Ele disse se levantando e pegando a mochila no sofá. – Tchau, Ricardo. Até mais tarde. – Recebi um beijo na testa.
- Tchau, Renan. Se cuida, hein.
Renan saiu e eu terminei de tomar o café da manhã. Antes de ir ao trabalho, resolvi ler um capítulo de um livro para ter base para uma aula que daria à tarde. Fui ao meu quarto, onde boa parte dos livros ficou quando o meu ex-aluno se mudou para o meu apartamento. Procurei o livro, porém não o encontrei. Dessa forma, resolvi procurá-lo no quarto de Renan, pois alguns exemplares ficaram lá por falta de espaço no meu. Enquanto procurava o título em questão, um caderno de capa preta caiu, aberto, no chão. Abaixei-me para pegá-lo e para minha surpresa uma foto minha e de Renan dividia as páginas. Peguei o caderno e por curiosidade comecei a lê-lo.
“Como o amor pode ser tão sublime e tão doloroso? Por que um sentimento puro pode nos fazer sofrer? As coisas poderiam ser mais fáceis. Porém, na minha vida, nada é fácil. Descobri-me homossexual ainda na pré-adolescência e sofri demasiadamente por ser diferente dos meninos da minha idade. Entretanto, lutei, bravamente, para fugir de tais desejos que julgava pecaminosos.”
Senti-me um idiota de estar lendo o que me parecia ser o diário de Renan. Fechei o caderno e fui recolocá-lo na prateleira. Porém, a curiosidade falou mais alto. Reabri-o e continuei lendo de outra parte qualquer.
“Para piorar a situação me apaixonei pelo meu professor de História. O homem mais bonito e carinhoso que já conheci na vida. Fiz de tudo para ser percebido! Fiz de tudo para que ele me amasse. E, de certa maneira, alcancei meu objetivo. Infelizmente não do jeito que eu queria. Ele me enxergou no meio de tantos alunos e se orgulhou de mim. Por ele fui um ótimo aluno. Por ele escolhi qual a profissão que seguiria: decidi ser professor de História!”
Fiquei sem ação! Sentei-me na cama e fiquei relendo, inúmeras vezes, esse trecho. Como eu nunca percebi que Renan, naquela época, tinha se apaixonado por mim. Que coisa mais louca. Ri da situação. Nós, professores, passamos muito por isso. Muitos alunos e alunas se mostraram apaixonados por mim nesses anos de profissão. Eu, sempre, mantive a distância necessária e demostrei que aquilo era errado. Só que com Renan eu não percebi e, agora, entendo que dei corda para que ele se apaixonasse por mim. Eu fui mesmo um idiota! Um péssimo professor. Pulei algumas partes e continuei a leitura.
“Logicamente ele nunca me olhou com olhos de cobiça. Para ele, sempre fui um moleque, mais um de seus diversos alunos que necessitavam de atenção. Todavia, isso me bastou! Sentar ao seu lado, sentir o seu cheiro, receber um abraço ou um beijo. Sim, Ricardo foi o meu primeiro amor. Quem nunca teve um amor platônico?”
Juro que me surpreendi. Que bonitinho! Meu ex-aluno me considera o seu primeiro amor? Novamente, não segurei um sorriso bobo antes de continuar a leitura em outra página.
“Quando passei para o Ensino Médio e perdi contato com Ricardo entrei em profunda depressão. Chorei, diversas vezes, escondido em meu quarto para que meus pais não me vissem chorando. Sua falta me causava uma dor emocional que se transformava em dor física: dores de cabeça, febres intermináveis... Dói sofrer por amor! O que me deixou de pé foi a esperança de reencontrá-lo. Sonhei, inúmeras vezes, com esse reencontro. Os anos se passavam e minhas esperanças diminuíam. Será que ele teria mudado de cidade? De estado? Quem sabe de país? Tudo ficava mais melancólico. Estudei muito e passei para umas das melhores universidades públicas. Quando eu o reencontrasse, desse modo, poderia deixá-lo orgulhoso. Acabei me envolvendo, durante a espera, com dois caras. Não deu certo, pois buscava neles o meu Ricardo. Os relacionamentos se foram e as esperanças, a cada dia, se tornavam mais enfermas. Será que eu jamais reencontraria meu grande amor?”
Não imaginava que Renan tivesse sido tão apaixonado por mim. Que loucura isso! Eu fui, praticamente, a força motriz de sua vida. Comecei a ler rapidamente, senti uma necessidade ímpar de saber toda essa história e conhecer os sentimentos do meu ex-aluno.
“Quando tudo parecia não ter jeito, quando a morte de minhas esperanças se vislumbrava no horizonte, eu o reencontrei. Não posso mensurar a vocês o grau de felicidade que senti naquele momento. Minhas pernas ficaram bambas e meu coração acelerou de uma forma única. Não consegui conter a emoção! Abracei-o e se pudesse nunca mais o soltaria. Morreria assim, abraçado. Minha vida eterna seria completa e perfeita caso eu pudesse congelar aquele momento. Quase fui às lágrimas quando ele se lembrou de mim. Sim, eu havia sido alguém especial em sua vida. Sim, ele ainda se lembrava daquele aluno grudento. As coisas na minha vida pareciam se acertar. Ricardo e eu nos tornamos amigos! Almoçávamos e saíamos para beber juntos. Quanta felicidade. Como nada é perfeito, não poderia me declarar para ele. Isso seria uma burrice sem tamanho! Não tinha dúvidas que ele era heterossexual. Esperei boa parte da minha vida para me reencontrar com um homem que, em hipótese alguma, seria meu. É, minha vida não é fácil. Para piorar a situação minha mãe descobriu que sou homossexual e minha vida, por consequência, foi devastada! Apanhei, fui humilhado e expulso de casa. Fiquei sem chão emocionalmente e, verdadeiramente, fiquei sem teto. Como dizem por ai, ‘a coisa ficou preta’. Vi-me, pela primeira vez, sozinho no mundo. Ricardo (re) surgiu nesse momento doloroso da minha existência. Pensei, de verdade, que ele me repudiaria. Não foi, felizmente, isso que ocorreu. Ele me acolheu de uma forma que não esperava. Fui convidado para morar com ele. Minha vida, que havia sido devastada, de repente, encontrou uma luz no fim do túnel. Mudei-me para o apartamento de Ricardo e tive uma boa surpresa: Ricardo é gay! Minhas possibilidades de conquistá-lo e fazê-lo me amar como eu o amo saltaram de nulas para quase prováveis. Mas, sempre há um ‘mas’, como eu já disse, minha vida não é fácil. Descobri que Ricardo é gay e tem um relacionamento de uma década com Sérgio. Ao que parece os dois se amam, apesar de brigarem como cão e gato. Vi minhas chances de conquistar meu primeiro amor afundarem. Ricardo nunca me viu como homem, sempre me enxergou como um menino, ou, como ele mesmo diz, ‘um irmão mais novo’. Beijá-lo, abraçá-lo, acarinhá-lo... Foi tudo que eu sempre sonhei. Só que ele me vê como irmão. Acho que nunca conseguirei que ele me veja como homem. Morro de ciúmes todas as vezes que o vejo com Sérgio. Choro quando ouço os sons vindos de seu quarto quando os dois transam. Como o amor pode ser tão sublime e tão doloroso? Amo-o tanto que me satisfaço com suas migalhas! Satisfaço-me com seu amor fraternal. Sei que, talvez, seria melhor sumir e me afastar, só, assim, definitivamente, eu conseguiria esquecê-lo. No entanto, eu não posso. Amo-o demais para viver longe de Ricardo. Não sei quanto tempo conseguirei viver nessa situação, mas deixar de amá-lo é impossível.”
Lágrimas surgiram nos meus olhos! Fiquei sem ar. Renan me amava! E eu? O que eu sentia por ele? Sim, eu o amo. Mas, não sei se é o amor que ele espera! Sim, eu o desejo. Porém, não é isso que ele merece. Meus desejos carnais pelo meu ex-aluno se tornaram, depois de tudo que li, mais repulsivo que antes. Ele me ama e eu quero transar com ele? Isso é um absurdo! Eu o amo, entretanto como um irmão. Eu nunca poderei dar o amor que ele merece. Então, como eu poderia possuí-lo? Se antes, em minha cabeça, a possibilidade de transar com Renan se aproximava do número zero, agora ficou negativa. Não iria magoá-lo para ter uma boa noite de sexo. Sua vida já havia sido demasiadamente sofrida. Uma dúvida surgiu em minha mente: como será daqui para frente com todos esses sentimentos e desejos revelados?
Li todos os cinco capítulos nessa manhã, amando rsrs, também sou professor de História kkkk, aguardo a continuação.
Nossa! Chorei! Que capítulo emocionante! Não vejo a hora de chegar, como se diz, ao "clímax" da história!